sexta-feira, 29 de julho de 2011

A era do preconceito

Neo-Nazi protestors organized by the National Socialist Movement demonstrate near where the grand opening ceremonies were held for the Illinois Holocaust Museum & Education Center April 19, 2009 in Skokie, Illinois. About 20 protestors greeted those who left the event with white power salutes and chants.


CartaCapital, Ed. 657

A era do preconceito

 Celso Amorim

Nesta era da internet a informação é instantânea. A desinformação também. A notícia sobre os trágicos atentados de Oslo chegou-me enquanto eu navegava pelos sites que costumo frequentar para me atualizar sobre o que ocorre no mundo. Pus-me imediatamente em busca dos detalhes. Abri a página de uma respeitada revista internacional. Além de alguns pormenores, obtive também a primeira explicação, que veria em seguida nas versões eletrônicas dos jornais brasileiros, segundo a qual o perpetrador dos atos terríveis era alguém a serviço de um movimento fundamentalista islâmico. Dois dias depois do acontecido, quando ficou claro que, na verdade, se tratava de um extremista de direita que pertenceu a movimentos neonazistas, ainda é possível encontrar, mesmo com ressalvas (porque a internet comete essas “traições”), a mesma interpretação apressada, baseada no preconceito contra muçulmanos.
No caso da revista internacional, a interpretação não se limitou a essa caracterização genérica. Deu “nome e endereço” do facínora, que seria um iraquiano curdo ligado a sunitas fanáticos, vivendo no exílio desde 1991. O articulista foi mais longe. Apontou as possíveis motivações do crime hediondo, que estariam relacionadas com a presença de tropas norueguesas no Afeganistão e com a percepção, por parte dos tais fundamentalistas, da cumplicidade da imprensa norueguesa com caricaturas ofensivas ao Profeta.
Evidentemente, tudo isso era muito plausível, à luz do ocorrido no 11 de Setembro, descartando-se as hipóteses conspiratórias sobre aquele trágico episódio. Mas era igualmente plausível a hipótese, que acabou confirmada, de que se tratasse de outro tipo de fundamentalista, do gênero “supremacista branco”. O alvo do ataque era um governo da esquerda moderada, visto como tolerante em relação a imigrantes e aberto ao diálogo com as mais diversas facções em situações conflituosas, inclusive no Oriente Médio. Para sublinhar a natureza ideológico-religiosa do ato de violência, o terrorista visou também a juventude do partido, pacificamente acampada em uma ilha.
Algo semelhante havia ocorrido seis anos antes do atentado contra as Torres Gêmeas, quando outro fanático havia feito explodir um prédio público na cidade de Oklahoma, nos Estados Unidos. Daquela feita, o Estado – e tudo o que ele simboliza como limitação ao indivíduo, percebido como independente e antagônico em relação à sociedade – foi o objeto da ira destruidora. Também naquela época, quando a Al-Qaeda ainda não havia ganhado notoriedade, as primeiras análises apontaram para os movimentos islâmicos.
Não ponhamos, porém, a culpa na internet. Ela apenas faz com que visões baseadas em preconceitos, que não deixam de refletir certo tipo de fundamentalismo, se espalhem mais rapidamente, com o risco de gerarem “represálias” contra o suposto inimigo. Felizmente, neste caso, a eficiente ação da polícia norueguesa impediu que isso ocorresse. Mas o risco existe de que, em outras situações, as tragédias se multipliquem, por vezes com o apoio de movimentos marginais inconsequentes, que buscam tirar partido dos eventos, assumindo responsabilidade por algo que não fizeram.
Não é possível ignorar que, no caso da invasão do Iraque, o preconceito, e não apenas a manipulação deliberada (que também existiu), estava por trás de vinculações absurdas, usadas para justificar decisões que causaram centenas de milhares de vítimas (há quem fale em 1 milhão). O suposto elo entre Saddam Hussein e o terrorismo nunca se comprovou, da mesma forma que eram falsas as alegações quanto à posse por Bagdá de armas de destruição em massa. Num primeiro momento, contudo, essas justificativas foram aceitas pela maioria da população norte-americana.
Não sejamos inocentes. Interesses econômicos e políticos, e não apenas preconceitos, motivaram a decisão de atacar o Iraque. Mas o pano de fundo de uma visão particularista do mundo, em que “diferente” se torna sinônimo de “inimigo, ajuda a criar o caldo de cultura de que se valem os líderes para obter, das populações que governam, o indispensável apoio às suas custosas aventuras bélicas.
A Noruega não corre esse risco. Como disse o primeiro-ministro Stoltenberg, o terrorismo insano não destruirá a democracia do país nórdico, que, ademais, se tem notabilizado por importantes iniciativas em favor da paz. Aliás, é o ódio às pessoas que promovem a paz e o entendimento, além da intolerância e do fanatismo, que está na raiz desse bárbaro atentado. Infelizmente, não só o orgulho, como queria a romancista inglesa, mas também o ódio costuma ser um companheiro inseparável do preconceito.

