sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A bandalheira fardada e a farra da caserna

Edição 666

CartaCapital OnLine, 29 de setembro de 2011 (Íntegra na Ed. 666)

A farra da caserna

 Mauricio Dias e Rodrigo Martins 
Investigação: Roberto Gurgel, procurador-geral, decidirá se indicia ou não o general Enzo Peri (acima). Foto: Renato Araújo/ABR

Desde 15 de agosto, a Procuradoria-Geral da República analisa uma representação encaminhada pelo Ministério Público Militar. Trata-se de um pedido de investigação “em desfavor” do comandante do Exército, general Enzo Martins Peri, citado num espinhoso escândalo de corrupção, talvez o mais ruidoso da Força em seus 363 anos de história. Ao todo, 25 oficiais de variadas patentes, incluindo sete generais e oito coronéis, são suspeitos de integrar um esquema que fraudou licitações, superfaturou contratos, fez pagamentos em duplicidade e pode ter desviado dos cofres públicos ao menos 15 milhões de reais entre 2003 e 2009, segundo os cálculos do Tribunal de Contas da União (TCU).
O rombo, na verdade, pode ser maior. Apenas um dos envolvidos no escândalo, o major Washington Luiz de Paula, acusado de montar a rede de empresas fantasmas beneficiadas no esquema, acumulou uma fortuna pessoal que surpreendeu os investigadores.
Dados obtidos por CartaCapital revelam que o militar, com renda bruta mensal estimada em 12 mil reais, teria cerca de 10 milhões de reais de patrimônio em imóveis, incluindo um apartamento na Avenida Atlântica, em Copacabana, bairro nobre na zona sul do Rio, estimado em modestos 880 mil reais, certamente por falta de atualização. Seria proprietário ainda de duas casas na Barra da Tijuca, avaliadas em 2,9 milhões de reais cada. Em nome de seu sogro, que recebe uma aposentaria de cerca de 650 reais, estaria registrado um luxuoso apartamento de 2,8 milhões de reais na Barra (organograma à pág. 29). O inquérito que apura o caso revela, ainda, que o major movimentou mais de 1 milhão de reais em sua conta em apenas um ano.
Fadado a decidir se indicia ou não o chefe do Exército, o procurador-geral Roberto Gurgel terá ainda de tomar uma posição também sobre o foro privilegiado dos generais, que só podem ser julgados pelo Superior Tribunal Militar (STM), onde até agora um único general foi condenado, e posteriormente absolvido no Supremo Tribunal Federal (STF).*

*Leia a íntegra da matéria na edição 666, nas bancas nesta sexta-feira 30

Uma decisão torpe

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CartaCapital OnLine, 30 de setembro de 2011

Fidel Castro chama Obama de ‘tonto’

 Redação Carta Capital

Em artigo, Fidel Castro ataca o presidente Barack Obama por decisão da Justiça americana de impedir volta de preso cubano e ironiza suas declarações. Foto: AFP

Para o ex-presidente Fidel Castro, Barack Obama é “tonto” e os Estados Unidos, um império. Os ataques foram disparados em artigo publicado em um site cubano e é uma reação à sentença norte-americana que proibiu que o preso político René González retornasse à Cuba, depois de cumprida a pena de 13 anos nos Estados Unidos.
A  Justiça decidiu que González cumprirá mais três anos de liberdade assistida no país. O ex-prisioneiro é um dos cinco agentes cubanos que se infiltraram em grupos terroristas americanos na década de 90 para prevenir ataques a resorts e aviões cubanos. A história foi contada no livro “Os últimos soldados da Guerra Fria”, de Fernando Morais.

Fidel considerou a decisão torpe e chamou a atenção para a necessidade de se reformar a Assembleia das Nações Unidas. “Jamais se escutaram tantas e tão enérgicas críticas”, escreveu o político. No texto, ele também reproduz a carta de Hugo Chávez à Assembleia, em que o presidente Venezuelano faz duras críticas ao Fórum e ao poder militar americano.
Fidel também ironiza a declaração de Obama, em que o presidente afirma que mudará sua relação com Cuba quando o país tiver mudanças significativas. “Que simpático! Que inteligente! Tanta bondade não o permitiu compreender que 50 anos de bloqueio e crimes contra nossa pátria não puderam dobrar o nosso povo. Muitas coisas mudaram em Cuba, mas devido o nosso esforço, apesar dos Estados Unidos. Talvez, antes, se derrube este império”, diz Fidel.
Por fim, o líder conclama os cinco agentes presos nos EUA como “os cinco heróis cubanos” que compunham o grupo antiterrorista. E chama a decisão do estado da Flórida – onde ocorreu o julgamento – de “vergonha supervisionada” de Obama.

Verdades ofendem



O Estadão.com,
30 de setembro de 2011 | 3h 06


Verdades ofendem

 
DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo


O presidente do Supremo Tribunal Federal, Cezar Peluso, acabou dando uma boa contribuição ao debate sobre a correção geral de condutas, ao reagir com rudeza, corporativismo e autoritarismo à constatação da corregedora-geral da Justiça, Eliana Calmon, sobre a existência de "bandidos de toga" no Judiciário.
A declaração da juíza nem teria alcançado tanta repercussão não fosse o desejo do ministro de humilhá-la com a admoestação grosseira e a exigência de uma retratação, de resto não atendida numa demonstração de que Eliana Calmon na condição de corregedora é a pessoa certa no lugar certo. Resultado: a contrarreação de solidariedade à ela e à preservação dos poderes do Conselho Nacional de Justiça impediu que o Supremo votasse na quarta-feira ação da Associação Brasileira de Magistrados (AMB) que, se aprovada como previsto, poria fim à razão do CNJ.
Em resumo, a AMB pede que o conselho perca a atribuição de investigar e punir magistrados antes que sejam julgados pelas corregedorias dos respectivos tribunais onde estejam lotados. Por analogia, tanto essa ação quanto a atitude de Peluso e mesmo o aval da maioria do CNJ à nota de repúdio do presidente do STF à declaração da juíza, remetem ao posicionamento majoritário do Legislativo contrário a punições a desvio de condutas de seus integrantes. Poder-se-ia comparar também ao pensamento predominante no Executivo, segundo o qual uma limpeza em regra nos critérios para preenchimento de cargos na administração pública faria mal à saúde do governo de coalizão. Ou seja, a norma não escrita que as excelências de todos os Poderes parecem dispostas a adotar é a da impunidade como pressuposto para que reine a paz na República.
As verdades ofendem, assim como a realidade enunciada pela corregedora ofendeu os brios do presidente do Supremo e as punições aplicadas nos últimos anos pelo CNJ calaram fundo no espírito do corpo da Associação dos Magistrados.

O vídeo com a íntegra do discurso de Lula na Sciences Po

Por que será que só a nossa "elite" tem intersse em ouvir FHC e o resto do mundo só que saber de dar ouvidos ao metalúrgico?

https://www.youtube.com/watch?v=XP7kqoKIUvs&feature=player_embedded

 Íntegra do discurso de Lula na Sciences Po (Paris)





Em Londres, Lula não poupa críticas aos líderes europeus


30/9/2011 11:20,  Por Redação, com agências internacionais - de Londres

Lula Lula fala aos líderes empresariais europeus em seminário de revista conservadora

Ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva não poupou críticas aos líderes europeus, na noite passada, por se manterem passivos diante da crise mundial do capitalismo, sem tomar as medidas necessárias para ajudar o bloco a superar as dificuldades. No seminário promovido pela revista conservadora britânica The Economist, nesta capital, Lula disse que “não é bom tomar decisões econômicas de olho em pesquisas eleitorais”. Era uma crítica principalmente à chanceler alemã, Angela Merkel, que tem perdido popularidade interna e resiste a aprovar medidas para ajudar países endividados da zona do Euro, como Grécia e Itália.
Quanto custaria para a Europa ter resolvido o problema da Grécia há dois anos? E olha o que a crise lá está causando para o mundo – disse o ex-presidente.
A Grécia já acertou dois empréstimos com o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional (FMI), mas continua com dificuldades para honrar suas dívidas, que já ultrapassam 140% do seu Produto Interno Bruto (PIB). O mercado já dá como certo um calote grego e tem exigido juros cada vez mais altos para comprar os títulos do país.
– Muitos dirigentes hoje não têm experiências com crises. Crises se resolvem com medidas políticas, não econômicas – afirmou Lula, no discurso que durou 38 minutos.
O líder brasileiro sugeriu uma saída óbvia para a estagnação econômica: o aumento do consumo mundial. Para ele, a Europa e os Estados Unidos deveriam financiar o aumento do mercado consumidor em países como China, Índia e africanos para que essas pessoas comprassem produtos do chamado Primeiro Mundo. Lula deu também uma sugestão para os Estados Unidos. Disse que, em vez de ficar dando dinheiro para salvar os bancos, o governo deveria arrumar um jeito de reduzir a dívida dos mutuários, para que eles voltassem a consumir e a movimentar a economia.
Lula chegou à capital britânica na véspera, quando fez uma palestra para investidores estrangeiros durante encontro do grupo espanhol Santander. Nesta sexta, ele participou de uma conferência promovida pela Economist sobre as possibilidades de investimento em mercados como o Brasil e a Índia. Esse foi o seu último compromisso antes de embarcar de volta para o Brasil nesta sexta, após uma semana participando de eventos nos Estados Unidos e na Europa.
O giro internacional começou na sexta passada, quando foi a Washington (EUA) também para uma palestra. Em seguida, viajou a Paris, onde, na terça, recebeu o título de doutor Honoris Causa do Instituto de Estudos Políticos (SciencesPo, na sigla em francês), o maior da França. Na quinta-feira, pela manhã, Lula esteve em Gdansk, na Polônia, onde se encontrou com Lech Walesa, ex-presidente polonês, sindicalista e prêmio Nobel da Paz, para receber um prêmio “em reconhecimento aos seus esforços para conseguir uma cooperação pacífica e a compreensão entre as nações (…) e por sua contribuição para redução da desigualdade social”, segundo nota da fundação Lech Walesa.

