São Paulo, domingo, 22 de maio de 2011
Quem comprou Palocci?
CLÓVIS ROSSI
SÃO PAULO - Tratemos as coisas pelos nomes próprios: o caso Palocci é uma operação de compra e venda. Ponto.
O próprio ministro confessa o lado "venda", ao dizer na nota divulgada por sua assessoria que a experiência ("única") no Ministério da Fazenda lhe acrescentara "valor de mercado".
São mais que justas e necessárias as cobranças para que preste os esclarecimentos devidos. Mais justa - e mais importante - foi a cobrança de Fernando Rodrigues de que a presidente Dilma Rousseff apresente projeto para eliminar o que Fernando chama elegantemente de "vácuo institucional", mas que é esculhambação pura e simples.
Refere-se ao duplo emprego de parlamentares, em especial dos que se dedicam ao negócio de compra e venda (consultorias).
Resta apenas apontar o dedo para quem "comprou" Palocci, o que a leitora Cléa M. Corrêa fez à perfeição no "Painel do Leitor" de ontem: "O importante não é saber quanto Palocci enriqueceu com sua empresa de consultoria, mas saber quanto as empresas, seus clientes, enriqueceram com negócios ligados ao governo".
Bingo. Repito o que escrevi quinta-feira: trata-se evidentemente de um caso clássico de tráfico de influência. Palocci pode até não tê-lo praticado, mas que as empresas queriam usar os contatos dele no governo para obter facilidades e/ou negócios, só o mais tolo dos tolos pode duvidar.
Então, se é justo cobrar de Palocci que explique a quem se vendeu (ou vendeu seus serviços), é igualmente justo cobrar dos compradores que venham a público dizer a razão pela qual o compraram.
Seria um exercício prático de "responsabilidade social", expressão que enche páginas e páginas de relatórios anuais em papel finíssimo. Ou os compradores da consultoria nem fingem ter "responsabilidade social"?
Mino: Palocci, privilégio e predação. E Cerra e Aécio … mudos
- Publicado em 20/05/2011
Atirar a primeira pedra ? Quem ? Eu ? Não !
“De outra natureza ainda é o caso do Ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, de características tipicamente nativas, de uma sociedade do privilégio vocacionado para a predação. O ex-ministro da Fazenda milita em uma categoria que no Brasil apresenta dimensões e tonelagens excepcionais.”
“Estabelecidas solidas cabeças de ponte dentro dos gabinetes governistas, venderam a peso de ouro conselhos abastecidos pela chamada inside information.”
“O próprio Palocci incumbe-se de desfiar um rosário de nomes ilustres que o precederam neste gênero de atividade. Sustenta, impávido, a seguinte tese: se eles pecaram, por que não eu?”
A reportagem de capa de Cynara Menezes e Sergio Lírio tem o título “Ele se ri de que ?”, ao lado de uma foto de Palocci a rir, com a presidenta em primeiro plano.
“A aparente alegria do Chefe da Casa Civil talvez tenha explicação no quase estrondoso silencio a cercar o escândalo que o envolve”.
Cerra e Aécio são um capítulo desta reportagem, merecedores de foto interessante e a legenda: “Um tucanato passivo é o aspecto mais surpreendente do o episódio. Quem não tiver pecado atire a primeira pedra”.
Como se sabe, Cerra disse sobre Palocci: “Bons rendimentos promovem uma variação patrimonial”. (Ele é um jenio !)
Clique aqui para ler “Alckmin agasalha concorrência do Cerra para o metrô”.
E Aécio: “Não é nossa intenção desestabilizar o Governo”. (E dirigiu-se célere ao bafômetro, provavelmente.)
A Carta lembra: o caseiro Francenildo, sim, quase desestabilizou o Governo em 2005.
