quarta-feira, 25 de maio de 2011

Discurso de Netanyahu aniquila chances de acordo de paz

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São Paulo, quarta-feira, 25 de maio de 2011

Premiê de Israel reitera seus limites à paz

Shawn Thew/Efe

Mulher protesta durante discurso do premiê israelense Binyamin Netanyahu sobre acordo de paz no Oriente Médio, ontem, no Congresso dos EUA

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

O premiê israelense, Binyamin Netanyahu, reiterou ontem em discurso no Congresso dos EUA os limites exigidos por Israel para um acordo de paz, enquanto sugeriu que o país será "generoso" na cessão de terras aos palestinos.
Netanyahu se manteve firme na defesa da indivisibilidade de Jerusalém, rejeitou o direito de retorno de refugiados palestinos, disse que manterá presença militar na Cisjordânia e que um futuro Estado palestino terá de ser totalmente desmilitarizado.
Ele, contudo, insinuou passos que considera concessões, como a admissão de que Israel terá de sair de alguns assentamentos na Cisjordânia. Disse também que é possível ter "criatividade" com o futuro de Jerusalém, apesar de manter a cidade inteira como capital israelense.
E ainda afirmou que será "generoso" com o tamanho do futuro Estado palestino, ainda que não ceda terras consideradas estratégicas para sua segurança nem Jerusalém Oriental. "Teremos de ser firmes sobre onde colocar as fronteiras."
"Estou disposto a fazer concessões dolorosas. Reconheço que, para uma paz genuína, será exigido que desistamos de partes da terra ancestral judaica."
Netanyahu disse que pensar nas fronteiras de 1967 (antes da Guerra dos Seis Dias) é inaceitável, mas deu a entender que pode aceitar o princípio de trocas de terras mutuamente acordadas entre os dois lados, defendido pelo presidente Barack Obama na semana passada.
O premiê praticamente eliminou a chance de negociações significativas, pois rejeitou diálogo com um governo palestino do qual o grupo radical Hamas faça parte. O Hamas, que controla a faixa de Gaza, fechou em abril acordo de união com o laico Fatah, da Cisjordânia.
O premiê falou sobre o Irã e insistiu em que o regime dos aiatolás só interrompeu seu programa nuclear uma vez e por medo de ação militar. "Quanto mais o Irã crer que todas as opções estão sobre a mesa, menor a chance de confronto", disse.
A segurança que demonstrou em sua fala reflete o apoio que tem entre congressistas americanos, que pouco antes de entrarem em campanha pela reeleição cortejam o eleitorado judaico-americano.

REAÇÃO Mas o discurso foi recebido com indignação pelos palestinos. Para Nabil Shaat, um dos principais dirigentes do Fatah, foi uma "declaração de guerra".
"Nada podemos fazer a não ser continuar nossa luta na arena internacional", disse Shaat, em relação ao plano da Autoridade Nacional Palestina de declarar seu Estado na ONU, em setembro.
Em Israel, a falta de novidades foi o que mais chamou a atenção, após o gabinete do premiê ter criado expectativa nos últimos dias de que o discurso traria surpresas.
A oposição condenou a falta de um plano para romper o impasse pouco antes de um esperado conflito internacional na ONU, em setembro. E a direita, alicerce da coalizão de Netanyahu, criticou a sugestão de que assentamentos ficarão fora das fronteiras israelenses.


ANÁLISE


Discurso aniquila chances de acordo de paz com palestinos

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Binyamin Netanyahu disse sim ao Estado palestino ontem no Congresso americano, o que, numa perspectiva histórica, poderia indicar uma guinada conceitual para um linha-dura que até alguns anos atrás mantinha-se firmemente contra a ideia.
Na prática, porém, as condições que impôs aniquilam qualquer possibilidade de um acordo e abrem a contagem regressiva para a declaração de um Estado palestino na ONU, em setembro.
A suposta guinada de Netanyahu começou há dois anos. Num discurso pouco após sua posse, admitiu pela primeira vez o estabelecimento de um Estado palestino como resultado de um acordo de paz.
As condições apresentadas em junho de 2009 foram praticamente iguais às enumeradas ontem: defesa da indivisibilidade de Jerusalém, rejeição ao retorno de refugiados a Israel e a exigência de que o Estado palestino seja desmilitarizado.
Nesses dois anos, seguidas tentativas do governo americano de intermediar uma retomada das negociações fracassaram, enquanto israelenses e palestinos se afastavam cada vez mais em meio a trocas de acusações.
O impasse nas negociações levou a Autoridade Nacional Palestina a jogar todas as fichas numa estratégia diferente, a busca de reconhecimento internacional. Mais de cem países atenderam ao chamado, entre eles o Brasil.
O próximo passo é levar o pedido às Nações Unidas, em setembro, e pedir que a organização aceite o Estado palestino como membro.
O principal objetivo da viagem do premiê israelense aos EUA era convencer o governo americano a vetar o projeto palestino, o que foi obtido sem muito esforço.
Um dia antes da chegada de Netanyahu a Washington, Obama se manifestou contra a declaração unilateral na ONU em seu discurso sobre o Oriente Médio. Com a missão cumprida, o premiê israelense ficou à vontade para endurecer o discurso, agradando seu gabinete conservador.
O caminho até setembro promete solavancos tanto para israelenses como para palestinos. De um lado, Israel sofrerá intensa pressão internacional por não oferecer um plano de paz viável.
Os palestinos, por sua vez, entram num território diplomático desconhecido. Pelas regras da ONU, a admissão de um novo membro exige a recomendação do Conselho de Segurança, onde os EUA têm poder de veto. Uma ampla maioria na Assembleia Geral poderia virar o jogo.

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