domingo, 29 de maio de 2011

Caso DSK: Armação ou estupro?

Dominique Strauss Kahn by Jeander -Ander, Jan-Erik-

MONTBLÄAT - 394

DSK


Que tipo de loucura levaria um homem poderoso como Dominique Strauss Kahn a tentar estuprar uma camareira? Esse tipo de comportamento, o de “chipanzé no cio”, é possível, mas custa crer que alguém na posição de dirigente máximo do FMI e virtual futuro presidente francês vá destruir a sua vida por não conseguir segurar a sua testosterona. Daí a dúvida que perpassa pela mente de muita gente. Terá sido uma armação? A maioria dos franceses acha que sim e, como eles, muita gente boa no mundo, embora a vocação de fauno de DSK seja praticamente de domínio público, a ponto do Liberation, um jornal alinhado com os socialistas, tê-lo definido como alguém que “pula em cima de tudo o que se mexe”.



Além disso, há antecedente de tentativa de estupro em sua biografia e, comenta-se na imprensa francesa, que Strauss Kahn é adepto de certas práticas rudes quando faz sexo (coisa mais comum do que se imagina). Vai ser difícil para ele negar que houve algum tipo de contato sexual naquela suíte do Sofitel em Nova Iorque. Fluidos foram encontrados pela perícia na cama, na roupa e até na boca da vítima. Fluidos significam ADN e isso – caso o resultado revele tratar-se de material do agressor – é impossível de contestar.



O que a defesa, provavelmente, tentará afirmar é que DSK foi vítima de uma armação. A camareira o teria seduzido e o francês que “pula em cima de tudo o que se mexe” não teria resistido e... Restaria saber quem pagou à camareira e quanto, mas aí já entramos num “palocismo", embora o maior suspeito seja Nicolas Sarkozy, que se vê ante uma reeleição improvável, mesmo após esse escândalo que o favorece.



Disso tudo, e apenas como hipótese, posso admitir que houvesse pelo menos em parte uma relação consentida. A razão principal da suspeita reside exatamente no sexo oral. Quem, por mais “chipanzé no cio” que seja, vai – sem armas ou cúmplices – tentar subjugar uma mulher com metade de sua idade e obrigá-la a um fellatio in ore? Essa atitude seria o cúmulo da estupidez. Afinal, no caso, o objeto de desejo do macho tem dentes e daí... Mesmo que a camareira estivesse amarrada o perigo de tal ato seria total. Há certamente maneiras mais seguras de estupro.



Vamos admitir, sempre por hipótese, que DSK não resistindo á camareira (que é bonita), tenha feito uma proposta e recebido um “sim”. Nesse caso o sexo oral se explicaria tranquilamente, mas é preciso avaliar o que teria ocorrido na sequência. Se DSK sente prazer em tratar rudemente sua parceira, nem todas as mulheres gostam de entrar nesse jogo. Vamos admitir que isso tivesse ocorrido e a camareira tenha transformado o “sim” em “não”. Se Strauss Kahn persistiu, a relação consentida a princípio transforma-se em estupro. Estupro é possível (e até comum) entre casais. Se a mulher não quiser, o marido não tem o direito de toma-la à força, ou obrigá-la a submeter-se a atos violentos ou repugnantes para a ela. Mas a nossa sociedade machista fecha os olhos para isso.



O certo é que nesse julgamento a camareira terá a sua vida exposta desde o berçário ("ela olhou com interesse para o nenê no berço ao lado, senhores jurados..."). Vão transformá-la numa Messalina e, Strauss Kahn num pobre coitado. A acusação fará o contrário, um ogro repugnante estuprando a virgem imaculada. O problema é que isso sempre acaba sendo mais doloroso e prejudicial à mulher, basta ler a Bíblia e ver como as religiões situam a fêmea para entender por que a maioria das mulheres que são abusadas prefere o silêncio e a dor.

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