terça-feira, 3 de maio de 2011

Ação para eliminar Bin Laden começou a ser armada em 2007


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São Paulo, terça-feira, 03 de maio de 2011

Ação para eliminar Bin Laden começou a ser armada em 2007

France Presse
Bin Laden em uma caverna na região de Jalalabad, no Afeganistão, em foto de 1988

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

A versão do governo americano sobre a morte do terrorista saudita Osama bin Laden -a única disponível até agora- dá conta de que a operação, que culminou anteontem (horário de Brasília) com um ataque noturno de tropas especiais em helicópteros à mansão do saudita no Paquistão, começou a surgir no ano de 2007.
Agentes da CIA (agência de inteligência dos EUA) descobriram a identidade de um mensageiro de Bin Laden interrogando detentos da prisão americana de Guantánamo, em Cuba.

O suspeito, que não teve o nome divulgado, era um protegido de Khalid Sheikh Mohammed, o suposto responsável pelo planejamento dos ataques do 11 de Setembro.
Em 2009, a CIA descobriu que ele vivia com um irmão e uma família na região de Abbotabad, a 115 km da capital paquistanesa, Islamabad.
O presidente Barack Obama foi avisado em agosto de 2010 de que a agência tinha uma pista quente sobre o paradeiro do saudita. A CIA achou em seguida a casa do mensageiro em Abbottabad, avaliada em US$ 1 milhão e destoante da vizinhança.
O local tinha muros de 4 m de altura, arame farpado, câmeras de vigilância e os habitantes queimavam seu lixo, para que não pudesse ser analisado por espiões.

Toda aquela estrutura não se justificava para a proteção de um simples mensageiro. A CIA passou então a acreditar que os habitantes eram parentes de Bin Laden.
Em fevereiro deste ano -pouco antes de o presidente viajar ao Brasil-, a agência estava convencida de ter encontrado o esconderijo do maior inimigo dos EUA e informou Obama.
A cúpula da segurança nacional sugeriu bombardear o local com aviões invisíveis a radares, segundo a rede americana de TV ABC News. Obama descartou a opção -queria uma prova definitiva de que o saudita estava no local.
A solução foi enviar tropas especiais. A equipe seis de agentes especiais Seal, da Marinha, começou a treinar em mansão igual à de Bin Laden, construída nos EUA a partir de fotos de satélite.
Especializada em operações de contraterrorismo, a unidade atua apenas em missões secretas no exterior, a serviço da CIA. O código usado pelas forças americanas para se referir a Bin Laden era "Gerônimo", diz a CNN.

AUTORIZAÇÃO
Obama autorizou o ataque na manhã da última sexta-feira. Por causa do mau tempo, ao menos dois helicópteros Black Hawk decolaram de uma base no Afeganistão por volta de 0h30 de ontem.
Não há versões independentes sobre o ataque à mansão. Segundo os EUA, ao chegar à casa, o primeiro helicóptero foi alvo de um disparo de lança-foguetes e teve de fazer um pouso forçado.
Liderados por espião da CIA, os Seals desembarcaram e invadiram a mansão, trocando tiros com seguranças do saudita. O mensageiro, seu irmão e um filho de Bin Laden foram mortos.
O saudita foi encurralado no último andar do edifício e morto com dois tiros.
Inicialmente, John Brennan, conselheiro de Obama, disse que ele usou uma de suas esposas como escudo humano; mais tarde, fontes da Casa Branca negaram que se tratasse da mulher de Bin Laden e que ela tenha sido utilizada como escudo.
Antes de decolar com o corpo de Bin Laden, os militares explodiram o helicóptero avariado e recolheram documentos. O cadáver foi levado para um porta-aviões.

