quarta-feira, 6 de julho de 2011

Caso DSK: Humilhação pública nos EUA é tradição puritana

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São Paulo, quarta-feira, 06 de julho de 2011


Camareira quer indenização de jornal dos EUA

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

A camareira que acusa o ex-chefe do FMI (Fundo Monetário Internacional) Dominique Strauss-Kahn de violência sexual está processando o tabloide americano "New York Post". O jornal disse que ela se prostituía no hotel de luxo onde trabalhava.
O tabloide afirmou ainda que a Justiça dos EUA retirará todas as acusações contra Strauss-Kahn em audiência no dia 18.
O ex-chefe do FMI, por sua vez, abrirá um processo por calúnia contra a jornalista Tristane Banon, que decidiu o denunciar por tentativa de estupro. Segundo sua defesa, tudo é "imaginação" de Banon.


ANÁLISE


Humilhação pública de Strauss-Kahn nos EUA faz parte da tradição puritana

MICHAEL KEPP
ESPECIAL PARA A FOLHA

Agora que o processo contra o ex-diretor do FMI Dominique Strauss-Kahn (DSK) está desmoronando, a imprensa francesa vem criticando o circo de mídia/judicial em torno dele. Afinal, na França não é praxe submeter acusados à humilhação pública.
As acusações dos promotores de Nova York contra DSK começaram a ruir quando a credibilidade da suposta vítima, uma camareira africana, foi posta em dúvida.
Eles revelaram ligações dela com supostos criminosos, disseram que ela mentiu sobre seu passado e sobre o que aconteceu logo após seu encontro com DSK. E um tribunal libertou DSK sem fiança.
Mas DSK já tinha feito seu "perp walk" (desfile do suspeito), uma prática comum da polícia americana que expõe acusados aos holofotes.
Fazê-lo convence um júri da culpa de um suspeito. Assim, como um troféu, a polícia exibiu DSK, algemado e com a barba por fazer, a fotógrafos e cinegrafistas a caminho do tribunal onde sua citação criminal seria também televisionada.
Na França, determinar se um caso deve ir a julgamento pode levar anos e quase nunca envolve um júri. E a mídia francesa proíbe a divulgação de imagens que exponham alguém à execração pública antes de uma eventual condenação.
Assim, não surpreende que o jornal francês "Le Monde" tenha criticado a "máquina midiática/jurídica que condenou DSK antes de uma investigação séria", uma corrida que custou a ele seu emprego e seu futuro político.
Se DSK fosse brasileiro, a imprensa daqui não teria reagido da mesma maneira? Afinal, aqui os acusados não fazem "desfiles de suspeitos", mesmo que sejam figuras públicas.
A Polícia Federal não algemou Paulo Maluf e o fez desfilar diante da mídia quando o prendeu por lavagem de dinheiro e outros crimes em 2005, nem tratou como troféu o banqueiro Daniel Dantas quando o prendeu duas vezes em 2008 por tentativa de suborno.
E, em 2000, depois de confessar ter matado sua ex-namorada, o jornalista Antônio Marcos Pimenta Neves foi escoltado pela polícia pela porta dos fundos de um fórum paulista para depor.
Os tribunais americanos também têm portas dos fundos. Mas, nos EUA, humilhações públicas fazem parte da tradição puritana, na qual os presos tornam-se exemplos públicos.
A presunção de inocência também é um pilar da justiça americana - na teoria, mas nem sempre na prática.

MICHAEL KEPP, jornalista americano radicado há 28 anos no Brasil, é autor do livro "Tropeços nos Trópicos -crônicas de um gringo brasileiro" (Record)

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