sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Dona Zelite reclama: meteram a mão no meu IOF



 
 
Carta Maior, 31/01/2014



 

Dona Zelite reclama: meteram a mão no meu IOF


 
Por Estanislaw Castelo


Paris -  Tendo chegado à capital francesa na semana passada, Dona Zelite cumpriu uma estafante agenda de entretenimento que incluiu um rolezinho básico pela célebre avenida dos Champs-Elysées, de manhã, uma tarde na Eurodisney e um colóquio com Joaquim Barbosa, à noite.

Mas nada disso foi suficiente para acalmá-la. Dona Zelite está possessa.

"Fui vítima de um atentado violento ao meu direito de livre compra" - disse a cidadã do mundo que tem sua residência oficial em Higienópolis, o bairro chiquérrimo de São Paulo.

“Ofende a Declaração Universal dos Direitos Humanos”!”.

“A da ONU”? perguntei.

“Não”, ela respondeu. “Esta é coisa de comunista. É a do FMI”.

O suposto atentado teria sido cometido pelo governo brasileiro, que elevou o Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros (IOF) de 0,38% para 6,38% para as transações de débito em cartão no exterior.

As transações na opção crédito já eram debitadas nesse valor. A medida igualou o imposto do cartão pelo patamar mais alto.

Perguntei à Zelite quando ela percebeu que haviam passado a mão em seu IOF.

"Senti algo estranho assim que desci da primeira classe da aeronave. De repente, percebi que estava sendo bolinada em meus valores mais profundos. Quando olhei para trás, vi o ministro Guido Mantega passando a mão no meu IOF".

Segundo a Zelite, o aumento do IOF é quase um confisco  da propriedade privada, uma reforma agrária no mundo das finanças, além de ser uma quebra de contrato gravíssima e um pecado capital, na verdade, um pecado contra o capital.

Em sua opinião, é pior que o confisco da poupança perpetrado pelo governo Collor.
Como bem conheço a Zelite de outros carnavais, retruquei imediatamente que, se bem me lembro, à época do confisco, a Zelite não reclamou de nada. Muito pelo contrário. Apoiou entusiasticamente.

"Muito fácil de explicar. Rico não tem dinheiro em poupança. A gente se garante pondo nosso dinheirinho nas Ilhas Virgens".

Lembrei à socialaite que as tarifas bancárias abocanham muito mais que o IOF.
Dona Zelite empinou o nariz, deu com os ombros e, simulando um sorriso irônico, explicou como se fosse a coisa mais natural do mundo: "mas banco é privado, meu querido. Privado pode. Governo é que não pode. Banco pode fazer o que bem entender. Quem quiser que troque de banco. Agora, neste nosso país difícil é trocar de governo, com esse povinho votando sempre no mesmo".

Minha tentativa de vencê-la pelo cansaço prosseguiu para mais um round. Lembrei à Zelite que ela gasta mais com o garçom e com o couvert do restaurante do que com IOF. "Exatamente. Eu agora não sei como cobrir essas despesas, vai fazer falta. O aumento do IOF prejudica o garçom, vai ter gorjeta de menos. Agora, no meu couvert ninguém mexe.".

Cá entre nós, foi algo realmente desolador. A Zelite quase me convenceu.
Apontando para o Museu do Louvre, como se tivesse da Vinci, Rodin e Rembrandt por testemunhas, mostrou-me o quanto o aumento do IOF na opção débito do cartão foi um duro golpe para a humanidade.

Seu argumento mais forte ainda estava por vir: "eu já saquei qual é a desse governo. Ele quer que eu troque Paris, Miami e Nova York pela 25 de março ou pela Feira de São Cristóvão. Jamé!".

Se não me engano, "jamé" quer dizer "jamais". Acho até que se escreve do mesmo jeito em Português, só que com um toque de classe.

Então, a quem interessar possa: de agora em diante, para dizer "jamé" na opção débito tem que pagar 6,38% de IOF. Ser chique anda cada dia mais caro. Assim não dá.

Fábula da Perereca






Fábula da Perereca

Numa mata, com uma chuva fina, uma perereca preparava-se para comer uma

mosca, quando um macho, que observava a cena, disse:

- Perereca, não comas já a mosca! Espera que a abelha coma, depois tu comes
a abelha.

- Ficarás melhor alimentada. A perereca assim fez e, efetivamente, passados
alguns segundos, veio a abelha que comeu a mosca.

A perereca preparou-se, então, para comer a abelha, mas o macho a
interrompeu novamente:

- Perereca, não comas a abelha! Ela vai ficar presa na teia da aranha e a
aranha vai comê-la, então tu comes a aranha e ficarás melhor alimentada.

A perereca de novo esperou. A abelha levantou vôo, caiu na teia da aranha,
veio a aranha e comeu-a. A perereca preparou-se para saltar sobre a aranha,
mas de novo o macho falou:

- Perereca, não sejas precipitada! Há de vir um pássaro para comer a aranha,
que comeu a abelha, que comeu a mosca. Comerás o pássaro e ficarás melhor
alimentada. A perereca, reconhecendo os bons conselhos do macho, aguardou.

Logo depois, chegou o pássaro.

Entretanto, começou a chover mais forte, e a perereca, ao atirar-se sobre o
pássaro, escorregou e caiu numa poça d'água. Nesse momento, uma cobra que
passava por ali engoliu a perereca e sumiu mata adentro.


 MORAL DA HISTÓRIA:
Quanto mais tempo durarem as preliminares, mais molhada fica a perereca.

Porém, cuidado ! Se você não comer, vem outro e come

!

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

A oposição brasileira é rústica como oposição, não está preparada para governar






​Carta Maior, 30/01/2014


Oposição: Procura-se


Por
Wanderley Guilherme dos Santos




Se depender da oposição o País não vai andar. A infantilidade de seus protestos explica o agônico socorro que está pedindo à descabelada desordem urbana. De seu próprio ventre, nada. Criticar a autoridade fiscal, por exemplo, por ter usado tributos e dotações dos leilões para fechar as contas equivale a desancar o quitandeiro porque equilibra o livro-caixa recebendo o que lhe devem. É curial que o governo troca tributação por serviços, administração e projetos. Lá uma vez ou outra parte dos impostos se transforma em subsídios diretos e indiretos ao consumo e às despesas dos grupos vulneráveis. Chama-se redistribuição de renda e vem ocorrendo há pouco mais de dez anos no Brasil. É isso que provoca espuma na garganta oposicionista e a faz perder o senso de ridículo.
Nenhuma oposição que se preze tenta condenar um governo por fazer uma parada técnica voltando de longa viagem. Aliás, nem mesmo se fosse para simples recuperação física, independente de considerações meteorológicas ou de segurança de vôo. Pois este foi um dos brados de guerra, sem eco, da semana oposicionista.  

Desdobrar desembolsos no tempo é uma espécie de versão macroeconômica da compra a crédito, o uso calculado da renda e do gasto futuros. A dívida das pessoas deve ser compatível com a proporção comprometida da renda esperada face ao dispêndio incompressível que virá a ter. Trata-se de uma questão de ser ou não leviano em relação à própria economia. E é preciso muita leviandade para que eventuais desmandos, ou desvairada presunção, conduzam à falência. Desde a redemocratização de 1945 foram necessárias décadas dos mais variados governos, inclusive ditatoriais, até que os livrescos sábios do PSDB conseguissem a proeza de quebrar a economia brasileira três vezes em não mais do que oito anos.

Quando as mesmas vozes do passado esgoelam-se em advertências sobre a dívida pública, bruta ou como proporção do produto interno, com que diabos de autoridade pensam estar falando? Não possuem nenhuma imaginação ou criatividade e o bolor das receitas sugeridas tem um só resultado, se aviadas: desemprego. Existe uma crônica morbidez no pensamento conservador que o faz recuar diante da saúde e saudar os sintomas patológicos de vida social. Talvez por isso aplauda a proliferação dos micróbios (pequenos grupos de desordeiros, em geral), sem se dar conta de que estes são a hiperbólica evidência do fracasso oposicionista, ele mesmo.

