segunda-feira, 25 de julho de 2011

Os colaboradores usados e abandonados

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São Paulo, segunda-feira, 25 de julho de 2011


Aliados dos EUA deixados no Iraque

Por TIM ARANGO

BAGDÁ - O medo do terrorismo nos EUA está praticamente cancelando a emissão de vistos para iraquianos, mesmo para aqueles que arriscaram suas vidas para ajudar o esforço de guerra - o que os torna especialmente vulneráveis diante da planejada retirada militar americana.
O governo Obama exigiu novas verificações do passado das pessoas que solicitam vistos depois de um caso em Kentucky em que dois imigrantes iraquianos foram presos sob suspeita de ligações com um grupo insurgente, segundo autoridades americanas em Bagdá. Agora, com a saída dos militares, muitos iraquianos que trabalharam ou ainda trabalham para os americanos se sentem abandonados e traídos por um governo pelo qual podem ter arriscado suas vidas.
Criticos dizem que o governo está ignorando uma diretriz do Congresso que permite traçar um plano de contingência para emitir vistos para esses iraquianos.
"Essa não é uma prioridade neste momento para ninguém no governo"
, disse Becca Heller, que dirige o projeto de assistência a refugiados iraquianos no Centro de Justiça Urbana em Nova York. "Não há muitas pessoas no governo Obama que se importam com esse assunto."
O fluxo de iraquianos para os EUA neste ano poderá ser o menor desde 2007. Em março, apenas sete foram admitidos com o chamado visto de imigrante especial -uma categoria estabelecida pelo Congresso para acelerar a transferência de iraquianos em perigo por terem ajudado o governo americano-, já em abril, somente nove. Em alguns meses do ano passado, mais de 200 chegaram ao país com esses vistos.
Os atrasos colocaram numerosos iraquianos em situação de risco, como a família Aeisa. Sua história é comum: um irmão foi sequestrado e torturado, os filhos sofreram agressões na escola, acusados de serem espiões até pelo diretor.
No mês passado eles receberam o telefonema que pensaram que jamais viria. Seus vistos tinham sido aprovados e em breve eles partiriam para o Arizona.
O pai deixou o emprego, as crianças saíram da escola, os móveis foram vendidos. A família de cinco pessoas montou residência no depósito de um amigo.
Na semana anterior à viagem, receberam outro telefonema, desta vez com más notícias. A partida fora adiada indefinidamente e sem explicação.

"Isso me magoa ainda mais que todas as ameaças que recebemos", disse o pai, que pediu para ser identificado apenas como Abu Hassan, por motivos de segurança.
Kirk Johnson, que fundou The List Project, um grupo sem fins lucrativos que ajuda iraquianos que trabalharam para organizações afiliadas aos americanos, disse: "Eu acho que assim como há um modo de deter o programa há uma vontade de fazê-lo".
Os números são claros: a partir de 2008 o Congresso expandiu o programa de vistos especiais de imigração para permitir 25 mil vagas em cinco anos. Depois de quase quatro anos, o governo emitiu apenas cerca de 7.000.
Milhares de iraquianos trabalharam como intérpretes para os militares americanos. "Estivemos juntos em muitas situações difíceis, por isso você tem uma ligação com esses caras que é incrível", disse o general Jeffrey Buchanan, principal porta-voz militar em Bagdá. Como muitos oficiais, ele ajudou um intérprete a transitar pela burocracia do reassentamento. "Ele [intérprete] chegou lá. Levou muito tempo", disse.
O governo americano diz não ter registro de quantos iraquianos empregou. "Cinquenta mil, 100 mil, 120 mil ? Quem sabe?", disse Johnson.
Um banco de dados mantido pela empreiteira Titan, que forneceu intérpretes para as forças americanas, vazou e depois foi publicado em ProPublica, uma entidade independente que produz jornalismo investigativo. Para o período entre 2003 e 2008, o documento mostrava quase 300 mortes de intérpretes contratados pela Titan.
O Iraque não é tão violento quanto já foi, mas os iraquianos ainda são ameaçados por ter trabalhado com os EUA. Ghaith Baban, 34, trabalha para os americanos e passou o mês de maio escondido depois que encontrou um bilhete citando o Corão e ameaçando sua vida por "colaborar com os EUA". Ele pediu o reassentamento pela primeira vez em 2009 e continua esperando.
Enquanto isso, a família Aeisa aguarda seu voo para o Arizona. Eles não pretendiam partir. Quando parentes que trabalharam para os militares foram para os Estados Unidos, pensaram que as ameaças terminariam.
Mas não. O cachorro da família foi morto e um bilhete deixado: "Vão embora, traidores. Vocês são espiões dos americanos". A família já mudou de casa várias vezes. "Nós queríamos ficar", disse a mãe, Umm Hassan. "Tínhamos uma fazenda, uma família normal. Todos os nossos sonhos foram destruídos."

Colaborou Duraid Adnan

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