quinta-feira, 31 de maio de 2012

O fator Gilmar Mendes visto de dentro do governo

 
 
 
 
30/05/2012 - 17:29
 

O fator Gilmar visto de dentro do governo

Autor: Luis Nassif
 
 
Avaliação de estrategistas do governo sobre as escaramuças dos últimos dias:
  1. O tiroteio é um pequeno ensaio de como a mídia irá se comportar quando o julgamento começar para valer.
  2. Antes de ontem, o Jornal Nacional deu 5:30 minutos com Gilmar. Ontem, mais 4 minutos. No primeiro dia, até se justificava pelo ineditismo do fato. No segundo, não havia justificativa jornalística, até pela maneira dúbia como Gilmar recontou sua história.
  3. Ainda não se entendeu a motivação de Gilmar Mendes. Apenas suspeita-se de que deve haver algo muito grave para justificar tamanho destempero. N 6a feira o Ministro Ricardo Lewandovski encaminhou à CPI as mil horas de gravação que não tinham sido incluídas nos inquéritos por não estar diretamente relacionadas com os crimes apurados (jogo clandestino). Suspeita-se que a reação de Gilmar seja uma vacina contra eventuais fatos que possam estar contidos nas gravações.
  4. A reação dura do Palácio contra a nota do Estadão – mencionando suposto receio de Dilma com crise institucional – se deve ao fato de ser a terceira vez em três meses que o jornal pisou na bola com matérias.

Dr. Paulo Lacerda

http://terramagazine.terra.com.br/bobfernandes/blog/2012/05/30/gilmar-mendes-foi-leviano-e-mente-diz-lacerda-ex-diretor-da-pf-e-abin/


30/05/2012

"Gilmar Mendes foi leviano e mente”, diz Paulo Lacerda

Por Marcelo Soares Souza


Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo publicada nesta quarta-feira, 30, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes lançou acusações contra Paulo Lacerda, ex-diretor da Policia Federal e da Abin (Agência Brasileira de Inteligência):
- Dizem que ele (Lacerda) está assessorando o PT. Tive informação em 2011 que o Lacerda queria me pegar.

Segundo O Estado de S.Paulo, Gilmar Mendes suspeita que Lacerda estaria divulgando "informações falsas" para atingi-lo. E, também, que estaria assessorando o ex-presidente Lula. Terra Magazine ouviu Paulo Lacerda no início da tarde desta quarta-feira. Feita a ressalva "não sei se ele disse isso", Paulo Lacerda, habitualmente sereno e cordato, respondeu a Gilmar Mendes com dureza:
- Se ele falou isso, ele foi leviano e mente.

Lacerda, que hoje trabalha numa associação de empresas de segurança privada, conta que não vê Lula há anos, assim como Gilmar Mendes, e rebate as acusações:
- Estou aposentado, não trabalho com investigação (…) não trabalho para partido nenhum, não assessoro nem à CPI nem ao ex-presidente Lula (…)
Por fim, sobre informação atribuída também ao ministro e publicada no sábado, 26, em O Globo, dando conta que o espião Dadá seria seu homem de confiança, Paulo Lacerda devolve:
- Eu nem conheço o Dadá, jamais tive contato com ele e nunca estive com ele
. Portanto, faço a ressalva: se o ministro Gilmar Mendes de fato disse isso… essa é mais uma informação leviana, irresponsável e mentirosa.

Terra Magazine: O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, disse em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo: "Lacerda tinha como missão me destruir", e que o senhor queria "pegá-lo". Disse também que "dizem" que o senhor estaria assessorando o PT e municiando o presidente Lula com informações…

Paulo Lacerda: Soube pelo jornal. O absurdo é tamanho que não sei como ele se permite dizer aquilo. Se ele disse aquilo, respondo: primeiro, o ministro Gilmar está totalmente desinformado sobre a minha vida profissional e pessoal. Estou aposentado da Polícia Federal depois de dois anos e meio de adidância em Lisboa e trabalho hoje para a Associação de Empresas de Segurança Privada. Não trabalho com nada, nada de investigação, e quem me conhece e à minha vida hoje sabe disso. Sabe o que é mais espantoso?

- O quê?

- É que é com base nesse tipo de informações que o ministro está recebendo é que se criou essa crise toda. Se as informações que ele diz ter recebido são dessas mesmas fontes, se foram essas fontes e informações que o levaram a dizer o que anda dizendo nos últimos dias, tá explicado porque ele está dizendo essas coisas e dessa forma. Ele, de novo, mais uma vez, está totalmente mal informado.

