E ainda há quem tem dúvidas sobre a necessidade de termos uma Lei de Meios neste país.
A repórter loira, o suposto negro estuprador e uma sequência nojenta
Fonte: Blog do Rovai
O vídeo que segue do Brasil Urgente, da Band, da Bahia, é um exemplo de jornalismo pra lá de esgoto. Uma repórter loirinha, com rabinho de cavalo à la Feiticeria, coloca um jovem negro, com hematoma aparente de uma agressão recente, numa situação absolutamente constrangedora. Julga-o antes da Justiça, humilha-o por conta de sua ignorância em relação aos seus direitos e ao procedimento a se realizar num exame de corpo delito e acha isso tudo muito engraçado.
Assista ao vídeo e veja se este blogueiro está exagerando.
É preciso que se mova uma ação contra a concessionária pública que dá voz a uma repórter irresponsável como essa. Isso mesmo, irresponsável. Estou à disposição da Justiça para me defender em relação ao termo utilizado. A propósito, a concessionária é a Band.
É preciso que entidades de Direitos Humanos e da questão negra também se posicionem. Também é urgente que entidades como o Sindicato dos Jornalistas da Bahia a Fenaj reajam a essa barbaridade.
Assistam ao vídeo, vocês vão entender minha indignação. A dica do vídeo me foi dado pelo Fabrício Ramos pelo Facebook.
Atualizando 1 (00:30 da terça-feira): O nome da repórter é Mirella Cunha, como já registrado em muitos comentários. O apresentador do programa para o qual ela trabalha é Uziel Bueno. Mas, em última medida, a Band é a responsável final por essa bárbarie jornalística.
Atualizando 2 (15:00 da terça-feira): De acordo com a reportagem do Portal Imprensa, a Band afirmou em nota que vai “tomar todas as medidas disciplinares necessárias. A postura da repórter fere o código de ética do jornalismo da emissora”.
Quanto ao fato de eu ter registrado o loirismo da repórter e a negritude do acusado, pareceu-me importante lembrar que somos um país com enormes desigualdades sociais e raciais. E que o fato de esse garoto ser preto e pobre é o que permite tal atentado aos seus direitos mais elementares. Dúvido que um loiro rico seria tratado dessa mesma forma pela “corajosa” jornalista.
23/05/2012
MPF representa contra repórter
do Programa Brasil Urgente por indícios de violação de direitos
constitucionais de um entrevistado
De acordo com a representação, a conduta
da repórter ofende direitos constitucionais do “entrevistado”, que se
encontrava preso, à disposição do Estado, em uma delegacia de polícia
Por haver indícios de violação de
direitos constitucionais de um preso, a coordenação do Núcleo Criminal
do Ministério Público Federal na Bahia (MPF/BA) representou à
Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC), do próprio MPF/BA,
a fim de que adote as medidas cabíveis contra a repórter Mirella Cunha,
do programa Brasil Urgente, exibido pela filiada baiana da emissora
Band. Há alguns meses, a emissora veiculou a entrevista feita pela
jornalista a um homem que se encontrava preso e algemado em uma
delegacia de polícia, à disposição do Estado, sob a suspeita de crime
patrimonial e estupro.
O procurador da República Vladimir Aras,
que é coordenador do Núcleo Criminal do MPF/BA, também encaminhou a
representação à Procuradoria-Geral de Justiça do Estado da Bahia; à 2ª
Câmara de Coordenação e Revisão da Procuradoria Geral da República
(PGR), em Brasília, e à Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão
(PFDC), também da PGR, a fim de que adotem providencias pertinentes no
âmbito da atribuição de cada uma.
Para o procurador, na entrevista há, em
tese, indícios de abuso de autoridade, de ofensa a direitos da
personalidade, bem como de descumprimento da Súmula Vinculante (SV) 11
do Supremo Tribunal Federal (STF), que limita uso de algemas a casos
excepcionais.
O procurador também solicitou que a
Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP/BA) informe se há, no
âmbito da secretaria, algum regulamento infralegal quanto à proibição de
exposição de presos a programas como o Brasil Urgente, dentro das
delegacias de Polícia de Salvador/BA, e que remeta ao MPF cópia do auto
de prisão em flagrante do homem entrevistado.
A representação foi encaminhada, ainda, à
Defensoria Pública da União, para ciência, e eventual exercício de suas
atribuições na tutela individual do hipossuficiente, no caso o
entrevistado, e à produção do Brasil Urgente para que preserve a fita
bruta (sem edição) do programa e a encaminhe ao MPF em cinco dias.
...
Carta aberta de Jornalistas se posicionando contra os abusos dos programas policialescos na Bahia
CARTA ABERTA DE JORNALISTAS
Sobre abusos de programas policialescos na Bahia
“O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.”
(Gregório de Mattos e Guerra)
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.”
(Gregório de Mattos e Guerra)
Ao governador do Estado da Bahia, Jaques Wagner.