Amorim diz que compra de caças é fundamental e urgente

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Base aérea de Anápolis



 

Amorim diz que compra de caças é fundamental e urgente


29/9/2011 14:16,  Por Redação, com ABr- de Brasília

A compra de caças para a Força Aérea Brasileira (FAB) é considerada fundamental e urgente pelo ministro da Defesa, Celso Amorim, mas ainda não foi discutida “em profundidade” com a presidenta Dilma Rousseff.
Amorim, que participa nesta quinta-feira de audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado, destacou a relevância do assunto devido ao estado dos caças Mirage que país detém e do tempo que as empresas que produzem os aviões levam para entregá-los.
- Até o final de 2013, nenhum dos 12 Mirages que estão em Anápolis estará em condição de atuar plenamente. É algo realmente muito urgente, muito importante. A necessidade de defesa da Amazônia, das fronteiras, impõe que nós tenhamos uma aviação de caças adequada- afirmou Amorim.
Apesar disso, o ministro disse que falou apenas superficialmente sobre o assunto com a presidenta. Amorim ressaltou ainda que os aviões não serão escolhidos apenas pelo preço, por considerar que “em defesa, o barato sai caro”. A transferência de tecnologia, já colocada como requisito na escolha dos caças, será fator determinante.
- Há atenção prioritária à transferência de tecnologia. Não apenas a promessas de transferências de tecnologia, mas a questões contratuais e à presença de empresas brasileiras no processo de transferência- explicou o ministro.

Ocupação de Wall Street completa 10 dias ignorada pela grande mídia

Pessoal,

Não deixem de assistir e divulgar também estes dois vídeos (links do youtube abaixo).


É o cúmulo da safadeza a grande mídia não dar destaque a este movimento. Lembra a Globo tentando esconder o movimento das 'Diretas Já'.



http://i2.cdn.turner.com/money/2011/09/16/technology/occupy_wall_street/occupy-wall-street.top.jpg


Sexta-Feira, 30 de Setembro de 2011

Venham todos ocupar Wall Street, pede Michael Moore

Redação

A manifestação “Ocupar Wall Street” chega ao décimo dia ignorada pela grande imprensa e cada vez mais “gritante” na mídia alternativa e blogs. As milhares de pessoas permanecem acampadas no local, enfrentando policiais cada vez mais violentos.

Lawrence O´Donnel, apresentador de uma emissora de TV alternativa, mostra em seu programa “The last World” a cena de um jovem sendo agredido. Ele questiona: “Por que os policiais estão batendo neste rapaz?

Em seguida, Lawrence reapresenta a mesma cena em câmera lenta e explica: “Os policiais estão batendo no jovem porque ele está armado com uma câmera de vídeo”. Outra cena do programa mostra duas mulheres gritando muito após terem sido atingidas por spray de pimenta. Lawrence condena a brutalidade: “As pessoas são inocentes, pacíficas, não podem ser agredidas nem presas”.

O que causa espanto ainda maior, acrescenta o jornalista, é a falta de reação de quem assiste ao espetáculo de horror de braços cruzados. “Ninguém faz nada a favor dessas pessoas”, denuncia, afirmando que a violência policial contraria a lei, é crime. Diz ainda que a ação policial tem uma explicação: o governo sabe que a manifestação não terminará enquanto a população nas ruas não for ouvida.
Um internauta posta o programa de Lawrence no Youtube e pede: “Por favor, transformem isto num viral”, explicando que tem poucas linhas para expressar o horror que está ocorrendo nas ruas. Ele assina “moodyblueCDN” na postagem.

Abaixo do vídeo, segue o comentário: “E aqui vamos nós aos bastidores de Matrix”, comparando a bem engendrada política imperialista ao enredo do filme de ficção científica, no qual os personagens têm os destinos traçados por máquinas e só podem romper esse circuito de manipulação quando surgir o salvador.

Outro vídeo da internet mostra os jovens e sua demanda: “quem for honesto nos dará apoio, quem for heróico se juntará a nós”.

Lucas Vazquez está entre os jovens de Wall Street, é um dos organizadores do protesto, segundo um vídeo. Ele dá uma declaração tranqüila, mostrando-se surpreso com a reação dos policiais.

Os dez dias de protestos já deram origem a um documentário, O verão da Mudança (Summer of Change), de Velcrow Ripper. Ripper navega na praia hippie dos anos 1960 ao propor: “Como esta crise global pode se transformar em uma história de amor?”. O documentário foi produzido pela Evolve Love.

Os 99% que ocuparam Wall Street


Amy Goodman - Democracy Now

Se dois mil ativistas do movimento conservador Tea party se manifestassem em Wall Street, provavelmente haveria a mesma quantidade de jornalistas a cobrir o acontecimento. Duas mil pessoas ocuparam de fato Wall Street no dia 17 de setembro Não levavam cartazes do Tea party, nem a bandeira de Gadsden com a serpente em espiral juntamente com a ameaça “Não te metas comigo”. Mas a sua mensagem era clara: “Somos os 99% da população que não toleram mais a ganância e a corrupção do 1% restante, diziam. Ali estava uma maioria de jovens a protestar contra a especulação praticamente incontrolável de Wall Street, que provocou a crise financeira mundial. Mas o interesse da mídia em divulgar protestos contra Wall Street parece ser bem menor.

Um dos multimilionários mais conhecidos de Nova York, o presidente da Câmara, Michael Bloomberg, comentou sobre o momento que vivemos: “Muitos jovens saem da universidade e não encontram trabalho. Foi isso que aconteceu no Cairo e em Madri. Não queremos este tipo de distúrbios aqui”. Distúrbios? A Primavera Árabe e os protestos na Europa trataram-se disso?

É provável que, para desilusão do presidente da Câmara Bloomberg, o que aconteceu no Egito e na Europa seja justamente o que inspirou muitas pessoas a ocupar Wall Street. Em comunicado recente, a coligação de organizações que protestam em Nova York informou: “No sábado, realizámos uma assembleia geral com duas mil pessoas. Na segunda-feira, às 20h, ainda estávamos ocupando a praça, apesar da constante presença policial. Estamos construindo o mundo que queremos, tomando por base as necessidades humanas e a sustentabilidade, no lugar da ganância das empresas”.

Falando de Tea Party, o governador do Texas, Rick Perry, tem provocado polêmica durante os debates presidenciais republicanos com a sua declaração de que o elogiado sistema de segurança social dos Estados Unidos é “um esquema do tipo Ponzi”. Charles Ponzi dedicou-se a fraudar milhares de pessoas em 1920 com a promessa enganosa de que receberiam enormes ganhos a partir de investimentos. Um típico esquema Ponzi consiste em tomar o dinheiro de vários investidores e pagá-los com o dinheiro de novos investidores, em vez de pagar a partir de ganhos reais. O sistema de segurança social dos Estados Unidos é de fato sério: tem um fundo confiável de mais de 2,6 mil milhões de dólares. O verdadeiro esquema que ameaça o povo norte-americano é a insaciável ganância dos bancos de Wall Street.
Entrevistei um dos organizadores do protesto “Ocupemos Wall Street”. David Graeber é professor em Goldsmiths, Universidade de Londres, e é autor de vários livros. A sua obra mais recente é "Dívida: os primeiros 5.000 anos". Graeber assinala que, no meio da crise financeira de 2008, renegociaram-se dívidas enormes de bancos. No entanto, pouquíssimas hipotecas receberam o mesmo tratamento. Graeber disse: “As dívidas entre os mais ricos ou entre governos podem sempre ser renegociadas e, de fato, sempre foi assim na história mundial. Não estão gravadas em pedras. Em termos gerais, quando os pobres têm dívidas com os ricos, automaticamente as dívidas convertem-se numa obrigação sagrada, mais importante do que qualquer outra coisa. A ideia de renegociá-las é impensável”.

O presidente Barack Obama propôs recentemente um plano de criação de emprego e maiores esforços para reduzir o défice público. Uma das propostas é o chamado “imposto sobre os milionários”, que conta com o apoio do multimilionário e partidário de Obama Warren Buffet. Os republicanos denominaram o imposto de “guerra de classes”.
Graeber explica: “Durante os últimos 30 anos vimos os mais ricos da nossa sociedade liderarem uma guerra política contra todos os demais, e esta é considerada a mais recente disputa, uma medida totalmente disfuncional do ponto de vista político e econômico. Esse é o motivo pelo qual os jovens simplesmente abandonaram qualquer ideia de recorrer aos políticos. Todos sabemos o que acontecerá. Os impostos de Obama são uma espécie de simulação com carácter populista, que todos sabem que será rechaçado. Na realidade, o que provavelmente vai acontecer é que haverá mais cortes nos serviços sociais”.

