Uma coisa, a meu ver, triste nesta notícia é que são estrangeiros que vêm aqui para conduzir estas pesquisas.
Pesquisa revela índios sem ideia de tempo
LUCIANA DYNIEWICZ
DE SÃO PAULO
Os índios da tribo amondawa, de Rondônia, vivem sem usar referências sobre semanas, meses ou anos. Não fazem aniversário, só fazem contas até o número quatro e em seu vocabulário não consta a palavra "tempo".
Uma pesquisa da Universidade de Portsmouth (Inglaterra), em parceria com a Universidade Federal de Rondônia, revela que, diante da ausência de números e da noção abstrata de tempo, esses índios precisam mudar de nome para identificar melhor a fase que estão vivendo.
Por causa disso, várias crianças da tribo são chamadas exatamente da mesma forma. Um menino do clã Mutum, por exemplo, é conhecido por Mbitete ao nascer.
Quando tiver um irmão, passará a usar o nome de Kuembu ""e o próximo recém-nascido será batizado de Mbitete novamente.
Os nomes identificam o sexo, a "idade" e o clã ao qual a pessoa pertence e são herdados dos mais velhos pelos mais novos da tribo. Assim como quando ficam mais velhos, esses índios também trocam de nome quando se casam.
Embora a pesquisa não tenha identificado no idioma ocorrências de intervalos de tempo designados por números (um ano, por exemplo), foram encontradas palavras para expressar períodos de tempo, como as estações chuvosa e seca.
Suas noções de temporalidade também estão sempre ligadas a um evento ou a um ciclo da vida, e não ao tempo propriamente dito, segundo a autora Wany Sampaio, da Federal de Rondônia.
TEMPO E ESPAÇO
Para a corrente dominante hoje em dia na linguística, o léxico do tempo originou-se do vocabulário relacionado ao espaço.
Daí, surgiu o uso de expressões consideradas universais como "um tempo atrás" ou "mais para frente".
Nesse contexto, os amondawa são uma exceção, segundo os pesquisadores, porque não relacionam os conceitos de tempo e espaço, como costuma ocorrer em outros idiomas.
Entretanto, apesar de não terem uma palavra para designar "tempo" e não poderem dizer frases como "o tempo está passando", os amondawa têm sua própria noção de temporalidade e compreendem a nossa quando aprendem português, segundo mostra a pesquisa. A maioria fala amondawa e português. Vivem no centro-oeste de Rondônia e seu primeiro contato com não índios aconteceu em 1986. Hoje, a tribo inteira é composta por 117 pessoas.
O trabalho sobre os amondawa foi publicado recentemente na revista britânica "Language and Cognition".
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