Ao contrário do divulgado, rito islâmico foi ferido

DE SÃO PAULO

A versão de que os EUA trataram o corpo de Osama bin Laden conforme determinado pelo islã se choca com o que é recomendado e praticado por muçulmanos.
Jogar o corpo no mar é uma afronta à exigência de que o cadáver seja colocado sob a terra com a cabeça virada em direção a Meca.
A única exceção é para mortes ocorridas em navios em alto mar. Nesse caso, o corpo pode ser jogado ao mar como forma de preservar as condições sanitárias a bordo, desde que sejam feitas as devidas orações -regra que também parece ter sido desrespeitada.
Exige-se que a oração fúnebre seja feita por um clérigo, ou ao menos por um muçulmano praticante, o que não teria ocorrido segundo o relato oficial.
É ofensivo, ainda, não entregar o corpo à família.
Teólogos alertam que o sumiço do corpo alimentará teorias da conspiração.

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UOL, 02/05/2011 - 19h27

"Não há razão para comemorar um assassinato", diz historiadora após morte de Bin Laden

Thiago Chaves-Scarelli
Do UOL Notícias
Em São Paulo 

 
A primeira reação de grande parte da população americana diante da notícia da morte de Osama bin Laden, o rosto mais famoso do terrorismo internacional, foi sair às ruas para comemorar a derrota de seu inimigo. No entanto, a operação contra o terrorista saudita foi um assassinato sumário e como tal não deveria ser comemorado, de acordo com a análise da historiadora Maria Aparecida de Aquino.
"Há meses vem sendo preparada, junto com o governo do Paquistão, toda uma operação para chegar à casa de Osama Bin Laden. A ordem que se tinha era metralhar, a ordem era atirar. Fica difícil pensar em motivo para comemoração", pondera Aquino, professora em História Social da Universidade de São Paulo (USP).
Leia abaixo os principais trechos da entrevista concedida nesta segunda-feira (2) ao UOL Notícias.

 Americanos comemoram em Nova York, EUA, após o presidente Barack Obama anunciar a morte do terrorista Osama bin Laden. Michael Appleton/The New York Times
 
