sábado, 26 de maio de 2012

A verdade sobre Xuxa


  



24 de maio de 2012


Sobre o episódio Xuxa



Por Lélia almeida


Sou fã de carteirinha do trabalho da Ministra Maria do Rosário. Já era sua admiradora antes mesmo dela ser ministra. Acompanho com admiração e entusiasmo o seu trabalho como parlamentar que trata, historicamente, de temas espinhosos na área de direitos humanos, a exemplo, dentre outros, do enfrentamento à homofobia, à exploração sexual de crianças e adolescentes e da sua luta pela apuração de abusos e violações dos direitos humanos ocorridos na época da ditadura. E sou fã de carteirinha também do trabalho desenvolvido na Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, em especial o da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente – SNPDCA, capitaneada bravamente pela Carmen Silveira de Oliveira e sua equipe e cujas ações de Enfrentamento à Violência Sexual de Crianças e Adolescentes e do Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte, conheço mais de perto. O trabalho desenvolvido através destas ações tem mérito reconhecido em âmbito internacional pelo seu ineditismo e coragem e, no caso específico do PPCAAM, por exemplo, o governo brasileiro traz a público a dificílima discussão sobre a letalidade entre crianças e adolescentes, assunto este que nenhuma sociedade tem coragem de abordar, já que abordá-lo significar assumir a nossa negligência principalmente com as crianças e adolescentes pobres deste país e que são abatidos como bichos diariamente nas periferias das nossas grandes cidades.Glória Perez deu visibilidade através do seu trabalho a temas cuja complexidade a sociedade brasileira só teria condições de compreender através das novelas, atingindo massivamente um grande público e propondo uma discussão inteligente a partir do entretenimento. Sua próxima novela, por exemplo, entre outros temas, vai abordar a questão do tráfico de pessoas. Glória Perez é uma ativista incansável junto às mães e familiares de vítimas de violência, e seu trabalho como ficcionista é compatível com uma prática que a legitima como figura fundamental na prevenção à violência no nosso país.


Há centenas de projetos e ações da maior importância na Esplanada dos Ministérios que a maioria das pessoas desconhece e isto é lamentável, ações maravilhosas, de impacto decisivo e que as pessoas que não estão diretamente envolvidas sequer suspeitam existir e isto também é lamentável. É da maior relevância, portanto, quando celebridades, artistas ou intelectuais assumem publicamente determinadas causas, principalmente as mais difíceis de tratar como as relativas ao abuso de crianças e adolescentes, outro tema que, como sociedade, gostaríamos de esquecer e silenciar, dada a magnitude do horror e do tamanho das providências que devemos, socialmente, todos, tomar. Este envolvimento, portanto, do maior número de atores sociais, na iniciativa que leve ao debate e á reflexão é bem vinda e aplaudida.Xuxa Meneghel desde 2007 está firmemente engajada no apoio a campanhas governamentais, como “Não bata, eduque” ou como madrinha nacional da campanha contra exploração sexual de jovens, entre outros. Seu depoimento no Fantástico do domingo passado dividiu a opinião pública num grupo que a chama, nas redes sociais, de vadia, pedófila e oportunista, de um lado e do outro, por pessoas que a apoiam e são solidárias, tendo em vista a sua situação, sabemos agora, de adolescente e criança que foi molestada. Diferentemente do trabalho de Gloria Perez e de outros artistas que apoiam campanhas e causas desta natureza, o que causa certo desconforto é que o trabalho de Xuxa Meneghel sempre propôs uma espécie de imbecilização da infância e da adolescência no nosso país, criando um equivocado e desastroso caldo de cultura desdobrado ad infinitum numa esteira de discípulos que ainda não termina de acabar. Incentivou através do seu trabalho tudo aquilo que as políticas governamentais combatem duramente, como o consumismo infantil, a sexualidade precoce das crianças, a superexposição midiática mulheres e das meninas, para não ir muito além. Talvez seja este descompasso entre a prática e o discurso que traduza, na verdade, a desconfiança de muitos sobre o seu depoimento. O de um trabalho que nega, ali, no frigir dos fatos, todo o ideário de autonomia e legitimidade que estas políticas governamentais trouxeram para a vida das crianças e adolescentes de forma definitiva.

As ações governamentais para a infância e a adolescência que temos hoje no Brasil são soberanas, falam por si e estão implementadas em todo o país, algumas delas se constituem em referência internacional pelo seu ineditismo, consistência e ousadia. É ingênuo e equivocado pensar que o depoimento da Xuxa vai fazer com que as pessoas vão se tornar mais conscientes sobre a discussão sobre o abuso infantil, no mínimo porque a escolha do testemunho, dada a sua total falta de senso crítico e reflexão sobre o que realmente seja ser criança e adolescente neste país podem nos fazer pensar, antes de tudo, que a escolha da tal da rainha dos baixinhos para atender a esta demanda hercúlea, foi um colossal e desastroso engano.


