Quinta-Feira, 17 de Maio de 2012
Mídia e crise: os conselheiros da servidão
Por Saul Leblon
A sociedade grega vive uma das escolhas mais difíceis da história:agarrar-se às migalhas da servidão ou lutar contra ela com o risco de perder. De um lado o abismo conhecido, de outro o escuro sem nome. Seu povo foi levado ao corredor da morte pela endogamia entre uma elite dissociada dos interesses da população e uma matilha de espoliadores financeiros que reduziu o país a um simulacro de Nação soberana.
O PIB da Grécia despenca desde 2008; deve fechar em 2012 1/5 menor que o nível pré-crise. Os aposentados foram 'convidados' a viver com pensões entre 20% a 30% menores;o salário mínimo foi cortado em 20% e o desemprego lambe a borda dos 25%. Todo o país está sendo extirpado nessa proporção.
Macrodados não conseguem traduzir o que se passa nas vísceras de uma agonia quando ela atinge esse padrão. São os detalhes que exprimem a brutalidade quando as taxas de suicídio dão um salto de 40%. O orçamento grego da educação sofreu um corte de 60% este ano. Nenhum organismo subsiste ceifado em 60% do seu todo: nem a merenda foi poupada do arrocho imposto pelos credores. Das periferias mais pobres chegam relatos de desfalecimentos em sala de aula: fome.
A tragédia miúda funciona como uma endoscopia das consequências sociais e éticas de se preservar a riqueza financeira quando o mecanismo que a sustenta colapsou nos seus próprios termos. A riqueza financeira é o grande cadáver desta crise que resiste insepulto. Exercer seu direito de saque sobre a riqueza material da sociedade implica a partir de agora cortar a merenda das crianças que desmaiam de fome nas periferias da Grécia. É preciso desinflar o poder leonino da banca mas não será o mercado a fazê-lo. Talvez as urnas; quem sabe as ruas. Sempre a política.Nunca as leis da autossuficiência mercadista.
A camada de gelo fino trinca na primavera sombria da Europa.Mas é o lago todo que se revolve por baixo. As engrenagens vitais do mecanismo econômico colapsaram; em vez de emprestar à produção e ao consumo os bancos mantém mais de 600 bilhões de euros no BCE depois de receberem dele um socorro de liquidez de valor equivalente. A cobra come o próprio rabo.
A rigor a zona do euro já não dispõe de um sistema bancário no sentido estrito termo; a banca tornou-se aqui o termômetro e a febre da crise. Não empresta e já não consegue captar; suas reservas começam a ser corroídas pelo saque.
A corrida teve início na Grécia. Primeiro, os estrangeiros impuseram um acordo de ajuste pelo qual seu ressarcimento precede as urgências da Nação.
Agora os residentes engrossam a revoada. Ela ainda não atravessou a fronteira que separa o medo do pânico, mas já ultrapassou a ponte do contágio. Nesta 5ª feira, os espanhóis começaram a sacar suas poupanças.
As ações de bancos puxam o mergulho das Bolsas na 4ª maior economia do euro. Se a Grécia tombar, a Espanha ocupará sua vaga na fila do vazio. O país está sendo picado, como se pica um touro na arena antes de matá-lo.Os especuladores sangram o corpo espanhol de um lado; a direita no governo lhes oferece mais carne humana do outro.
Nesta 5ª feira , Rajoy - o semblante aterradoramente imperturbável da direita que trincha a nação num cepo de açougue - aprovou mais cortes na saúde e na educação. É um massacre. A exemplo do que se vê na Grécia, pode ser inútil. O dinheiro arisco só aceita financiar o Estado espanhol cobrando juros cinco pontos acima dos pagos por papéis alemães. E só a curto prazo. Quem ainda tem emprego perde poder aquisitivo de forma devastadora. A direita é aplicada e não erra o corte no nevoeiro da crise. Está há apenas cinco meses no poder, mas entregou o prometido: a distribuição da renda nacional já se inverteu a favor dos patrões.Em 2010 os assalariados espanhóis tinham 48,5% da renda; os patrões 43%; hoje as fatias são respectivamente de 45,5% e 46,5%.