Paulo Henrique Amorim
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Francenildo que o diga
O escândalo Palocci e as miçangas
Por Maria Inês Nassif
Até o momento, mesmo com todos os revezes de sua vida pública, a imagem de Antonio Palocci, titular da Casa Civil, que emerge das denúncias de que teria aumentado o seu patrimônio pessoal em 20 vezes de 2006 a 2010, está longe de ser a de um ministro enfraquecido. É o retrato de corpo inteiro de um político muito forte. Palocci não tem poder apenas porque isso foi conferido a ele pela presidente da República, Dilma Rousseff, mas pela capacidade de se investir do papel de fiador de governos petistas, principalmente junto ao mercado. No governo de Luiz Inácio Lula da Silva, foi o fiador de um candidato eleito considerado pelo mercado como um incendiário; no governo Dilma, de uma presidente com um passado revolucionário que carregava a tiracolo um ministro da Fazenda, Guido Mantega, nada ortodoxo, e optou por tirar do Banco Central outro “fiador” do mercado, Henrique Meirelles.
No governo Lula, Palocci não caiu porque se viu envolvido em denúncias. Enquanto eram apenas elas, foi suficientemente poupado pelo mercado, pelos jornais e também pela oposição. Caiu devido a um excesso seu, depois de já ter retomado o controle sobre seu destino no Congresso. Depois de sair-se muito bem em uma ida ao Legislativo para prestar esclarecimentos, sua assessoria divulgou o sigilo bancário de um caseiro, a testemunha do caso. Se esse excesso não tivesse acontecido, é provável que tivesse continuado no governo, inclusive fortalecido, numa conjuntura em que o presidente estava frágil e o PT sob fogo cruzado. Seria, pelo menos naquele momento, um ministro forte sustentando um presidente fraco. Palocci não voltou para o governo antes de ter sido absolvido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) mas, já nessa condição e ainda na campanha eleitoral de Dilma, colocou-se – e foi colocado – novamente como o grande interlocutor do partido junto ao poder econômico. A manutenção de Guido Mantega na pasta da Fazenda foi um aceno, para o partido, de que a presidenta não abandonaria a opção desenvolvimentista representada pelo titular da pasta. A escolha de Palocci como “gerente”, todavia, deu a ele o espaço de articulador e mediador junto a setores empresariais e financeiros.
Palocci ocupou todos os espaços de poder conferidos à Casa Civil: não há um assunto de governo, hoje, que não seja acompanhado pelo ministro. Não interessa para esses setores, que têm uma forte ascendência também sobre os partidos de oposição, que se mude a relação de poder dentro de um governo cujos espaços divide com a esquerda, ou que desapareça do cenário um político pragmático, que tem bom trânsito a empresários e a partidos mais conservadores da base aliada, além de uma certa simpatia da oposição. Se cair, será por seus excessos, não pelo zelo da oposição em defenestrá-lo.
O primeiro excesso já ocorreu. Em sua defesa, partiu para o ataque. Sua nota, em que nomeia ex-ministros que ficaram ricos depois que saíram do governo, é uma saída à La caseiro: uma aposta de que tem apoio de quem interessa do lado de fora do governo, e de quem consegue fazer isso prevalecer dentro do Congresso e do próprio núcleo de poder; a certeza de que a intimidação pode levar adversários ao corner. Como grande gerente da máquina de governo, conseguiu, por exemplo, traduzir isso em votos na Câmara para evitar sua convocação para prestar esclarecimentos. Confiante em sua própria capacidade de reverter uma situação contrária, apela com naturalidade ao discurso de que se todos fazem – ganham dinheiro depois que saem do governo –, ele também tem esse direito.
É uma situação que pouco contribui para a discussão de sistema político do país. Um debate de reforma política que abrir mão de entender por que é tão normal ex-dirigentes governamentais da área econômica acumularem fortunas depois que saem de cargos públicos será uma discussão sobre miçangas. O que é hoje, segundo o ministro, um padrão normal de relações, onde fatalmente um homem forte de governo se torna rico quando volta para a planície, é também um elemento importantíssimo de análise das causas da corrupção no Brasil. O discurso oficial, assumido pelos jornais e pela opinião pública, é o de que a classe política é intrinsicamente corrupta: faz parte da sua natureza ruim o político tirar proveito de seu mandato. O problema é bem mais amplo. Na verdade, num sistema onde transitam grandes vantagens privadas, a corrupção é um negócio que interessa tanto ao corruptor, como ao corrupto. Para os setores que têm interesses econômicos no governo, é uma situação muito mais cômoda arcar com os ônus de financiar campanhas políticas e contratar consultorias de quem tem informações de governo do que defender, por exemplo, o financiamento público de campanha. Num sistema político que é movido a dinheiro privado, esses recursos não apenas financiam partidos, mas escolhem nas agremiações quem vai representá-lo. O financiamento privado é uma terceirização da atividade partidária. O dinheiro mantém nos partidos homens fortes, cujos erros são relativizados, e todo o sistema político na defensiva, ao jogar para os representantes eleitos a responsabilidade exclusiva das mazelas morais da democracia.
