sábado, 23 de julho de 2011

O terror na Noruega e o "Tea Party" nórdico

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Folha.com, 23/07/2011 - 20h18

Atirador admite ataques na Noruega e diz que foram "necessários"


DA FRANCE PRESSE, EM OSLO
COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O homem detido pelos ataques em Oslo, Anders Behring Breivik, admitiu que participou da ação que deixou 92 mortos na Noruega, informou seu advogado ao canal de televisão NRK neste sábado.

Behring Breivik, 32 anos, "admitiu sua responsabilidade", disse o advogado Geir Lippestad ao canal NRK. O atirador explicou que "foi cruel, mas que era preciso realizar estas ações", que, "evidentemente, foram planejadas há muito tempo".
Behring Breivik foi detido pela morte de ao menos 92 pessoas em dois ataques na sexta-feira na região de Oslo.
Na primeira ação, um carro-bomba explodiu próximo à sede do governo, no centro de Oslo, matando sete pessoas. No segundo ataque, o agressor atirou contra os participantes de uma colônia de férias da juventude do Partido Trabalhista (no poder) na ilha de Utoya, 40 km a oeste da capital, provocando 85 mortes.
Behring Breivik foi membro do partido Progressista (FrP, da direita populista) e de seu movimento jovem, além de participar de um fórum neonazista sueco na internet. O FrP confirmou que Behring se filiou ao partido em 1999, mas saiu da lista de membros em 2006. Ele também foi o responsável local do movimento juvenil do FrP entre 2002 e 2004. A polícia definiu Behring como um 'fundamentalista cristão' de direita, hostil ao islamismo.
De acordo com Mikel Ekman, investigador da Fundação Expo, com base em Estocolmo, que monitora grupos de extrema direita, Behring criou um perfil em 2009 sob um pseudônimo que pode ser rastreado para seu endereço de e-mail em um fórum neonazista sueco chamado Nordisk. Fundado em 2007, o Nordisk conta com 22 mil membros na região.

A polícia norueguesa já trabalhava com a tese de que ele havia agido sozinho tanto no ataque ao prédio público - que deixou pelo menos sete mortos - quanto no massacre da ilha - que matou pelo menos 84 pessoas. Não se descartava, no entanto, que ele tivesse cúmplices, sobretudo no atentado ao complexo governamental de Oslo.
Os dois ataques foram cometidos com apenas duas horas de diferença. A hipótese mais sólida era de que o suspeito tinha ativado o carro-bomba que explodiu na capital para depois seguir em direção à ilha, situada a cerca de 40 quilômetros da capital.

Editoria de Arte/Folhapress


Sábado, 23 de Julho de 2011
 
RAIO EM CEU AZUL? ATIRADOR DE OSLO MILITOU POR 7 ANOS NO PARTIDO NORUEGUÊS DE EXTREMA-DIREITA, 2ª FORÇA DO PAÍS

A primeira reação da chamada grande imprensa diante dos atentados de dimensões catastróficas ocorridos em Oslo, em que já morreram 92  pessoas, foi relacionar sua autoria a grupos terroristas islâmicos. O 'New Yok Times' chegou a divulgar um texto atribuído a um desses grupos,  que confirmava a autoria dos massacres. A informação foi rapidamente replicada em todo o mundo, sem qualquer investigação empírica, como algo dotado de uma lógica autoexplicativa. Era falso.

Tudo isso aconteceu antes que o próprio governo norueguês fornecesse uma pista para elucidar as motivações dos atentados. Quando se pronunciou, foi para advertir  que as maiores suspeitas recaíam sobre Anders Behring Breivik,  jovem branco, alto, louro, de olhos verdes e de classe média, islamofóbico, que  militou durante sete anos (1999/2006) no Partido do Progresso, uma legenda norueguesa de extrema direita, nacionalista e xenófoba. Segunda força do país, com 29% dos votos e 41 cadeiras no Parlamento, o PP é uma espécie de emulação nórdica do Tea Party norte-americano e a única legenda da Noruega que em plena crise mundial defende o corte de impostos e de gastos governamentais.

Nisso se identifica com a ala bushiniana do Partido Repúblicano dos EUA e congêneres nativos. O enredo não fazia sentido. Na pauta esfericamente blindada da narrativa dominante  quase não há espaço para interações entre crise econômica,  extrema direita e violência terrorista. É bom ir se acostumando. O estreitamento do horizonte social produzido por interesses financeiros que levaram o mundo a uma espiral ascendente de incerteza, desemprego e volatilidade gera impulsos mórbidos que a extrema direita historicamente instrumentalizou. Vide as duas guerras mundiais do século 20.

Uma precipitação da mídia em circunstancias como essa envolve o risco, nada desprezível, de desencadear represálias violentas contra comunidades etnicas e religiosas em diferentes pontos do planeta. É inevitável lembrar que a manipulação do medo e do ódio nos EUA, através de mídias como a Fox News, de Rupert  Murdoch, após o repulsivo atentado de 11 de Setembro, pavimentou o caminho de uma guerra desordenada em busca de 'armas de destruição em massa', de resto nunca encontradas.

Sobretudo em situações extremas, a pluralidade da informação de alcance isonômico mostra-se uma salvaguarda indispensável da democracia contra a manipulação do medo e da dor pelo império do preconceito e da intolerancia.

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