O cemitério social enfileira seus cortejos na Europa.Mas a mídia conservadora não arreda pé. A inércia dos aparatos ideológicos bate continência nas colunas, manchetes, na hierarquização do noticiário, nos editoriais explícitos e nos tantos quantos implícitos. 'Não há alternativa', advertem em jogral macabro. Pior que sangrar nas mãos dos mercados é a hemorragia de quem tenta enfrentá-los. Não há salvação fora do ajuste. É a hora da verdade depois da 'gastança'; a cada um o que é seu: a liquidez garantida aos credores; o ocaso ao resto.
Uma palavra, porém, desconcerta a esférica ordem unida da servidão comandada pela mídia: Argentina. Em 2003, quando começou o ciclo Kirchner, a Argentina era uma espécie de Grécia da América do Sul. Desacreditada aos olhos de seu próprio povo, balançava nas mãos dos mercados especulativos. Nestor Kirchner herdou do extremismo neoliberal uma taxa de pobreza que afetava 60% dos 37 milhões de argentinos.
A dívida impagável de US$ 145 bilhões comprometia a geração presente, seus filhos, os filhos e netos que um dia eles teriam. A moratória desesperada de 2001 terminara por entupir os mecanismos de crédito e financiamento, sem os quais nenhuma economia funciona. Os credores sobrevoavam a nação argentina como urubus. O cerco contra o país era brutal. A mesma mídia que hoje diz aos gregos não há alternativa interditava o debate de qualquer política que não fosse a da rendição. Poucos listavam-se entre os aliados.
Mesmo no Brasil, o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, impunha distância sanitária entre Kirchner e Lula, em sintonia com a pressão internacional.
Para se ter a dimensão do cerco vivido então pela Casa Rosada, basta multiplicar por dez a pressão que a liderança do euro, a mídia, os banqueiros e o FMI fazem hoje contra o povo grego.
Nestor Kirchner não se dobrou: deu sentido estratégico à moratória; impôs um desconto de 70% da dívida aos credores; destinou a receita crescente a programas sociais e de fomento. A taxa de pobreza recuou a 10% da população. A economia argentina foi a que mais cresceu no hemisfério ocidental na última década.
A rebelião não foi impune. Nenhuma rebelião é impune. Falseiam os que vendem passagens para algum paraíso histórico desconhecido. Rupturas envolvem custos e a Argentina pagou e paga os seus. A banca ergueu um cerco internacional obstruindo o acesso do país ao crédito em dólares. Uma parte da população sofreu adicionalmente na travessia entre a velha e a nova ordem. Mas hoje o país nem de longe lembra o campo de concentração da esperança que o asfixiava antes de optar por um caminho próprio
As circunstâncias desse braço de ferro são espertamente omitidas pela crítica conservadora, que desdenha dos êxitos inegáveis registrados; é preciso a qualquer custo depreciá-los como um ponto fora da curva, um fogo fátuo de populismo anacrônico, inflação maquiada e boom passageiro de commodities.
Com todas as vulnerabilidades, o dissenso argentino faísca no imaginário da crise como uma opção de reerguimento histórico face ao martírio do moedor ortodoxo em ação na Grécia, Espanha, Portugal e outros. Diante do catastrófico funeral em curso seu exemplo ecoa como um ruído intolerável a arguir a narrativa midiática com o vírus da dúvida: o que é pior, sucumbir pela asfixia ortodoxa ou lutar como fez a nação argentina, na busca de um recomeço com soberania e dignidade?
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O Estadão.com, 17 de maio de 2012
Hollande e novo governo francês rebaixam os próprios salários em 30%
PARIS
- O presidente francês, François Hollande, e o novo governo liderado
pelo primeiro-ministro do país, Jean-Marc Ayrault, concordaram nesta
quinta-feira, 17, em baixar seus salários em 30%.
Efe
O conteúdo do código, revelado hoje pelo jornal "Le Monde", inclui a renúncia a postos executivos que os membros do governo tinham antes de assumirem seus cargos, a rejeição de convites privados e presentes com valor superior a 150 euros e a escolha de trens como meio de transporte prioritário em trajetos inferiores a três horas.
