São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 2011
Em posse, Humala ignora Carta de Fujimori
Geraldo Caso/France Presse
Presidente Ollanta Humala desfila após tomar posse em Lima
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A LIMA
O esquerdista Ollanta Humala assumiu ontem a Presidência do Peru com um gesto que roubou a cena da cerimônia em Lima: ele desprezou a Constituição vigente, promulgada em 1993 sob o governo de Alberto Fujimori, após a dissolução do Congresso em um "autogolpe".
"Juro [...] que defenderei a soberania nacional, a ordem constitucional e a integridade física e moral da República e suas instituições democráticas, honrando o espírito, os princípios e valores da Constituição de 1979", disse Humala, 48. A Constituição de 1979 foi promulgada num cenário de transição democrática.
Parte de um levante militar contra Fujimori em 2000, o capitão reformado do Exército prometeu governar "sem rancor", mas o juramento desatou a fúria da bancada fujimorista, a segunda minoria da Casa, com 37 deputados.
Gritavam "Não há presidente!", dando a entender que não reconheciam a posse . As vaias dos fujimoristas seguiram quando o vice-presidente, Marisol Espinoza, e o segundo vice-presidente, Omar Chehade, também reivindicaram a Carta de 1979.
O presidente que deixou o cargo, Alan García, recusou-se a passar a faixa a Humala, que foi eleito no segundo turno, em junho, ao vencer Keiko Fujimori, filha do ex-presidente, preso por corrupção e assassinatos, por uma diferença de 3% dos votos.
Assessorado por marqueteiros do PT, o novo presidente fez campanha emulando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), prometendo respeito aos contratos e descartando nacionalizações e a convocatória de uma Constituinte.
A exemplo de Lula em 2003, nomeou uma equipe econômica tida como pró-mercado e reservou pastas da Educação e Chancelaria para quadros mais esquerdistas.
Foi um movimento para marcar distância da Venezuela de Hugo Chávez, seu aliado próximo quando foi derrotado nas eleições de 2006. Chávez, que se trata de um câncer, não foi à posse.
Enquanto fujimoristas sustentavam ontem que a juramentação de Humala havia sido "ilegal", a também oposicionista Lourdes Flores (Partido Popular Cristão, conservadora), afirmava que a reivindicação da Carta de 1979 era "simbólica". "Mas não serão poucas as consequências políticas", disse ao "La República".
O analista político Luis Benavente, professor da Universidade de Lima, diz que Humala foi provocador e isso pode prejudicar a imagem moderada que construiu na campanha.
"A Constituição de 93 tem um defeito democrático de berço, foi feita à medida de Fujimori. Mas foi um remendo político aceito por todos. Humala foi eleito por ela."
"O que ele fez foi dividir o país e voltar a despertar os temores sobre seu projeto", diz.
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