Celso Amorim é ex-ministro das Relações Exteriores do governo Lula. Formado em 1965 pelo Instituto Rio Branco, fez pós-graduação em Relações Internacionais na Academia Diplomática de Viena, em 1967. Entre inúmeros outros cargos públicos, Amorim foi ministro das Relações Exteriores no governo Itamar Franco entre 1993 e 1995. Depois, no governo Fernando Henrique, assumiu a Chefia da Missão Permanente do Brasil nas Nações Unidas e em seguida foi o chefe da missão brasileira na Organização Mundial do Comércio. Em 2001, foi embaixador em Londres.



Aurthur Jones (L) joins other neo-Nazi protestors at a demonstration organized by the National Socialist Movement outside the grand opening ceremonies for the Illinois Holocaust Museum & Education Center April 19, 2009 in Skokie, Illinois. About 20 protestors greeted those who left the event with white power salutes and chants.

Extremistas de direita estão em ascensão, apontam analistas

 Redação Carta Capital

Os atentados que aconteceram na sexta-feira 22 na Noruega provocaram questionamentos sobre a capacidade das agências policias federais dos Estados Unidos de reagir a possíveis reações similares da extrema direita americana. Com isso, policiais de todo o país têm reivindicado aumento no orçamento para poderem se dedicar à tarefa, segundo o Huffington Post. Funcionários do Departamento de Segurança Interna afirmam que o nível de atividade desses grupos se manteve constante ao longo dos últimos anos. Mas analistas entendem que a ameaça representada por extremistas americanos de direita está em ascensão e que as agências federais podem não estar dando-lhes a atenção necessária.
De acordo com reportagem do Huffington Post, as atividades dos grupos de extrema direita nos Estados Unidos aumentaram entre 2008 e 2009. Para o ex-analista de terrorismo da DHS, empresa que acompanha atividades deles, Daryl Johnson, em 2009 a produção de um relatório causou furor entre os políticos porque o documento alertava para uma onda de extremismo com a eleição do primeiro presidente negro do país e da recessão econômica. Johnson disse que o movimento vem estocando “armas e fazendo conspiração para matar funcionários do governo em Michigan e no Alasca”. Para o analista, um incidente como o que aconteceu na Noruega “definitivamente poderia acontecer nos EUA “. “Os extremistas são muito mais capazes de cometer atos violentos aqui devido a seu acesso a armas e munições, que eles não têm na Europa.”
Esta conclusão é contestada por um funcionário oficial do DHS, que diz que o aumento da percepção da atividade extremista é baseado na maior conscientização da ameaça por parte do governo e do público. E que agora os extremistas de direita estão interconectados. “Eles eram muito isolados e agora eles estão conectados através do ambiente de rede social. Johnson diz também que o relatório, que nunca foi formalmente retirado, deveria ter sido revisto e re-lançado, o que nunca ocorreu.
De acordo com o Southern Poverty Law Center, havia 824 grupos de milícias nos EUA no ano passado. Um aumento significativo a partir do 149 contados em 2008. No seu relatório, o centro observou que os militantes foram inspirados por causa da preocupação sobre a imigração e pelo temor de que a composição racial dos Estados Unidos está mudando na medida em que os brancos são projetados para estar em minoria em 2050.

São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 2011

Europa receia ataques como o da Noruega

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O ataque de um terrorista de extrema-direita que deixou 76 mortos na semana passada na Noruega pode estimular novas ações semelhantes, alertou ontem Tim Jones, um dos principais responsáveis pela luta antiterrorismo na União Europeia.
Na sexta-feira, o noruguês Anders Breivik instalou uma bomba que deixou oito mortos em Oslo. Em seguida matou a tiros 68 pessoas num acampamento. Breivik disse querer "salvar a Noruega de uma invasão muçulmana".

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