Lá fora, na manhã fria de quarta-feira, os manifestantes iniciaram o dia de protestos com uma marcha no meio de forte presença policial. Fizeram soar a campainha de abertura da “bolsa do povo” às 9h30, exactamente na mesma hora em que soa a campainha da Bolsa de Nova York. Enquanto os banqueiros continuam seguros dentro dos seus bancos resgatados, lá fora, a polícia prende manifestantes. Num mundo justo, com uma economia justa, caberia perguntar: quem deveria estar passando frio lá fora? Quem deveria ser preso?
(*) Artigo publicado em "Democracy Now" em 22 de Setembro de 2011. Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna. Texto em inglês traduzido por Mercedes Camps para espanhol. Texto em espanhol traduzido para o português por Rafael Cavalcanti Barreto, e revisto por Bruno Lima Rocha para Estratégia & Análise

Ocupar Wall Street: o que todos querem saber sobre o movimento

É um coletivo de ativistas, sindicalistas, artistas, estudantes, que se reunira antes na campanha “New Yorkers Against Budget Cuts” [Novaiorquinos contra os cortes no orçamento]. Para muitos norte-americanos, essa ação direta não violenta é a única oportunidade que resta para que tenha alguma voz política. E isso tem de ser levado a sério pelos que ganham a vida na imprensa-empresa. Em artigo sob a forma de uma entrevista, ativista do movimento diz a que ele veio.


Nathan Schneider - The Nation


PERGUNTA: Ouvi dizer que o grupo Adbusters organizou o movimento Occupy Wall Street? Ou os Anonymous? Ou US Day of Rage? Afinal, quem juntou todo mundo lá?

RESPOSTA: Todos esses grupos participaram. Adbusters fez a convocação inicial em meados de julho, e produziu um cartaz muito sexy, com uma bailarina fazendo uma pirueta no lombo da estátua do Grande Touro [ing. Charging Bull], com a polícia antitumultos no fundo. O grupo US Day of Rage, criação da estrategista de Tecnologias da Informação, TI [ing. Information Technologies, IT] Alexa O'Brien, que existe quase exclusivamente na Internet, também se envolveu e fez quase todo o trabalho inicial de encontros e pelo Tweeter. O grupo Anonymous – com suas múltiplas, incontáveis e multiformes máscaras – agregou-se no final de agosto. Mas em campo, em New York, quase todo o planejamento foi feito pelo pessoal envolvido na Assembleia Geral de NYC.

É um coletivo de ativistas, artistas, estudantes, que se reunira antes na campanha “New Yorkers Against Budget Cuts” [Novaiorquinos contra os cortes no orçamento]. Essa coalizão de estudantes e sindicalistas acabou de levantar a ocupação de três semanas perto do City Hall, que recebeu o nome de Bloombergville, na qual protestaram contra os planos do prefeito, de demissões e cortes no orçamento da cidade. Aprenderam muito naquela experiência e estavam ansiosos para repetir a dose, dessa vez em movimento mais ambicioso, aspirando a ter mais impacto. Mas, de fato, não há ninguém, nem grupo nem pessoa, comandando toda a ocupação de Wall Street.

PERGUNTA: Ninguém manda? Ninguém é responsável? Como se tomam as decisões?

RESPOSTA: A própria Assembleia Geral tomou as decisões para a ocupação na Liberty Plaza, apenas alguns quarteirões ao norte de Wall Street. (Ali ficava o Parque Zuccotti, antes de 2006, quando o espaço foi reconstruído pelos proprietários da área, Brookfield Properties, que lhe deram o nome do presidente da empresa, John Zuccotti.) Agora, lá vai; vai soar como jargão. A Assembleia Geral é um coletivo horizontal, anônimo, sem chefia, sistema de consenso autogerido com raízes no pensamento anarquista,muito semelhante às assembleias que têm conduzido vários movimentos sociais em todo o mundo (na Argentina, na Praça Tahrir no Cairo, na Puerta Del Sol em Madrid e em outros pontos). Não é simples trabalhar para gerar consensos novos. É difícil, frustrante e lento. Mas os ocupantes estão usando o tempo e trabalhando sem parar. Quando chegam a algum consenso, o que muitas vezes exige dias e dias de discussões e de tentativas, a sensação de alegria é quase indescritível e inacreditável. Ouvem-se os gritos de alegria por toda a praça. É experiência difícil de descrever, ver-se ali, cercado de centenas de pessoas apaixonadas, empenhadas, rebeladas, criativas e todos em perfeito acordo sobre alguma coisa.

Por sorte, não é preciso discutir tudo nem é indispensável haver perfeito consenso sobre tudo. Há vários (e o número deles aumenta sempre) comissões e grupos de trabalho que assessoram a Assembleia Geral – de comissão de Comida e Imprensa, a grupos de ação direta, segurança e limpeza. Todos são bem-vindos e cada um faz seu trabalho, sempre em tácita coordenação com a Assembleia Geral como um todo. A expectativa e a esperança é que, em resumo, cada indivíduo é capaz de fazer o que sabe e deseja fazer e de tomar decisões e agir como lhe parecer mais certo, com vistas ao bem de todo o grupo.

PERGUNTA: E o que esses manifestantes querem obter?

RESPOSTA: Ugh – eis a pergunta de um zilhão de dólares. A convocação inicial, disparada pelo grupo Adbusters pedia que cada um apresentasse uma única demanda: “O que é que você quer?” Tecnicamente, essa pergunta ainda não foi respondida. Nas semanas antes do dia 17/9, a Assembleia Geral de NYC parecia distanciada da linguagem das “exigências” e “demandas”. Isso, para começar. E em boa parte porque as instituições do estado, nos EUA, já estão tão infiltradas pelo dinheiro das grandes empresas, que apresentar demandas pontuais não faria sentido algum, pelo menos antes que o movimento crescesse um pouco e ficasse politicamente mais forte. Em vez de apresentar uma lista de demandas, optaram por fazer da própria ocupação sua principal demanda – com a democracia direta em ação, acontecendo na praça –, e daí pode ou não sair alguma demanda específica. Se se pensa um pouco, o ato de ocupar já é uma potente declaração contra a corrupção que Wall Street passou a representar. Mas, uma vez que pedir que pense é quase sempre pedir demais à imprensa-empresa de massa nos EUA, a questão das demandas acabou por converter-se em considerável problema de Relações Públicas, para o movimento.

Nesse momento, a Assembleia Geral está no processo de decidir como poderá resolver a questão de unificar as demandas do movimento. É discussão realmente difícil e interessantíssima. Mas não espere demais.

Todos, na praça têm seu próprio modo de pensar sobre o que querem ver acontecer, é claro. Na parte norte da praça há centenas de cartazes de papelão colados, nas quais as pessoas escreveram seus slogans e demandas. Quem passa para e lê, com máxima atenção, ao longo de todo o dia. As mensagens estão por todos os lados, sim, mas também há uma certa coerência entre todas elas. Uma já é, pode-se dizer, unânime: “As pessoas, antes dos lucros”. Mas também estão sendo discutidas várias outras questões, que vão do fim da pena de morte, ao desmonte do complexo militar industrial; de saúde a preço acessível, a políticas de imigração mais benignas. E muitas outras coisas. Pode ser difícil e confuso, mas, repito, essas questões estão conectadas, todas elas, num determinado plano, num nível que ainda não se pode ver com clareza.

PERGUNTA: Alguns jornais e televisões estão pintando os manifestantes como sem foco, ou, pior, desinformados e completamente confusos. Que verdade há nisso?

RESPOSTA: É claro. Num mundo tão complexo como o mundo em que vivemos, todos somos desinformados sobre inúmeras questões, mesmo que saibamos muitas coisas sobre algumas poucas questões. Lembro de um policial que disse dos manifestantes, no primeiro ou segundo dia: “Eles acham que sabem tudo!” Os jovens são quase sempre assim. Mas, nesse caso, ver a superconcentração de riqueza em torno de Wall Street e a descomunal influência que tem na política, não exige conhecimento detalhado sobre o que faz e como opera um “fundo hedge” ou a cotação de venda das ações da Apple. Um detalhe que distingue esses manifestantes é, precisamente, a esperança de que seja possível viver num mundo melhor. Devo dizer que, para muitos norte-americanos, essa ação direta não violenta é a única oportunidade que resta para que tenha alguma voz política. E isso tem de ser levado a sério pelos que ganham a vida na imprensa-empresa.

PERGUNTA: Quantos responderam à convocação dos Adbusters? Que tamanho tem esse grupo? Que tamanho tem hoje e que tamanho algum dia teve?

RESPOSTA: A convocação inicial dos Adbusters previa atrair cerca de 20 mil pessoas para o Distrito Financeiro da cidade no dia 17/9. Apareceram 2 mil, um décimo do previsto, no primeiro dia. Apesar da verdadeira blitz que o grupo dos Anonymous disparou pelas mídias sociais, a maioria das pessoas simplesmente não ficou sabendo da convocação. Para piorar, organizações progressivas tradicionais, como sindicatos e grupos do movimento pacifista em geral, sentiram-se desconfortáveis com a convocação para uma ação tão amorfa, tão sem ‘demandas’. A primeira semana foi difícil, a polícia apareceu, muita gente foi presa e muita gente também deixou a praça para descansar e respirar. A imprensa de massa acabou por cobrir as prisões do fim de semana e a brutalidade policial atraiu a atenção de outros jornais e jornalistas. Agora, seja dia seja noite, nunca há menos de 500 pessoas na praça, e pelo menos metade dessas pessoas estão vivendo na praça, dormindo aqui. A qualquer momento do dia ou da noite, muitos milhares de pessoas em todo o mundo assistem a cenas filmadas aqui, em transmissões online que não se interrompem nunca, 24 horas por dia, sete dias por semana.

