CartaCapital online, 16/05/2012
Os valores éticos da Globo mudaram?
Por Sergio Lirio
Como se sabe, o jornal O Globo publicou um comovente editorial em defesa de Roberto Civita, dono da editora Abril. Em matéria de delírio, o diário carioca da família Marinho só foi superado pela própria Veja de Civita, que neste fim de semana conseguiu unir em um mesmo texto aranhas, robôs e comunistas. Parecia um roteiro de terror B. Já o editorial de O Globo recorria ao surrado bordão imprensa chapa-branca vs. imprensa livre (livre de quem?) e tentava ressuscitar um animal extinto, os radicais do PT.
Em resumo: O Globo não viu nada de grave nas relações de Policarpo Jr., diretor da sucursal de Brasília de Veja, com a quadrilha de Carlinhos Cachoeira. E afirmou existir uma “campanha” contra a revista dos Civita.
Outros tempos. Em 2001, a família Marinho demitiu sem pestanejar o jornalista Ricardo Boechat por considerar impróprias suas relações com uma fonte.
Boechat era um profissional celebrado e em ascensão nas Organizações Globo. Editava no jornal uma coluna de notas políticas e econômicas de muito prestígio e fazia comentários na tevê do grupo. Grampos atribuídos ao banqueiro Daniel Dantas, que disputava o controle de duas operadoras de telefonia com os canadenses da TIW, foram publicados pela Veja (coincidência!!!). Em alguns deles, Boechat conversa com Paulo Marinho, assessor do empresário Nelson Tanure, representante dos canadenses na disputa contra Dantas e dono do Jornal do Brasil.
A reportagem de Veja à época descreve: “Em um dos diálogos, ocorrido em 15 de abril, Boechat conta a (Paulo) Marinho os termos da reportagem que está escrevendo para revelar manobras do Opportunity e que seria publicada no dia seguinte em O Globo. Pela conversa, fica evidente que a direção do jornal não foi informada sobre o grau de ligação do jornalista com Nelson Tanure…” E por aí vai. Neste caso, Veja, ao acusar uma trama para favorecer um dos lados de uma disputa empresarial, agiu para favorecer o outro, o de Dantas.
Pelo que se viu até agora e pelo que se comenta a respeito do que virá, as relações de Policarpo Jr. com Cachoeira são muito mais profundas do que aquelas entre Boechat e Tanure. A começar por um fato: Tanure é um empresário controverso, geralmente odiado por seus funcionários, mas não é um contraventor como Cachoeira. Desconhece-se, por exemplo, o uso de expedientes sujos (arapongas, rede de prostituição etc.) por Tanure.
Uma década atrás, O Globo enxergou um problema ético suficientemente grave para demitir seu funcionário. Hoje, defende sem um átimo de dúvida, sem aquele saudável distanciamento de quem não estava presente no exato momento dos fatos, uma empresa na qual não figura entre os acionistas. Como a família Marinho pode ter tanta certeza a respeito da lisura do comportamento de Veja sem ter conhecimento do teor completo dos telefonemas entre Policarpo Jr. e o bicheiro? Nem sobre os métodos cotidianos da editora?
Depoimentos de delegados da PF na Comissão de Ética selam destino de Demóstenes
15/5/2012 13:41,
Por Redação - de Brasília
– Isso fica claro (no depoimento dos delegados). A ação (de Cachoeira) era na defesa de seus interesses em órgãos públicos – disse o relator do processo no conselho, senador Humberto Costa (PT-PE).
Segundo os delegados, as interceptações telefônicas das duas operações flagraram 416 conversas diretas entre Demóstenes e Cachoeira (63 na Operação Vegas, que terminou em 2009, e outras 353 na Monte Carlo). Outros 292 diálogos foram interceptados pela PF nas conversas entre integrantes da “organização criminosa” que citam Demóstenes. Em uma dessas citações, o tesoureiro da suposta quadrilha comandada por Cachoeira, Gleyb Ferreira da Cruz, informa estar na porta da residência de Demóstenes esperando para entregar R$ 20 mil ao parlamentar.
Em outra escuta autorizada pela Justiça, Cachoeira fala com Cláudio Abreu, diretor afastado da empresa Delta, sobre a entrega de R$ 1 milhão ao “professor”, que seria Demóstenes. Segundo os integrantes do conselho, todas as revelações dos delegados são baseadas nas interceptações telefônicas da PF nas duas operações. Eles negaram que o senador tenha sido alvo das investigações ao afirmarem que, por ser citado indiretamente em alvos da polícia, acabou sendo flagrado pelas escutas.
A defesa de Demóstenes ainda tenta anular no Supremo Tribunal Federal (STF) as escutas telefônicas por considerá-las ilegais. O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, alega que seu cliente tem “foro privilegiado”.
– O senador só poderia ter sido investigado com autorização do Supremo. Tivemos hoje a prova inquestionável de que um senador ficou durante meses sendo investigado de forma ilegal – disse o advogado.
No depoimento, os delegados também confirmaram que Cachoeira presenteou Demóstenes com um rádio Nextel para conversas exclusivas seguindo uma orientação de um dos membros da “organização criminosa” de que o aparelho seria imune a grampos telefônicos.
De acordo com os integrantes do Conselho de Ética, a situação de Demóstenes ficou muito mais complicada com os depoimentos dos delegados.
– Está claro que o senador atuava para fazer lobby em favor do Cachoeira no Congresso. Isso está claro pelo intenso número de ligações – afirmou o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).
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