À Secretaria da Segurança Pública do Estado da Bahia.
Ao Ministério Público do Estado da Bahia.
À Defensoria Pública do Estado da Bahia.
À Sociedade Baiana.
À Secretaria da Segurança Pública do Estado da Bahia.
Ao Ministério Público do Estado da Bahia.
À Defensoria Pública do Estado da Bahia.
À Sociedade Baiana.
A reportagem “Chororô na delegacia:
acusado de estupro alega inocência”, produzida pelo programa “Brasil
Urgente Bahia” e reprisada nacionalmente na emissora Band, provoca a
indignação dos jornalistas abaixo-assinados e motiva questionamentos
sobre a conivência do Estado com repórteres antiéticos, que têm livre
acesso a delegacias para violentar os direitos individuais dos presos,
quando não transmitem (com truculência e sensacionalismo) as ações
policiais em bairros populares da região metropolitana de Salvador.
A reportagem de Mirella Cunha, no
interior da 12ª Delegacia de Itapoã, e os comentários do apresentador
Uziel Bueno, no estúdio da Band, afrontam o artigo 5º da Constituição
Federal: “É assegurado aos presos o respeito à integridade física e
moral”. E não faz mal reafirmar que a República Federativa do Brasil tem
entre seus fundamentos “a dignidade da pessoa humana”. Apesar do clima
de barbárie num conjunto apodrecido de programas policialescos, na Bahia
e no Brasil, os direitos constitucionais são aplicáveis, inclusive aos
suspeitos de crimes tipificados pelo Código Penal.
Sob a custódia do Estado, acusados de
crimes são jogados à sanha de jornalistas ou pseudojornalistas de
microfone à mão, em escandalosa parceria com agentes policiais, que
permitem interrogatórios ilegais e autoritários, como o de que foi
vítima o acusado de estupro Paulo Sérgio, escarnecido por não saber o
que é um exame de próstata, o que deveria envergonhar mais profundamente
o Estado e a própria mídia, as peças essenciais para a educação do povo
brasileiro.
Deve-se lembrar também que pelo artigo
6º do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, “é dever do
jornalista: opor-se ao arbítrio, ao autoritarismo e à opressão, bem como
defender os princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos
Humanos”. O direito à liberdade de expressão não se sobrepõe ao direito
que qualquer cidadão tem de não ser execrado na TV, ainda que seja
suspeito de ter cometido um crime.
O jornalista não pode submeter o
entrevistado à humilhação pública, sob a justificativa de que o público
aprecia esse tipo de espetáculo ou de que o crime supostamente cometido
pelo preso o faça merecedor de enxovalhos. O preso tem direito também de
querer falar com jornalistas, se esta for sua vontade. Cabe apenas ao
jornalista inquirir. Não cabem pré-julgamentos, chacotas e ostentação
lamentável de um suposto saber superior, nem acusações feitas aos
gritos.
É importante ressaltar que a
responsabilidade dos abusos não é apenas dos repórteres, mas também dos
produtores do programa, da direção da emissora e de seus anunciantes – e
nesta última categoria se encontra o governo do Estado que, desta
maneira, se torna patrocinador das arbitrariedades praticadas nestes
programas. O governo do Estado precisa se manifestar para pôr fim às
arbitrariedades; e punir seus agentes que não respeitam a integridade
dos presos.
Pedimos ainda uma ação do Ministério
Público da Bahia, que fez diversos Termos de Ajustamento de Conduta para
diminuir as arbitrariedades dos programas popularescos, mas, hoje,
silencia sobre os constantes abusos cometidos contra presos e moradores
das periferias da capital baiana.
Há uma evidente vinculação entre esses
programas e o campo político, com muitos dos apresentadores buscando,
posteriormente, uma carreira pública, sendo portanto uma ferramenta de
exploração popular com claros fins político-eleitorais.
Cabe, por fim, à Defensoria Pública,
acompanhar de perto o caso de Paulo Sérgio, previamente julgado por
parcela da mídia como “estuprador”, e certificar-se da sua integridade
física. A integridade moral já está arranhada.
Salvador, 22 de maio de 2012.
Mães de Maio querem saber: como está a integridade do preso Paulo Sérgio exposto por Mirella Cunha?
Queremos saber como se encontra nesse momento o estado de saúde do jovem Paulo Sérgio. A partir do momento que foi preso, sob custódia, o Estado é responsável por sua integridade física e psíquica. A partir do momento em que a repórter Mirella Cunha, o jornal Brasil Urgente e a TV Band Bahia (sob Concessão Pública) incorreram nos crimes de Racismo, Difamação e Incitação à Violência contra Paulo Sérgio, eles também são co-responsáveis pela integridade do rapaz – sob pena de terem que responder judicial e criminalmente pelas consequências dos seus atos, certo?! Quais foram essas consequências?! Como se encontra o rapaz?! O Estado, a Rede de TV, o Diretor do Jornal e a Repórter responderão por todos seus atos?
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