Diferente de outros movimentos de massa, essa ocupação acabou por depender muito de um pequeno grupo de ativistas determinados e corajosos, quase todos muito jovens, que não se incomodam com dormir ao relento e enfrentar a polícia. Mas isso já começou a mudar. As notícias se espalham, a multidão já não é composta exclusivamente de muito jovens, há maior diversidade. E a ideia de ocupar território, de não arredar pé, já mostra que gera efeitos mais consistentes do que se poderia esperar de uma marcha tradicional. Afinal de contas, houve uma marcha de 20 mil pessoas por Wall Street dia 12 de maio – protestaram contra o resgate aos bancos e os cortes no orçamento para o funcionalismo público – e quem se lembra daquela marcha?

PERGUNTA: O que seria um cenário de “vitória” para a ocupação?
RESPOSTA: Outra vez, a resposta dependerá de quem tiver de responder essa pergunta. Quando se aproximava o dia 17 de setembro, a Assembleia Geral de NYC realmente viu seu objetivo, outra vez, não como fazer aprovar alguma lei ou iniciar uma revolução, mas como começar a construir uma nova espécie de movimento. Eles queriam fomentar o surgimento de assembleias desse tipo que se vê aqui, em vários bairros da cidade, por todo o mundo, que pudessem ser uma nova base para outro tipo de organização política nos EUA – e contra a inadmissível influência do dinheiro das grandes empresas. Isso, agora, está começando a acontecer, quando ocupações semelhantes a essa começam a brotar em dúzias de outras cidades. Outra grande ocupação está sendo preparada há meses , planejada para começar dia 6/10 na Freedom Plaza em Washington, D.C. Os organizadores dessa segunda ocupação estão visitando a ocupação aqui em NY, na Liberty Plaza. Andam por aí, vão e vem, aprendendo o que podem dos erros e acertos.

Já ouvi gente dizer, quando a Liberty Plaza estava cheia de câmeras de TV “Já ganhamos! Vencemos!” Outros dizem que a coisa está só começando. Os dois, em certo sentido, têm razão.

PERGUNTA: E a polícia? Estão também ocupando a praça? Atacaram mesmo com brutalidade? Se eu for à praça, há riscos? O que pode acontecer?

RESPOSTA: A polícia não sai da praça e, sim, houve alguns confrontos muito violentos, assustadores. Também se viram atos de extrema coragem física e moral de gente comum. O pior momento aconteceu no sábado passado, sim, mas, depois daquilo, praticamente não houve mais problemas. Ninguém tem qualquer intenção de ser preso, e praticamente ninguém tem interesse em correr riscos desnecessários ou em instigar a violência contra pessoas ou propriedades. Quanto mais pessoas comuns vierem para cá juntar-se ao movimento – aliando-se a gente famosa e celebridades como Susan Sarandon, Cornel West e Michael Moore – menos provável será que a polícia reprima a ocupação. Como se lê num cartaz na Broadway: “A segurança vem dos grandes números! Junte-se a nós!"

De qualquer modo, desafiar os poderes que se encastelam nessa rua – e fazê-lo sem pedir licença e fazendo barulho – não é ação que possa ser 100% segura. Quanto mais o movimento conseguir se impor e falar, mais riscos haverá. Se você quiser vir, boa providência será anotar o telefone da National Lawyers Guild [alguma coisa como a OAB] no próprio braço, por via das dúvidas.
PERGUNTA: Se eu não puder ir à Wall Street, o que mais poderia fazer?

RESPOSTA: Muita gente está trabalhando muito lá mesmo, onde está – é a magia da descentralização. Você pode assistir às transmissões online, distribuir notícias, doar dinheiro, retuitar informes e estimular seus amigos a participar. Pessoas que entendem de máquinas e programas já estão trabalhando como voluntários, para manter no ar as páginas e blogs do movimento e editar vídeos – em coordenação com salas-de-bate-papo IRC e outras mídias sociais. Em breve, as discussões sobre ‘demandas’ do movimento serão feitas também online, além de presencialmente, aqui na praça. Offline, você pode juntar-se a ocupações semelhantes que estão começando pelo país ou, se preferir, pode começar sua própria ocupação, onde estiver.

Em todos os casos, você sempre deve lembrar um conselho de uma mulher, na Assembleia Geral na noite de 3ª-feira, que já é um dos vários mantras que circulam: “Ocupe o seu próprio coração”, disse ela. “Com amor, não com medo”.

(*)Nathan Schneider é editor senior de "Killing the Buddha", uma revista online de religião e cultura.

Fonte:
http://www.thenation.com/article/163719/occupy-wall-street-faq

Tradução: Coletivo Vila Vudu

O esgotamento do modelo 'privatista' de educação superior



18/09/2011

Chile mostra esgotamento do modelo 'privatista' de educação superior, diz pesquisador

 

Luciana Araújo | São Paulo


A série de protestos ocorridos no Chile nos últimos quatro meses, em que estudantes pedem a reforma do sistema educacional e a volta do ensino superior gratuito, demonstra o esgotamento de um modelo “privatista” de educação universitária que foi implantado em alguns países nas últimas décadas. Essa á a opinião do pesquisador Fabio Betioli Contel, que lança, ao lado da socióloga Manolita Correia Lima, o livro Internacionalização da educação superior (Alameda Editorial, 536 páginas, R$ 68,00).
Efe

Mercantilização do ensino, como demonstram protestos no Chile e na Inglaterra, dá sinais de exaustão

Na obra, os autores criticam o modelo definido por critérios mercadológicos — que levou, por exemplo, aos protestos contra o aumento das taxas anuais de empréstimo estudantil nas universidades inglesas — e defendem uma “universalização cooperativa”.
“O que nosso livro preconiza é uma forma de organização da internacionalização oposta a este modelo privatista”, diz Contel, em entrevista concedida ao Opera Mundi por email. “É preciso criar solidariedades regionais com pautas voltadas para interesses públicos nacionais, e que sejam ao mesmo tempo estratégicos para o desenvolvimento dos países latinoamericanos como um todo”, defende.
O livro analisa diversos períodos de implementação de políticas de intercâmbio de conhecimento em sete países (Estados Unidos, Grã-Bretanha, Austrália, Canadá, França, Brasil e Chile). “A internacionalização é um dado que faz parte do DNA das universidades, já que o conhecimento –meio e fim das universidades– tende ao universalismo; por isso a internacionalização em moldes cooperativos não só é desejável, como necessária, se quisermos construir uma globalização solidária”, comenta Contel.

Os dois pesquisadores avaliam que a principal causa dessa internacionalização desigual e hierárquica existente hoje entre as universidades dos países ricos e as nações subdesenvolvidas é que seus critérios são eminentemente mercadológicos, definidos por organismos comerciais e financeiros, como a OMC e o Banco Mundial. “Obviamente não podemos esperar do Banco Mundial soluções de caráter universal. Nenhuma instituição financeira vinculada a interesses dos países centrais pode ajudar na consolidação de sistemas nacionais de ensino superior nos países periféricos”, afirma o geógrafo. “Pelo contrário, sua ação é em grande parte determinada por raciocínios eminentemente contábeis, tendo nos mecanismos de mercado o grande elemento de definição das políticas”, observa.
Contel afirma ainda que uma internacionalização não subordinada seria possível se governos e dirigentes universitários de países como o Brasil tivessem vontade política para “aumentar as solidariedades acadêmicas”, o que seria favorecido pelas relações acadêmicas sul-sul, menos hierarquizadas que os intercâmbios norte-sul. “Isto significa trabalhar para a criação de redes de pesquisa regionais sólidas, de revistas indexadas que dêem maior visibilidade a esta produção, e instalação de programas de cooperação universitária de longo prazo”, diz.
Na relação acadêmica com os países centrais, os autores defendem uma postura pragmática das políticas de internacionalização a serem implementadas nos países periféricos, com o objetivo de suprir carências em áreas específicas de acordo com os projetos nacionais e regionais destes países. Além disso, “é preciso fazer com que o investimento em pesquisa aplicada “saia” das universidades públicas, e seja financiado também pelas empresas dos países semi-periféricos”, afirma Fabio Contel.

Assimilação
Questionado sobre as implicações do processo de internacionalização hoje em vigor sobre a mão-de-obra formada nos países periféricos, Fábio acrescenta que “ainda que uma formação acadêmica que contemple um estágio no exterior soe interessante do ponto de vista individual, pode ter consequências indesejáveis para o país de origem do estudante”.
Ao regressar do período de estudos — quando regressam — os alunos emigrados trazem consigo, em primeiro lugar, o aprendizado da língua do país hospedeiro que, por sua vez, traz embutido padrões culturais, estéticos e de comportamento típicos do país hospedeiro. Em segundo lugar, a imersão no sistema cultural do país hospedeiro interfere também nas referências políticas e na formação ideológica do estudante que, ao retornar, acaba funcionando como uma espécie de ‘embaixador’ informal dos países hospedeiros”, critica.
Contel destaca que esse processo de “assimilação” pode ser ainda mais perverso em nações de descolonização recente, como é o caso da maior parte dos países africanos e do sudeste asiático.

Estudantes universitários protestaram com os corpos pintados nesta sexta-feira em Santiago, capital do Chile  Foto: Reuters
Estudantes universitários protestaram com os corpos pintados nesta sexta-feira, 
02/09, em Santiago, capital do Chile



“A classe dominante não tem interesse em mudar a educação”


Christian Palma - Correspondente da Carta Maior em Santiago

Há três meses, Camila Vallejo, a carismática presidenta da Federação de Estudantes da Universidade do Chile (Fech), podia tomar um metrô tranquilamente e caminhar sem chamar a atenção mais do que qualquer outra mulher bonita chilena. Nesse tempo, os estudantes universitários e secundaristas iniciavam um movimento sem precedentes que inclui até hoje ocupações e greves nas escolas do país e diversas marchas pelas principais cidades chilenas pedindo fundamentalmente o fim do lucro no sistema educacional, mais qualidade nos conteúdos ministrados nas salas de aula e gratuidade completa na educação pública.

