terça-feira, 26 de julho de 2011

O assassino não tão solitário

A Neo-Nazi protestor, organized by the National Socialist Movement, demonstrates near where the grand opening ceremonies were held for the Illinois Holocaust Museum & Education Center April 19, 2009 in Skokie, Illinois. About 20 protestors greeted those who left the event with white power salutes and chants.

 

São Paulo, terça-feira, 26 de julho de 2011

O assassino não tão solitário

 
CLÓVIS ROSSI

 
Para entender os atentados na Noruega, o melhor a fazer é ouvir um taxista local, Arild Tangen, entrevistado por Juan Gómez, enviado especial de "El País": Tangen acha Breivik um "bastardo" por ter matado "jovens brancos e norugueses". Completou com a seguinte observação: "Se odiava tanto os muçulmanos, que matasse jovens muçulmanos ou negros".
Traduzindo: parece tolerável matar, desde que sejam muçulmanos ou negros. É preciso acrescentar que Tangen é eleitor do Partido do Progresso, a extrema direita norueguesa da qual o assassino foi militante e que arrancou 614 mil votos (23% do total) nas eleições de 2009?
É claro que nem todos os eleitores da extrema direita são loucos assassinos, mas é igualmente evidente que a pregação islamofóbica do Partido do Progresso é a voz que arma a fúria, para usar título da edição espanhola do livro ("La Voz y la Furia") que reúne artigos de Stieg Larsson, o mais célebre dos autores nórdicos de novelas policiais.
Nele, rememora Joaquín Prieto, em "El País", Larsson dizia que também em Estocolmo podiam produzir-se atentados terroristas. Errou apenas de cidade, mas não na voz que armava a fúria: o jornalista sueco, morto em 2004, baseava sua previsão na disseminação da influência de grupos racistas norte-americanos, como os responsáveis pelos atentados de Oklahoma em 1995, que deixaram 168 mortos e também visaram prédios do governo.
Larsson foi premonitório: Breivik "foi profundamente influenciado por um pequeno grupo de blogueiros e escritores americanos que vêm advertindo há anos a respeito da ameaça do islã, recheando seu manifesto de citações deles", informa o "New York Times".
Resume Aslak Sira Myhre, diretor da Casa da Literatura de Oslo e ex-líder da Aliança Eleitoral Vermelha, em artigo para o "Guardian": "Eu também acredito que o autor era louco. (...) Mas, tanto quanto [nos atentados] de 11 de setembro como nos ataques ao metrô de Londres, essa loucura tem uma causa clínica, mas também política".
Completa, em entrevista para o "Figaro", o especialista em Islã Mathieu Guidère, autor de um livro chamado exatamente de "Os Novos Terrorismos": "Breivik representa um novo avatar do terrorismo global, o do fundamentalismo cristão. Ao antigovernismo se somam duas outras temáticas básicas: a islamofobia e o ódio ao multiculturalismo, percebido como arma dos islamistas para invadir a Europa".
A menção ao multiculturalismo ajuda a responder ao taxista que se indignou porque Breivik matou brancos norugueses, e não negros ou muçulmanos: Stieg Larsson, em seus premonitórios artigos, já dizia que a elite política (sueca e nórdica em geral) é tão odiada quanto os muçulmanos ou mais que eles, por promover o multiculturalismo - que, na voz dos que armam a fúria, provocaria a islamização da Europa.
Por essa lógica, entende-se que Breivik tenha atacado o quarteirão do governo em Oslo e um acampamento da Juventude Trabalhista, partido no poder desde 2005. O pior é que a voz que arma a fúria só cresce na Europa.

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