UOL Notícias: Os americanos reagiram à notícia da morte de Bin Laden com festa e era possível ver cenas de comemoração e euforia nas ruas. Existe razão para comemorar? Essa euforia é justificável?
Maria Aparecida Aquino: Não. Se a gente admitir que existe razão para comemorações neste momento, então estaríamos admitindo que existe razão para comemorar um assassinato. Uma coisa que normalmente não se comenta é que os Estados Unidos gostam de jogar na cara de todos os outros países que eles são os guardiões da democracia do mundo, e sempre interferem nos outros países para assegurar a democracia. Entretanto, o que eles fizeram nesse caso é simplesmente um assassinato. Se houve um crime e você está atrás de uma pessoa que é teoricamente uma das responsáveis por esse crime, você tem o direito de pegar essa pessoa e submetê-la a um julgamento. Mas o que aconteceu foi simplesmente um assassinato.
Há meses vem sendo preparada, junto com o governo do Paquistão, toda uma operação para chegar à casa de Osama Bin Laden. A ordem que se tinha era metralhar, a ordem era atirar. Fica difícil pensar em motivo para comemoração.
O que podemos observar é que toda a euforia inicial nos Estados Unidos já baixou um pouco, porque eles têm um temor muito grande – e devem mesmo; pensar que a Al Qaeda se restringe a um homem só, Osama bin Laden, é uma tolice. A Al Qaeda é uma imensa organização. E é muito possível que haja retaliações. Então, em circunstância alguma teríamos motivos para comemorar, mesmo pertencendo à população americana, mesmo sendo o presidente dos Estados Unidos.
Se pessoas como nós, pessoas comuns, simplesmente coadunássemos com a ideia de comemoração, estaríamos coadunando contra todos os princípios que os próprios Estados Unidos dizem defender com tanta força.
UOL Notícias: Então é possível imaginar que os Estados Unidos poderiam ter feito uma captura sem recorrer a assassinato?
Aquino: Lógico. Eles tinham noção da localização. Planejaram a ação muito cuidadosamente. Chegaram até a casa e uma vez lá não havia condições de reação. Eles simplesmente metralharam quem estava pela frente.
UOL Notícias: Com relação ao corpo, como a senhora interpreta essa decisão dos Estados Unidos jogá-lo ao mar?
Aquino: A notícia de que eles teriam jogado o corpo ao mar é mais grave ainda, porque você não só submete o inimigo a um assassinato, como você também impede o ritual da morte.
Mesmo que não haja uma retaliação imediata, em breve essa ficha acaba caindo, mesmo entre a população, de que nem mesmo o direito à morte foi dado. Um dos maiores pilares da democracia é o habeas corpus, que em uma tradução muito simples do latim quer dizer: que se tenha direito ao corpo. Então foi negado um elemento característico do estado de Direito.
Os americanos têm direito de estar muito zangados com o que aconteceu no 11 de setembro? Sim. Têm direito de investigar quem seriam os responsáveis? Sim. Mas a forma como se faz isso pode acabar por retirar todos os direitos que nos restam.
UOL Notícias: É possível imaginar que os Estados Unidos enxerguem a morte de Bin Laden como a morte do “mal”?
Aquino: É o que eles defendem. No fundo, eles pretendem impor ao mundo inteiro uma ideia: de que estão cobertos de razão, de que a humanidade pode respirar aliviada e de que agora estamos livres do mal, já que o mal estava condensado em uma pessoa. Mas isso é uma ilusão de ótica. É como os mágicos fazem: você olha para o outro lado, não presta atenção na prestidigitação que ele está fazendo com as mãos. Não podemos cair nesta história.
Isso não significa defender o que aconteceu em 11 de setembro de 2001, que foi um ato terrível e ofendeu a humanidade. Não significa negar o direito da população americana de buscar os culpados. Mas defender a forma como isso foi feito será dar aos Estados Unidos a possibilidade de amanhã entrar em qualquer uma de nossas casas e dizer: ‘olha, imaginei que aqui houvesse um terrorista e andei metralhando’. É muito grave o que aconteceu. Ou seja, não há motivo para comemoração.
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Al Qaeda promete um ‘inferno nuclear’ após a morte de bin Laden