Ela, com paciência, visitava os colégios explicando ponto por ponto as razões das reivindicações estudantis e parava para conversar com os jornalistas com calma. Foi em um desses eventos que a conheci. Usando um jeans surrado, um lenço artesanal no pescoço, um piercing no nariz e esse olhar que esconde uma das mentes políticas mais brilhantes que apareceram no Chile nos últimos anos, trocamos algumas palavras.

A revolução estudantil se incendiou, os argumentos dos estudantes foram entendidos e valorizados pela cidadania e Camila Vallejo demonstrou que é muito mais do que um rosto bonito. O peso de seus argumentos em programas de televisão, a clareza de suas intervenções diante das autoridades que dobram e triplicam a idade e a capacidade inata de aglutinar as massas, converteram-a na líder mais visível deste movimento que já derrubou um ministro e obrigou o governo de direita de Sebastián Piñera a oferecer três alternativas para destravar o conflito. Mas nenhuma delas satisfez os estudantes.

Tamanha foi a pressão sobre o governo, que o próprio Piñera chamou os jovens para uma conversa neste sábado no palácio de La Moneda. Um dia antes deste convite que pode marcar o início do fim da crise, Camila Vallejo, achou um espaço em sua agenda e concedeu esta entrevista exclusiva à Carta Maior, recém chegada de Brasília, onde se reuniu com seus pares brasileiros. Ela reconhece que tem tempo apenas para comer.

Considerando as dezenas de pedidos de entrevistas solicitadas por meios de comunicação chilenos e estrangeiros, interessados nesta jovem mulher, alguns minutos com ela são um luxo.

Estrela das redes sociais – como boa parte de sua geração – convocou milhares por meio do Facebook e do Twitter, mas também foi ameaçada de morte ou insultada covardemente pela web. Tranquila, diz que está consciente dos riscos que isso significa, mas, mais importante ainda, sabe a tremenda responsabilidade que passa a ter com apenas 23 anos.

Senhoras e senhores, com vocês Camila Antonia Amaranta Vallejo Dowling, a menina que jogou o governo de direita de Sebastian Piñera nas cordas. Saiba por que.

- Você diz que as demandas estudantis não são um assunto de direita ou esquerda, mas sim de toda a sociedade chilena. Acredita que a cidadania entendeu isso?

Este movimento alcançou uma massividade e uma transversalidade que nunca tinham sido vistas desde o retorno à democracia (1990). Uma enorme parcela daqueles que, em um determinado momento, apoiaram Piñera, hoje se dá conta de que este não é um ataque direto à sua posição, mas sim a um modelo de educação que concebe a educação como um bem de mercado e não como um direito, e também a um sistema democrático que hoje, se reconhece , é muito estreito.

O questionamento à conduta do governo, inclusive de cidadãos que pertencem a setores que, em um determinado momento, apoiaram o atual presidente, deixa evidente que existe o entendimento de que a luta que hoje travamos é pelo direito à educação e por uma mudança de sistema que beneficie toda a sociedade e o desenvolvimento do Chile. Ela não se limita a buscar benefícios para um setor político particular.
O movimento se polarizou entre direita e esquerda. Isso é prejudicial?

Para entender esse conflito é preciso analisá-lo a partir de duas perspectivas. Por um lado, é preciso considerar que, junto à população, a problemática educacional se transversalizou de uma forma nunca vista, o que tem gerado um apoio massivo ao movimento vindo de diversos setores e atores ligados à educação. Por outro lado, temos um setor muito mais minoritário e ideológico representado pelas classes dominantes, que não estão interessadas em uma mudança na educação, tanto porque o atual sistema beneficia diretamente seus bolsos, como porque ele os mantêm em sua posição de privilegiados frente a uma população com fraca educação. A polarização de duas grandes alternativas educacionais é produto da postura intransigente desse setor. Ou seja, a polarização não se encontra no interior do movimento estudantil – que tem sabido priorizar a unidade atuando de forma conjunta -, mas sim representa uma enorme contradição entre as mudanças que a cidadania está exigindo hoje frente uma minoria conservadora cujos interesses são representados pelo Executivo.

Qual a consistência deste movimento para resistir às artimanhas urdidas no espectro político da direita e também do governo?

Hoje o movimento conta com uma série de fortalezas, tais como a amplitude que ultrapassa o meramente estudantil e o transforma em um movimento social; a unidade dos diferentes atores ligados ao mundo educacional, que após um longo processo conseguiram conjugar esforços em torno de pautas unificadas; a representatividade dos anseios da cidadania, na medida em que tem ocorrido processos democráticos por meio dos quais se definem as melhores estratégias a utilizar; e, finalmente, conta com a experiência histórica dos diferentes movimentos que nos precederam como o foi o movimento estudantil dos “pinguins” (estudantes secundaristas) de 2006.

O movimento se vale de todas essas ferramentas para fazer frente às diferentes artimanhas que podem surgir tanto da articulação da direita como do governo, as quais, até aqui, temos sabido enfrentar.

Atuação do governo

Para entender um pouco mais o sistema educacional chileno e por que a direita não quer transformá-lo é preciso ter em mente que há três tipos de escolas de educação superior herdados da ditadura de Pinochet. Há os centros de formação técnica, os institutos profissionais e as universidades que se dividem em tradicionais, com aportes do Estado, e privadas. O ingresso nelas passa por uma prova de conhecimentos e, para os que não têm dinheiro, há um sistema de créditos outorgados pelo setor privado quase sem nenhuma regulação e com juros altíssimos. Em 2006, a presidenta Michelle Bachelet se complicou com a “Revolução dos Pinguins” que mobilizou só os estudantes secundaristas. Eles receberam promessas que não foram cumpridas e agora, com 80% da cidadania aprovando as mobilizações, o governo de Piñera recebeu os protestos na sua porta.

Qual sua avaliação sobre a atuação do governo no tema? Não deu resposta às suas demandas, faz declarações infelizes saindo da boca do próprio presidente (“não há nada grátis na vida”, “as pedras nos levaram à ruptura da democracia”) e tenta dar um perfil violento às marchas (com infiltração de policiais).

O governo não está escutando a cidadania, o que mostra que está disposto a seguir defendendo intransigentemente seu modelo educativo, inclusive assumindo o custo de omitir o que o povo tem demandado massivamente durante mais de três meses.

Não contente com isso, tem explorado ao máximo as ferramentas com as quais conta o governo e a direita chilena – meios de comunicação, força policial e militar, respaldo dos grandes grupos econômicos – para deslegitimar o movimento, baseando-se na mentira por trás de estratégias populistas.

A pressão social que este movimento conseguiu acumular obrigou Piñera a mostrar do que é feito este governo, quais são os limites democráticos que ele está disposto a cruzar e quem representa realmente, o que constitui um enorme desprestígio e desaprovação de sua gestão, o que já foi expresso nas últimas pesquisas que, historicamente, eles mesmos têm validado.

O questionamento à incapacidade de manejar a demanda social por uma educação pública gratuita e de qualidade para todos alcança novos níveis na medida em que o grau de repressão ultrapassou qualquer limite de tolerância de um Estado de Direito. Durante esses meses de protesto, temos sido testemunhas de aberrantes abusos por parte do corpo policial, sob ordens do Executivo, através do Ministro do Interior e Segurança Pública, Rodrigo Hinzpeter, o que atingiu seu ápice com a morte de um estudante na semana passada.

Qual sua opinião sobre o papel da Concertação (oposição) em tudo isso?

A Concertação desemprenhou um papel bastante oportunista tentando obter ganhos políticos com o que ocorre hoje no país. Neste sentido vemos hoje representantes dessa coletividade criticando o modelo educacional, como, por exemplo, o ex-presidente Ricardo Lagos que diz “que o modelo não já não aguenta mais”, esquecendo-se que foram eles mesmos que administraram e aprofundaram a mercantilização da educação e que, por outro lado, um importante setor dessa organização é formado por proprietários de colégios, por investidores no negócio da educação superior. Apesar disso, dado o nível de participação que a Concertação tem no Parlamento, corresponde a eles agora responder a altura de suas declarações em favor do movimento. Ou seja, devem assegurar que os projetos de lei que surgiram dessas mobilizações representem integralmente o que as demandas sociais estabeleceram e, por motivo nenhum, devem voltar a negociar pelas costas do movimento, como terminou ocorrendo com o processo da Revolução dos Pinguins de 2006.

Com a foice e o martelo no coração

Camila Vallejo é filha de ex-militantes allendistas e referência das Juventudes Comunistas. Na atualidade, foi obrigada a congelar a tese para se formar em geografia. Ela não reconhece abertamente, mas tampouco descarta seguir uma carreira política.

Já pensou em seguir sendo dirigente no futuro, ainda mais em um país carente de líderes jovens?

Sobre o meu futuro, tenho dito que tenho um projeto pessoal de caráter acadêmico, ou seja, gostaria de terminar meu curso e seguir neste caminho. No entanto, concebo os cargos de representação como uma responsabilidade e de modo algum como um privilégio, pelo que, a priori, não posso dizer que não continuarei tendo cargos de representação popular.

Alguns dirigentes estudantis internacionais olham com especial atenção para o Chile, depositam esperança neste movimento e estão atentos para que as conquistas não sejam perdidas. Como avalia essa tremenda responsabilidade?