A primeira reunião do governo, realizada no Palácio do Eliseu, em Paris, foi "solene e emocionante", segundo ministros que participaram do encontro. Durante a cerimônia, Hollande falou que espera que o Executivo seja um exemplo durante seu mandato.
Hollande, segundo afirmou os ministros, transmitiu sua vontade de aplicar suas promessas eleitorais o mais breve possível.
Quarta-Feira, 16 de Maio de 2012
Quando o dia amanhecer sobre a acrópole, um presidente grego fará o pronunciamento surpresa, em rede nacional, para declarar de uma só vez um feriado bancário prolongado, uma moratória da dívida externa e a restituição do dracma como moeda nacional. Como não poderia deixar de ser, o discurso será carregado de nacionalismo e ressaltará um pacto social pela reerguimento da nação e pela retomada da soberania. Ele terá razão ao dizer que a situação social chegou a níveis intoleráveis e que a política de austeridade é incompatível com a solução para a crise. Talvez também diga, com alguma razão, que a Grécia é vítima de uma construção monetária frágil e de um sistema financeiro perverso e fora de controle. Se quiser demonstrar virilidade, dirá que o berço da civilização não se curvará aos credores internacionais. Diante desse discurso, a população grega verá o dracma com um misto de esperança e desconfiança. Por um lado, a moeda nacional será o único elemento capaz de dar autonomia a um Estado monetariamente passivo e fiscalmente impotente. Por outro lado, haverá o temor de um caos monetário conduzido por instituições políticas desacreditadas.
Após o feriado bancário, o dracma voltará a denominar os contratos no país e substituirá a moeda europeia em muitos dos contratos já existentes. Dessa forma, a desvalorização da moeda grega em relação ao euro será também a desvalorização dos depósitos bancários e da dívida pública. Essa medida provocará um descasamento de moedas nos balanços de instituições com dívidas no exterior e, portanto, será necessariamente acompanhada de uma moratória da dívida externa privada. A ira dos credores internacionais terá reflexo na liquidação generalizada de ativos e na fuga maciça de capitais. Os controles sobre os fluxos de capitais serão inevitáveis.
Para evitar uma corrida bancária, o governo deve instituir uma restrição aos saques para assim evitar uma crescente falta de liquidez, ou seja, uma espécie de “corralito grego”. Nada garante, porém, que o novo dracma seja bem sucedido em sua empreitada. A moeda é uma instituição social calcada na confiança. Suas funções clássicas de meio de pagamento, unidade de conta e reserva de valor dependem de sua aceitação geral e da credibilidade das instituições responsáveis por sua gestão. Nesse sentido, o dracma terá a difícil tarefa de mostrar para a população que é uma reserva de valor confiável. Muito provavelmente o governo grego terá que gerenciar um sistema de pagamentos bi-monetário onde o euro conviverá com o dracma nas transações econômicas.
A inflação decorrente de uma excessiva desvalorização inicial do dracma pode comprometer o projeto de autonomia monetária. Porém, mas grave do que o caso inflacionário, é a falta de liquidez monetária. A insolvência do sistema bancário e a incapacidade do banco central grego em controlar a situação implicarão na paralização das atividades de produção e comércio e na consequente asfixia do circuito de gasto. Nesse caso, a Grécia poderá regredir para um estado pré-capitalista, pois, destituída de moeda, a economia entraria em um colapso generalizado.
Esse não é o único futuro possível da Grécia pós-euro. Passado o desarranjo inicial, um reestabelecimento do circuito do crédito e do gasto na moeda emitida pelo governo fará o país crescer sem as restrições impostas pelos que advogam pela austeridade. O patamar depreciado do dracma, se aliado às políticas industriais, dará competitividade a economia grega que, lentamente, deve passar a produzir internamente itens da sua pauta importadora. O turismo e os serviços marítimos vão continuar sendo a principal fonte de divisas externas, mas as receitas dessas atividades passarão a ser mais importantes em moeda doméstica. Esse cenário é a motivação para o povo grego atravessar a crise pelo caminho da ruptura e da soberania nacional.
