sexta-feira, 22 de julho de 2011

Atlantis retorna e encerra era dos ônibus espaciais norte-americanos

Space Shuttles Last Flight



Sexta-feira, 22 de Julho de 2011

Último voo da Atlantis encerra era dos ônibus espaciais norte-americanos


21/7/2011 9:47,  Por Redação, com agências internacionais - de Cabo Canaveral, EUA 

Sob um céu limpo, o ônibus espacial Atlantis aterrissou no Centro Espacial Kennedy, na Flórida, nesta quinta-feira. O pouso executado pelo comandante Chris Ferguson marcou o fim de uma jornada de 8,4 milhões de quilômetros e encerrou um capítulo-chave da história espacial mundial.

Atlantis

 A Atlantis retornou da 135ª missão espacial de um programa iniciado pelos Estados Unidos em 1981. Nesses 30 anos, os voos espaciais pareceram entrar para a rotina, apesar dos dois acidentes que causaram a morte de 14 astronautas e destruíram duas das naves espaciais da NASA: a Challenger e a Columbia.
 O comitê de investigação do último acidente, ocorrido em 2003, recomendou que os ônibus espaciais fossem aposentados depois do término da construção da Estação Espacial Internacional (ISS), um projeto de 100 bilhões de dólares e que tem a participação de 16 países. Tal meta foi atingida neste ano. Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift:  Fotógrafos preparam-se para registrar a aterrissagem da Atlantis
 Missão final
Em uma missão que durou 13 dias, com quatro tripulantes, a Atlantis levou mais de 4 toneladas de carga e peças de reposição para equipar a ISS por um ano. As naves norte-americanas são os únicos veículos espaciais grandes o suficiente para transportar cargas tão pesadas – de até 20 toneladas.
Sem os ônibus espaciais, não teria sido possível construir uma estação espacial como essa – afirma o ex-astronauta Thomas Reiter, chefe das missões da Agência Espacial Europeia (ESA). Agora, veículos russos, europeus e japoneses levarão materiais menores e mais leves para a estação.
Aposentada, a Atlantis ficará exposta no museu do Centro Espacial Kennedy, assim como as naves Discovery, Endeavour e Enterprise.
– Depois de servir o mundo por 30 anos, o ônibus espacial conquistou um lugar na história. Chegamos ao ponto final – declarou o comandante Ferguson no momento da aterrissagem.
 Recomeço
Futuramente, os Estados Unidos enviarão seus astronautas à ISS nas cápsulas russas Soyuz, consideravelmente menores que os ônibus espaciais – com capacidade para apenas três tripulantes e 5 toneladas de carga. Apesar de difícil para os astronautas norte-americanos, a despedida do programa espacial fez-se necessária em tempos de restrição orçamentária e, por isso, foi determinada pelo presidente Barack Obama.
Desde o primeiro voo da nave Columbia, em 12 de abril de 1981, cada uma das 135 missões espaciais realizadas pela NASA custou em média 450 milhões de dólares. Obama também cortou recursos do programa Constellation, iniciado por seu antecessor George W. Bush, que deveria realizar viagens a destinos longínquos como a Lua ou até mesmo Marte e consumiria 97 bilhões de dólares até 2020.
 – É lamentável, mas sei que é certo. Se quisermos fazer outras coisas, precisamos de uma nova espaçonave – declarou a astronauta da NASA Shannon Walker sobre o fim da era do ônibus espacial. Walkers compara a lacuna de três anos até o possível início de um novo programa espacial com o período pós-Apollo.
 O programa Apollo, que levou o primeiro homem à Lua, antecedeu o agora encerrado programa de ônibus espaciais. Quando, em 1972, o presidente Richard Nixon ordenou que se desenvolvesse uma nave reutilizável, o principal objetivo era reduzir os custos das viagens. A NASA também esperava conseguir realizar missões semanalmente.
Mas ambas as expectativas não foram correspondidas pelos ônibus espaciais. Em 2015, deverá ficar pronto um novo veículo, o Falcon 9, no qual a NASA está trabalhando em conjunto com uma empresa privada.
O número de astronautas também demonstra que os tempos dourados das viagens espaciais norte-americanas chegaram ao fim. Em 2000, havia 149 astronautas na NASA; hoje, há apenas 61.
– Quando hoje se pergunta em uma escola quem quer ser astronauta, todos levantam a mão. Espero que as crianças saibam que ainda há uma estação espacial e que o sonho de voar para o espaço continue vivo – diz a astronauta Walker.