Creio que a esperança de que as conquistas desse movimento não sejam perdidas, assim como a responsabilidade por elas é compartilhada pela totalidade dos envolvidos. Se é verdade que, às vezes, minha pessoa é transformada em ícone do movimento, temos claro que a sua construção é uma conquista que pertence a todos. Confio que temos feito as coisas corretamente, o que é demonstrado pelo incrível apoio cidadão que nos acompanha três meses depois de iniciada essa mobilização. Sob estas condições, se o governo não tiver suas demandas satisfeitas, isso será responsabilidade da intransigência do governo e da traição da cidadania por parte da direita chilena, o que não estamos dispostos a tolerar.

O que te parece o modelo educacional de Lula (ProUni) que estabelece um mecanismo de bolsas de estudo para estudantes de universidades privadas com finalidade lucrativa, mas que está dirigido especialmente para estudantes de baixa renda e é financiado com isenções fiscais para esses estabelecimentos?

Para além do detalhe técnico das propostas, o que hoje estamos defendendo no Chile são ideias políticas muito concretas. E o fim do lucro na educação é uma das consignas que teve maior adesão da cidadania. A própria lei chilena de Educação criada na ditadura proíbe o fim do lucro em todas as universidades. O cumprimento dessa lei é um dever que esse governo descumpriu grosseiramente e que, após essa mobilização, não nos contentaremos com a continuidade dessa situação. É preciso avançar na direção da proibição do lucro em todo o sistema educacional, desde o pré-escolar a todos os setores de educação superior, assegurando sanções para aqueles que descumprirem esta lei e para aqueles que fizeram isso durante os últimos 30 anos.

Qual sua impressão sobre o apoio dos trabalhadores às mobilizações estudantis e sobre a convocação de outra mobilização massiva para 8 de setembro?

O fato de os trabalhadores apoiarem as mobilizações é algo fundamental para cada processo histórico revolucionário, pois como sujeito histórico o trabalhador que hoje se encontra diretamente explorado pelo processo produtivo sobre o qual se sustenta nossa sociedade capitalista neoliberal.

Se nós, jovens estudantes, somos chamados a gerar e fomentar as mudanças, temos que ter claro que estas devem se realizar junto aos trabalhadores, pois são eles, finalmente, o real motor da história.

Você sofreu críticas e ataques, sem sentido, maliciosos. Você disse que eles fazem parte do jogo, mas alguns ultrapassam todos os limites, como o de que é manipulada pelo Partido Comunista. O que diz sobre isso?

Efetivamente, eu sou militante das Juventudes Comunistas do Chile e isso é algo que nunca escondi, muito pelo contrário, é algo do que sinto muito orgulho, pois é uma grande escola que me permitiu crescer e desenvolver-me politicamente.

Além disso, é de se esperar que, na atual situação, aqueles que não estão à altura do conflito busquem argumentos como estes para atacar, não somente a mim, mas também ao resto dos dirigentes. Mas o certo é que hoje eu represento não só os estudantes da Universidade do Chile, cuja Federação presido, mas também me toca ser a voz de todos os estudantes do Chile, enquanto porta-voz da Confederação de Estudantes do Chile (Confech) e a legitimidade que tanto os estudantes como a cidadania concederam a meu desempenho evidencia que essas acusações não passam de sujas estratégias desesperadas de quem, como disse anteriormente, não tem sido capaz de ganhar o debate.

Tradução: Katarina Peixoto

Sobe o Ibope da Dilma

http://exame.abril.com.br/assets/pictures/23139/size_590_dilma.jpg?1296473985

http://www.conversaafiada.com.br/politica/2011/09/30/quanto-mais-o-pig-bate-mais-sobe-o-ibope-da-dilma/



Quanto mais o PiG bate mais sobe o Ibope da Dilma

    Publicado em 30/09/2011


Segundo a pesquisa, aprovação do governo aumentou de 48% para 51%. Instituto ouviu 2.002 eleitores; margem de erro é de dois pontos percentuais.


A presidente Dilma Rousseff é aprovada por 71% dos eleitores, de acordo com pesquisa Ibope encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e divulgada nesta sexta-feira (30). A pesquisa tem margem de erro de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, o que significa que a aprovação da presidente pode ser de 69% a 73%.

Na comparação com levantamento realizado em julho e divulgado em agosto, a aprovação da presidente subiu quatro pontos percentuais – o índice era 67%.

Dos entrevistados na pesquisa atual, 21% disseram desaprovar a presidente e 8% não souberam ou não responderam. O percentual de desaprovação em julho, que era de 25%, caiu quatro pontos percentuais conforme o Ibope.

Entre 16 e 20 de setembro, o Ibope ouviu 2.002 eleitores com 16 anos ou mais em 141 municípios de todas as regiões do país.


Governo

A aprovação do governo Dilma também subiu entre julho e setembro. O percentual de entrevistados que consideram o governo ótimo ou bom aumentou de 48% para 51%. Segundo o levantamento, 11% consideraram o governo Dilma ruim ou péssimo, contra 12% na pesquisa anterior.

As expectativas com relação ao restante do governo Dilma continuam positivas, segundo a pesquisa, e praticamente no mesmo nível da pesquisa anterior. O percentual de entrevistados que acreditam que o restante do governo será ótimo ou bom passou de 55% para 56%.

Este ansioso blog não acredita em pesquisa. Não acredita, porque duas organizações dominam o mercado e são ligadas ao Golpe: O Datafalha e o Globope.
Este ansioso blog só trata de pesquisa para se divertir às custas de quem nelas acredita.
Não adianta ameaçar com a hiper-inflação.
Não adianta denunciar a inépcia, quando o dólar sobe e quando o dólar cai.
Não adianta dizer que o Palácio do Planalto se ergue sobre um mar de lama.
Clique aqui para ler sobre a UDN e seus sucessores, no artigo de Maria Inês Nassif.
Quanto mais o PiG bate na Dilma mais o Ibope dela sobe.
Enquanto isso, os eternos heróis da elite da elite, o Padim Pade Cerra e o Farol de Alexandria, são rejeitados por sua própria grei.

Abrir a Assembléia Geral da ONU afundou o PiG e a elite da elite. Como tradicionalmente cabe ao Brasil abrir a Assembléia, o Governo do Farol de Alexandria abriu a Assembléia da ONU 8 vezes.

O amigo navegante, por acaso, se lembra de alguma coisa que ele tenha dito ?





Paulo Henrique Amorim

Peluso imita FHC: Esqueçam o que eu disse

http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2011/09/30/peluso-investigacao-dos-tribunais-nao-presta-esquecam-o-que-eu-disse/


Peluso: investigação dos tribunais não presta. (Esqueçam o que eu disse)

    Publicado em 30/09/2011

Peluso também quer que esqueçam ?

Saiu na Folha:

Peluso já criticou investigações feitas por corregedorias


DE BRASÍLIA

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Cezar Peluso, que hoje defende que investigações contra juízes sejam feitas primeiro pelas corregedorias dos tribunais, já fez críticas no passado a apurações comandadas por magistrados contra seus colegas neste âmbito.

Nesta semana, uma ação da AMB (Associação Brasileira de Magistrados) para reduzir o poder de investigação do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) colocou Peluso e a corregedora-nacional de Justiça, Eliana Calmon, em lados opostos.

Para Calmon, o CNJ deve investigar e punir magistrados que praticam irregularidades. Para Peluso, esse papel deve ser feito primeiro pelas corregedorias.


CORPORATIVISMO

Em 2005, a mesma AMB havia questionado a existência do CNJ. À época, Peluso foi o relator do processo no STF e defendeu o poder de investigação do órgão. Segundo ele, que agora também preside o conselho, os juízes não realizavam investigações internas como deveriam.

É coisa notória que os atuais instrumentos orgânicos de controle ético-disciplinar dos juízes, porque praticamente circunscritos às corregedorias [estaduais], não são de todo eficientes, sobretudo nos graus superiores de jurisdição”, disse Peluso em 2005. Ele pediu aos juízes, naquele ano, “grandeza de espírito” para deixar de lado o corporativismo.

A AMB foi ao Supremo para tentar derrubar a resolução do CNJ que estabelece regras para investigar e punir magistrados sob suspeita de irregularidades. A associação considera a atuação do CNJ inconstitucional, porque, segundo a AMB, fere a independência do Poder Judiciário.



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Folha.com, 30/09/2011

Supremo suspende metade das penas impostas pelo CNJ

DE SÃO PAULO

O STF (Supremo Tribunal Federal) suspendeu quase metade das punições aplicadas pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) a juízes acusados de cometer crimes desde a criação do organismo, informa reportagem de Flávio Ferreira.
Das 33 punições impostas pelo CNJ com fundamento no poder do órgão de abrir inquérito para examinar a conduta de juízes, 15 foram suspensas por liminares concedidas por ministros do Supremo.

O poder do órgão de fiscalizar e punir magistrados está no centro da controversa que provocou uma crise no Judiciário nesta semana.
Uma ação da AMB (Associação dos Magistrados do Brasil) no Supremo quer limitar essa atribuição do conselho. A associação alega que o CNJ interfere na independência dos tribunais.
Leia mais na edição da Folha desta sexta-feira, que já está nas bancas.

