domingo, 29 de maio de 2011

'Usina de desigualdade' / 'A ressurreição do FMI

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São Paulo, domingo, 29 de maio de 2011


Usina de desigualdade

RUBENS RICUPERO

A SOCIALIZAÇÃO DOS prejuízos com a crise financeira equivale à monstruosa usina de geração de desigualdade por anos a fio.
Jovens, desempregados, gente humilde terão de dar cota desproporcional de sofrimento para que os governos permitam a financistas inescrupulosos voltarem a engrossar os bolsos com bônus obscenos.
Governos comparsas de tamanha injustiça cavam suas próprias covas ao colaborarem no enterro do ideal progressista. É o que se começa a ver na Espanha e em Portugal, na revolta da juventude traída.
A geração portuguesa "à rasca" (em apuros, enrascada) ou Movimento 12 de Março reúne os jovens até 34 anos, muitos com estudos superiores, dos quais 40% estão desempregados! Na Espanha, na faixa de 16 a 24 anos, a porcentagem de desempregados salta para 43%! Em toda a parte, os números espantam: 19% nos EUA, 25% na Grécia, 27% na Itália, quase 30% na Irlanda.
Diante dos estragos que continuam a ser multiplicados pela forma perversa de enfrentar a crise, soam irrisórias as propostas intelectuais para reatualizar o debate sobre a igualdade.
Essa "volta à igualdade" começou antes da crise, quando se trabalhava sob a presunção ilusória de que a prosperidade trazida pela Grande Moderação forneceria os recursos para amenizar os efeitos da desigualdade sem tocar na causa.
Agora que o sonho acabou, continua-se a esperar algum milagre que recupere os bons tempos, sem mexer na estrutura financeira. Enquanto isso, a redistribuição às avessas, de pobres para ricos, faz crescer a desigualdade.
Um bom exemplo do impasse é o debate no Partido Socialista francês em torno da "igualdade real". A expressão é título de estudo publicado em 2004 pela Fundação Jean-Jaurès (www.jean-jaures.org) e inspirou a discussão da convenção nacional do partido em dezembro de 2010 (www.parti-socialiste.fr).
O documento introduz distinção interessante. Indo além do tradicional "socialismo de redistribuição", que tenta moderar a desigualdade a posteriori, advoga-se a necessidade de um "socialismo de produção" e um "socialismo de emancipação". O financiamento desses três socialismos dependeria, porém, da continuação do crescimento.
É irônico que o autor do estudo seja Strauss-Kahn, não tanto pelos seus escândalos sexuais ou ostentatório estilo de vida, mas pelo papel que teve de desempenhar na gerência da crise pelo FMI.
Embora de forma mais compassiva que os seus pares, coube-lhe impor a gregos, irlandeses, agora lusitanos, o mesmo remédio amargo: sacrificar o futuro dos jovens com o objetivo de pagar os bancos alemães e franceses.
A reforma financeira, com participação do FMI, foi cosmética: não se resolveu o "risco moral", a existência de bancos grandes demais para falir e que terão de ser resgatados pelos governos.
Tampouco se limitaram os ganhos excessivos dos financistas e o estímulo consequente para que optem por correr riscos exagerados.

Sex scandal at the IMF by Rodriguez, Gustavo
São Paulo, domingo, 29 de maio de 2011

A ressurreição do FMI

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

O Fundo Monetário Internacional que agora decide o sucessor de Dominique Strauss-Kahn passou por uma reviravolta desde que o francês assumiu a instituição, em 2007.
A crise de 2008, marcada pelo colapso de bancos americanos e europeus, provocou uma mudança na carteira e no modo de operação que caracterizaram o FMI nos 30 anos anteriores.
Os desembolsos do Fundo, que em 2007 haviam baixado a um irrelevante US$ 1,5 bilhão, aumentaram mais de 60 vezes em três anos. Mais de 60% do valor dos programas hoje em vigor beneficia países da Europa com dificuldade para financiar sua dívida pública.
A África ainda tem o maior número de países (23) sob planos do Fundo, mas seu valor é só 1,9% do total, menos do que a participação do continente no PIB do mundo (2,9%).
A situação contrasta com a existente entre os anos 80 e a virada do milênio, quando os maiores clientes eram países de renda média, entre eles o Brasil, agora credor do FMI.
Naquele período, economias em desenvolvimento foram as mais atingidas pela crise da dívida externa -precipitada em 1979 pelo aumento dos juros americanos- e pela desvalorização forçada das moedas do México (1995) e da Ásia (1998).
A mudança no perfil da clientela, causada também pelo aumento do peso econômico da China e outros emergentes, não foi única. A constatação de que finanças desreguladas estiveram na origem da quebra bancária de 2008 abriu caminho para uma revisão parcial no pensamento do FMI.
Em vez de uma receita padrão -que nos anos 90 incluía liberalização financeira e privatizações-, as condições para os empréstimos passaram a ser menos rígidas (exceto nos pacotes europeus, influenciados pela ortodoxia alemã). Foi criada uma linha de crédito flexível, que põe dinheiro à disposição sem precondições.
A recente admissão do Fundo de que controles dos fluxos de capital podem ser úteis para evitar oscilações abruptas das moedas nacionais foi uma espécie de retorno às origens.
Quando o FMI foi criado nos acordos de Bretton Woods (1944), sua prioridade era evitar a volatilidade das taxas de câmbio e os consequentes desequilíbrios das contas correntes (saldo de todo o dinheiro que entra e sai de um país).
Esse sistema terminou em 1971, quando os EUA, pressionados por deficits externo e interno, abandonaram a paridade fixa entre o dólar e o ouro. Ao condicionar a emissão da moeda internacional de reserva -o dólar- a essa paridade, o objetivo de Bretton Woods tinha sido tornar as finanças globais mais estáveis.

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