Mas a pantomima máxima revela-se na busca de recordes. Os furos pelos quais compete a grande imprensa foram transferidos das páginas de esportes e da previsão do tempo para as manchetes, mas com significados distintos.

Excepcionais desempenhos em natação, maratona e salto a distância refletem o aprimoramento físico da espécie, o apuro no treino e a perseverança nos treinos. Já os indicadores de temperatura nos explicam o bem estar ou seu contrário em condições de exacerbado calor ou frio. Por isso comparam números de hoje com os de ontem ou de há dez anos conforme o caso. Mas as manchetes das primeiras páginas são pândegas. Títulos chamativos advertem que aumentou a ameaça inflacionária enquanto o texto explica que houve uma variação para mais no quarto dígito depois da vírgula, algo que não acontecia há dezoito, vinte e três ou não sei lá quantas semanas. Ou seja, o furo jornalístico não quer dizer absolutamente nada.

Pelo andar da carruagem é de se esperar escândalos informando que o desemprego na tarde de quarta feira passada foi o maior já registrado em tardes de quartas-feiras de anos bissextos. Ao anunciá-los os apresentadores de noticiários televisivos farão cara de fralda de bebê, suja.

Enquanto o País muda a pele, subverte rotinas, enfrenta e experimenta uma realidade inédita – a liquidação da miséria extrema – e veloz reestruturação de seus contingentes sociais, o reduto oposicionista balbucia indignações esfarrapadas. E a crítica competente é fundamental para o desempenho de qualquer governo. Quanto a isso, estamos à míngua. A oposição brasileira é rústica como oposição, não está preparada para governar.

A prova de que Barbosa agiu deliberada​mente para cercear direitos à defesa

 



30/01/2004


Bomba! O vídeo que pode derrubar Joaquim Barbosa!


Por Miguel do Rosário





​Prestem atenção nesse vídeo. Nele, Joaquim Barbosa fala inúmeras inverdades, além de seus ataques de praxe aos direitos dos réus.

É uma votação de 12 de maio de 2011. Julga-se exatamente se o STF deve liberar ou não os autos do Inquérito 2474 a alguns réus da Ação Penal 470. Barbosa vinha mantendo o Inquérito 2474 em sigilo desde que o recebeu, em março de 2007. No início de 2011, vazou uma pequena parte à imprensa, e vários réus da Ação Penal 470 solicitam ao STF para terem acesso à íntegra do inquérito, que tem 78 volumes. Barbosa, então relator da Ação Penal 470, recusa, e o caso vai a votação. Ao final, Barbosa vence, com ajuda de Ayres Brito, que desempata a votação.

Barbosa afirma que inquérito 2474 trata de outros réus e assuntos não relacionados ao mensalão petista. Mentira. O relatório do Inquérito 2474 trata dos réus que também estão na Ação Penal 470, como Marcos Valério e seus sócios, e Henrique Pizzolato e Gushiken. E traz documentos, logo em suas primeiras páginas, dos pagamentos do Banco do Brasil à DNA, referentes às campanhas da Visanet. Ora, o pilar do mensalão foi o suposto desvio de recursos da Visanet, no total de R$ 74 milhões, para a DNA, sem a correspondente prestação de serviços. Como assim o Inquérito 2474 trata de assuntos diferentes?

Barbosa diz que a Polícia Federal tomou cuidado para “não apurar, no Inquérito 2474, nada que já esteja sendo apurado na Ação Penal 470″. Mentira. No inquérito 2474, um dos documentos mais analisados é o Laudo 2828, que investiga o uso dos recursos Visanet, que é o tema principal da Ação Penal 470. Celso de Mello dá uma belíssima aula sobre a importância, para a defesa, de conhecer todos os autos que possam lhe ajudar. E vota contra o relator, em favor do pedido dos réus. Barbosa se posiciona, como sempre, como um acusador impiedoso e irritado, sem interesse nenhum em dar mais espaço à defesa. Observe ainda que Celso de Mello dá sutis estocadas irônicas na maneira “célere” com que Barbosa toca esse processo (a Ação Penal 470), “em particular”. Ou seja, Mello praticamente acusa Barbosa de patrocinar um julgamento de exceção. Celso de Mello alerta que a manutenção de sigilo para documentos que poderiam ajudar os réus constitui um “cerceamento de defesa”.

Barbosa agiu, como sempre, como um inquisidor implacável e medieval. Ayres Brito e Luis Fux, para variar, votam alinhados à Barbosa. É inacreditável que o Supremo Tribunal Federal (STF), um lugar onde supostamente todas as garantias individuais deveriam ser asseguradas aos cidadãos perseguidos pelo Estado, de repente se transfigurou num tribunal de exceção, de perfil inquisitorial, no qual os direitos da defesa foram tratados, sistematicamente, como meras “chicanas”, “postergações inúteis”. Todas as regras foram quebradas, mil exceções foram criadas, para se condenar sumariamente.

Nesse vídeo, temos a prova de que Barbosa agiu deliberadamente para cercear direitos à defesa. Isso é o pior crime que um juiz da suprema corte pode cometer, e que justifica um pedido de impeachment. Entretanto, se pode verificar no vídeo o nervosismo de Barbosa para afastar qualquer possibilidade de trazer as informações do inquérito 2474 para dentro dos debates. Celso de Mello lembra, então, que o plenário ainda estava na fase de apurações, e que portanto era o momento adequado para enriquecer o debate com mais informações, ao que Barbosa responde, com sua prepotência de praxe, que a fase de investigação estava “quase no final”. Como quem diz: “não me atrapalhe, quero terminar logo esse circo; vamos condenar logo esses caras os mais rápido possível; temos que dar satisfação à Rede Globo.”


 


 Quinta-feira, 28 de Janeiro de 2014



O magistrado e a imprensa bandida

 
Por Luciano Martins Costa



Os três principais diários brasileiros de circulação nacional registraram com zelo a mais recente manifestação do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, que viaja pela Europa em férias oficiais, com direito a diárias e cobertura regular da imprensa. Desta vez, o ministro se queixa da Folha de S. Paulo, que publicou entrevista com o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), que foi condenado na Ação Penal 470 mas não pode começar a cumprir sua pena porque o presidente do STF não deixou o mandado assinado. De quebra, atira para todo lado, ao se referir a uma tal “imprensa bandida”.
O noticiário em torno do magistrado ganha contornos de chanchada, aqueles velhos filmes feitos na “Boca do Lixo”, em São Paulo, tal o conjunto de falsos improvisos e dramas capazes de fazer rir.
Observe-se, por exemplo, como o ministro aparece sempre em situações de aparente casualidade, fazendo compras numa loja de departamentos típica da classe média, sentado na poltrona da classe econômica de um avião e caminhando pelas ruas como um cidadão comum. É preciso muita comunicação entre assessor de imprensa e repórteres para criar esse clima de improviso.
Registre-se que os correspondentes e enviados especiais dos jornais estão sempre um passo à frente, esperando-o nos embarques e desembarques, estão informados de que ele chegará em tal lugar a tal hora, e podem contar que ele terá uma frase de efeito para assegurar um lugar de destaque na edição seguinte.
Detalhe: embora tenha recebido regularmente suas diárias como se estivesse a serviço, por conta de palestras que proferiu na França, o presidente do STF encontra-se oficialmente em gozo de férias, mas a cobertura é de chefe de Estado.
Também há muita comicidade nos diálogos, ou melhor, nas falas do ministro, sempre recheadas de expressões fortes e pontuadas por um mau humor digno do Seu Madruga, o irritadiço personagem da série televisiva “Chaves”. Se o observador isolar a severidade que as carrancas do magistrado tentam induzir em suas manifestações, o conjunto apresentado pela imprensa ganha ares de comédia popular.
Mas jornalistas não deveriam aceitar a imputação geral de “imprensa bandida”.