Ricardo Sukys/Folhapress

Uma vitória de todas e todos que acreditam no SUS e na Justiça

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http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/entidades-comemoram-decisao-da-justica-contra-lei-da-dupla-porta.html



30 de setembro de 2011

Alma lavada: Entidades comemoram decisão contra lei da dupla porta


Por Conceição Lemes

Em todo o Brasil, entidades e movimentos comprometidos com o SUS estão de alma lavada. Em decisão histórica, o desembargador José Luiz Germano, da 2ª Câmara do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), confirmou nessa quinta-feira, 29, a liminar do juiz Marcos de Lima Porta, da Quinta Vara da Fazenda Pública, que derrubou a lei que permite aos hospitais públicos geridos por Organizações Sociais de Saúde (OSs) vender 25% dos seus leitos e outros serviços a planos privados de saúde e particulares. É a lei 1.131/2010, mais conhecida como lei da dupla porta.
Em agosto, os promotores Arthur Pinto Filho e Luiz Roberto Cicogna  Faggioni, da  Promotoria de Justiça de Direitos Humanos e Saúde Pública Ministério Público do Estado de São Paulo (MPE), deram entrada à ação civil pública, com pedido de liminar, contra essa lei estadual. O juiz Lima Porta acatou a representação e concedeu a liminar, proibindo a venda de 25% dos serviços do SUS a planos privados de saúde. A Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo recorreu da decisão, mas o desembargador José Luiz Germano negou o agravo.
O arrazoado do magistrado (íntegra, no final) é antológico. Emocionante. Uma peça de defesa de princípios como igualdade, dignidade da pessoa humana, saúde, moralidade pública, legalidade, impessoalidade:
A saúde é um dever do Estado, que pode ser exercida por particulares. Esse serviço público é universal, o que significa que o Estado não pode distinguir entre pessoas com plano de saúde e pessoas sem plano de saúde. No máximo, o que pode e deve ser feito é a cobrança contra o plano de saúde. Para que isso ocorra já existem leis permissivas…”
A institucionalização do atendimento aos clientes dos planos particulares, com reserva máxima de 25% das vagas, nos serviços públicos ou sustentados com os recursos públicos, cria uma anomalia que é a incompatibilização e o conflito entre o público e o privado, com as evidentes dificuldades de controle”.
O Estado pretende que as organizações sociais, em determinados casos, possam agir como se fossem hospitais particulares, mesmo sabendo-se que algumas delas operam em prédios públicos, com servidores públicos e recursos públicos para o seu custeio! Tudo isso para justificar a meritória iniciativa de cobrar dos planos de saúde pelos serviços públicos prestados aos seus clientes? Porém, é difícil entender o que seria público e o que seria privado em tal cenário. E essa confusão, do público e do privado, numa área em que os gastos chegam aos bilhões, é especialmente perigosa, valendo apena lembrar que as organizações sociais não se submetem à obrigatoriedade das licitações nas suas aquisições”.
O paciente dos planos de saúde tem a sua rede credenciada, que não lhe cobra porque isso já está embutido nas mensalidades. Se ele precisar da rede pública, poderá utilizá-la sem qualquer pagamento, mas sem privilégios em relação a quem não tem plano. A criação de reserva de vagas, no serviço público, para os pacientes de planos de saúde, aparentemente, só serviria para dar aos clientes dos planos a única coisa que eles não têm nos serviços públicos de saúde: distinção, privilégio, prioridade, facilidade, conforto adicional, mordomias ou outras coisas do gênero”.

PROMOTOR: “DECISÕES HISTÓRICAS, UMA VITÓRIA DA SOCIEDADE”
“Na prática, essa decisão desembargador José Luiz Germano reitera que o Icesp [Instituto do Câncer do Estado de São Paulo] e o Instituto de Transplantes, que foram os primeiros autorizados a comercializar seus serviços, não podem vender 25% dos leitos para planos privados de saúde”, comemora o promotor Arthur Pinto Filho. “Ambas as instâncias da Justiça de São Paulo [Quinta Vara da Fazenda Pública e TJ] entenderam que a lei 1.131/10 e seu decreto regulamentar violam completamente os princípios do SUS.”
São decisões históricas que, por certo, levaram em conta estritamente o direito”, salienta Pinto Filho. “Mas, por certo, também foi fundamental a posição unânime das entidades e movimentos sociais de São Paulo ligados à saúde contra a essa lei extremamente perversa, injusta.
É uma vitória dos conselhos Nacional, Estadual e Municipal de Saúde, Cremesp, Sindicato dos Médicos, Conselho Regional de Psicologia, sindicatos e do movimento popular”, aplaude o promotor. “Mas, o mais importante, é uma vitória da sociedade, que, em 7 de abril deste ano, fez uma enorme passeata em nossa cidade e entregou ao MP uma representação contra a iníqua lei.”

” JURISPRUDÊNCIA  QUE DEFENDA O CIDADÃO E O SISTEMA PÚBLICO DE SAÚDE”
“Esperamos que a contudente decisão  do desembargador ajude a sepultar de vez a lei 1131”, afirma Mário Scheffer, presidente do Grupo Pela Vidda, entidade que liderou a representação ao MP. “Que ela sirva também de alerta aos deputados estaduais que aprovaram a 1131 em dezembro do ano passado e logo devem votar o projeto de lei que legaliza a dupla porta do Hospital das Clínicas de São Paulo. Aliás,  já entramos no MP com representação contra ele.
Gilson Carvalho,  médico pediatra e de Saúde Pública e batalhador incansável do SUS, surpreendeu-se positivamente com a decisão do desembargador José Luiz Germano. “Contávamos que a liminar iria cair horas ou dias depois. Os dias se passaram e não entendíamos o que ocorria. Finalmente hoje entendemos. A Justiça parece estar pensando diferente desde a declaração do juiz na liminar e agora do desembargador”,  afirma Carvalho. “A comparação que mais se adéqua à lei 1.131 é a do casal em dificuldades financeiras que induz a filha à prostituição para manter o equilíbrio econômico e financeiro familiar.
“Finalmente, o Judiciário parece que está dando respostas. Recentemente, tivemos decisões judiciais coibindo as OSs nos estados de Mato Grosso e Paraíba. E, sem dúvida, essa decisão do TJ-SP é a maior delas até agora”, bate palmas Paulo Navarro, presidente da Associação dos Médicos Residentes do Estado de São Paulo (Ameresp). “Que venham outras decisões tão boas. Temos pela frente ainda o julgamento da ADIn contra as OSs e vários processos nos estados e municípios acontecendo. Que se crie uma jurisprudência que defenda o cidadão e o sistema de saúde pública.”
Inegavelmente, uma vitória de todas e todos que acreditam no SUS e na Justiça.

Íntegra da histórica decisão do desembargador José Luiz Germano







A ocupação da Praça da Liberdade, em Washington



http://www.viomundo.com.br/politica/a-ocupacao-da-praca-da-liberdade-em-washington.html

 

30 de setembro de 2011

A ocupação da Praça da Liberdade, em Washington

Outubro de 2011 vai marcar o início do décimo primeiro ano da invasão do Afeganistão e do orçamento federal de 2012 dos Estados Unidos, que vai dar fundos ilimitados para a guerra e bem estar corporativo, mas reduz os fundos essenciais para dar conta de necessidades humanas.
Começando no 6 de outubro, 2011, milhares de norte-americanos preocupados vão se reunir na Praça da Liberdade, em Washington DC, para assumir o controle de nosso país e de nossas vidas. Vamos ocupar a praça e fazer uma assembleia popular para discutir soluções justas e sustentáveis para as crises que enfrentamos e exigir que tais soluções sejam apresentadas e que as necessidades do povo sejam atendidas. Planejamos nos engajar em atos criativos de resistência civil e exigir que nossos direitos e liberdades inalienáveis sejam protegidos, e que nossas crianças tenham a oportunidade de viver em paz, respirar ar puro e produzir e consumir alimentos naturais.
Você vai se juntar a nós para denunciar sistemas e instituições que apoiam guerra sem fim e cobiça corporativa desenfreada?
Juntos podemos criar um futuro de paz, justiça e igualdade.
Junte-se a nós da forma como você for capaz — pessoalmente ou através de nossa comunidade online.
Começa aqui.
A História bate à porta. Você vai responder?

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Quem tem protestado contra o anúncio da Gisele?

CartaCapital, 29 de setembro de 2011

Querem cobrir a lingerie da Gisele

 Redação Carta Capital
Nirlando Beirão, cuja opinião respeitamos muitíssimo, diz o seguinte em seu blog no portal R7 sobre a polêmica do comercial de Gisele Bündchen:
Gisele Bündchen de calcinha e sutiã. Alguém aí é contra?
O pior é que tem gente que é – e nem é o maridão da moça.
É um braço do governo, com status de Ministério, que resolveu implicar contra aquilo que não passa de uma brincadeira bem humorada de uma marca de lingerie.

Em campanha publicitária, a modelo ensina a seduzir o marido após bater o carro ou estourar o limite do cartão de crédito.

O alvo da Secretaria de Políticas para Mulheres é a campanha “Hope ensina”. Uma aula de sedução. Nada do tipo “tirem as crianças da sala”. Totalmente inofensiva.
A Secretaria – de quem a gente não ouve falar nunca a não ser em episódios ridículos como este – diz que muita gente tem protestado contra o anúncio.
Muita gente quem? As Senhoras de Santana? O bispo de Guarulhos? A TFP? O capitão Bolsonaro? A bancada do DEM?
Por que esses agentes das trevas sempre se encobrem no anonimato? Quero ver os nomes. Quero saber quem são os dedos-duros.
Ofender-se à visão de uma Gisele no esplendor de sua forma é, tenho para mim, uma forma de psicopatia. Não tem nada a ver com moral, sexo ou decência.
Gisele, brasileira bem-sucedida, reconhecida internacionalmente, exemplo para toda mulher – logo ela.
Vai ser um vexame de dimensões mundiais se o Conar – O Conselho de Autoregulamentação da Puclidade – acatar o pito da Secretaria das Mulheres.
Mas, como todo órgão com poder de censura, do Conar pode-se esperar tudo. Em especial, o pior.