- O senhor não presta assessoria à CPI, ao PT ou ao ex-presidente Lula?

- Não vejo o presidente Lula, assim como o ministro Gilmar Mendes, desde que deixei o governo. Isso é ridículo. Não assessoro o PT nem a partido algum e é um delírio supor, achar e dizer que assessoro o ex-presidente Lula. Basta perguntar aos senadores e deputados da CPI se assessoro à CPI ou a algum parlamentar. Basta perguntar aos assessores do Lula se alguém tem algum vestígio de presença minha, de contato meu com ele. Sou aposentado, até poderia trabalhar para quem me convidasse e eu quisesse, mas isso não é verdade. É absoluta inverdade. Impressiona e é preocupante como um ministro do Supremo não se informa antes de dizer esses absurdos.
- Mas o que exatamente é absurdo?

- Tudo isso. São informações totalmente tendenciosas. Eu não estou trabalhando para partido algum, político nenhum. Ele está exaltado, sem controle, não sei se por conta dessa conversa com o ex-presidente, mas nada disso é verdade. E isso é muito fácil de checar.

- O senhor e o ministro Gilmar Mendes já tiveram um problema sério…

- Em setembro de 2008, ele procurou o presidente Lula e acusou a Abin, que eu dirigia, de ter feito grampos ilegais na Operação Satiagraha. Aquilo era mentira. Não foi feito grampo algum ilegal por parte da Abin… aliás, a CPI de agora é uma ótima oportunidade para investigarem aquela armação. Não existiu grampo algum, mas o ministro Gilmar Mendes foi ao presidente da República com base em uma informação falsa. Espero que agora apurem tudo aquilo.

- O que mais o incomoda?

- Eu não vi o ministro Gilmar Mendes falar isso, eu li no jornal. Não sei se ele falou, mas se ele falou, foi leviano e mente. Se falou isso o ministro Gilmar Mendes mentiu. Estou aposentado da área pública, todos sabem disso. Não teria nenhum impedimento, de ordem alguma, para trabalhar com investigação, mas não quero, e isso que ele disse, se disse, não é verdade.

- Alguma vez, depois do episódio em 2008, do tal grampo cujo áudio nunca apareceu, o ministro Gilmar e o senhor falaram sobre o episódio? Em algum momento ele reconheceu não ter ouvido o tal grampo, se desculpou?

- Não. Repito, não vejo o ministro e o ex-presidente Lula há anos.
E não houve desculpa alguma e acho que a CPI agora seria ótima oportunidade para esclarecer isso de uma vez por todas, embora a Polícia Federal já tenha concluído que não houve grampo algum da Abin…

- Essa CPI de agora, a do Cachoeira, tem alguns personagens comuns com aquele caso, fala-se muito no espião Dadá…

- A propósito. O ministro Gilmar Mendes teria dito ao jornalista Moreno que esse cidadão, Dadá, é ou era meu braço direito, meu homem de confiança. Respondi por escrito, mandei um e-mail para o Moreno, que é um jornalista… ele recebeu uma informação de um homem público e a publicou. Por isso enviei a resposta direto para ele e para o jornal O Globo.

- E qual é a resposta?

- Eu nem conheço o Dadá, jamais tive contato com ele e nunca estive com ele. Portanto, faço a ressalva: se o ministro Gilmar Mendes de fato disse isso…

- Sim, a ressalva está registrada

- Se ele disse isso, essa é mais uma informação leviana, irresponsável e mentirosa.

 
 Demóstenes ao criticar o colega Renan Calheiros, acusado de cometer irregularidades, em 2007 - Lula Marques/Folhapress
 
 
UOL, 31/05/201211h20 
 

Sessão da CPI do Cachoeira termina em bate-boca, após Demóstenes se recusar a depor

 