Roteiro de chanchada

Vejamos, então, o capítulo apresentado nas edições de terça-feira (28/1): em outra circunstância “casual” que a imprensa não explica, o presidente da Suprema Corte declara a jornalistas do Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo e O Globo que a imprensa não deveria ter publicado entrevista com o deputado João Paulo Cunha, porque, tendo sido condenado à prisão, o parlamentar tem que permanecer no ostracismo.
À parte o natural questionamento que deveria se seguir a essa afirmação no mínimo controversa, não ocorreu a nenhum dos repórteres observar que o deputado deu a entrevista porque está fora da prisão, e só não foi preso porque o ministro viajou sem emitir o respectivo mandado.
Afora o fato de que os editores do Estado de S. Paulo confundem os sentidos das palavras “mandado” e “mandato”, registre-se que o principal motivo de irritação do ministro foi uma frase do parlamentar condenado, na qual ele afirma que a omissão do presidente do STF, ao viajar sem ter assinado o mandado, foi manobra planejada para se manter no noticiário, mesmo em férias e ausente do país. Foi, segundo o deputado, “pirotecnia para ter mais dois minutos de repercussão”.
O Estado também cita, mas os demais jornais não tiveram acesso, ou preferiram ignorar, uma entrevista concedida pelo magistrado à Radio France Internationale, na qual ele declarou o seguinte: “Há uma certa imprensa bandida no Brasil, com pessoas pagas com fundos governamentais que estão aí para me atacar, enquanto eu faço o meu trabalho”.
Faço o meu trabalho e estou pouco ligando. Minha honestidade cabe aos brasileiros avaliarem, não a esses bandidos”, completou o ministro, numa demonstração de que se leva em altíssima conta.
Na interpretação do diário paulista, ele se referia à denúncia de que estaria recebendo diárias no valor de R$ 14 mil, mesmo em viagem de férias. O jornal vestiu a carapuça, ao lembrar ter sido o veículo a revelar a informação sobre as diárias, o que coloca seus editores na obrigação de responder ao xingamento.
A menos, claro, que os editores do Estado de S.Paulo acolham a ofensa, e como nas histórias de “amores bandidos”, aceitem apanhar em silêncio.
Isso também é típico das chanchadas.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A burrice aéreo-gast​ronômica da mídia

http://tijolaco.com.br/blog/?p=13140



29 de janeiro de 2014 | 12:33

O “passa-moleque” de Dilma, e a burrice aéreo-gastronômica da mídia e de Aécio Neves

 
Por Fernando Brito

burrito


Uma oposição infantil e uma imprensa infantil ficam sujeitas a isso.
A levar, como levaram, um “fora” monumental da Presidenta da República”.
- Eu pago a minha conta e como onde quiser.
Deviam, como diria minha finada avó, “ficar com cara-de-tacho”.
Mas é inacreditável, como eu disse outro dia aqui, a miséria moral da oposição e da mídia brasileira.
“Dilma passa o final de semana em Lisboa”, diz O Globo, na mesma edição em que noticia que a Presidente chegou no final da tarde de sábado  a Lisboa e que partiria no dia seguinte. às 10 horas da manhã, para Havana. 18 horas de permanência, de aeroporto a aeroporto: um final de semana, portanto.
“Presidente aproveita escalas para passear desde 2011″, acrescenta a Folha, mesmo depois do “sabão” presidencial.


daily


O PSDB, ridículo, vai ao Ministério Público e à Comissão de Ética Pública saber o porque da parada do avião presidencial.
Será que a imprensa e a oposição brasileira são tão idiotas quem nem sequer foram checar as condições meteorológicas, com este modestíssimo blog fez, mostrando que o Atlântico Norte estava, da Inglaterra aos Estados Unidos, carregado de tempestades vindas do pólo?
Eu ajudo, de novo, sem esperanças de que fiquem vexados.
No dia do vôo presidencial, sábado, 25, a matéria ao lado, do inglês Daily News, mostra o que acontecia no sul da Inglaterra.
Na noite de domingo,  O Globo publicou até uma galeria de fotos sobre o que chamou de “tempestade da década” no Sul da Inglaterra, entre elas a foto de um placar de aeroporto, com todos os vôos cancelados.
Será que Aécio e os nossos editores de jornal sabem onde fica o sul da Inglaterra? Será que conseguem comprar um mapinha na papelaria e fazer um deverzinho de casa – eles não gostam tanto da expressão? – de desenhar a rota de Zurique? Para ajudar os meninos e meninas, já informo que a distância, em linha reta, de Londres a Paris é de cerca de 340 km, a mesma do Rio a São Paulo.
Ah, mas a Aeronáutica está dizendo que havia problemas meteorológicos na costa Leste dos Estados Unidos, onde se poderia fazer uma eventual parada técnica, se necessário.
Havia?


dnglobo



A resposta está aí ao lado, na reprodução de um jornal português, de domingo, 26, data da chegada de Dilma a Havana mesmo sem a parada em Lisboa. Aliás, nele, há ampla cobertura para que quiser ler, da situação dos transportes aéreos na costa Leste americana.
É preciso ser um idiota ou um sórdido para fazer este tipo de mistificação barata e  desclassificada.
Está-se lidando com estelionatários políticos que sabem ser falsas as suspeitas que levantam porque existem fatos públicos e publicados a desmenti-los.
Ou então com imbecis.
O que não é o mesmo, reconheço, mas é igualmente vergonhoso.
Infelizmente, tirando a própria Dilma Rousseff, ninguém em seu governo os enfrenta.
A Secretária de Comunicação prefere sugerir soltar pombinhas brancas nos jogos da Copa.
Triste país.

Até tu, Davos?

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Carta Maior, 29/01/2014

 
Até tu, Davos?
 
 
Por Jaciara Itaim


 
Dentre os inúmeros efeitos provocados pela crise econômica e financeira, a partir da quebradeira dos bancos nos Estados Unidos, observou-se alguma reavaliação de determinados aspectos do “diktat” do neoliberalismo. Era o que estava na base de fundamentação das orientações de política econômica nos próprios países do centro do capitalismo mundial. Os alicerces rígidos e inabaláveis da ortodoxia acabaram não resistindo aos solavancos provocados pelo desarranjo da antiga ordem que organizava o reino dos negócios pelo mundo afora.

Assim, algumas “novidades” pouco a pouco passaram a ser incorporados ao discurso e às propostas do próprio centro de poder do dinheiro. Idéias e conceitos, considerados como pura heresia até a antevéspera da falência do Lehman Brothers, foram recuperados por economistas e autoridades, cuja retórica anterior parecia até então incompatível com tais heterodoxias. Não que a profundidade da crise tenha alterado algum elemento essencial na avaliação do financismo a respeito da dinâmica econômica e dos propósitos do empreendedorismo privado neste início do terceiro milênio.