Sem dúvidas uma saída da Grécia do Euro irá despertar uma desconfiança geral nas instituições financeiras de outros países da zona euro.
Provavelmente, o efeito contágio ocorrerá menos pelas ligações financeiras e mais pelo canal das expectativas. No mesmo dia do fatídico anúncio de feriado bancário do presidente grego, residentes de países como Itália, Espanha e Portugal acharão prudente resgatar depósitos nos bancos para guardá-los em casa. A prudência dará lugar ao pânico da corrida bancária. Essa situação terá o reforço do mercado financeiro que poderá manifestar um daqueles momentos de absoluta irracionalidade. De nada servirão os modelos que acusam desvios do equilíbrio. Como observado por Issac Newton na primavera de 1720, “sou capaz de calcular o movimento dos corpos celestes, mas não a loucura das pessoas”. Diante do “salve-se quem puder” a atitude, mas coerente dos líderes europeus será, assim como o presidente grego, decretar um feriado bancário.
Nesse ponto, a saída da Grécia do euro colocará em xeque o sistema financeiro europeu e forçará medidas políticas de grande envergadura. Dada a possibilidade de colapso do sistema, o mais provável é que se encontre uma solução política conjunta – Uniao Européia, FMI, Banco Central Europeu - para isolar a economia grega e blindar os demais países. Para que isso seja possível, será necessária uma injeção de liquidez para se reestabelecer a confiança no sistema bancário em escala nunca antes vista. Ao fim e ao cabo, os governos europeus perceberão que sairia mais em conta salvar a Grécia com injeção de capital, um plano de investimento e a reversão das políticas de austeridade. Evidentemente, esse cenário descrito - um tanto catastrofista - depende do fracasso das negociações política e principalmente da continuidade da “estratégia Merkel”, de pressionar irracionalmente por austeridade.
(*) Doutor em economia pela Unicamp, é pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (Cecon/UNICAMP).
Hollande e Merkel defendem permanência da Grécia no Euro
O novo chefe de Estado francês começou seu governo sob chuvas e trovoadas. Na viagem a Alemanha, um raio atingiu o avião de François Hollande, obrigando-o a aterrisar e trocar de aparelho.
Em Berlim, o primeiro encontro com a chanceler Angela Merkel foi marcada por declarações moderadas e prudentes.
Ambos expressaram um consenso: defenderam a permanência da Grécia na zona do euro. Tema de discórdia, o debate sobre crescimento e austeridade ficou adormecido, por enquanto.
A volta do dracma: uma futurologia monetária
Pedro Rossi (*)
Quando o dia amanhecer sobre a acrópole, um presidente grego fará o pronunciamento surpresa, em rede nacional, para declarar de uma só vez um feriado bancário prolongado, uma moratória da dívida externa e a restituição do dracma como moeda nacional. Como não poderia deixar de ser, o discurso será carregado de nacionalismo e ressaltará um pacto social pela reerguimento da nação e pela retomada da soberania. Ele terá razão ao dizer que a situação social chegou a níveis intoleráveis e que a política de austeridade é incompatível com a solução para a crise. Talvez também diga, com alguma razão, que a Grécia é vítima de uma construção monetária frágil e de um sistema financeiro perverso e fora de controle. Se quiser demonstrar virilidade, dirá que o berço da civilização não se curvará aos credores internacionais. Diante desse discurso, a população grega verá o dracma com um misto de esperança e desconfiança. Por um lado, a moeda nacional será o único elemento capaz de dar autonomia a um Estado monetariamente passivo e fiscalmente impotente. Por outro lado, haverá o temor de um caos monetário conduzido por instituições políticas desacreditadas.
Após o feriado bancário, o dracma voltará a denominar os contratos no país e substituirá a moeda europeia em muitos dos contratos já existentes. Dessa forma, a desvalorização da moeda grega em relação ao euro será também a desvalorização dos depósitos bancários e da dívida pública. Essa medida provocará um descasamento de moedas nos balanços de instituições com dívidas no exterior e, portanto, será necessariamente acompanhada de uma moratória da dívida externa privada. A ira dos credores internacionais terá reflexo na liquidação generalizada de ativos e na fuga maciça de capitais. Os controles sobre os fluxos de capitais serão inevitáveis.
