domingo, 17 de julho de 2011

Caso Wet-A-Line Tours: O turismo sexual com menores na Amazônia

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São Paulo, domingo, 17 de julho de 2011


Só restou o medo

Alberto César Araújo/Folhapress

Moças que dizem ter sido vítimas de abuso sexual


KÁTIA BRASIL
ENVIADA ESPECIAL A AUTAZES (AM)

O sentimento é de medo, vergonha e discriminação. É o que relatam à Folha quatro jovens índias da etnia mura, que dizem ter sido vítimas de abuso sexual praticado por turistas norte-americanos em excursões de pesca esportiva em rios da Amazônia. Segundo elas, os estupros aconteceram há, no mínimo, seis anos. As vítimas afirmam que nunca conseguiram esquecer. Os turistas eram brancos, tinham mais de 40 anos, bebiam e tiravam fotos pornográficas.
Envergonhadas e com medo de serem discriminadas, as quatro deixaram a aldeia, na zona rural de Autazes, cidade ribeirinha a 118 km de Manaus. No local, o tema abuso sexual é tabu.
O caso veio à tona após a publicação de uma reportagem do jornal "The New York Times", no último dia 9. Segundo o jornal, a empresa de turismo norte-americana Wet-A-Line Tours é investigada pela Justiça do Estado da Geórgia (EUA) sob suspeita de explorar o turismo sexual no Brasil (leia abaixo).
As jovens aceitaram falar sob a condição de manterem o anonimato. "Minha família não sabe que aconteceu isso comigo. Por isso saí da aldeia e vim morar aqui na cidade. Eles não sabem de uma coisa dessa, não permitem", disse E. Na época, ela tinha 16 anos. Hoje, está com 22. Elas vivem em extrema pobreza, em palafitas na periferia da cidade. Sobrevivem graças a programas sociais.
"As pessoas da cidade nos olham incomodadas com a situação. Até para conseguir trabalho é difícil. Não saio de casa por isso", disse U., hoje com 28 anos.
O principal investigado nos EUA é o norte-americano Richard Schair, dono da agência Wet-A-Line Tours.
No Brasil, ele e mais cinco brasileiros são processados na Justiça Federal no Amazonas sob a acusação de dez crimes, entre eles, estupro, favorecimento a prostituição infantil e formação de quadrilha. Em depoimento à polícia, eles negaram.
Segundo a Polícia Federal, mais de 15 meninas de aldeias de Autazes foram aliciadas com a promessa de trabalho e salário em dólar. A maioria delas tinha menos de 18 anos na época. Segundo relatos das vítimas, os abusos ocorreram entre 2000 e 2009.
Hoje com 19 anos, a jovem I. conta que tinha 15 anos quando foi chamada para ser ajudante de cozinha em um dos barcos da Santana Turismo Ecológico, do brasileiro José Lauro Rocha da Silva, parceiro de Schair.
"Estava na cozinha quando eles me chamaram para o quarto. Fiquei nervosa, com medo. Voltei quatro vezes para o quarto, cada vez com um homem diferente. Era contra a minha vontade. Meu sentimento foi de nojo."
Uma das jovens afirmou que foi procurada em junho por um homem que disse trabalhar nos barcos de Lauro e Richard. Ele teria oferecido dinheiro caso elas retirassem o depoimento.
Procura era por menores de 16 anos, diz processo