Ocorre que a história do próprio capitalismo é marcada por momentos em que o Estado é chamado de volta ao centro da cena, tendo por missão fazer com que as políticas públicas sejam colocadas de forma intensiva e explícita a favor da minimização de perdas do capital e para assegurar soluções que o onipotente mercado, de forma espontânea, não seria capaz de encontrar. Esse foi o caminho trilhado, por exemplo, para se aceitarem como “normais” as vultosas contribuições dos tesouros nacionais dos próprios países desenvolvidos em prol das instituições financeiras. O instrumento de retórica a que se lançou mão para justificar tal operação era carregado de um pragmatismo escancarado. Os bancos e corporações socorridas seriam grandes demais para quebrarem. A expressão em inglês se fazia chique nos editoriais de economia por aqui: “too big to fail”.
Crise econômica e mudança de discurso

A crise patrocinou mudanças de rumo também na extensão do uso do conceito de liberalismo comercial, as trocas comerciais entre os países. A prática protecionista voltou até mesmo ao território norte-americano, com publicação de atos governamentais estabelecendo a preferência pelas mercadorias ali produzidas. Os países europeus voltaram a abusar das políticas de gastos públicos – com o sutil detalhe de que os recursos serviam para auxiliar de forma prioritária as empresas e menos os assalariados e a população em geral, é sempre bom frisar.
A lista de exceções desavergonhadas ao cardápio liberal é extensa. No entanto, como a orientação dos governos não foi alterada de forma substantiva, as mudanças na política econômica tampouco foram estruturais. Trata-se de perfumaria momentânea, apenas aguardando passar a fase mais aguda da crise para que a estratégia liberal autêntica volte ao posto de comando.
Apesar dessa tendência de abertura temática, não deixam de ser surpreendentes alguns dos assuntos em pauta nas discussões do Encontro Anual do Fórum Econômico Mundial (FEM). Afinal, ali estão reunidos os representantes das grandes corporações das finanças e dos negócios em todo o mundo, na companhia de autoridades governamentais também de todos os continentes. E uma das maiores preocupações dos participantes se relaciona com os chamados “riscos globais” mais expressivos.

Davos agora se preocupa com o social?

O relatório elaborado pelos responsáveis do evento de Davos confere destaque especial para a questão das desigualdades como um dos maiores problemas no cenário internacional. O documento é explícito em apontar “as disparidades de renda como a maior ameaça generalizada da próxima década”, ou seja, um importante risco social. Apesar de pouco usual em documentos de eventos com o perfil do FEM, esse é mesmo o primeiro item de uma lista de riscos. Na sequência, são apresentados os demais eventos críticos. Os fenômenos meteorológicos extremos e as mudanças climáticas estão na categoria de risco ambiental. O desemprego e o subemprego aparecem na categoria de risco econômico. Os ataques cibernéticos estão presentes na categoria de risco tecnológico.

Como uma espécie de contraponto ao relatório de Davos, a conhecida organização internacional Oxfam apresentou também um documento tratando do tema da concentração de renda na escala global. Ao contrário dos banqueiros, a linha de ação da entidade está mais voltada para preocupações de natureza social e de sustentabilidade. Assim, as informações constantes do material da ONG identificam que as desigualdades são impressionantes. Os cálculos iniciais demonstram que apenas 1% da população detém por volta de 50% da riqueza global. Por outro lado o trabalho conclui que as pessoas no topo da pirâmide global (1% mais ricos) possuem o patrimônio equivalente a US$ 110 trilhões.
O mesmo estudo demonstra que não se trata de um fenômeno recente. A verdade é que o quadro das desigualdades vem se deteriorando ao longo do tempo em todo o planeta, inclusive nos anos mais recentes. Até mesmo nos Estados Unidos, por exemplo, os 10% mais ricos nunca havia apresentado antes tamanha participação na renda daquele país como em 2012, apesar de todos os efeitos da crise que eles enfrentam. Nos outros países desenvolvidos, a situação não é muito distinta. O relatório nos informa que, desde 2005, os índices de concentração de renda também aumentaram na França, no Japão e na Inglaterra – países também bastante afetados pela crise econômica. Em termos gerais, pode-se dizer que sete de cada dez pessoas do mundo vivem em um ambiente mais desigual do que há 3 décadas atrás. Ou seja, quem estiver disposto a enfrentar o obstáculo da desigualdade, deverá obrigatoriamente enfrentar resistências para intervir em aspectos estruturantes do modelo vigente.
O risco da desigualdade social: o financismo não tem proposta

Apesar de inusitada, a incorporação da desigualdade de renda como um importante fator de risco social, por parte dos frequentadores de Davos, não deve ser saudada sem restrições. Essa ressalva se faz necessária pelo fato de que os modelos de análise do fenômeno econômico não foram alterados pelos formuladores do financismo. Assim, as recomendações para enfrentar aquilo que é apresentado como o maior risco para os próximos anos não avançam muito em relação ao cardápio tradicional do liberalismo. Permanece subjacente a crença de que basta a liberdade das forças de oferta e demanda no mercado para que o ponto de equilíbrio seja atingido. E como o mercado sempre proporciona a solução mais eficiente, as distorções relativas à disparidade renda serão naturalmente eliminadas.

Os desníveis acentuados de renda sempre existiram nas relações sociais e econômicas. Trata-se de característica intrínseca ao modo capitalista de produção.
Sejam as diferenças observadas entre as nações nas relações econômicas e internacionais, sejam as disparidades verificadas entre os diferentes grupos sociais no interior de um mesmo país. O aspecto que causa perplexidade é o fato de que somente em 2014 os representantes das maiores fortunas globais tenham se disposto a aceitar tal evidência como um problema que pode colocar o sistema global em risco.
É verdade que tal passo – o reconhecimento explícito da desigualdade como um problema grave - não pode ser desconsiderado. Porém, as políticas públicas que estão sendo implementadas em grande parte dos países do mundo parece não levar em conta nem mesmo o alerta recente do encontro realizado nos Alpes suíços. O manual da ortodoxia continua a clamar pelos ajustes fiscais nos orçamentos dos governos, privilegiando o capital e penalizando o trabalho. O modelo pós-colonialista de exploração econômica dos países menos desenvolvidos continua intocado, de tal forma que a divisão internacional do trabalho relega a estes a condição de exportadores de produtos primários e importadores de bens manufaturados. As políticas de renda permanecem favorecendo as empresas e sugerindo colocar o tradicional esforço nas costas dos trabalhadores. Imposto sobre transações financeiras internacionais para constituir fundo contra a miséria tampouco entra na agenda. Ao que tudo indica, os participantes de Davos são os mesmos que formulam esse tipo de política pública excludente e concentradora.

Dessa maneira, o que se extrai desse quadro é que muito dificilmente a banca internacional vai concordar em promover alterações na matriz da política econômica levada a efeito na maioria dos países do mundo hoje. Caso o relatório do FEM fosse mesmo levado a sério entre seus pares, tudo soaria como uma traição aos interesses do próprio financismo, patrocinada por aqueles que eles mesmos representam. Uma cena insólita, em que o capital, isolado e apunhalado pelas costas, se indignasse : “Mas até tu, Davos?”. Muito difícil! Pelo contrário, é bem mais provável que os primeiros sinais de recuperação da atividade econômica no hemisfério norte acabem, mais uma vez, por empurrar para debaixo do tapete a necessidade de enfrentar questões fundamentais da forma de organização da economia e da sociedade nos tempos atuais.
 
(*) Economista e militante por um mundo mais justo em termos sociais e econômicos.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Tem um fusquinha no meio do caminho

 
 



 



Carta Maior, 28/01/2014


 

Tem um fusquinha no meio do caminho


 
Por Saul Leblon

 

 


Acontecimentos fortuitos muitas vezes sintetizam uma época melhor que as ações deliberadas de seus personagens.

Quando Maria Antonieta – afirma-se - num rasgo de espontaneidade aconselhou a plebe rude a optar por  brioches à falta do pão, revelou-se por inteiro o abismo entre a rua que acabara de derrubar a Bastilha e a monarquia agonizante de Luiz XVI.

O general João Figueiredo, ditador entre 1979 e 1985, sintetizou  o apreço do regime pela gente brasileira esponjando-se na língua das estrebarias: ‘Prefiro o cheiro de cavalo ao de povo’.

Na largada  da campanha tucana em 2010, Eliane Cantanhede, colunista da Folha, definiu-se  melhor que seus críticos ao explicar: O PSDB é um partido de massa , mas uma massa cheirosa’.

O Fusquinha 75 incendiado na avenida  da Consolação, em SP, no  sábado (25/01), revelou  uma incomoda dimensão dos protestos contra a Copa de 2014.

Black blocs que interrompiam a via atribuem o acidente ao piloto, que teria avançado sobre um bloqueio de fogo com crianças a bordo.