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http://www.conversaafiada.com.
Filho do Roberto Marinho redigiu “Carta aos Brasileiros” com Palocci
- Publicado em 21/05/2011
Na foto, um baluarte da democracia (como Trotsky)
A ficha deste ansioso blogueiro caiu logo no começo do Governo Lula, quando morreu Roberto Marinho.
Tony Palocci foi ao enterro, com Lula. E declarou à Globo que Roberto Marinho tinha sido um baluarte na defesa da Democracia.
Este ansioso blogueiro trabalhava no UOL e disse que o trotskista Palocci respeitava a democracia representativa tanto quanto o ilustre morto.
O professor Venício Artur de Lima, este, sim, um baluarte na defesa da liberdade de expressão, acaba de lançar um livro imperdível para quem luta por uma Ley de Medios neste país: ” Regulação das Comunicações – História, Poder e Direitos”, pela editora Paulus.
Na página 73, ele reproduz trecho do livro “Sobre formigas e cigarras” , de Antonio Palocci. Ali, o autor conta como co-redigiu a “Carta aos Brasileiros”, lançada em junho de 2002, quando em uníssono o então presidente FHC, o Padim Pade Cerra, a Regina Duarte e o PiG (*) propagavam o pânico: se Lula fosse eleito, isso aqui ia virar uma Argentina.
(Em certos aspectos – como na punição aos militares torturadores e na Ley de Medios – lamenta-se que a profecia não se tenha realizado.)
Era preciso acalmar o “mercado” , aquela entidade que se materializa, frequentemente , nas colonas da urubóloga. Tony preparou algumas versões da Carta. E resolveu consultar o que se chama no Brasil, de “sociedade civil”: formadores (sic) de opinião, empresários e os filhos do Roberto Marinho.
Palocci explicou que estava com “um problema sério” : uma percepção de crise econômica por causa da possível eleição do Lula. E queria fazer um manifesto “com os nossos compromissos”.
O filho de Roberto Marinho, no caso, João Roberto, respondeu com aquela serenidade que se espelha nas manchetes do Globo: “A crise é maior do que voces estão pensando”, advertiu. “Há muita insegurança sobre o futuro”.
(Observe-se que o Padim era o adversário de Lula: seria ele também fonte da insegurança do ilustre herdeiro?)
Tony conta que leu vários pontos do rascunho do manifesto ao telefone. O Marinho enfatizou o problema do superávit das contas públicas (o que demonstra que os dois lêem a urubóloga): “este é o ponto sobre o qual o mercado está mais preocupado”.
E atenção, amigo navegante, veja agora o que o Tony Palocci diz, ele mesmo, em suas precoces memórias: “E qual você acha que deve ser o compromisso do novo Governo ?”
Veja bem , amigo navegante.
O futuro Ministro da Fazenda pergunta ao dono da maior rede de televisão do país qual deve ser o compromisso do futuro Governo sobre o ponto mais grave da crise (segundo o neo-liberalismo dos interlocutores). O filho de Roberto Marinho chega a dizer que o superávit deveria superar 4%, como se ele e o Palocci soubessem do que falavam.
Depois desta edificante conversa, Palocci prometeu, obedientemente, lutar por um superávit primário “o quanto fosse necessário” e, não, “enquanto”, como estava dito antes.
Ou seja, se a urubóloga dissesse que “o quanto” eram uns 10% do PIB, assim faria o Ministro da Fazenda trotskista.
Viva o Brasil !
Paulo Henrique Amorim
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