A morte de Allende
Por Emir Sader
Está sendo exumado o corpo de Salvador Allende, presidente do Chile derrubado pelo golpe de 1973 liderado por Augusto Pinochet. Allende havia jurado que não renunciaria, cumpriria o mandato que lhe havia sido entregue pelo povo chileno e só sairia antes do Palácio da Moneda, morto.
Foi o que acabou, tragicamente, acontecendo. A campanha golpista, levada a cabo pela alta oficialidade das FFAA, pela mídia privada, pelo governo dos EUA e pelos partidos da direita chilena, cercou Allende no governo, buscando asfixia-lo, isola-lo do povo, procurando que tomasse medidas antipopulares.
Allende manteve sua palavra e seu compromisso com o povo. Pinochet mandou um intermediário para negociar a proposta de um avião para que Pinochet e seus parentes saíssem do Palácio presidencial e do país. Allende reagiu indignado, com um palavrão.
Resistiu, no palácio presidencial, com o fuzil soviético AK que Fidel tinha lhe presenteado e com o capacete que os mineiros chilenos lhe tinham dado, até que a situação se tornou insuperável e ele se suicidou.
Quando sua esposa, Hortencia Buci de Allende viajou para o México, o então presidente daquele país, Luis Echeverría, a convenceu a divulgar que Allende tinha sido morto nos bombardeios do Palacio da Moneda. A esquerda e a opinião publica internacional aceitou essa versão e a difundiu, a falta de credibilidade de Pinochet e seu regime fizeram o restante.
Com o passar do tempo, testemunhos foram resgatando a versão verdadeira, que não tornava Allende menos herói, nem Pinochet menos vilão. Até que, finalmente, há alguns anos, a própria família aceitou a versão do suicídio.
Para dirimir quaisquer duvidas – se Allende não morreu com seus próprios disparos e recebeu tiro de misericórdia de algum ajudante, que morreu posteriormente, por exemplo -, se faz a exumação do cadáver do presidente chileno.
Bom momento para recordar que ele morreu, de armas na mão, heroicamente, defendeu a democracia.
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