Itamar Santos, serralheiro pobre de 55 anos, rejeita o papel de vilão.

Um colchão em chamas, disse ao blog da Cidadania, foi atirado sobre o seu carro quando avançava para escapar de protestos, teoricamente, em defesa  de brasileiro pobres como ele.

O  Fusquinha no meio do caminho é a pedra no sapato dos que oferecem destinos redentores à sociedade sem combinar com ela - nem dizer como se chega lá.

Contrapor objetivos distintos aos do governo, qualquer governo, é legítimo.

Sem adicionar aos enunciados as linhas de passagem capaz de  materializá-los, porém, rebaixa-se  a política ao plano do bate-boca  inconsequente.

Dispersa em vez de organizar.

A  oposição conservadora também é useira e vezeira na atividade exclamativa.

Desprovidos de compromissos com a sorte da nação e de sua gente, seus economistas, egressos em geral do vale tudo financeiro, colecionam receitas de como tocar fogo no país, indiferentes  aos ocupantes dos Fusquinhas no meio do caminho.

A instabilidade cambial que ronda as nações em desenvolvimento nesse momento, antes de preocupá-los é vista como um bom aditivo para queimar caravelas.

Move-os a esférica certeza de que o legado recente é incompatível com o futuro recomendado ao país.

A saber: aquele nascido de uma purga ortodoxa, capaz de limpar o tecido econômico de qualquer vestígio de soberania, interesse público e justiça social.

O problema dessa lógica é o bendito Fusquinha atrapalhando o tráfego das boas causas.

Fortemente ancorada na ampliação do mercado de massa, a economia brasileira avançou nos últimos anos apoiada em ingredientes daquilo que a emissão conservadora denomina ‘Custo país’.

Em tempos de interdições  inflamáveis, nunca é demais recordar.


O  salário mínimo teve una elevação do poder de compra da ordem de 70% desde 2003, acima da inflação16 milhões de vagas foram abertas  no mercado de trabalho, regidas pela regulação trabalhistas da era Vargas; políticas sociais destinadas a mitigar a fome e a miséria atingem mais  de 55 milhões de pessoas atualmente.

No Fórum Social Temático, em Porto Alegre, a ministra Tereza Campello deu um exemplo do que está subjacente a estatísticas para as quais o vocabulário conservador reserva apenas uma palavra: assistencialismo.

Pela primeira vez na história do país,  disse Campello, uma geração de crianças pobres, que  agora completa  12 anos, nasceu e  cresceu livre da fome.

O blackboquismo  nas suas variadas versões dá de ombros.
O mesmo trejeito merece o cinturão de segurança de US$ 375 bilhões em reservas internacionais acumuladas  no período de fastígio das commodities –‘ciclo desperdiçado pelo governo do PT’, assevera-se.

Não fosse ele, o Brasil seria  presa fácil da volatilidade internacional desse momento, com consequências sabidas e equivalentes às da tripla quebra no ciclo tucano.

 Mas a blindagem figura como um retrocesso do ponto de vista de quem acredita  que as conquistas dos últimos 12 anos devem ser corroídas  para reduzir o custo do investimento privado e aliviar o ‘gastança’ fiscal.

Aí sim, sobre os escombros, brotaria uma nova matriz de crescimento ‘mais leve, ágil e competitiva’, temperada por um corte geral de tarifas de importações.

O diabo, de novo, é o Fusquinha na contramão do schumpeterismo blanquista.

Dentro dele, 40  milhões de brasileiros saídos da  pobreza extrema e outros tantos que ascenderam na pirâmide social formam  a vértebra decisiva de um dos mais cobiçados mercados de massa do planeta.

Os jovens da chamada classe C, por exemplo, tornaram-se majoritários no mercado de consumo.

Em 2013 eles realizaram compras no valor de  quase  R$ 130 bi - R$ 50 bi acima do valor consumido pela juventude dos segmentos A e B (Data Popular).


Juntas, as faixas de renda C, D e E reúnem  155 milhões de pessoas, o que faz da demanda popular brasileira, sozinha, o 16º mercado consumidor do planeta.
É esse o recheio do Fusquinha que avança na contramão da dupla barreira, a incendiária  e a purgativa, que sacode o debate do passo seguinte do país.

Reconheça-se, o tráfego social e econômico  brasileiro tornou-se  bem menos  linear sob a pressão do fluxo de demandas, prazos e requisitos para o seu atendimento.

Cada urgência tem um  custo e quase nunca  ele é neutro em relação a outra.

Nenhuma novidade.

Desequilíbrio e desenvolvimento são irmãos siameses – exceto quando se entende por desenvolvimento a mera concentração da riqueza nas mãos dos endinheirados.

O Brasil talvez tenha avançado demais para regredir a essa modalidade de paz do salazarismo social.

As  multidões que invadiram a economia dentro do Fusquinha  não aceitam dar meia volta na estrada da ascensão experimentada nos últimos anos.

Uma nova macroeconomia do desenvolvimento terá que ser construída  em negociação permanente com elas.

Ou contra elas – correndo-se o risco de ser atropelado por elas.

A contingência não incomoda apenas o blackbloquismo nas suas variantes sabidas.

Significa também que a vitória progressista em 2014 somente será consistente se ancorada na decisão política de promover a mutação do  Brasil  que se tornou majoritário na pista do consumo, em um Brasil hegemônico na repactuação de projeto de nação para o século 21.

Carta Maior, propositadamente, insiste em repetir: para isso é preciso – ao contrário do que fazem os shoppings aos sábados - alargar as portas da  democracia e criar os  instrumentos que forem necessários para sustentá-la.

Não adianta interditar o tráfego. Nem tacar fogo no Fusquinha das demandas populares.

A ver
 


 

 
Carta Maior, 28/01/2014



 
Vai ter eleição!




Por Marco Aurélio Weissheimer



Vai ter Copa. Não vai ter Copa. Anti-Copa. Como era previsível, o ano começa com a Copa do Mundo ocupando lugar destacado no debate público e midiático. Mais midiático do que público, no momento. É importante lembrar que a Copa do Mundo não é o acontecimento mais importante de 2014. Há quem ache que não vai ter Copa. Mas não há dúvida sobre outro fato: vai ter eleição. E os movimentos políticos em torno da Copa Mundial de Futebol estão todos subordinados, goste-se ou não, à eleição presidencial. Não é uma eleição presidencial qualquer. Ela define o futuro do maior país da América Latina e, de modo indireto, de todo o continente. Com o passar dos meses, essa agenda vai se impor ao debate político do país exigindo escolhas e definição de posicionamentos.

Os grupos, supostamente de esquerda, que tentam alimentar o movimento “Não vai ter Copa”, representam neste início de ano a grande esperança da oposição política e social ao governo federal para derrubar a popularidade da presidenta Dilma Rousseff, candidata à reeleição. A única coisa que foi capaz de derrubar a popularidade de Dilma foram os protestos de junho de 2013. Sem uma agenda política, social e econômica para o país, a oposição capitaneada pelo PSDB acompanha o desenrolar dos acontecimentos, apostando no quanto pior, melhor, e contribuindo para isso com a truculência policial onde governa, como ocorre atualmente em São Paulo. Essa é a receita para alimentar um clima de conturbação social nas ruas capaz de transformar a Copa num pesadelo para o atual governo. Com o passar do tempo, haverá muito pouco espaço para neutralidade e/ou ingenuidade nesta disputa. As peças estão se posicionando no tabuleiro e, no final, do ano, haverá um vencedor e um perdedor.

