Dia do trabalho ou dia do trabalhador?
Operários - Tarsila do Amaral
DIA DO TRABALHO OU DIA DO TRABALHADOR?
Murilo Oliveira, Juiz do Trabalho(5ª Região) e Professor da UFBA.
No dia internacional do trabalhador,
celebram-se as lutas operárias em defesa da redução da jornada de trabalho.
Lembrar do primeiro de maio serve para que não se esqueça o ocorrido em 1º de
maio de 1886 em Chicago nos Estados Unidos. Nestas manifestações, precisamente
durante o confronto com a polícia local, ocorreram mortes quando uma bomba
explodiu. Por considerar os organizadores das passeatas os responsáveis pelas
mortes, os dirigentes sindicais foram condenados pela Justiça à morte na forca.
É esse o grosso resumo dos fatos que explicam historicamente o primeiro de maio, justificando o epíteto de “os mártires de maio”.
A despeito desta história de luta,
morte e injustiça de trabalhadores, o primeiro de maio tem sido designado como “dia do
trabalho”. Este título oficialesco representa uma sutil prevalência da ação
(trabalho), logicamente em detrimento do sujeito que realiza esta ação
(trabalhador). No discurso oficial, celebra-se o trabalho humano na sua acepção
genérica e não a luta dos trabalhadores que pagaram com sangue a obtenção da
jornada de oito horas. Suprime-se o trabalhador (e sua dor), restando o
trabalho, na perspectiva positivista mais neutra possível.
Esta questão de nomenclatura não pode
ser tida como um problema pequeno. Isto porque algumas mudanças de nomes, como
esta, trazem um conteúdo ideológico de esvaziamento do sentido histórico do
termo. Falar hoje em dia do trabalho pouco remete a luta pela redução da
jornada de trabalho e as demais lutas dos trabalhadores. Comemorar o primeiro
de maio tende a significar somente a exaltação de toda a pessoa que trabalha,
que pode ser tanto um empregador que administra sua empresa, um trabalhador
autônomo, ou um empregado. Assim, consegue-se, com uma pequena mudança de nome,
desfocar as lutas dos trabalhadores, consagradas em parte no Direito do
Trabalho.
Celebra-se, enfim, neste dia uma
série de conquistas do trabalhador. Rememora-se que estas lutas tiveram um preço
histórico grande para serem reconhecidas pelo Estado como direitos
trabalhistas, tal como foi a morte de mais cento e trinta mulheres grevistas
queimadas numa fábrica de Nova York em 1857, data posteriormente reconhecida
como dia internacional da mulher. Mais apropriado, então, é referir-se ao dia
de hoje como “dia internacional do trabalhador”, em memória
dos mártires de Chicago e em respeito à história das lutas dos trabalhadores e
trabalhadoras.
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