quinta-feira, 26 de maio de 2011

Câncer de boca causado por sexo oral avança no Brasil

São Paulo, quarta-feira, 25 de maio de 2011

Câncer de boca causado por sexo oral avança no Brasil

CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO

Em uma década, dispararam no país os casos de câncer de boca e orofaringe relacionados à infecção por HPV (papilomavírus humano), transmitidos por sexo oral.
O índice de tumores provocados pelo vírus é três vezes superior ao registrado no fim da década de 1990. Não há um aumento do número total de casos, mas sim uma mudança no perfil da doença.
Antes, cânceres de boca e da orofaringe (região atrás da língua, o palato e as amígdalas) afetavam homens acima de 50 anos, tabagistas e/ou alcoólatras.
Hoje, atingem os mais jovens (entre 30 e 45 anos), que não fumam e nem bebem em excesso, mas praticam sexo oral desprotegido.
Uma recente análise publicada no periódico "International Journal of Epidemiology" mostra que, quanto maior o número de parceiras com as quais pratica sexo oral e quanto mais precoce for o início da vida sexual, mais risco o homem terá de desenvolver câncer causado pelo HPV.

MAIS CASOS
No Hospital A.C. Camargo, em São Paulo, 80% dos tumores de orofaringe têm associação com o papilomavírus. Há dez anos, essa associação existia em 25% dos casos.
O HPV já está presente em 32% dos tumores de boca em pacientes abaixo dos 45 anos "antes, o índice era de 5%. Por ano, o hospital atende 160 casos desses tumores.
"O aumento dos tumores por HPV é real, e não porque houve melhora do diagnóstico. Os casos relacionados ao tabaco vêm caindo, mas o HPV está ocupando o lugar", diz o cirurgião Luiz Paulo Kowalski, do A.C. Camargo.
No Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira), 60% dos 96 casos de câncer de orofaringe atendidos em 2010 tinham relação com o HPV. As mulheres respondem por 20% dos casos.
"Começa-se a notar um maior número de mulheres com esse câncer, por causa do sexo oral desprotegido", diz o oncologista Gilberto de Castro Júnior, do Icesp.
No Hospital de Câncer de Barretos, no interior paulista, casos ligados ao HPV respondem por 30% dos cânceres da orofaringe, um aumento de 50% em relação à década passada, segundo o cirurgião André Lopes Carvalho.
"A maioria dos nossos pacientes tem o perfil clássico, de homens mais velhos que bebem e fumam. Mas estamos percebendo uma virada." O Inca (Instituto Nacional de Câncer) desenvolve seu primeiro estudo sobre o impacto do HPV nos tumores orais. Segundo o cirurgião Fernando Dias, coordenador da área de cabeça e pescoço do instituto, o HPV de subtipo 16 é o que mais provoca câncer da orofaringe.
"O HPV está criando um novo grupo de pacientes. Por isso, é preciso reforçar a necessidade de fazer sexo oral com preservativo." O Inca estima que, por ano, o país registre 14 mil novos casos de câncer de boca.
Segundo os especialistas, a boa notícia é que os tumores de orofaringe relacionados ao HPV têm um melhor prognóstico em relação àqueles provocados pelo fumo.
Paulo Kowalski afirma que eles respondem melhor à quimioterapia e à radioterapia e, muitas vezes, não há necessidade de cirurgia.

VACINA
A vacina contra o HPV não é aprovada para homens no Brasil. (Já é. Vide abaixo (Ivan)) Nos EUA, onde foi liberada, a imunização masculina não protege contra o HPV 16, o tipo que mais causa câncer de boca e de orofaringe.
No Brasil, só mulheres entre 9 e 26 anos têm indicação para a vacina contra quatro tipos de HPV, entre eles o 16. Mas a imunização só existe na rede privada, ao custo médio de R$ 900.


http://www.garnet.com.br/saibamais/hpv_clip_image005.jpg
HPV no Pênis

São Paulo, quinta-feira, 26 de maio de 2011


Vacina de HPV é aprovada para homens

CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou a aplicação da vacina contra HPV (papilomavírus humano) em meninos e homens entre 9 e 26 anos.
A imunização previne as verrugas genitais causadas, principalmente, pelos tipos 6 e 11 do vírus. A vacina, conhecida como Gardasil (Merck Sharp & Dohme), está liberada para os homens nos EUA desde 2009.
No Brasil, ela foi aprovada para mulheres em 2008, mas só está disponível na rede privada, ao custo de R$ 900.
Para liberar a imunização masculina, a Anvisa se baseou em um estudo publicado no "New England Journal of Medicine", que comprova a redução de 90% das lesões genitais externas.
O estudo clínico, que acompanhou 4.065 homens em 18 países, inclusive o Brasil, comprovou a eficácia da vacina contra lesões ligadas aos tipos 6,11, 16 e 18 do HPV.
O tipo 16 é o que tem levado ao aumento dos tumores de boca e da região da garganta (orofaringe) no Brasil, conforme revelou a Folha ontem. Em hospitais brasileiros, até 80% desses cânceres estão associados ao HPV.

PROTEÇÃO
Segundo a pesquisadora Luisa Villa Lina, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e uma das maiores especialistas em HPV no país, além das verrugas genitais, espera-se que a vacina proteja os homens contra tumores de pênis, ânus e orofaringe.
A infecção pelo papilomavírus está ligada a cerca de 40% dos casos de câncer de pênis e de 30% a 40% dos de câncer anal em homens.
Segundo Lina, o ideal é que, assim como as meninas, os garotos sejam vacinados antes do início da vida sexual. No Brasil, pesquisas indicam que isso acontece aos 13 anos, no caso dos homens, e aos 15, para as mulheres.
Mas a pesquisadora acredita que, mesmo que já tenham sido expostos ao HPV, homens e mulheres podem ser beneficiados, porque a vacina evita novas infecções e reduz o risco de câncer.
O pesquisador da USP Adhemar Longatto Filho afirma que a aprovação da vacina para homens vai trazer "um benefício tremendo". "O homem é o principal vetor de muitas das lesões causadas pelo HPV. É crucial que ele seja vacinado."

CONTÁGIO
É comum o HPV permanecer no organismo sem qualquer sintoma por meses ou anos. Os cânceres, por exemplo, podem demorar de dez a 20 anos para se desenvolver.
O risco de contágio é alto (de até 80%), e o vírus pode ser passado mesmo latente (sem manifestação visível).
A maioria dos tipos de HPV não causa sintoma e desaparece espontaneamente sem tratamento, o que significa que muitas pessoas não sabem que são portadoras.
Um estudo recente mostrou, por exemplo, que 50% dos homens saudáveis já foram infectados pelo HPV. A vacina contra o papilomavírus é administrada em três doses, com aplicação intramuscular.

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