Há motivos legítimos para se protestar contra a Fifa e contra efeitos negativos da promoção desses mega-eventos, principalmente junto a setores mais pobres da população. Mas, paradoxalmente, podem ser justamente esses setores mais pobres os mais prejudicados, caso os partidários do caos na Copa (que é o que significa “não vai ter Copa”) triunfem. São esses setores os principais beneficiários de um conjunto de políticas públicas universalizantes, que caminham na contramão do que está se fazendo hoje no mundo. Em um debate realizado neste sábado, no Fórum Social Temático de Porto Alegre, a ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, resumiu a importância estratégica dessas políticas e da transformação que ela está provocando na vida de milhões de brasileiros:

O Bolsa Família atinge hoje cerca de 50 milhões de pessoas e mobiliza um conjunto de outras políticas. Já são quase 12 anos de uma infância sem fome. A saúde das crianças melhorou em função do casamento do Bolsa Família com o Programa de Saúde da Família. Houve uma redução de 58% da mortalidade infantil causada por problemas relativos à desnutrição. O segundo impacto positivo é na educação, com a alteração da trajetória educacional das crianças. Essa alteração aparece nas taxas de aprovação. Os jovens do Bolsa Família tem um melhor desempenho escolar no ensino médio do que os jovens que não são beneficiários do programa. A taxa de aprovação dos alunos com Bolsa Família no ensino médio é de 79,7%, enquanto a dos alunos sem Bolsa Família é de 75,7%. Houve uma redução de 89% da extrema pobreza, lembrando que essa pobreza se concentra mais entre jovens até 15 anos.

É possível ser anti-Copa e a favor do Bolsa Família? Sim, em tese, é possível. Em tese, muitas coisas são possíveis. Mas, na política, a estrada entre o possível e o real é tortuosa e cheia de armadilhas. Objetivamente, o “não vai ter Copa” virou a bala de prata da oposição. Os grupos e movimentos que trabalham com esse objetivo tendem a se transformar rapidamente em linha auxiliar do conservadorismo brasileiro que quer acabar com o que chamam de “farra fiscal” provocada pelo conjunto de políticas públicas implementadas pelo Estado brasileiro, hoje. Esse diagnóstico tem a cara de uma chantagem? Pode até ser, mas, objetivamente, é disso que se trata. As chamadas “jornadas de junho” foram a única coisa capaz de fazer Dilma despencar nas pesquisas. Repita-se a dose agora, então, se possível em escala maior.

Um caminho para quem deseja protestar contra os desmandos da Fifa e contra, por exemplo, políticas de remoção forçada de populações, é pressionar os poderes públicos, em suas esferas municipal, estadual e federal, e tentar conquistar benefícios para os atingidos por esses efeitos negativos. É um caminho estreito, mas possível. Exige, entre outras coisas, disposição para o diálogo e para a articulação e organização política. Mas é estreito, pois esse caminho é habitado também por grupos que consideram o incêndio de fuscas, lixeiras e bancos públicos como tática revolucionária (sic). A atenção da mídia estará focada nestes grupos e qualquer fusca ou lixeira incendiada ganhará repercussão mundial.

No mesmo debate do qual participou a ministra Tereza Campello, no Fórum Social temático, o sociólogo Emir Sader advertiu para o desencontro que ocorreu entre o Fórum e a ideia do outro mundo possível:

O outro mundo possível aparece no vídeo que vimos aqui sobre o Bolsa Família, está presente em políticas concretas no Brasil, na Bolívia, no Equador, na Venezuela. O Fórum errou quando, lá atrás, excluiu o Estado, os partidos e os governos de suas atividades. A ideia de uma sociedade civil global é uma ficção e a propalada autonomia dos movimentos sociais é autonomia em relação ao que mesmo? À política? Isso não funciona. Eu esperava um balanço mais crítico dos zapatistas que hoje estão isolados no Sul do México. Outro exemplo é do movimento do piqueteros na Argentina, que surgiu como uma grande novidade, abriu mão de fazer política e hoje simplesmente acabou”.

Os entusiastas das chamadas “revoluções interconectadas pelas redes” costumam minimizar as suas “conquistas” políticas até aqui: uma ditadura no Egito, a vitória da direita na Espanha (e a ascensão da extrema-direita em vários países da Europa), o desvio da atenção, no Oriente Médio, da luta do povo palestino. Obviamente, essas “revoluções” não são as únicas responsáveis por essas consequências, mas tem a sua parcela, sim. Não parece ser pedir demais que se dedique algumas horas a essa reflexão. Inventar novos conceitos pode ser divertido, às vezes pode ser útil, mas, outras vezes, pode ser apenas uma invenção mal-sucedida. O voluntarismo e o ultra-esquerdismo já causaram grandes estragos na história da esquerda. A América Latina conhece bem essa história. Cabe, aqui, lembrar as palavras do presidente do Uruguai, José Mujica, sobre a arte de governar:

(…) No sentido mais profundo é possível que governar seja lutar por tornar evidente o que ainda não o é, significa olhar muito longe. Isso tem um preço: não ser entendido, não ser acompanhado, não ser compreendido. É natural que as pessoas estejam preocupadas com seu presente imediato. Elas querem ganhar mais, viver melhor. É parte do modelo e desta etapa da civilização. Há outra discussão que tem a ver com o desperdício desse modelo porque, no ritmo atual, não há recursos suficiente para todos (…)”.

“(…) É preciso fazer as coisas enquanto a sociedade real funciona, ainda que ela seja capitalista (e o é). Tenho que cobrar impostos para mitigar as enormes desigualdades sociais e, ao mesmo tempo, não posso cair no conformismo crônico de que simplesmente reformando o capitalismo iremos a alguma parte. Devo tentar outra coisa distinta, mas evitar a colisão, porque o choque é sacrifício humano. Não se pode ficar 30 ou 40 anos repetindo a palavra revolução sem que as pessoas tenham o que comer. Não podemos substituir as forças produtivas de um dia para outro, da noite para o dia, nem em dez anos. São processos que exigem inteligência. Precisamos lutar no interior das universidades para a multiplicação do talento humano. Mas, ao mesmo tempo que lutamos para transformar o futuro, é preciso manter o velho funcionando porque as pessoas precisam viver. É uma equação difícil. O desafio é imenso (…)”.

É isso. A arte de governar é cheia de limites, contradições e obstáculos. Ela exige escolhas e definição de prioridades. E a coisa mais importante este ano, para milhões de pessoas mais pobres em toda a América Latina, é a eleição presidencial no Brasil. Não se trata de nenhuma questão nacionalista de ser contra ou a favor do Brasil. Trata-se de uma disputa que influenciará a vida de milhões de pessoas em toda a América Latina, da zona sul de Porto Alegre ao altiplano da Bolívia. Se alguém tem alguma dúvida disso que escute a opinião de Evo Morales, Rafael Correa, Nicolas Maduro, Fidel Castro e de outros líderes latino-americanos a respeito.

Trata-se de uma eleição que define o futuro de políticas públicas que estão mudando a vida de milhões de pessoas. É disso que se trata e reconhecer isso não implica, sob aspecto algum, negar que existem problemas sérios a serem enfrentados ou não reconhecer o direito de manifestação para quem quer que seja.

Mas é impossível não reconhecer também que a única possibilidade de sucesso para a oposição hoje é criar um clima de caos durante a Copa. Pouco importa as designações que nos auto-atribuamos (se somos de esquerda, petista, antipetista, psolista ou anarquista). As nossas ações e escolhas nos colocarão em uma posição nesta disputa. Que cada um faça suas escolhas e se responsabilize por elas depois. E, ao fazer isso, talvez seja prudente ter em mente que o caminho entre o otimismo da vontade e a demência da razão pode ser muito curto.

Por que investir em Cuba? É a economia, estúpido!

Carta Maior, 28/01/2014

          

O porto de Mariel, Brasil, Cuba e o socialismo




PorBeto Almeida (*)

 


 


Havana - Tem sido extremamente educativo registrar, aqui em Havana, a reação do povo cubano diante da inauguração do Porto de Mariel. Expressando um elevado nível cultural, uma mirada política aprofundada sobre os fenômenos destes tempos, especialmente sobre a Reunião de Cúpula da Celac que se realiza por estes dias aqui na Ilha, tendo como meta central, a redução da pobreza, os cubanos revelam, nestas análises feitas com desembaraço e naturalidade, todo o esforço de 55 anos da Revolução Cubana feita na educação e na cultura deste povo.

