sexta-feira, 29 de julho de 2011

O "filme mais indecente de todos os tempos"

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A censura do "A Serbian Film"

Enviado por luisnassif, sex, 29/07/2011 - 17:03 Por Patrícia Fróes

Na última semana, pela primeira vez desde que foi promulgada a constituição de 88, um filme foi censurado no Brasil, inicialmente no estado do Rio, hoje em todo território nacional.
Eu e cerca de 25 pessoas nos reunimos em grupo informal que agiliza uma série de movimentos ( produção de vinhetas que serão exibidas no circuito estação, debates, mostras...) contra a volta da censura,  que está realmente muito próxima nesse caso do 'A Aerbian film'. Uma das coisas que queremos fazer é criar um site chamado censura não, sem qualquer vínculo com o filme em questão (não é um site de propaganda) que deverá está no ar na próxima segunda feira.  Dois amigos, Eduardo Valente e Cezar Migliorin, trabalharam em sucinto texto inicial (anexo), e achamos urgente e necessária a adesão neste de grandes nomes que fazem diferença e são ouvidos, como o seu.
A proibição do filme "A serbian film" em diversas instâncias do judiciário é fato gravíssimo - tornado ainda mais incompreensível uma vez que foi feita sem que nenhum dos envolvidos houvesse ao menos visto o filme (constituindo assim, além de uma arbitrariedade, uma censura prévia).
Argumentando que estariam protegendo a família e as crianças, advogados, juízes e desembargadoras vem proibindo um filme de ficção por ele tratar de um assunto que, infelizmente, é parte da nossa sociedade: a pedofilia. Só que no filme nenhuma criança é aviltada ou exposta a qualquer constrangimento, nem há qualquer defesa da pedofilia (pelo contrário, a mesma é apresentada como a degradação máxima a que alguém pode se sujeitar). Argumentar ainda sobre a proibição e censura ao filme em alguns outros (poucos) países é considerar que o Brasil deve sempre copiar o que se faz de pior na legislação e Justiça alheias. Por que não citam também todos os países democráticos onde o filme foi exibido normalmente?
Não podemos admitir que, no Brasil de hoje, um partido político ou o judiciário decidam quais são os assuntos e temas que uma obra de ficção deve tratar, e de que maneira isso deve ser feito. A efetiva luta contra a pedofilia é assunto sério demais para ser tratado com este grau de oportunismo e ausência de reais critérios.
Estamos todos perplexos com o autoritarismo das decisões.




Do iG, 21/07/2011

"A Serbian Film" será exibido sem cortes no Brasil neste sábado


Marco Tomazzoni, iG São Paulo

Um filme de terror que mostra não só pornografia, mas sexo associado à violência. De todos os tipos: tortura, incesto, necrofilia, pedofilia e até o estupro de um recém-nascido. Este é "A Serbian Film - Terror sem Limites", longa-metragem sérvio que vem colecionando polêmica e proibições no mundo inteiro, além do rótulo de "filme mais indecente de todos os tempos".
A estreia no Brasil está prevista para 5 de agosto, mas a produção poderá ser vista antes dessa data – "A Serbian Film" será exibido neste sábado (23 de julho), às 22h, no Cine Odeon, no Rio de Janeiro, sem cortes – diferentemente do ocorrido em outros países.
O longa estava na programação do RioFan, mas a Caixa Cultural do Rio de Janeiro, patrocinador e sede do evento, decidiu retirá-lo do festival.

Foto: Divulgação
O ator pornô atordoado de "A Serbian Film - Terror Sem Limites"; diretor fala de "alegoria política"