2/5/2011 14:30,  Por Redação, com agências internacionais - de Islamabad

bin Laden Líderes do Talebã passam a integrar o comando da al Qaeda

A partir desta segunda-feira, a al Qaeda passa a ser comandada por um colegiado de altos comandantes que já estava definido desde muito antes da morte de Osama bin Laden, assassinado nas primeiras horas deste domingo, em ataque de forças especiais do Paquistão e EUA, em Abbottabad, cerca de 65 quilômetros ao norte de Islamabad, capital paquistanesa.
O assassinato de bin Laden, aos 54 anos, cuja cabeça valia prêmio de US$ 50 milhões, marcará, segundo informantes da organização ao jornal na internet Asia Times Online, o início da transferência do teatro de guerra, do Afeganistão para o Paquistão, além de novas ações armadas contra os Estados Unidos.
Contatos do diário com sede em Bangkok, na área tribal do Waziristão do Norte – celeiro de militantes do Talebã – confirmaram que já houve várias reuniões na cidade de Mir Ali, para formular estratégias. Todos confirmaram imediata ação de retaliação contra o Paquistão e o fim de todos os acordos de cessar-fogo firmados com os militares paquistaneses e ainda vigentes. Os EUA procuraram por Bin Laden, sempre sem sucesso, desde que ele deixou o Afeganistão, quando os EUA invadiram o país, em 2001, para guerra de extermínio contra o Talebã, em retaliação pelos ataques do 11 de setembro de 2001 em Nova Iorque e Washington. Bin Laden e a al-Qaeda planejaram aqueles ataques, durante o tempo que viveram como hóspedes dos Talebã.
– Posso informar ao povo dos EUA e do mundo, que os EUA executaram operação que matou Osama bin Laden – disse da Casa Branca o presidente Barack Obama.
O comandante-em-chefe dos exércitos dos EUA acrescentou:
– Houve troca de tiros, antes de matarem Osama bin Laden e assumirem a custódia do cadáver.
Obama prosseguiu:
– A morte de bin Laden assinala o mais importante feito de nossa nação, até o presente momento, em nossos esforços para derrotar a al-Qaeda.
Há notícias de que também foram assassinados um dos filhos de bin Laden, duas de suas esposas e vários auxiliares, no ataque que incluiu helicópteros armados com metralhadoras. O assassinato de bin Laden foi confirmado pela inteligência do Paquistão. O tenente-general Ahmad Shuja Pasha, diretor-geral do Inter-Services Intelligence (ISI), disse que a inteligência do Paquistão sabia do plano e participou de todo o processo.
Os EUA puseram em alerta todas as embaixadas no mundo e avisaram os cidadãos, da possibilidade de haver retaliações. Esses alertas confirmam informações que Asia Times Online obteve de várias fontes, segundo as quais o assassinato de bin Laden provocará o reinício de ações do terrorismo internacional contra capitais do ocidente, suspensos desde o início da grande revolta árabe de 2011.
No final do mês passado, Bin Laden avisou que a al-Qaeda desencadearia um “inferno nuclear” se ele fosse capturado, segundo telegramas diplomáticos secretos publicados por  WikiLeaks. Obama disse que a CIA sabia desde outubro de 2010 que estava mais próxima de encontrar a trilha que a levaria a bin Laden, e que o alvo já aparecia nos radares da inteligência desde o início de 2011, notícia inúmeras vezes divulgada pelo Asia Times Online:
“Depois de prolongada pausa, a CIA-EUA reiniciou várias operações clandestinas nas montanhas escarpadas do Hindu Kush, pelo Paquistão e Afeganistão, seguindo uma repentina onda de informes de que Osama bin Laden, líder da al-Qaeda, andaria pela área, indo e vindo nas últimas semanas, para várias reuniões de alta cúpula em redutos dos militantes”
Os próximos passos
A partir dos levantes populares no Oriente Médio e Norte da África, bin Laden entrou em ação, para construir uma frente unida dos quadros islâmicos do Paquistão e do Afeganistão, na batalha afegã contra os EUA. Por isso, viajou recentemente ao Afeganistão, para reunião com Gulbuddin Hekmatyar, o legendário comandante mujahid afegão e fundador e chefe do partido político e grupo paramilitar afegão Hezb-e-Islami, e vários outros altos comandantes jihadis. Acredita-se que se tenha deslocado há cerca de dez dias para Abbottabad, de onde estaria às vésperas de sair, várias fontes informaram ao Asia Times Online.
As mesmas fontes dizem que o conselho (shura) de comandantes da al-Qaeda passou automaticamente a comandar a organização, até que, adiante, escolha-se outro comandante. Há à espera uma nova geração de comandantes, entre os quais Sirajuddin Haqqani, Qari Ziaur Rahman, Nazir Ahmad e Ilyas Kashmiri, que se uniram à al-Qaeda.
Ao longo dos últimos anos, bin Laden já se convertera mais em figura popular icônica e deixara a função de comandante de guerra – muitas ações já estavam entregues ao comando de seu representante, Dr. Ayman al-Zawahiri, egípcio, e a outros ideólogos. Por tudo isso, nada autoriza a pensar que haja alguma modificação importante nos processos e mecanismos operacionais.
Consideradas as informações e os muitos contatos que esse jornal mantém com líderes da al-Qaeda, não temos qualquer dúvida de que a Operação Osama bin Laden marca a transferência do principal teatro de guerra, que sairá do Afeganistão e invadirá o Paquistão; e que todos os esforços já empreendidos para reconciliar os militantes paquistaneses e o governo do Paquistão voltarão à estaca zero. A partir de agora, a al-Qaeda, fundada por bin Laden, passará a ter como inimigos declarados, além dos EUA, também todo o establishment militar paquistanês.

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