Mariel, uma bofetada no bloqueio

Poderia citar muitas frases que colhi ao acaso, conversando com os mais diversos segmentos sociais, faixas etárias distintas, etc, mas, uma delas, merece ser difundida amplamente. O marinheiro aposentado Jorge Luis, que já esteve nos portos de Santos e Rio de Janeiro, que vibra com o samba carioca, foi agudo na sua avaliação sobre o significado da parceria do Brasil com Cuba para construir o Complexo Portuário de Mariel. “Com Mariel,  Brasil rompe concretamente o bloqueio imperialista contra Cuba”, disse. E adverte: “Jamais os imperialistas vão perdoar Lula e Dilma”. Ele não disse, mas, no contexto do diálogo com este marinheiro negro, atento ao noticiário de televisão, leitor diário de jornal, informado sobre o que ocorre no Brasil e no mundo,  estava subentendido, por sua expressão facial, que ficava muito claro porque Dilma é alvo de espionagem dos EUA.

O tom da cobertura do oposicionismo impresso brasileiro, pré-pago, à inauguração do Porto de Mariel, não surpreende pela escassa informação que apresenta, muito menos pela abundante insinuação de que tratar-se-ia apenas  de um gasto sem   sentido,  indefensável, indevido.  Ademais, sobram  os  rançosos preconceitos de sempre, afirmando que o Brasil estaria financiando a “ditadura comunista”,  tal como este oposicionismo chegou a mencionar que seria esta a única razão para empreender um programa como o Mais Médicos, que salva vidas e que tem ampla  aprovação  da sociedade brasileira.

É necessário um jornalismo de integração

Informações objetivas sobre o significado e a transcendência do Complexo Portuário de Mariel certamente faltarão ao povo brasileiro. Primeiramente, porque o oposicionismo midiático não permitirá sua difusão, numa evidente prática de censura. E, por outro lado, nem o PT ou as forças que sustentam politicamente o governo Dilma e estas iniciativas robustas da política externa brasileira, com tangíveis repercussões sobre a economia brasileira, possuem uma mídia própria para esclarecer o significado de Mariel, ante um provável dilúvio de desinformações sobre a sociedade brasileira.

Primeiramente, deve-se informar que o financiamento feito pelo BNDES, algo em torno de um bilhão reais na primeira fase,  não se trata de uma doação a Cuba. É um empréstimo, que será pago. As relações bilaterais Brasil-Cuba registram crescimento contínuo nos últimos anos.

Além disso, está condicionado à contratação de bens e serviços na economia brasileira, além de envolver cerca de 400 empresas, sendo, portanto, um dos fatores a mais que explicam porque há contínua expansão no mercado de trabalho brasileiro, com uma taxa de desemprego das mais baixas de sua história. Ao contrário do que ocorre, por exemplo, na Europa, onde aumenta o desemprego e há eliminação de direitos trabalhistas e sociais conquistados décadas atrás.
Dinamização das forças produtivas

Além disso, Mariel vai ser  - por enquanto , Dilma inaugurou apenas a primeira fase  -  o maior porto do Caribe, com capacidade para atracar navios  de calado superior a 18 metros, e  também , podendo movimentar mais de 1 milhão de conteiners por ano. Terá um impacto especial para o comércio marítimo também direcionado ao Pacífico, via Canal de Panamá. Para isto, vale lembrar da importância da participação da China, crescente, na economia latino-americana, em especial  com o Brasil. Tanto o gigante asiático como empresas brasileiras, já manifestaram interesse em instalarem-se na Zona Econômica Especial a ser  implantada em Mariel, onde também já foi construída uma rodovia moderna, estando em construção, uma ferrovia.

De alguma maneira , Havana retoma uma posição de destaque no comércio marítimo internacional,  pois já foi o maior porto da América Latina,  ponto de conexão de várias rotas, tendo sido, por isso mesmo, uma cidade com mais de 70 por cento de habitantes portugueses,  quando Portugal era um grande protagonista na marinha mercante internacional. Havana já teve, também,  uma das maiores indústrias navais do mundo.

Cuba  sempre impulsionou a integração

O tirocínio do marinheiro negro Jorge Luis é perfeito. Depois de suportar décadas de um bloqueio que impediu os cubanos a compra de uma simples aspirina no maior e mais próximo mercado do mundo, os EUA, a Revolução Cubana, tendo resistido a ventos e tempestades, sobretudo às agressões  imperialistas, soube preparar-se para esta nova etapa da história, simbolizada pela existência de uma Celac que vai se consolidando, pouco a pouco. Não sem enfrentar ações desestabilizadoras, lançadas contra os países mais empenhados na integração regional latino-americana, como Venezuela, Bolívia, Equador, e, também, pelas evidentes ações hostis contra Brasil e Argentina. Cuba investiu parte de seus modestos recursos na solidariedade internacional. Seja no envio de 400 mil homens e mulheres para derrotar  o exército racista da África do Sul que havia invadido Angola, como também para promover , em vários quadrantes, com o envio de professores, métodos pedagógicos, médicos e vacinas, a eliminação do analfabetismo e o salvamento generalizado de vidas. É o caso, por exemplo,  do programa Mais Médicos, não por acaso tão injustamente desprezado pela oligarquia midiática, que vocaliza os laboratórios farmacêuticos multinacionais.

Como defender que salvar vidas merece desprezo?

É certo que todas as economias caribenhas e latino-americanas  serão dinamizadas com a entrada em funcionamento do Porto de Mariel, gerando mais empregos, possibilitando novas opções comerciais. É emblemático que China esteja firmando um acordo estratégico de cooperação com a Celac. Para uma economia cercada de restrições, sem  capacidade de investimentos,  sem engenharia nacional para fazer esta obra por conta própria, o Porto de Mariel, é um imenso  descortinar de possibilidades para Cuba. Os gigantescos navios chineses, de uma China que consolida sua posição como a segunda potência comercial mundial, não podiam mais aportar no velho Porto de Havana, o que resultava numa limitação operacional e logística, com impactos econômicos negativos de grande monta. O Porto de Havana será readaptado para o turismo e a economia cubana, no seu conjunto, recebe, com Mariel um enorme impulso para a dinamização de suas forças produtivas. A atendente do hotel onde estou instalado me confessava hoje o interesse de ir trabalhar em Mariel, porque, segundo disse, o futuro está por ali e são empregos mais promissores.

Mariel e seus impactos internacionais

Realmente,  para um economia que perdeu a parceria que tinha com a União Soviética, que resistiu durante o período especial com as adaptações inevitáveis  para salvar o essencial das conquistas da Revolução,  o que Mariel significará é de extraordinária relevância. E é exatamente na dinamização das forças produtivas da Revolução Cubana que se localizam  as chaves para muitas portas que podem ser abertas para uma maior dedicação de meios, recursos e iniciativas visando a integração latino-americana. E, neste quebra-cabeças, a política estratégica implantada por Lula, continuada por Dilma,  é ,inequivocamente, muito decisiva. Que outro país poderia fazer um financiamento deste porte para a construção de Mariel?

Por último, pode ser muito útil uma reflexão sobre os diversos pensadores, formuladores e também executores de políticas de integração. Desde Marti,  aquele analisou a importância da “nossa Grécia”, numa referência ao significado da civilização Inca, mas que também  formulou o conceito de Nuestra América,  até chegando ao pensamento de Getúlio Vargas, criador do BNDES, o banco estatal de fomento que está financiando a construção do Porto de Mariel, uma estupenda ferramenta integradora. Tudo converge para a abertura de uma nova avenida para dar trânsito à integração. Seja pela sabedoria dos povos da região que estão sabendo apoiar, com o seu voto,  os governos que mais impulsionam estas políticas, seja pelos avanços concretos que estas políticas integradoras têm registrados, apesar da insistência nada profissional do jornalismo de desintegração em reduzir tudo a zero.

