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sexta-feira, 27 de maio de 2011
Melhor que roubar bancos
São Paulo, sexta-feira, 27 de maio de 2011
Melhor que roubar bancos
VINICIUS TORRES FREIRE
AS BANDALHEIRAS legais e ilegais da grande finança nos anos em torno do crítico 2008 aos poucos viram poeira de história. Mas, a bem da justiça e em nome de tanta gente esfolada pela crise, convém recordar quão grande foi o descaramento.
Acaba de vir à luz, por exemplo, como mais uma operação de emergência do banco central dos EUA (Fed) tornou-se enfim um programa de subsídios para bancões.
O que nos importa o Fed dar dinheiro à banca euroamericana?
A grande banca mundial agora já se enche de ares e dá pitos em governos quebrados (dos quais são cúmplices em irresponsabilidade). Conseguiu repelir muito da modesta ofensiva regulatória de 2009. Os financistas voltaram a fazer dinheiro. A fortuna que ganharam inventando dinheiro fictício para negócios inviáveis ficou nos seus bolsos.
Ainda vai levar anos para que a conta da esbórnia seja paga, conta que de início foi bancada por governos, os quais tiveram de agir a fim de evitar colapso terminal da economia. Os governos, premidos pelos credores, agora repassam a conta para a população bestificada.
Imediatamente, há cortes de benefícios sociais por quase todo o mundo rico, em especial no sul da Europa. Mas os programas de contenção da crise têm efeitos colaterais pelo mundo. A grande expansão monetária americana causa desequilíbrios econômicos, entre eles um empurrão adicional no preço já em alta de combustíveis e comida, conta que pinga na tigela de comida de pobres da África e do sul da Ásia.
O que acabamos de saber? Meios de comunicação dos EUA, em especial a agência de notícias Bloomberg, têm se batido na Justiça contra o Fed, demandando a abertura de informações sobre os programas de socorro à banca que datam de 2008.
Premido mesmo pelo temor de paralisia e colapso gerais do sistema financeiro, o Fed abriu linhas várias de financiamento de curto prazo para a banca e pares. Dadas, ademais, a simpatia e a promiscuidade entre integrantes da autoridade monetária e a banca (o Fed é, de certo modo, "privado"), alguns arranjos terminaram em subsídio mesmo.
A partir de 2008, conta a Bloomberg, bancos como Credit Suisse, Goldman Sachs, Deutsche Bank, os quase quebrados Barclays e RBS e o UBS tomaram empréstimos a taxas de juros ainda inferiores à taxa de redesconto do Fed (taxa de empréstimos de socorro para bancos com problemas transitórios de liquidez).
Tratava-se de "repos", em suma uma troca temporária de dinheiro barato (do Fed) por (no caso) títulos lastreados em hipotecas, aqueles mesmos, que deram origem à crise e que na época ninguém trocava nem por banana passada, muito menos por empréstimo a juro real negativo.
Não foi a única farra da finança, que cometeu a alocação de capital mais estúpida e cinicamente incompetente da história (o papelório imobiliário), levou empréstimos baratinhos, viu o Fed comprar ou garantir seus papéis podres, quando não cometeu crimes, relacionados ou não à grande bolha dos derivativos.
Pois é essa gente responsável que vive a fazer a política nos corredores do G20, do G8, do FMI, de BCs etc. Ou que faz pose mesmo quando ainda pede, como agora, que o Banco Central Europeu e a União Europeia os salve de uma quebradeira que eles também ajudaram a armar, como a do governo da Grécia e cia.
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