Maurício Savarese
Do UOL, em Brasília e São Paulo        

Terminou em bate-boca a sessão da CPI do Cachoeira desta quinta-feira (31). Após o senador Demóstenes Torres (sem partido, ex-DEM-GO) se recusar a falar, o presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), o dispensou, causando protestos do deputado federal Sílvio Costa (PTB-PE), integrante da CPI. A sessão teve início por volta das 11h desta quinta-feira (31), e viu Demóstenes se negar a responder a perguntas logo de cara, em menos de 15 minutos.
Acompanhado de seu advogado, Antônio Carlos de Almeida Castro, Demóstenes invocou o direito constitucional de ficar calado para justificar por que não prestaria depoimento.
Costa, que é membro da comissão, pediu a palavra. “Seu silêncio é a mais perfeita sinalização da sua culpa”, disse, antes de chamar o senador de “membro da quadrilha do Cachoeira” e “braço legislativo da quadrilha”.
Costa usou trechos do depoimento de Demóstenes na terça-feira (29) para criticá-lo. “O senhor diz (sic) que os amigos o abandonaram. O senhor é que traiu os amigos. O senhor que traiu o Brasil”, disse Costa. “O senhor diz que é carola. Se o céu existir, o senhor não vai para o céu. O céu não é lugar para mentiroso, para gente hipócrita.”

Taques interrompeu Costa com um pedido de ordem dos trabalhos. “O direito tem de ser respeitado, não interessa quem seja”, afirmou. Em seguida, ouviu Costa chamá-lo de “deselegante”, e continuar os ataques contra Demóstenes. “Vou lhe chamar de ex-futuro senador, você vai ter 80 votos contra a sua cassação”, disse o petebista.

Você é um hipócrita. Você deveria ser processado por propaganda enganosa”, disse. Taques novamente protestou contra a linguagem de Costa e por ter sido chamado de deselegante. “Não me meça pela sua régua”, disse. Com a ameaça de um bate-boca mais intenso, o presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), encerrou a sessão.

Contraste

A recusa de Demóstenes em falar à CPI diverge do comportamento do senador quando prestou depoimento ao Conselho de Ética do Senado. Na terça-feira (29), Demóstenes fez sua defesa à Comissão de Ética do Senado, por cinco horas. O senador negou todas as acusações de envolvimento em esquemas de corrupção envolvendo o jogo ilegal e comentou diversos pontos do inquérito da Polícia Federal que deu origem às operações Monte Carlo e Vegas. Demóstenes mencionou ainda várias reportagens de jornais, dando sua versão para cada uma delas.
Sem citar o nome do bicheiro Carlinhos Cachoeira, o parlamentar admitiu a amizade com o contraventor, negou ter ficado com 30% do dinheiro da jogatina ilegal em Goiás, contestando o inquérito da PF. O senador negou ainda ter recebido R$ 1 milhão ou R$ 3 milhões do bicheiro e afirmou não saber das irregularidades cometidas por Cachoeira.
Segundo Demóstenes, a sua ligação com Cachoeira se deu antes de ser tornado público o envolvimento do empresário com irregularidades. "Hoje se sabe o que foi divulgado [sobre o envolvimento de Cachoeira com esquemas de corrupção]. Naquela época, o senhor Cachoeira andava no meio de todos nós em Goiás, ele tinha relacionamento com cinco governadores e vários parlamentares", disse o parlamentar.
"O que eu sabia naquele momento é que eu me relacionava com um empresário, que se relacionava com outros cinco governadores, dezenas de parlamentares, dezenas de outros empresários. Reafirmo que tinha amizade com ele, sim", completou.
Ao comentar a ligação telefônica na qual aparece informando Cachoeira sobre uma suposta operação da Polícia e do Ministério Público contra o jogo ilegal, o senador disse que tentou "jogar um verde", isto é, enganar o bicheiro. A ideia, afirmou Demóstenes, era saber se Cachoeira continuava envolvido em jogos de azar.

Deus e depressão

Dizendo-se vítima de um massacre político, Demóstenes recorreu à religião para descrever sua situação. "Redescobri Deus. Se eu cheguei até aqui, é porque readquiri a fé”, afirmou. “Vivo o pior momento da minha vida. Pensei nas piores coisas, pensei em renunciar", disse o senador, que também afirmou estar sofrendo de depressão desde o início das denúncias. "Estou tomando remédio para dormir, mas não está surtindo efeito."
O ex-democrata se disse vítima do "maior massacre já orquestrado na história do país" contra um político.
O senador Aníbal Diniz (PT-AC) foi o único dos parlamentares que tentou tocar emocionalmente o senador Demóstenes, questionando sobre sua fé, sua estratégia de defesa e se a crise em torno dele diminuirá a "postura arrogante" contrária ao atual governo petista da presidente Dilma Rousseff, e ainda reduzir a voz da oposição como um todo.
“Não tem estratégia, senador. A verdade prevalece. Os senhores vão acreditar no que quiserem. São homens tarimbados”, afirmou. "Eu sou um carola”, disse Demóstenes.

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