Cientistas brasileiros criam dentes com células-tronco
Angela Joenck Pinto
"Não é que os ratos "gerem" dentes", explica a cirurgiã dentista Mônica Duailibi. "Foi possível encontrar incisivos centrais, por exemplo, nas estruturas que nós implantamos. Numa primeira fase, implantamos células num omentum de rato. Omentum é uma película que reveste todas as víceras. Usamos essa estrutura porque ela é extremamente vascularizada e essa vascularização permite a nutrição das células que a gente está implantando", explica.
Todo o processo se baseia nas técnicas da chamada engenharia tecidual
É nesse molde que as células-tronco são depositadas e nele cresce o dente. "Entretanto, nesses primeiros ensaios, nós não tínhamos o controle da forma do dente, nem do seu volume", diz a pesquisadora.
Trabalhando nas pesquisas desde 2001, Mônica e Silvio Duailibi - que também são professores da universidade - continuaram a desenvolver o projeto até que, em 2008, publicaram os resultados dos implantes que fizeram nas mandíbulas dos animais.
"Esses implantes também foram positivos, mas isso em caráter experimental. Agora nós avançamos nas pesquisas e estamos coletando células de descarte de dentes humanos e processando essas células em laboratório, analisando em quanto tempo elas mineralizam, qual é a estabilidade delas e a saúde destas células. Estamos colocando isso num arcabouço, que tecnicamente se chama de scaffold, na forma de dentes, e estamos implantando isso em animais que não tem imunidade, que é pra não causar rejeição", disse a pesquisadora.
Engenharia tecidual
Todo o processo se baseia nas técnicas da chamada engenharia tecidual, que procura reunir os princípios da biologia com técnicas da engenharia, principalmente a computacional. Com a união das técnicas, é possível elaborar a forma dos dentes e alcançar não só a reparação, mas a regeneração.
"Nós fazemos uma tomografia computadorizada que vai dimensionar volumetricamente a estrutura, que pode ser um molar, pré-molar, canino ou um central, por exemplo. Essas informações são passadas por meio de um software pra um aparelho de prototipagem rápida, também conhecido como fabricação aditiva. Essas informações geram uma estrutura tridimensional", explica a pesquisadora.
Essa estrutura, utilizando material bioreabsorvível ou biocompatível, tem completa aceitação no organismo, fazendo com que as células se amoldem e se diferenciem dentro dela. Após o processo de diferenciação celular, o organismo reabsorve os elementos e deixa a estrutura do dente feita. "Então, com essa estratégia, é possível regenerar dentes, e não mais repará-los, apenas", diz.
Rejeição
A rejeição não é um fator problemático quando o próprio receptor fornece as células. Mas em casos onde isso não é possível, a pesquisadora diz que optaria pela tecnologia já disponível nos dias de hoje, que é a dos implantes metálicos."
A engenharia tecidual só será bem vinda se você conseguir fazer com que o doador e o receptor sejam os mesmos indivíduos, para que não se tenha rejeição. Se você só conseguir células de indivíduos diferentes, você tem que submeter este individuo à drogas imunossupressoras. É como um transplante de órgãos.
"E você vai se deparar com outra situação, que é a dos efeitos colaterais dessas drogas. Então se eu tiver que optar entre reabilitar uma boca e submeter um indivíduo para uma nova terapia, que utilize células diferentes, eu creio que a tecnologia que a gente tem disponível hoje seja melhor que a terapia residual", diz a cirurgiã dentista.
Os cientistas ainda não têm certeza de que o material biológico possa ser devolvido para os indivíduos sem o risco de promover a formação de um tumor, ou de outro tecido que não era o esperado.
"Mas a nossa pesquisa infere que, num futuro, a gente possa devolver para o paciente uma estrutura exatamente igual ao dente original. Ou seja, eu vou implantar lá no interior do osso algo que vai erupcionar como erupcionaria um dente normal. Isso é a esperança de se criar uma terceira dentição para quem precisa, para as pessoas que tenham um problema genético de não ter dentes, ou que os tenham perdido acidentalmente por algum trauma ou doença", diz a pesquisadora.
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