Xuxa em um de seus "uniformes de educadora" de nossas crianças


CartaCapital, Ed. 699 (Pág. 19)

Freud Explica?

Por Mauricio Dias

Impressiona a corajosa decisão da milionária apresentadora Xuxa Meneghel de revelar ter sofrido abuso sexual de um amigo do pai dela, de um homem que iria casar com a avó dela e, finalmente, de um professor.
O drama de Xuxa, ela diz, durou até os 13 anos de idade.
Apenas três anos depois, em 1979, com 16 anos, ela apareceu por 5 minutos e 16 segundos no filme Amor Estranho Amor, de Walter Hugo Khouri.
Em uma cena de extremo erotismo, Xuxa, como Tamara, violenta um menino de 12 anos, Hugo, representado por Marcelo ribeiro, então com 14 anos.
São insondáveis e imprevisíveis os labirintos da psique humana.

Xuxa, aos 16, e Marcelo Ribeiro, aos 14, em 'Amor Estranho Amor'




 

A verdade sobre Xuxa


26/5/2012 13:38, Por Luiz Cezar - de São Paulo   



Xuxa já esteve melhor na mídia. Tendo abusado dos recursos estéticos para apresentar-se como rainha dos baixinhos descobriu um novo meio de reposicionar sua imagem agora que as rugas já lhe são indisfarçáveis num rosto que lembra máscara de carnaval.
A ex-modelo, que começou sua carreira como acompanhante de personalidades famosas e posando para revista de mulheres nuas, num tempo de ditadura militar e acentuada rigidez moral, colou sua figura na do rei do futebol Pelé.
Como chegou até a ele só os “books” de casas noturnas poderão revelar, mas o fato é que tendo chegado a Pelé e aparecido em capas de folhetins de celebridades – que vendiam então bem mais que hoje – como loirinha do rei, foi mais fácil aproximar-se de outro dos famosos, de quem se dizia recorrer a figuras femininas para dissimular publicamente sua homossexualidade: o piloto Ayrton Senna.
Morto o corredor e dispensado o jogador, dado a forte rejeição demonstrada pela classe média para quem se apresentava, ficou fácil para a garota, mediante o uso de gestual circense e completa alienação (e aí entra o seu talento) transformar-se num dos ícones da televisão brasileira para o público infantil, com incumbência de preparar toda uma geração para tornar-se telespectadora das novelas da Globo.
O papel nefasto representado pela agora conhecida Rainha dos Baixinhos, termo grotesco que ela mesma cunhou para referir-se a crianças, é parte expressiva da deseducação a que foi submetida a população infantil nas últimas décadas, transformada em consumidores precoces e aves de repetição dos slogans da emissora.
Não é possível entender o domínio ideológico da Rede Globo de Televisão sobre diferentes públicos sem entender como atuaram seus peões para manipular corações e mentes de diferentes idades. Xuxa foi uma falsa criança-adulta, forjada pela emissora para obter audiência a qualquer custo, mesmo que ao de imbecilizar milhões, expondo-os, dessa forma. a ação de aproveitadores do mundo real.
Não bastasse o veredicto dos fatos, Xuxa tem contra si um peça acusatória que prefere manter oculta aos olhos do grande público mesmo que ao preço de milhões de reais pagos ao seu detentor, o produtor de cinema Aníbal Massaine, apresentado a ela por Pelé quando a modelo tentava a carreira de atriz pornô. Trata-se do filme Amor estranho amor, de 1982, em que a apresentadora protagoniza cenas de sexo com um adolescente.
Por essa razão espanta que a secretária de direitos humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, conceda status de exemplaridade a apresentadora Xuxa depois que essa, em novo golpe publicitário na mesma emissora que a erigiu como falso mito, tenha vindo a público declarar-se vítima de abuso sexual.
Se vem ao programa de maior audiência da TV para falar de abusos, apenas o faz para fazer parecer mais humana a face da emissora que a projetou, no intento de retirar o peso que recai sobre a empresa de haver ganhado bilhões de reais manipulando crianças e sobre ela mesma, Xuxa, de haver contribuído para a erotização de comportamentos infantis, isso sim contributo maior que tudo à propagação de abusos contra a infância em nosso País.
Mas o que mais chama a atenção no caso das declarações de Xuxa é o fato de a apresentadora ter tomado a iniciativa de mostrar-se defensora dos pequeninos exatamente quando a ação que lhe move o produtor do filme para a exibição da película, retomada desde 2010 por motivos pecuniários, estar prestes a ser julgada na cidade do Rio de Janeiro.

Luiz Cezar é economista, linguista, mestre em Cultura, mestre em Tecnologia (todos pela USP) e master em Gestão Econômica de Projetos pela GV.

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