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São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 2011

A FAVOR
Voos espaciais passaram a ser parte da vida moderna

SALVADOR NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Há duas medidas para o sucesso dos ônibus espaciais. Se o critério for o que a Nasa prometeu que eles fariam antes de projetá-los, o resultado não é dos melhores.
Quando a agência "vendeu" a ideia, na década de 70, pensava em realizar 50 voos por ano, baratear o acesso ao espaço e aumentar os níveis de segurança.
Não é preciso ser historiador para saber que nada disso aconteceu. Nunca houve uma nave tão perigosa, cara e difícil de lançar. O número máximo de lançamentos por ano? Nove, em 1985, um ano antes do acidente com a Challenger -a primeira das duas tragédias em três décadas.
Mas se adotarmos outro critério -o que os ônibus de fato conseguiram realizar-, a imagem que fica é a de um estrondoso sucesso.
Nunca houve uma máquina de voar mais complexa, e o comportamento dos pilotos acerca de sua sofisticação beira a adoração religiosa.
Os ônibus espaciais -e a capacidade que eles proporcionaram de capturar satélites em órbita- são responsáveis pela mais bem-sucedida espaçonave já lançada: o Telescópio Espacial Hubble.
Graças aos ônibus, os engenheiros puderam projetá-lo de forma a ser atualizável, prolongando sua vida útil e proporcionando mais revelações sobre o Universo.
Além disso, a capacidade de reparos salvou a Nasa de um embaraço, quando foi descoberto que o espelho do Hubble tinha uma deformação que o tornava míope.
Não fosse a capacidade de levar astronautas até lá para o conserto, o satélite já seria há muito tempo lixo espacial.
Tudo isso para não falar da Estação Espacial Internacional. Muito mais complexa que a velha estação russa Mir, ela não poderia ter sido construída sem os ônibus.
E se agora se fala em espaçonaves desenvolvidas pela iniciativa privada como a bola da vez, vale lembrar que, se não houvesse as demandas geradas pela estação, não haveria mercado para elas.
É inegável que um dos objetivos originais do programa foi atingido: os voos espaciais passaram a ser vistos como rotina, parte integrante da vida na sociedade moderna.
Talvez tenha sido esse o maior "pecado". Com a sensação de que os ônibus eram mais que veículos experimentais, ninguém se preparou para encarar os perigos inerentes ao voo espacial -em cada missão, a tripulação está disposta a dar a vida pela conquista do cosmos.

CONTRA

Ônibus são um dos fracassos da história da tecnologia

RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

Os ônibus espaciais merecem lugar de honra entre os mais grandiosos fracassos da história da tecnologia. Não é apenas pelo fato de que explodiram dois dos cinco construídos capazes de ir ao espaço, um índice absurdo; o projeto já nasceu falho e foi ficando cada vez pior.
A ideia original na década de 1970 era produzir um veículo espacial reutilizável. Falava-se mesmo em uma frota realizando um voo por semana. Nos 30 anos de utilização, isso teria significado cerca de 1.500 voos. Foram apenas 135.
E nem eram tão reutilizáveis assim. O enorme tanque central de combustível e os dois foguetes propulsores eram descartáveis. A camada de proteção térmica tinha que ser praticamente reconstruída depois de cada voo.
A corrida espacial era parte importante da Guerra Fria entre os EUA e a finada União Soviética. A tecnologia para construir foguetes espaciais e mísseis balísticos transportando armas nucleares é basicamente a mesma. Depois do susto inicial de ver os soviéticos lançarem o primeiro satélite artificial e colocarem o primeiro homem em órbita da Terra, os EUA venceram a corrida para ter o primeiro homem caminhando na Lua.
Os voos espaciais tripulados têm mais valor de prestígio político do que valor científico. Paralelamente, sondas não tripuladas e satélites revolucionavam o conhecimento sobre o Universo e a própria Terra. O mundo hoje é inconcebível sem satélites de comunicação.
A Nasa queria criar uma base na Lua e fazer voos tripulados até Marte. Mas o entusiasmo da população e dos políticos com voos foi minguando. Os ônibus espaciais e suas viagenzinhas de uma semana em órbita baixa não tinham o mesmo charme de uma missão Apollo.
A Nasa usou expedientes populistas para chamar atenção. Levou congressistas ao espaço, astronautas de outros países e até mesmo uma professora (que explodiu junto com a Challenger).
E cada voo custava caro: há quem estime em US$ 1,5 bilhão cada um. O programa também desestimulou a produção americana de foguetes descartáveis, dando estímulo a europeus e soviéticos tomarem esse mercado.
Hoje os americanos precisam de carona dos russos para irem à estação espacial que é na maior parte americana -outro projeto, caro, que pouco rendeu para a ciência e que no fundo existe porque era preciso um lugar para os "shuttles" terem aonde ir...

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