sábado, 21 de maio de 2011

Higienópolis dá o que falar

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São Paulo, sábado, 21 de maio de 2011


Higienópolis dá o que falar

Por ALESSANDRA BALLES, com ADRIANO BRITO

Higienópolis ficou no centro das atenções depois da polêmica sobre a construção da nova estação do metrô, mas não é de hoje que o bairro está presente nas rodas de conversas pela cidade.
A área já surgiu virando assunto, como um dos primeiros empreendimentos imobiliários de alto padrão, no final do século 19.

Já em 1902 chamou a atenção durante a construção da Vila Penteado, chamada de "casa das riscas esquisitas" pelos paulistanos, que ainda não conheciam as construções art noveau. Hoje, no local (rua Maranhão, 88) funciona a pós-graduação do curso de arquitetura da USP.
Na esquina da av. Higienópolis com a Albuquerque Lins, o palacete do barão do café Nhonhô Magalhães sempre apareceu como "mal assombrado" - em conversas da época e nos blogs.
Seu proprietário morreu antes de se mudar para lá, e dois filhos foram achados mortos - um afogado na banheira, outro, enforcado no lustre. O imóvel tombado, com cinco pavimentos e miniteatro, já foi sede da Secretaria da Segurança Pública.
Comprado em 2005 por R$ 19,55 milhões para fazer parte da expansão do shopping Higienópolis, está sendo restaurado. A previsão é que as obras acabem em 2013 - o lugar terá um centro cultural.
O casarão de dona Veridiana, um dos primeiros e mais luxuosos do bairro, abrigou encontros culturais e é tido como um dos berços da Semana de Arte Moderna de 22.
No lugar (av. Higienópolis, 18) está o Iate Clube de Santos, palco de casamentos e lançamentos de livros e que também será restaurado.
Hoje trunfo de construtoras, edifício com área de lazer causou estranheza em 1959.
O Bretagne (av. Higienópolis, 938) foi o primeiro com piscina - o ator Roy Rogers veio para a inauguração, publicada nas colunas sociais.
A imprensa também publicou, em 2010, o caso da frequentadora proibida de usar biquíni no parque Buenos Aires - a decisão dividiu usuários, mas regulamento posterior acabou liberando o traje.

CURIOSIDADES HISTÓRICAS

BULEVAR
A av. Higienópolis já teve a elegante alcunha de Boulevard Martinho Buchard, em homenagem a um dos loteadores do bairro

O JAPONÊS...
Em 1970, o cônsul do Japão Nobuo Okuchi foi sequestrado em Higienópolis. O resgate exigido foi a soltura e o exílio de cinco presos políticos

...E O PUBLICITÁRIO
Washington Olivetto foi sequestrado em dezembro de 2001 após sair de sua agência, que ficava no bairro

VIZINHAS
Maria Antônia, dona Veridiana e Angélica, hoje nomes de importantes vias da região, eram donas de palacetes

LUZ VERMELHA
O bandido, que antes de ser preso chegou a ser chamado nos jornais de "mascarado da lanterna vermelha", atacou na rua Bahia e beijou a mão das mulheres antes de sair da casa
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Era só o que faltava

Flávio Aguiar 

Outro dia, ou melhor, outra noite aqui em Berlim, assestei meu rádio-telescópio para as coordenadas 23o. 32’ 51” sul e 46o. 38’ 10” oeste e ouvi o seguinte monólogo noturno, evidentemente um sonho, muito interessante:

“Ora, era só o que faltava. Quererem uma estação de metrô aqui na esquina perto de onde eu moro!

Pra quê? Pra facilitar a vida dessas empregadas, serventes, jardineiros, seguranças, que a gente faz o favor de contratar como empregados? Pra que eles caminhem menos no frio ou no calor, na chuva ou no sol de São Paulo? Querem moleza? Aqui, não!

Já não chega a gente agora ter de contratar com carteira assinada, essa maldita invenção do Getúlio, junto com a CLT e o salário mínimo?

Até que as coisas iam voltando a ser o que eram, com isso da gente desregulamentar tudo, acabar com essa malandragem de férias pagas, fim de semana remunerado, e tudo o mais que essa caterva de comunistas inventou. Depois do fim da Revolução de 64 era o que nos restava. Mas agora até isso está acabando. Ninguém mais quer trabalhar por 200 ou 300 milréis, ops, quero dizer, reais por mês.

Mas agora, essa de metrô! Sinceramente! Já não chega isso de agora empregada poder usar o elevador social? Mas aqui na minha casa não. Empregada só entra pela porta de serviço, eu dou um jeito. Porque se entrar pela porta social, sai de uma vez só pela de serviço e não volta! Quer dizer, saía e não voltava. Agora já não sei. Ela sai por qualquer porta e não volta, diz, se eu não a tratar direito, se não respeitar os seus direitos. Pelo menos é o que a minha mulher me diz. Acho até que ela, a minha mulher, já está amolecendo. É por causa dessa m... de Bolsa Família. Dar dinheiro pra pobre! Onde já se viu?! E desde quando pobre tem direitos? Tem que trabalhar isso sim, corja de vagabundo. Se ficou pobre é porque nasceu pra isso, ora!

Aí vem essa turma da defesa do transporte público. Imagine! Transporte público é coisa pra país da Europa, isso sim. Porque lá o público tem olho azul e cabelo loiro. Se tem olho escuro, pelo menos é italiano, que nem vovô. E fala língua de gente, não esse português errado daqui. Claro, na Europa, eu vi isso, os gente fina que nem nós vão à ópera de metrô. Com todos os trajes de gala. Mas é que lá tem sim a massa cheirosa, não essa fedida daqui. Lá Bodum é marca de cafeteira, não esse cheiro horrível de vagão de metrô na zona norte às seis da tarde aqui.

É verdade que mesmo lá as coisas pretejaram. Muito africano, muito árabe, muito latino, Deus que me perdoe! Mas felizmente já tem uns caras decididos em todo o canto, botando as coisas no lugar, expulsando cigano, fazendo campanha contra estrangeiro vagabundo, tem até uns que dão um cacete em estranja metido a besta. Ê bom tempo que a gente podia fazer isso por aqui! Só falta os policias de lá fazerem vista grossa que nem os daqui faziam.

Aqui, transporte público pra quê? Tirando naturalmente pra trazer os empregados pro trabalho e levar eles de volta depois. E chega, e sem folga. Quem nasceu pra sardinha não precisa abrir os braços. Até porque se abre os braços lá vem aquele fedor subindo pelas narinas.

Transporte público? Ora, espaço pouco, meu carrão primeiro, me desculpem. Vovô deu duro, enriqueceu, papai manteve a fortuna, e agora na hora de eu aproveitar vem essa gente querendo roubar espaço do meu carrão e botar metrô aqui na esquina! Era só o que faltava!”.

Eu bem que queria ouvir mais. Mas entrou uma interferência. Devia ser algum ônibus passando. Lá ou aqui.

Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.

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