quinta-feira, 24 de maio de 2012

Vidas repletas de sentido: Apolônio e Renée de Carvalho


Imagem inline 1

Quinta-Feira, 24 de Maio de 2012

 

Vidas repletas de sentido: Apolônio e Renée de Carvalho

 

Vinícius Wu (*)


Inicio esse breve artigo com uma afirmação que soará desmedida, quem sabe até provocativa para alguns, mas que me parece um tanto obvia. Apolônio de Carvalho representa para a história brasileira o mesmo que Garibaldi representa para a Itália ou Charles De Gaulle para a França. Tal afirmação, no entanto, dificilmente encontrará respaldo em alguma obra de sucesso da historiografia nacional. Afinal, o óbvio nem sempre adquire força suficiente para tornar-se consenso.

Mas embora nossa historiografia não reconheça – e não será difícil compreender os motivos – talvez a celebração do centenário de Apolônio nos abra a possibilidade de rompermos a cortina de silêncio e cinismo que a historiografia oficial reserva até aqui à figura quase mítica desse brasileiro singular.

Apolônio de Carvalho viveu plenamente os maiores sonhos, medos e esperanças que o século XX produziu. Enfrentou o medo de um mundo dominado pelo nazi-fascismo e com as próprias mãos contribuiu para que não sucumbissemos aos horrores do totalitarismo. Foi combatente das mais generosas lutas que a humanidade travou em favor da liberdade, justiça e democracia no século passado. Esteve na Espanha, ao lado dos republicanos, armas em punho para defender a Constituição e a dignidade daquele país.

No Brasil, lutou em favor dos mais pobres, combateu a censura das palavras e das ideias as quais jamais renunciou. Preso, exilado, derrotado por tantas vezes, jamais se curvou às adversidades de um mundo que parecia desenvolver uma luta particular para promover a ruína de seus sonhos e suas esperanças. Lutou pela democracia, a viu reconquistada, queria mais. Ajudou a fundar um partido, levantou a bandeira da anistia, das diretas. Até o fim de seus dias recusou-se a abrir mão de princípios que, por tantas vezes, quase lhe custaram a própria vida.

Ninguém por estas terras encarnou melhor que Apolônio o espírito enobrecedor e humanamente grandioso que inspirou o internacionalismo socialista. Foi um homem de luta e atuação globais, num mundo que esteve à beira de fechar as portas para o que hoje conhecemos como globalização.

Ontem, o Governador do Estado do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, concedeu a medalha Negrinho do Pastoreio à Renée France de Carvalho, companheira de sonhos e de tantas lutas de Apolônio.

Muito já foi dito acerca dos vazios de nossa memória coletiva. E, certamente, uma das omissões mais gritantes se relaciona com o papel da mulher na construção de nossa identidade nacional. O gesto do governo gaúcho foi também um ato de indignação contra o renitente silêncio de nossa historiografia a respeito do papel que desempenharam mulheres como Renée. Sua história é belíssima e não apenas como “esposa” de Apolônio, mas como uma combatente tão corajosa quanto seu companheiro de longas e memoráveis jornadas. Renée é a Olga Benário com quem ainda podemos nos encontrar, entrevistar e brindar a vida.

Apolônio é um símbolo nacional, um orgulho para todos e todas brasileiras que, verdadeiramente, acreditam na vida, na solidariedade e no futuro da humanidade. Que bom seria ver ruas, avenidas, praças e cidades pelo Brasil homenageando gente como Apolonio ao invés de ditadores, oligarcas e tantos outros próceres do atraso.

Apolônio e Renée preencheram com um significado extraordinário suas trajetórias de vida. Ousaram viver a plenitude de sua humanidade, assim como tantos outros que lutaram ao seu lado. A democracia que herdamos, com todas suas imperfeições, é fruto de sua luta obstinada em favor da liberdade. Vidas repletas de sentido. Nossas homenagens estarão para sempre aquém do significado dessas vidas para a vida de todos nós. Só nos resta repetir insistentemente: obrigado Apolônio, obrigado Renée.

(*) Historiador e Chefe de Gabinete do Governador do Estado do Rio Grande do Sul



23/09/2005 

Morre Apolônio de Carvalho



da Folha Online


Um dos mais antigos militantes de esquerda do país, Apolônio de Carvalho, morreu no fim da tarde desta sexta-feira, aos 93 anos. Desde a última quarta-feira ele estava internado na Casa de Saúde Portugal, na zona norte do Rio de Janeiro (RJ), por causa de uma infecção respiratória.

Comunista desde a década de 30, Apolônio de Carvalho foi um dos fundadores do PT e participou das principais lutas políticas do século passado no Brasil e no exterior.
No início do governo Luiz Inácio Lula da Silva, a proposta defendida pelo ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos de, além de indenizar, promover Apolônio de Carvalho a general-de-brigada causou mal-estar no governo.

O Exército, na época, rebateu dizendo que a promoção contrariava a legislação, pois Carvalho não teria cumprido os requisitos necessários. O esquerdista, por sua vez, disse que não desejava a polêmica e que nunca pediu a promoção.

Nascido em Mato Grosso do Sul, Apolônio serviu ao Exército brasileiro e foi voluntário nas Brigadas Internacionais da Guerra Civil Espanhola, combatendo o fascismo entre 1937 e 1939. Na França, foi coronel da Resistência na luta contra o nazismo durante a 2ª Guerra Mundial.
Por meio de nota assinada pelo atual presidente nacional do partido Tarso Genro, o PT manifestou "o seu profundo pesar pelo falecimento de seu fundador e militante de primeira linha Apolônio de Carvalho"

O partido também lembrou que Apolônio "defendeu, ao longo de sua vida exemplar, todas as causas que se vinculam à justiça e à igualdade. Trabalhou sempre pela construção do Partido dos Trabalhadores".

 Biografia de Apolônio de Carvalho

Nenhum comentário:

Postar um comentário