Para evitar uma corrida bancária, o governo deve instituir uma restrição aos saques para assim evitar uma crescente falta de liquidez, ou seja, uma espécie de “corralito grego”. Nada garante, porém, que o novo dracma seja bem sucedido em sua empreitada. A moeda é uma instituição social calcada na confiança. Suas funções clássicas de meio de pagamento, unidade de conta e reserva de valor dependem de sua aceitação geral e da credibilidade das instituições responsáveis por sua gestão. Nesse sentido, o dracma terá a difícil tarefa de mostrar para a população que é uma reserva de valor confiável. Muito provavelmente o governo grego terá que gerenciar um sistema de pagamentos bi-monetário onde o euro conviverá com o dracma nas transações econômicas.
A inflação decorrente de uma excessiva desvalorização inicial do dracma pode comprometer o projeto de autonomia monetária. Porém, mas grave do que o caso inflacionário, é a falta de liquidez monetária. A insolvência do sistema bancário e a incapacidade do banco central grego em controlar a situação implicarão na paralização das atividades de produção e comércio e na consequente asfixia do circuito de gasto. Nesse caso, a Grécia poderá regredir para um estado pré-capitalista, pois, destituída de moeda, a economia entraria em um colapso generalizado.
Esse não é o único futuro possível da Grécia pós-euro. Passado o desarranjo inicial, um reestabelecimento do circuito do crédito e do gasto na moeda emitida pelo governo fará o país crescer sem as restrições impostas pelos que advogam pela austeridade. O patamar depreciado do dracma, se aliado às políticas industriais, dará competitividade a economia grega que, lentamente, deve passar a produzir internamente itens da sua pauta importadora. O turismo e os serviços marítimos vão continuar sendo a principal fonte de divisas externas, mas as receitas dessas atividades passarão a ser mais importantes em moeda doméstica. Esse cenário é a motivação para o povo grego atravessar a crise pelo caminho da ruptura e da soberania nacional.
Sem dúvidas uma saída da Grécia do Euro irá despertar uma desconfiança geral nas instituições financeiras de outros países da zona euro.
Provavelmente, o efeito contágio ocorrerá menos pelas ligações financeiras e mais pelo canal das expectativas. No mesmo dia do fatídico anúncio de feriado bancário do presidente grego, residentes de países como Itália, Espanha e Portugal acharão prudente resgatar depósitos nos bancos para guardá-los em casa. A prudência dará lugar ao pânico da corrida bancária. Essa situação terá o reforço do mercado financeiro que poderá manifestar um daqueles momentos de absoluta irracionalidade. De nada servirão os modelos que acusam desvios do equilíbrio. Como observado por Issac Newton na primavera de 1720, “sou capaz de calcular o movimento dos corpos celestes, mas não a loucura das pessoas”. Diante do “salve-se quem puder” a atitude, mas coerente dos líderes europeus será, assim como o presidente grego, decretar um feriado bancário.
Nesse ponto, a saída da Grécia do euro colocará em xeque o sistema financeiro europeu e forçará medidas políticas de grande envergadura. Dada a possibilidade de colapso do sistema, o mais provável é que se encontre uma solução política conjunta – Uniao Européia, FMI, Banco Central Europeu - para isolar a economia grega e blindar os demais países. Para que isso seja possível, será necessária uma injeção de liquidez para se reestabelecer a confiança no sistema bancário em escala nunca antes vista. Ao fim e ao cabo, os governos europeus perceberão que sairia mais em conta salvar a Grécia com injeção de capital, um plano de investimento e a reversão das políticas de austeridade. Evidentemente, esse cenário descrito - um tanto catastrofista - depende do fracasso das negociações política e principalmente da continuidade da “estratégia Merkel”, de pressionar irracionalmente por austeridade.
(*) Doutor em economia pela Unicamp, é pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (Cecon/UNICAMP).
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