Brasileiro leva ouro inédito em olimpíada de física e já pensa em deixar o país
Alessandro Shinoda/Folhapress
Gustavo Haddad Braga, que venceu a Olimpíada Internacional de Física na Tailândia
FÁBIO TAKAHASHI
SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO
Cinco horas de estudo fora da jornada do ensino médio -"mas numa vida normal"- levaram Gustavo Haddad Braga, 16, a ser o primeiro brasileiro a ganhar medalha de ouro na Olimpíada Internacional de Física, semana passada, na Tailândia.
Ele disputou com outros 393 representantes de 83 países. Foi o 12º ano de participação do Brasil na competição, iniciada em 1967 e que premiou com o ouro os 54 melhores da edição 2011.
Em dois dias, os estudantes resolveram três problemas teóricos e dois experimentais, "nível de terceiro ano de faculdade", diz Gustavo, que cursa o terceiro ano do ensino médio com bolsa de 100% no colégio Objetivo de São José dos Campos (SP).
"Tenho facilidade com física, matemática e astronomia, mas tive de estudar bastante", diz ele, filho de engenheiros químicos. "Descanso mesmo, só de domingo."
Apesar da carga horária pesada de estudos, "em geral com livros em inglês porque há pouco material em português", ele conta que ainda conseguia jogar futebol, nadar e jogar um pouco no computador, "mas não muito".
O outro lazer fez com que ele mantivesse contato com as matérias de exatas. "Gosto de dar aulas no colégio para quem também se prepara para essas olimpíadas."
ESCOLHAS Prestes a se formar no ensino médio, Gustavo analisa seu futuro na educação superior. A primeira opção é ingressar em uma universidade norte-americana de ponta, como MIT ou Harvard.
"Eles têm um bom nome e dão oportunidade para ter aulas e fazer pesquisa. Formar-se no Brasil em física é um pouco penoso, não há muitas opções de trabalho."
A mãe de Gustavo, Katia Haddad Francisco Braga, conta que a decisão ainda não está fechada. "Ele tem muita preocupação em ajudar a pesquisa do Brasil."
A possibilidade de Gustavo sair do país preocupa o professor Euclydes Marega Junior, coordenador da Olimpíada Brasileira de Física. "Ele pode fazer a diferença aqui. Imagina se o país tiver mil outros Gustavos pesquisando e trabalhando?", diz.
"O resultado dele pode servir como incentivo para outros estudantes. Deve haver muitos outros como ele por aí, abandonados."
De acordo com o docente, o bom resultado numa competição como a olimpíada de física vem de "10% de talento e, o restante, de dedicação".
Enquanto não chega a hora de decidir qual universidade cursar, o ouro em física embarcou ontem para Portugal, para um torneio internacional de matemática.
Folha.com, 27/07/2011
Por que Harvard quer brasileiros
Gilberto Dimenstein
Desembarca no Brasil no próximo mês o professor Nitin Nohria, diretor da escola de negócios de Harvard, considerada, em vários rankings, a melhor do mundo. Ele me diz que seu objetivo é simples: quer levar mais talentos brasileiros para estudar em sua escola. E não é por causa da mensalidade, afinal candidatos não faltam. É uma questão de sobrevivência de sua instituição, responsável por formar parte da elite empresarial americana (o detalhamento da conversa esta no www.catracalivre.com.br).
É uma aula sobre a excelência na educação.
Para ele, o Brasil é um dos cinco países mais importantes para quem está preocupado em estudar os negócios - e o recordes de investimentos estrangeiros anunciado nesta semana reforça essa visão. Ficar centrado nos Estados Unidos é, segundo ele, o caminho do obsoletismo.
A força de sua escola está no fato de que tem atraído talentos que, depois, viram empreendedores. Quanto melhor o aluno, diz ele, melhor a escola. "Precisamos caçar os melhores para continuarmos na vanguarda. O que fazemos depois é apenas burilar esses talentos."
A conversa dá uma lição de humildade: sentar no sucesso é o primeiro passo do fracasso. Por melhor que esteja, dá para ser muito melhor.
É uma boa lição para muitos de acadêmicos de universidades públicas que, por não terem muita competição e a verba garantida pelo governo, sentem-se o máximo mesmo na mediocridade.
Lembro que fui muito criticado aqui por que considerei uma vergonha (e não motivo de júbilo) que, apesar da São Francisco, da USP, aparecer em primeiro lugar na lista dos exames da OAB, quase 40% dos seus alunos não foram aprovados.
Gilberto Dimenstein, 54, integra o Conselho Editorial da Folha e vive nos Estados Unidos, onde foi convidado para desenvolver em Harvard projeto de comunicação para a cidadania.
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