"Serbian Film" circulou por festivais internacionais, boa parte deles de cinema fantástico, mas enfrentou problemas sérios ao chegar ao circuito comercial. Acabou proibido na Espanha, banido da Noruega e só foi exibido nos cinemas britânicos depois de sofrer 49 cortes, a maior censura a um filme no país em quase 20 anos. Por conta disso, na maior parte das vezes "Serbian Film" foi lançado direto em DVD.
No Brasil, a expectativa é a de que a estreia aconteça, pela primeira vez no mundo, sem cortes. Pelo menos é o que espera Raffaele Petrini, da Petrini Filmes, distribuidora do longa no país. Em entrevista ao iG, Raffaele contou que assistiu ao filme pela primeira vez em janeiro, a princípio analisando a possibilidade de comprá-lo para o mercado de home video. "Fiquei bem chocado", resumiu. Depois de um tempo, decidiu revê-lo para tentar, segundo ele, enxergar o que "Serbian Film" realmente mostra. "É um choque midiático muito interessante, algo único no gênero. Um filme como esse aparece só de dez em dez anos, como 'Irreversível' (2002) [longa de Gaspar Noé]", comparou, explicando que o contrato com a produtora sérvia foi assinado no último Festival de Cannes.
A estreia, num primeiro momento, aconteceria em poucas salas, com uma cópia em 35mm e o resto em digital. O burburinho em torno do filme, no entanto, vem despertando a atenção até de redes exibidoras maiores. "Serbian Film" entra em cartaz no dia 5 de agosto em São Luís (sede da distribuidora), Rio de Janeiro e Maceió. Salas em São Paulo, Salvador e Florianópolis ainda negociam para exibi-lo.
Petrini ainda não recebeu a resposta do Ministério da Justiça para saber qual será a classificação etária do filme no país. "Pedi até certa urgência para saber se o filme vai ser cortado ou não, mas não há histórico recente desse tipo no país."

Em nota oficial, a entidade afirma que a decisão está "em consonância" com sua linha de atuação. "A Caixa entende que a arte deve ter o limite da imaginação do artista, porém nem todo produto criativo cabe de forma irrestrita em qualquer suporte ou lugar. A substituição do filme em questão não deixará lacuna na programação do evento, não prejudicando, portanto, a apreciação das manifestações artísticas cinematográficas, objetivo principal do RioFan."
A organização do RioFan - Festival Fantástico do Rio tem posição contundente. "O RioFan é radicalmente contra qualquer forma de censura – um mal que assolou nosso país durante décadas e contra o qual muitos deram o próprio sangue para extirpá-lo do Brasil", afirma, também em comunicado. "Somos defensores do cinema de horror em suas mais diversas vertentes e acreditamos que filmes como 'A Serbian Film' têm um papel importante ao trazer à tona os horrores que compõem o material de nossos pesadelos coletivos."
"Derrocada moral"
"A Serbian Film" vem de uma longa jornada de obstáculos. Em um texto publicado no site do filme, o diretor estreante Srdjan Spasojevic afirma que ele e o roteirista Aleksandar Radivojevic passaram dez anos pensando numa forma de "comunicar a derrocada política, moral e psicológica da Sérvia", adquirida ao longo de 20 anos de guerras e transições de governos na antiga Iugoslávia. Daí chegou-se à pornografia, segundo ele a "única metáfora possível para o caos quase indescritível e explorador que rege nossas vidas". "Nesse país, explorado e depredado além do que se pode imaginar, a prostituição espiritual se tornou a única moeda real", explica, exaltando a "pouca liberdade artística e de expressão que ainda temos".

Foto: Divulgação
"A Serbian Film" é repleto de imagens fortes

"Raio-X da sociedade"
Na trama, um ex-ator pornô é convencido a voltar a trabalhar por um diretor que promete uma abordagem artística e de vanguarda ao gênero, sem falar do cachê polpudo, que poderia dar conforto à sua mulher e filho. Ele acaba envolvido, porém, num jogo doentio do pretenso cineasta, disposto a ultrapassar barreiras bem além do bom senso. O terror tradicional está lá, com suas bizarrices, suspense e sanguinolência, mas com todos os ingredientes que fizeram de "Serbian Film" uma espécie de porta-voz do apocalipse.
Para Radivojevic, o caráter extremo das imagens é uma alegoria política, um modo de representar "o poder dos líderes que o hipnotizam para que você faça coisas que não quer". Na opinião do diretor, "é preciso sentir a violência para saber do que se trata. O filme funciona não como uma visão documental da realidade, mas como um raio-X, um diagnóstico da alma mal formada e doentia de nossa sociedade. É essa a razão de mostrar cenas quase insuportáveis de maneira tão direta e irrestrita."
De acordo com Radivojevic, os atores e a equipe se identificaram com a "honestidade" do projeto e toparam participar daquele que, segundo os realizadores, é o único longa-metragem totalmente independente da Sérvia em três décadas – o governo não deu qualquer apoio à produção. As dificuldades já começaram no momento de transferir a cópia digital em película: depois de prontos, dois laboratórios europeus se negaram a entregar os rolos em 35mm por medo de represálias legais.

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