Caros Amigos, maio 2012 p 44
IDEIAS DE BOTEQUIM
Renato Pompeu
Já está na segunda edição, revista, o livro A
história do PT, do historiador Lincoln Secco, publicado pela Ateliê Literal. A
dupla formação do autor, historiador profissional muito bem preparado
tecnicamente, e militante engajado em causas progressistas, permitiu que ele
produzisse um livro ao mesmo tempo isento, muito bem documentado, e apaixonado,
com o afã de lutar para melhorar a convivência humana. Fica claro que o PT fez
muita coisa para aperfeiçoar a qualidade de vida de setores da população brasileira
tradicionalmente deixados à própria sorte, mas também que não é verdade o mito
de que o partido tem um passado radical que foi abandonado. Secco mostra que o
PT nunca foi tão radical quanto imaginam os que acabaram deixando o partido
por seu "aburguesamento", mas mostra também que o PT não formou novos
quadros de envergadura semelhante aos dos seus líderes que combateram o regime
militar, extinto há três décadas, quadros já em vias de sair de cena, sem
substitutos à altura.
Ainda dentro do universo do PT, temos a obra Renée
France de Carvalho - Uma vida de lutas organizada por Marly de Almeida Gomes
Vianna, a própria biografada e Ramón Perla Castro e publicada pela Editora
Fundação Perseu Abramo, que resgata a vida dessa heroína tanto da Resistência
francesa quanto da resistência contra o regime militar brasileiro. Viúva do
militante e combatente comunista Apolônio de Carvalho, que lutou contra o
reacionarismo no Brasil, na França e na Espanha, Renée France de Carvalho tem
luz própria e sua vida é uma das mais belas páginas das lutas progressistas.
Uma vertente do progressismo nacional é abordada
pelo livro, Guerreiro Ramos e a redenção sociológica - Capitalismo e
sociologia no Brasil, do professor paulista Edison Bariani Junior, publicado pela
Editora da Unesp. Tradicionalmente, os acadêmicos de São Paulo são em geral
hostis à obra de Guerreiro Ramos, sociólogo militante que foi calado pelo golpe
de 1964, atuante no Rio de Janeiro e, particularmente, no Instituto Superior
de Estudos Brasileiros-Iseb, por ele ter pregado que a redenção do povo
brasileiro passava pela constituição de um capitalismo nacionalmente autônomo
e socialmente justo. Bariani Junior, a par de insistir sobre o que considera
equívocos de Guerreiro Ramos, resgata a generosidade do projeto desse sociólogo
e a profundidade de suas constatações sobre a sociedade brasileira.
TESES DE MARX
Agora que o pensamento de Karl Marx está de novo na
ordem do dia depois de e algumas décadas obscurecido pelo fracasso do comunismo
estatal e pelo êxito efêmero da euforia, uma importante contribuição é o livro
O leitor de Marx, com textos de Marx escolhidos por um dos mais importantes
intelectuais marxistas brasileiros, José Paulo Netto, e editado pela
Civilização Brasileira. Não se trata de uma simples vulgarização
propagandística do marxismo, como costuma acontecer muitas vezes, mas de uma
obra de fôlego, com perto de 500 páginas, o que permite o estudo mais aprofundado
das teses de Marx.
Uma discussão preciosa sobre as possibilidades que
o Direito abre para os militantes dos movimentos sociais, está na obra
Interpretação do Direito e movimentos sociais, do professor Celso Fernandes
Campilongo, editado pela Campus Jurídico. Ele procura responder a perguntas
sobre "como o direito serve ou reage às manifestações sociais? É possível
protestar contra a sociedade da qual fazemos parte? E protestar contra a
sociedade valendo-se do seu direito? Como interpretar a utilização que os
movimentos sociais fazem do direito?"
A penosa constituição do conceito e da prática da
cidadania na sociedade brasileira, mais especificamente durante o período
imperial, é o tema do trabalho "Perspectivas da cidadania no Brasil
Império", organizado pelos renomados historiadores José Murilo de
Carvalho e Adriana Pereira Campos, em edição da Civilização Brasileira
patrocinada pela Faperj e pelo CNPq. Desfilam em mais de 500 páginas problemas
seculares do País, muitos deles de raízes no período colonial e que se mantêm
ainda hoje, tornados mais visíveis por sua inserção no contexto do Império.
No livro Música e universidade na cidade de São
Paulo - Do samba de Vanzolini à Vanguarda Paulista, publicado pela Editora
Unesp, a professora Sonia Alem Marrach discute os trabalhos e as visões de
paulistanos importantes na música e na academia, Paulo Vanzolini, Arrigo
Barnabé, Luiz Tatit, José Miguel Wisnik e Arthur Nestrovski.
Renato Pompeu é jornalista e escritor.
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30 de abril de 2012
Humor
A laranja do Lula e a divertida leitura dos jornais antigos
Por Luiz Carlos Azenha
É divertido ler jornais antigos. Não fosse pela sujeira que provocam — literalmente –, soltando tinta, eu manteria meus exemplares no arquivo eternamente. É sempre engraçado ler antigas colunas, especialmente aquelas que falavam em Dilma Rousseff como poste do Lula, e compará-las com textos dos mesmíssimos articulistas, hoje em dia, tecendo loas à guerrilheira.
Crime de Imprensa, o divertido livro de Palmério Dória e Mylton Severiano sobre a campanha de 2010, é recomendável por ocupar bem menos espaço que os jornalões e resumir o “eu sei o que vocês fizeram no verão passado”.
Um dos pontos altos do livro está na página 30, quando os autores lembram o fracasso de um colunista em busca de um bordão: Dilma, como “laranja” de Lula.
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