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quinta-feira, 26 de maio de 2011
Miles Davis faria 85 anos hoje
São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 2011
Estilo de Miles Davis ainda fascina o jazz
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Se estivesse vivo, Miles Davis (1926-1991) estaria diferente. Diferente do que ele era, diferente do que você esperaria que ele fosse.
Era assim: em 65 anos de vida, com o som do seu trompete, inventou o jazz moderno, criou estilos, lançou tendências e viveu diferentes fases -cada uma com sua estética e proposta particulares e revolucionárias.
Hoje, ele estaria completando 85 anos. Vinte anos depois de sua morte, sua presença - em sons, ideias, pensamentos, histórias e em um punhado de célebre músicas - continua influenciando o mundo em que vivemos.
No mínimo desde a década de 1950, e até hoje, a força da música de Miles Davis como influência passa por todos os gêneros e gerações.
O músico Pedro Paulo, conhecido por seu trompete em discos de samba-jazz dos anos 1960, de nomes como JT Meirelles (1940-2008) e Edison Machado (1934-1990), cita o som de Miles como principal inspiração.
"O "Kind of Blue" foi uma referência total, total", conta. "Ouvimos muito para tirar aquele som com o quinteto Meirelles & Os Copa 5, de sax e trompete com surdina. Quem marcou o som da surdina no mundo foi o Miles."
O maestro Júlio Medaglia reforça o peso da arte criada por Davis, citando o LP "Sketches of Spain" como favorito. "Os arranjos do Gil Evans nesse disco fazem um trabalho mais nos timbres do que na tradição. O Gil reformulou toda a orquestração jazzística", observa.
"Mas Miles era o cara que trazia as ideias - ele passou por vários estágios, foi a pessoa que mais descobriu músicos, seu trabalho tem várias dimensões. Miles vivia sempre se renovando."
FASE ELÉTRICA Também conhecido como Guizado, o trompetista Guilherme Mendonça cita como favorita a fase elétrica de Miles, do fim dos anos 60, em especial o disco "Miles in the Sky". "Ele estava tocando na sua melhor forma", conta.
"Tinha voltado a praticar diariamente, largado a heroína, estava treinando boxe e, além disso, havia o momento sócio-político da época, tudo isso influenciou muito o jeito dele tocar."
Elegendo o álbum "Bitches Brew", o trombonista Bocato concorda: "É um disco que cativa gente do rock e do jazz, tem de tudo. Ele agrega muitos músicos e dá o caminho para todo mundo, a fusion nasce ali".
O saxofonista Thiago França lembra-se da primeira que ouviu o trompete de Davis: "Fiquei completamente estonteado, o improviso parecia que contava a história melhor que a letra", lembra.
Entre tantas experimentações, é impressionante que Miles tenha deixado tão claro ao mundo seu estilo, sua voz, sua personalidade.
A melhor definição veio de França: "O que ficou mesmo foi essa impressão de que ele estava sempre mais preocupado com novos caminhos estéticos do que com o virtuosismo gratuito."
FASES DE MILES DAVIS
"BIRTH OF THE COOL"
(1949)
Miles reúne músicos como Gerry Mulligan para fazer jazz de câmara - o nascimento do cool
"KIND OF BLUE"
(1959)
Talvez o disco mais famoso do jazz, com John Coltrane, Bill Evans e improvisos líricos. Miles de cabeceira do trompetista Pedro Paulo
"SKETCHES OF SPAIN"
(1960)
O encontro com o arranjador Gil Evans, com versão jazz + orquestra do "Concerto de Aranjuez". Miles de cabeceira do maestro Julio Medaglia
"MILES IN THE SKY"
(1968)
Experimentações elétricas do quinteto acústico de Wayne Shorter, Herbie Hancock, Ron Carter e Tony Williams. Miles de cabeceira de Guizado
"BITCHES BREW"
(1970)
Chick Corea, John McLaughlin, Jack DeJohnette, Airto Moreira, jazz, rock e a invenção da fusion. Miles de cabeceira do trombonista Bocato
"TUTU"
(1986)
Composto e tocado pelo multiinstrumentista Marcus Miller, então com 26 anos, e Miles, então com 60.
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