São Paulo, sábado, 30 de julho de 2011
Pedir centrismo é tirar o corpo fora
PAUL KRUGMAN
OS FATOS da crise em torno do teto da dívida não são complicados. Os republicanos fizeram a América de refém, ameaçando solapar a economia e interromper o trabalho essencial do governo a não ser que consigam concessões políticas que jamais conseguiriam promulgar por meio de legislação. E os democratas deram grandes passos para atender as exigências republicanas.
Mas muitas pessoas na imprensa parecem não conseguir reconhecer essa realidade simples. Artigos retratam os dois partidos como se fossem igualmente intransigentes; especialistas tecem fantasias sobre um levante "centrista", como se o problema fosse um excesso de partidarismo acirrado das partes.
Alguns de nós nos queixamos do culto ao "equilíbrio", da insistência em retratar os dois partidos igualmente equivocados sobre qualquer questão. Se um dos partidos afirmasse que a Terra é plana, as manchetes diriam "visões diferem quanto ao formato do planeta".
O culto ao equilíbrio exerceu um papel importante em nos trazer até a beira do desastre. Isso porque, quando as reportagens sobre disputas políticas deixam implícito que as duas partes são culpadas, o extremismo não é penalizado.
Deixe-me dar um exemplo. O presidente Obama em um primeiro momento tentou fazer uma "grande barganha" com os republicanos em torno de impostos e gastos.
Optou por não chamar a atenção à extorsão republicana e ofereceu concessões extraordinárias: um aumento na idade mínima para o direito ao Medicare, grandes cortes nos gastos e pequenos aumentos na receita. Como observou Nate Silver, do "New York Times", Obama apresentou uma posição não apenas muito à direita das preferências do eleitor médio, mas à direita do eleitor republicano médio.
Mas os republicanos rejeitaram a oferta. E qual foi a manchete da análise feita pela Associated Press do rompimento das negociações? "Obama e republicanos presos na armadilha da retórica inflexível".
Um presidente democrata que faz de tudo para ceder à outra parte é tratado exatamente como são seus oponentes intransigentes. Equilíbrio? Com isso chego à questão das fantasias "centristas".
Muitos analistas enxergam o fato de se tomar posição no meio do espectro político como uma virtude por si só. Eu não vejo a coisa assim. Eu quero líderes que façam a coisa certa, não a coisa centrista.
Mas, para aqueles que insistem que o centro é sempre o lugar certo de se estar, tenho uma informação: já temos um presidente centrista.
Então o que significam todos esses discursos e reportagens sobre um levante centrista?
Isso vem de pessoas que reconhecem a natureza disfuncional da política americana moderna, mas se recusam, seja pelas razões que forem, a reconhecer o papel unilateral dos extremistas republicanos em tornar disfuncional o nosso sistema.
No entanto, lançar chamados nebulosos por centrismo representa tirar o corpo fora da discussão, algo que só funciona como incentivo a mais conduta errada.
O problema da política americana neste momento é o extremismo republicano, e, se você não se dispõe a escancarar esse fato, está ajudando a agravar o problema.
CartaCapital, Ed. 657
EUA: 15 milhões faliram em 4 anos
Redação Carta Capital
As famílias dos Estados Unidos perderam 28% de sua riqueza durante a crise econômica, sendo que um terço delas tiveram suas economias totalmente dizimadas. E a diferença dos níveis de riqueza entre brancos e negros e hispânicos aumentou. Essas são as conclusões de uma pesquisa realizada pelo instituto de pesquisa Pew Research Center, divulgada pelo site World Socialist.
O levantamento leva em conta estimativas realizadas entre 2005 e 2009 e aponta para um empobrecimento geral de todos os setores da população. O percentual de domicílios americanos que têm mais dívidas do que ganhos cresceu de 15% em 2005 para 20% quatro anos depois – ou seja, por volta de 15 milhões de pessoas quebraram nos Estados Unidos neste período.
Em 2009, após o ajuste para a inflação realizado pelo governo, a riqueza média dos domicílios norte-americanos caiu de 98.894 dólares em 2005 para 70 mil dólares em 2009. A queda abrupta é relacionada sobretudo com a desvalorização imobiliária do país.
Enquanto isso, a riqueza das famílias mais abastadas cresceu de 49% em 2005 para 56% no mesmo período. Este número indica que as minorias raciais, normalmente com menos poder aquisito, foram as mais prejudicadas. O patrimônio líquido das famílias hispânicas caiu em um escalonamento de 66%, a partir de 12.124 dólares em 2005 para 5.677 dólares em 2009. O das famílias negras caiu 53%.
O nível de desigualdade entre brancos, negros e hispânicos está agora no nível mais alto em 25 anos. A diferenciação racial é em parte atribuível à geografia. Enquanto os brancos viram os valores de suas próprias casas cairem em 18% e negros em 23%, os valores das casas dos hispânicos caiu em mais da metade.
Como era de se esperar, a queda na riqueza teve um efeito negativamente transformador na sociedade americana, contribuindo para os milhões de execuções hipotecárias e falências pessoais. Segundo dados da Realtytrac.com, havia 10 milhões de execuções hipotecárias entre 2005 e 2009, os anos abrangidos pela pesquisa.
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