Parlamentares ingleses lançam aliança para refundar a FIFA
David Randall e Brian Brady - The Independent
A ruína bizantina que é o corpo dirigente do esporte mais popular do mundo alcançou novas profundezas de absurdo neste sábado (28).
O presidente da Fifa, Joseph Blatter, desistiu de acompanhar à noite a final da Liga dos Campeões da Europa para que ele pudesse preparar a sua defesa antes da audiência deste domingo diante do Comitê de Ética sobre as acusações de suborno. Um vice-presidente da organização, também acusado de corrupção, fez alegações extraordinárias em uma entrevista publicada neste sábado. E um terceiro membro da comissão executiva que enfrenta alegações de suborno é Mohamed bin Hammam, único rival de Blatter na eleição de quarta-feira para a presidência da Fifa até a madrugada de domingo, quando ele dramaticamente abandonou a competição.
Em um comunicado em seu site, Hammam disse que "os acontecimentos recentes me deixaram magoado e decepcionado - em um nível profissional e pessoal." Ele acrescentou: "É por esta razão que eu anuncio a minha retirada da eleição presidencial." Antes deste anúncio houve clamor considerável para um adiamento da eleição. O que acontece com a Fifa agora, tendo um único candidato nas eleições, Joseph Blatter, é o que todos querem saber.
Os aparentemente incansáveis esforços dos dirigentes para desacreditar o futebol resultaram agora numa aliança internacional de políticos liderados por parlamentares britânicos para formular um manifesto para a limpeza da FIFA. O recém-formado "International Partnership for the Reform of Fifa” está lutando por uma transformação radical na organização. O plano seria afastar os 24 membros do comitê executivo de responsabilidade por decisões grandiosas - especialmente as sedes da Copa do Mundo - e entregá-las a todos os 208 países membros da Fifa.
Votos que atualmente são sigilosos passariam a ser públicos, e executivos do alto-escalão seriam forçados a tornar públicos os seus bens, de acordo com as regras semelhantes às que regem a conduta dos parlamentares britânicos.
Enquanto tais movimentos ganham ritmo, a Fifa tenta limpar suas feridas neste domingo em Zurique, onde a sua comissão de ética vai julgar o caso contra Mohamed bin Hammam do Qatar (que ganhou o direito de sediar o mundial de 2022); o vice-presidente Jack Warner, da Confederação da América do Norte, Central e Caribe; Debbie Minguell e Jason Sylvester, da União Caribenha de Futebol (UCF), e Blatter.
No centro da audiência está um dossiê apresentado a eles por um membro do comitê executivo da FIFA, Chuck Blazer, dos EUA. Este - supostamente apoiado por depoimentos, documentos e até fotografias - diz que Hammam, no decurso da campanha para a Presidência, ofereceu grandes quantias em dinheiro como suborno para possivelmente até 25 membros da UCF em uma reunião em Trinidad, em 10 e 11 de maio.
Ele nega as acusações, mas admite que pagou translado de participantes e acomodação para a reunião, no hotel Hyatt Regency, de Port of Spain. Warner é acusado de facilitar a suposta propina. Após estas acusações, e a audiência marcada, Hammam afirmou que Blatter sabia de antemão dos alegados incentivos em dinheiro, e por isso este material foi acrescentado à agenda de hoje.
O que seria uma amarga audiência ganhou ainda mais força pelas palavras usadas por Warner em entrevista ao jornal Trinidad Express. Ele disse: "Você vai ver uma tsunami que atingirá a Fifa e o mundo e irá chocá-lo." Ele acrescentou "não ser culpado de um único pingo de maldade". Se houver uma votação, representantes de todas as 208 nações filiadas à Fifa irão votar.
O estado das coisas na FIFA chegou a um ponto em que faz crescer uma onda considerável entre os políticos para a reforma geral do organismo. The International Partnership for the Reform of Fifa foi convocada pelo deputado conservador Damian Collins, que reuniu políticos de vários países, incluindo Alemanha, Austrália e os EUA em torno de sua chamada para a mudança.
Collins não descartou nem mesmo convencer os membros da FIFA a sair da organização e estabelecer um novo organismo internacional de futebol. Mas ele afirma que a prioridade é uma reforma na FIFA, começando com um ataque à cultura de segredos que ele acredita ter permitido que a corrupção prospere.
"Precisamos de uma maior transparência na tomada de decisões", diz o parlamentar. Em grandes coisas, todos os países da FIFA têm que ter a oportunidade de votar. Os membros da comissão executiva deveriam aceitar as mesmas regras de transparência que outras pessoas na vida pública no mundo todo tem que se submeter. Suas finanças e outros interesses devem ser transparentes."
Collins disse que a parceria espera publicar um conjunto completo de demandas no início desta semana. O primeiro-ministro David Cameron, e do ministro dos Esportes, Hugh Robertson, têm apoiado o adiamento das eleições, até que as denúncias de corrupção sejam totalmente investigadas.
Tradução: Wilson Sobrinho
São Paulo, domingo, 29 de maio de 2011
A Fifa na lama
JUCA KFOURI
BLATTER X HAMMAM.
A disputa entre esses dois homens não se restringe à presidência da Fifa.
Eles, aliados há anos, agora lutam também para saber quem é o menos corrupto.
Sim, porque ao serem ambos investigados pelo Comitê de Ética da Fifa, composto, é claro, por cartolas quase todos do mesmo quilate deles, o que sair menos sujo das investigações sentar-se-á ao trono.
Joseph Blatter, o suíço que está vendo seu país querer botar para fora de suas fronteiras a entidade que preside desde que ele sucedeu o brasileiro, da mesma estirpe, João Havelange, tenta se livrar do concorrente qatariano Mohamed Bin Hammam, acusado de ter comprado votos para que o Qatar sediasse a Copa do Mundo de 2022, a 52º no verão.
Hammam, que desdobrou-se em oferecer mordomias para angariar votos, entre esses o do presidente da CBF, e ex-genro de Havelange, Ricado Teixeira, que anda mais que complicado com a Justiça suíça, rebate acusando Blatter, entre outras coisas, de saber de seus métodos e ter calado.
Não é edificante?
Menos mal que temos o nosso intrépido deputado federal pelo PC do B, ex-delegado da Polícia Federal, o ínclito "Proctógenes" Queiróz, indicado por Teixeira para fazer parte da Comissão de Segurança de Estádios, na Fifa. Quem sabe se ele, com seu faro de investigador, não extrapole de suas funções e, num golaço sem precedentes, prove que são todos farinhas do mesmo saco?
Brincadeiras à parte, o fato é que a Fifa jamais se viu imersa, poucas horas antes de suas eleições, em tamanho mar de lama, por mais que tais profundezas permeiem a história da entidade exatamente desde que, em 1974, Havelange derrotou o inglês sir Stanley Ford Rous -um ex-árbitro que presidiu a federação internacional por 13 anos de maneira discreta.
A sujeira é tanta que até a Adidas, velha parceira, dá sinais de preocupação.
E os indícios não são poucos. Basta, aliás, apelar ao senso comum para constatar que não pode ser normal um processo que resulta em apenas um voto, além do próprio, para a candidatura inglesa à Copa do Mundo de 2018.
No mundo ideal, de tudo isso, seriam anuladas as escolhas das sedes de 2018 e 2022, e tanto Blatter quanto Hammam seriam alijados das eleições.
Mas, também no mundo ideal, a Copa do Mundo de 2014, no Brasil, não estaria nas mãos em que estão. Será que o Lula concorda?
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