LUCIANA COELHO
DE WASHINGTON

Meninas menores de idade, preferencialmente abaixo dos 16 anos, era um pedido especial do americano Richard Schair e de seus clientes na agência Wet-A-Line, afirma o processo que corre contra ele nos EUA por suspeita de explorar o turismo sexual no Brasil.
No documento, obtido pela Folha, Schair é acusado, entre outras coisas, de estuprar uma menina brasileira de 12 anos e de forçá-la a fazer sexo com seus clientes.
Em curta conversa com o "New York Times", Schair disse ser inocente.
A Folha teve acesso a parte substancial do processo, aberto no mês passado em uma corte distrital do Estado da Geórgia por quatro brasileiras de origem indígena, todas menores de idade na época dos supostos crimes.
Dois brasileiros - Adilson Garcia da Silva e seu irmão Admilson, ambos funcionários de Schair - são citados, mas apenas o americano e sua empresa de turismo, fechada em 2009, são réus.
"Adilson recrutava meninas jovens a pedido e sob orientação de Schair, de seus funcionários mais graduados e de seus clientes, que frequentemente pediam meninas jovens, abaixo da idade de consentimento", diz o texto. Na maior parte dos EUA, essa idade é 16 anos.
Um dos episódios descritos no processo é o estupro de uma menina de 12 anos, anonimamente chamada de "C".
"A bordo do barco, um funcionário do réu levou "C" e outras meninas para a cabine onde o réu dormia. Ele acordou e começou a bolinar "C". Quando ela rejeitou suas avançadas, o réu a forçou a fazer sexo com ele."
O escritório de advocacia King & Spalding assumiu o caso sem custos, por meio do grupo de proteção dos direitos da mulher Equality Now. Foi pedida uma indenização e o julgamento com júri.
Schair pediu uma suspensão do processo alegando haver mais investigações em curso, mas o tribunal informou à Folha que a ação prossegue normalmente.

OUTRO LADO

Denúncias são improcedentes, afirmam advogados de acusados

DA ENVIADA ESPECIAL A AUTAZES

O advogado Aniello Aufiero, que defende o norte-americano Richard Schair no processo que tramita na 4ª Vara Federal em Manaus, afirma que as acusações contra seu cliente são "improcedentes".
Ele disse que não poderia se manifestar sobre detalhes do processo porque ele está sob segredo de Justiça.
"No momento certo e oportuno, vamos apresentar a nossa tese de defesa. Podemos adiantar que todas as acusações contra ele [Schair] são totalmente improcedentes", afirmou Aufiero.
A Folha não localizou os defensores de Schair nos Estados Unidos, onde ele é investigado sob acusação de usar a empresa Wet-A-Line Tours para explorar o turismo sexual no Brasil.
O advogado Roosevelt Jobim Filho, que defende os cinco brasileiros processados na Justiça Federal brasileira, também negou que seus clientes tenham participação nos crimes apontados pela Polícia Federal.
Os cinco acusados são José Lauro Rocha da Silva, Daniel Geraldo Lopes, Juscelino de Souza Motta e os irmãos Admilson Garcia da Silva e Adilson Garcia da Silva.

QUATRO ANOS
O advogado também negou que algum de seus clientes tenha procurado as vítimas para que elas mudassem seus depoimentos em troca de uma quantia em dinheiro, conforme denúncia feita por uma das vítimas à Justiça.
"Eles não têm conhecimento desse fatos. O que estranhamos é que uma investigação com mais de quatro anos tenha tomado essa proporção somente agora. Acredito que existe muita coisa por trás disso, que precisa ser investigada", afirmou o advogado Jobim Filho.
(KB)

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Ministra Iriny Lopes


São Paulo, segunda-feira, 11 de julho de 2011

TURISMO SEXUAL

Iriny não quer arquivamento de processo

A ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes (PT-ES), deve recorrer a autoridades brasileiras para impedir que o processo contra a empresa americana Wet-A-Line Tours seja arquivado.
De acordo com reportagem publicada anteontem no jornal "The New York Times", a agência oferecia pacotes focados no turismo sexual na região da Amazônia.
A ministra disse que deve buscar informações no Ministério Público e na Polícia Federal para verificar a situação do processo e quais as medidas devem ser tomadas para evitar o seu arquivamento.
Segundo ela, depois da análise, poderá ser criada uma comissão que deve ir à Amazônia averiguar o que acontece na região no que diz respeito à exploração do turismo sexual.

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