Os sapeurs: A elegância nascida do conflito

O ser humano é, de fato, imagem e semelhança da Divindade.

Somente um ser divino para conseguir tirar coisas belas de situações tão tristes.



Opera Mundi, 24/09/2011

Elegância em zona de conflito: quem é o fotógrafo dos dândis congoleses?

 

Sabrina Duran | Londres
Baudouin Mouanda 
 
Fotografia tirada por Baudouin Mouanda para a série La Sapologie, de 2008 

Em movimento, mesmo caladas, as pessoas dizem muito sobre si mesmas. As mãos no bolso ou fora deles, os passos curtos ou as longas jornadas das pernas combinadas com o movimento dos braços; o sorriso de esguelha, o olhar de viés, o bom humor, as roupas. No conjunto de gestos corporais e vestimenta, uma pessoa é, sozinha, um mundo bem interessante. Algumas mais, outras menos. Baudouin Mouanda, fotógrafo, teve seu olhar fisgado por um grupo dessas pessoas “mais” quando entrou num metrô de Paris, em 2007. 

Eram três homens vestidos com exuberância, roupas bem cortadas, e uma elegância “proposital” nos gestos. “As pessoas (no metrô) estavam cada uma em uma posição, eu li nos olhos de alguns o estresse. Aquilo me impressionou. Vi naquilo uma canção que não era ruim, mas mal usada. De repente, três sapeurs entraram no metrô e começaram a conversar em uma língua que eu compreendia perfeitamente, o lari. Disseram ‘olhe como eles são tristes; bem, deveríamos desviar a atenção deles`. Apenas gesticulando com seus trajes, conseguiram o que queriam. E, na estação seguinte, onde os sapeurs deveriam descer, os passageiros não queriam deixar que eles fossem embora. Enfim, todo mundo estava alegre”, contou Mouanda, de 30 anos, nascido em Congo-Brazzaville, país vizinho à República Democrática do Congo. 


Os sapeurs, homens pertencentes ao movimento da SAPE (Société des Ambianceurs et des Personnes Élégantes, Sociedade das Pessoas Divertidas e Elegantes), são dândis congoleses. Dedicam seus dias, bom gosto e dinheiro à compra de roupas finas ou extravagantes de grifes famosas. Eles as vestem e saem às ruas das vilas de Brazzaville, Paris, Londres, Bruxelas ou de qualquer outro lugar onde haja uma comunidade congolesa e desfilam sua elegância pensada para rivalizar com outros sapeurs. Todos exibem seus melhores tecidos, cortes e cores embalados em gestos quase rococós. 

O contraste entre a opulência da vestimenta dos sapeurs com a pobreza material de algumas vilas africanas é justamente o que explica a existência da SAPE, cuja origem (ainda discutida) remonta às guerras civis ocorridas no Congo-Brazzaville. “O que me inspirou a ir até eles foi o fato de terem uma mensagem de solidariedade que construíram, de paz, visto que o país saía de uma grande crise política e era necessário reaprendermos a viver juntos e esquecermos os momentos difíceis”, explica Mouanda. Como catalisadora de desejos, sonhos e aspirações de bem-estar, a moda ajudou (e ajuda) a içar parte dos congoleses dos trapos sociais que sobram das guerras.
 

Baudouin Mouanda 
 
O movimento constante das fotos de Mouanda é registrado na série La Sapologie, no Congo-Brazzaville 

Baudouin Mouanda já exibiu sua série de fotos sobre a SAPE em alguns países – inclusive no Brasil – e chegou em julho desse ano com sua primeira mostra individual na capital inglesa, quando concedeu essa entrevista ao Opera Mundi. Apesar de muito jovem ainda – e de ter começado a fotografar ainda menino – Mouanda, talvez pelas três guerras civis que viveu, desenvolveu um olhar agudo para os traços antropológico-sociais da África que conhece. 

É verdade que o Sr. estudou jornalismo? 
Estudei direito na Universidade de Brazzaville. Graças a esse estudo, pude ganhar um olhar crítico da fotografia, unindo as duas correntes, interrogando o que é o Direito e o que exatamente é a fotografia, mas sem esperar respostas universais. Em vez disso, buscava questões de relação com a minha sociedade. Isso me fez reparar no serviço da Embaixada da França no Congo em 2006, com a concessão de uma bolsa de estudos no CPFJ (Centre de Formation Professionnel des Journalistes, Centro de Formação Profissional de Jornalistas), em Paris, e foi assim que me vi jornalista, com minha reportagem sobre as sequelas da guerra. E, hoje em dia, tenho orgulho porque adoro aquele meio, ele faz despertar a consciência. 

Quando o Sr. começou a tirar fotos, o Congo-Brazzaville estava em meio a uma guerra civil. Como isso influenciou suas fotos? 
Brazzaville passou por três guerras civis: em 1993, 1997 e 1998. Foi durante a primeira que fui impedido de ir à escola e fiquei sem estudar por dois anos. E foi graças à câmera do meu pai que comecei a fotografar. Em seguida, quando tudo voltou ao normal, ele me propôs voltar às aulas e me ofereceu sua câmera russa, uma Zenith 11, com a condição de que eu entrasse na faculdade. Foi aí que ganhei a aposta: sabia que meu pai era um homem de palavra. Mas ele queria que eu fosse advogado.   
Onde, quando e como foi o seu primeiro contato com os sapeurs? 
Há muito tempo em Brazzaville, no início de 2001, no fim da guerra. O que me inspirou a ir até eles foi o fato de terem uma mensagem de solidariedade, paz, visto que o país saía de uma grande crise política e era necessário reaprendermos a viver juntos e esquecermos os momentos difíceis. 

O que chamou sua atenção? 
A diversão que anda de mãos dadas com os trajes deles, que cria o espetáculo. Certa manhã de 2001, em Paris, entrei no metrô e as pessoas estavam cada uma em uma posição – li nos olhos de algumas estresse. Aquilo me impressionou. De repente, três sapeurs entraram no metrô e começaram a conversar em lari, uma língua que eu compreendo perfeitamente. Disseram: “Olhe como são tristes. Deveríamos desviar a atenção deles”. Gesticulando com seus trajes, conseguiram o que queriam. E, na estação seguinte, onde os sapeurs deveriam descer, os passageiros não queriam deixar que eles fossem embora. Todos estavam alegres. 

Baudouin Mouanda 
 
As guerras civis em Brazzaville, em 1993, 1997 e 1998, contribuíram para o empobrecimento do país (série Délestage, de 2010) 

Quando e como o Sr. reparou que poderia fazer um trabalho fotográfico com  os sapeurs? 
Nas festas da comunidade africana. Lá reparei no que havia deixado em Brazzaville e em como o movimento da SAPE estava ganhando terreno. Enquanto falávamos de festas, batizados, não pensávamos em comer, mas no combate das vestimentas. Vestir-se sem estar com os olhos fechados, ou seja, saber escolher as cores. Naquele momento, os convidados não vinham somente para beber, mas esperava-se também viver um espetáculo e isso que me levou a seguir o movimento em seu verdadeiro reduto, Brazzaville.  

Vejo que suas fotos dos sapeurs têm muito movimento. É proposital? 
Exatamente, adoro fotografá-los em movimento porque é mais natural do que vê-los posando. Isso não corresponde às verdadeiras imagens que temos dos sapeurs. Em pleno movimento, é muito fácil entender o jogo deles, saber o que é sapeur e o que não é, ter argumentos para defender melhor sua classificação de vestimentas sem buscar briga. Dá vontade de ficar e é o que faz o espetáculo.  

O que define um sapeur? 
Saber brincar com as cores, vestir-se com um bom olho, sem se enganar nas escolhas que fazem quando saem às ruas para se defenderem de seus adversários. Ter um bom conhecimento das grandes marcas de roupas e sapatos, o que demanda muito dinheiro. Mas ser sapeur não é somente um sinônimo de riqueza. 
De onde eles vêm? 
De toda parte. Brazzaville, capital do Congo, é o reduto, mesmo que hoje se fale da República Democrática do Congo. Um sapeur que vive na Europa não pode ser considerado sapeur se não fizer uma viagem a Brazzaville para obter o diploma dos códigos, como dizem os sapeurs. 

Há algum tipo de competição entre eles? 
Sim, com frequência organizadas para grandes festas, assim como as competições para eleger o melhor sapeur do ano, e também do dia, como é o caso dos encontros de um bairro com outro, como Bacongo, Poto Poto, Ouénzé e Talangaï, os arrondissements mais conhecidos do movimento. 

A África é o principal objeto do seu trabalho ou suas inspirações são a cultura e a sociedade, independentemente do país ou das pessoas que fotografa? 
A África não é o único cruzamento de inspirações, sou livre para trabalhar onde quer que eu esteja. Os fatos sociopolíticos são frequentemente minhas fontes de reflexão, que me permitem não limitar, mas, em vez disso, ser um porta-voz do olhar sobre a sociedade, possibilitando que eu chame atenção para a minha escrita fotográfica. Daí o interesse de criar um coletivo de fotógrafos em Brazzaville, chamado Collectif Elili, formado por jovens estudantes e funcionários para divulgar suas criações na região cujo talento não precisa mais ser provado.