Futuro socialista
A força e a necessidade histórica das ideias se vêm comprovadas nesta inauguração da primeira etapa do Porto de Mariel, em plena reunião da Celac, sem a presença de Estados Unidos e Canadá, patrocinadores históricos da desintegração entre os povos. A simbologia da justeza histórica do pensamento martiniano, nos permite, agora,  afirmar, também, que José Marti é um dos autores intelectuais de Mariel. E,  retomando o otimismo realista do marinheiro Jorge Luis, constatamos que  a dinamização das forças produtivas da Revolução Cubana que a parceria entre Cuba e Brasil possibilita, foi estampada na frase final do discurso do presidente cubano, General  Raul Castro: “Mariel e a poderosa infraestrutura que o acompanha são uma mostra concreta do otimismo e  da confiança  com que os cubamos  olham o futuro socialista e próspero da Pátria”. O marinheiro negro captou o significado essencial  destes dias. Não por acaso, a Marcha das Tochas, que celebra com chamas que não se apagam, as ideias de Marti, em seu aniversário, ontem - com mais de 500 mil manifestantes, maioria esmagadora de jovens - teve, na  primeira fila, além de Raul, os presidentes Evo Morales, Nicolás Maduro, Pepe Mujica,  Daniel Ortega. As ideias de Marti, materializadas nestes avanços produtivos e integradores, como Mariel, vão iluminando o futuro socialista de Cuba e, com isto, da integração latino-americana.

(*) Beto Almeida, de Havana, Membro do Diretorio da Telesur





Tijolaço, 28/01/2014

   

Por que investir em Cuba? É a economia, estúpido





A simples menção ao nome Cuba costuma desencadear uma onda de reações estúpidas da imprensa e da classe média idiotizada, que não consegue compreender lhufas das necessidades de uma economia como a brasileira fazer bons negócios e obter posições estratégicas nos mercados mais promissores, sem falar obrigação moral de, ao negociar, não fazer distinções entre países por “simpatia” ou “antipatias”.
No jogo do comércio mundial  as relações não são baseadas no amor.
Os Estados Unidos, que proíbem a importação de produtos cubanos, num anacrônico bloqueio comercial de meio século, não se escusam de exportar para a ilha de Fidel. São a quarta maior fonte de importação do país, perdendo apenas para a China, a Espanha e, por muito pouco, para o Brasil.
E importações crescentes, que pularam de pouco mais
Ontem, a Folha se queixou, em reportagem, do abandono das nossas crescentes e vantajosas trocas comerciais com o Irã, amplamente superavitárias, como as com Cuba. É verdade, mas faltou destacar que isso foi função das pressões políticas sobre o nosso país, para afastar-se dos persas e, por outro lado, do distensionamento das relações entre o país e os Estados Unidos e a União Europeia, com o fim do governo Amahjineahd.
Alguém pode imaginar gente mais anticomunista que o General Geisel?
Pois foi em seu governo que Ítalo Zappa, via Itamaraty, fez o Brasil plantar os pés no continente, a partir dos recém libertos países de língua portuguesa, quase todos com governos esquerdistas.
É tão raro que surja uma análise lúcida sobre isso que faço questão de partilhar o comentário do jornalista Kennedy Alencar, hoje de manhã, no Jornal da CBN sugerido pelo amigo Clovis .
Kennedy explica o óbvio: que o dinheiro emprestado para as obras no excelente porto cubano de Mariel na foto, no ato de inauguração parcial, com Dilma e Raúl Castro – não é “investido lá fora”, mas aqui dentro, pelo compromisso de compra de bens e serviços para a obra em nosso país.
É bom negócio sem deixar de ser solidariedade com um país latino americano que precisa de investimentos, como nós precisamos de médicos que Cuba cede, com a devida compensação financeira por isso.

Insulza em Havana

Jornal do Brasil, 28/01/2014

Insulza em Havana


 
Por Mauro Santayana

O senhor José Miguel Insulza, secretário-geral da OEA, chegou ontem a Havana para participar, como convidado, da segunda reunião da Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e do Caribe), transformando-se no primeiro dirigente da Organização dos Estados Americanos a pisar o solo cubano em 52 anos, desde a expulsão de Cuba da entidade, em janeiro  de 1962.
A Celac, fundada há dois anos por iniciativa venezuelana, reúne 33 nações da região, com exceção dos Estados Unidos e Canadá, e de ex-“potências” coloniais, como Portugal e Espanha,  que têm visto suas sucessivas cúpulas “ibero-americanas” fracassarem e serem simplesmente ignoradas, por nossos países, cada vez mais.
Por que os norte-americanos e canadenses ficaram de fora da Celac? Porque, embora teoricamente “americanos”, eles fazem, geopoliticamente, parte de outro bloco — a que pertencem também Grã-Bretanha e Austrália — que não é confiável para “nosotros”, como ficou comprovado pelas atividades de espionagem denunciadas por Edward Snowden, praticadas de forma contumaz por esses países contra o resto do mundo, e particularmente contra o Brasil, pelos EUA e o Canadá.
A reunião da Celac de Havana servirá como uma espécie de desagravo latino-americano, do Rio Grande à Terra do Fogo, a Cuba, e também como reconhecimento geral do fracasso do embargo norte-americano ao regime cubano, tanto do ponto de vista diplomático como do econômico, evidenciado pela inauguração, ontem, por Dilma e Raul Castro, do Megaporto de Mariel, e de sua Zona Especial de Desenvolvimento, que tem sido vista pela imprensa internacional como o marco maior da abertura cubana à modernização e ao capital estrangeiro.    

Construído  por empresas brasileiras, com a exportação de bens e serviços nacionais no valor de quase 900 milhões de dólares, o Megaporto de Mariel receberá, a partir do próximo ano, fábricas do mundo inteiro, para a montagem — em sua Zona de Desenvolvimento de 255 km2 — de produtos a serem transportados pelo vizinho Canal do Panamá, que está em fase de ampliação.
A importância da reunião da Celac para Cuba pode ser medida pela presença do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, e de 32 dos 33 líderes convidados. Além disso — para maior incômodo dos Estados Unidos — foi aprovada, também, a criação de um foro permanente de cooperação dos países membros com a China, que acaba de ultrapassar o Japão como a segunda maior economia do planeta.
Segundo previsto, a reunião deverá analisar projetos de combate à pobreza e à desigualdade na América Latina e no Caribe; a transformação desse espaço geográfico em uma “zona de paz” — em velada alusão às bases militares norte-americanas na Colômbia — e o reconhecimento do princípio de não intervenção em assuntos internos de outros países e de cada  país  membro escolher seu próprio “modelo” político. 
A presença do secretário-geral da OEA em Havana, depois de reaberta em 2009 a possibilidade — terminantemente recusada pelas autoridades cubanas — de Cuba voltar a pertencer à organização, se dá mais no contexto de uma clara vitória diplomática e da superação ao bloqueio imposto pelos EUA do que de um afago cubano à OEA.
Ao convidar Insulza, Cuba foi generosa. Mas é preciso evitar que isso se torne um hábito. A Celac foi criada como um foro exclusivo dos povos latino-americanos e do Caribe.
Se a OEA começar a ser convidada oficialmente — mesmo que como observadora —a cada novo encontro da Celac, será o mesmo que colocar os EUA e o Canadá dentro do plenário.           
 
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UOL, 28/01/2014

 
 
O ex-presidente de Cuba, Fidel Castro, conversa com a presidente Dilma Rousseff, em foto desta segunda-feira (27). Segundo informou o site oficial de Cuba, Cubadebate, Castro e Dilma conversaram sobre a Zona de Desenvolvimento Especial cubana. A presidente visitou o país para inaugurar, junto com o presidente cubano, Raúl Castro, um porto que teve financiamento brasileiro.