São Paulo, domingo, 22 de maio de 2011
CRÍTICA ENSAIO
Kissinger explica China-potência ante ansiedade americana
RAUL JUSTE LORES
EDITOR DE MERCADO
O governo chinês precisa "criar" a cada ano 24 milhões de empregos, 7 milhões deles para recém-formados, para evitar uma turbulência social de multidões.
"Por isso a valorização do yuan, que afetaria a indústria exportadora chinesa, não é tão simples assim".
Em tempos de ansiedade com a ascensão chinesa nos círculos empresariais e políticos americanos, o ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger esmiúça 200 anos de história recente do país em "On China" [sobre a China], livro lançado na última terça nos EUA.
E ainda sugere um plano de relacionamento entre as superpotências que evite um futuro conflito bélico, como o ocorrido há um século entre a então emergente Alemanha e a superpotência da época, o Reino Unido.
Kissinger insinua um G2 de fato. "A relação de EUA e China é elemento central para a busca por paz e bem-estar globais", descreve.
Sua experiência pessoal é única. 50 viagens nos últimos 40 anos, incluídos banquetes com gerações de lideranças comunistas. Em 1971, Henry Kissinger visitou secretamente Pequim, no início do restabelecimento de relações entre EUA e China. Deixou o Air Force One no Paquistão e fez um pinga-pinga aéreo entre Bancoc e o destino final.
Ele despistou a imprensa - o público americano e a liderança comunista abortariam a reaproximação se qualquer informação vazasse em plena Guerra Fria.
No mundo pós-WikiLeaks, Kissinger faz uma defesa do secretismo necessário à diplomacia e do pensamento de longo prazo.
Aos 87 anos, o ex-secretário de Estado americano combate a ignorância em relação à nova superpotência, fazendo um paralelo entre as excepcionalidades americana e chinesa.
Fala que ambos os países têm empreendedorismo único, patriotismo arraigado e sentimento de grandeza em relação ao resto do mundo.
Mas, argumenta, enquanto americanos têm uma atitude missionária, de espalhar seus valores e ideais ao mundo, os chineses nunca demonstraram esse interesse, apesar de se verem como uma civilização superior, com papel central no mundo (o nome do país em chinês é ZhongGuo, o País do Meio).
"Nem sempre concordo com os chineses, mas é importante entender a perspectiva deles", escreve.
TESTA NO CHÃO
Até meados do século 19, a China só tinha relações diplomáticas com a Rússia e se referia a qualquer povo fora do império como "bárbaro".
Até em comunicações oficiais com o Reino Unido os nobres britânicos eram chamados de bárbaros.
Visitantes estrangeiros deviam se prostrar três vezes diante do imperador, "filho dos Céus" na Terra, encostando a testa no chão, e pagar tributos.
O isolamento chinês de quase 5.000 anos é descrito fartamente no livro. Sinólogos reclamam que Kissinger traz pouca novidade para quem já estudou muito a China. Mesmo os encontros de Kissinger com Mao Tse-tung e Chou En-lai foram descritos em obras anteriores.
Aos recém-chegados no mundo China, o livro é uma minuciosa introdução ao país e a suas idiossincrasias.
Como o autor trabalha de consultor no eixo Washington-Pequim, suas críticas à discutível ética do capitalismo chinês são brandas.
Ao contrário de biografias recentes, que ao demonizar Mao não conseguem explicar a fascinação que despertou em milhões, Kissinger diz que Mao deixou a China unificada como não fora por séculos e que eliminou vestígios do regime agrário imperial, "permitindo as reformas posteriores, jamais pretendidas pelo grande timoneiro".
No epílogo, ele trata do temor americano à desafiante e autoritária China. Kissinger admite que falta um inimigo comum a uni-los hoje (na Guerra Fria, a ameaça soviética aproximou Nixon e Mao), mas sugere criar uma Comunidade do Pacífico, que ambas as potências teriam interesse em estabilizar e desenvolver, como EUA e Europa na Otan do século 20.
ON CHINA
AUTOR Henry Kissinger
EDITORA Penguin Press
QUANTO US$ 19,80 (R$ 31,87) na Amazon (589 págs.)
AVALIAÇÃO Ótimo
.....
China colocará US$ 8 bi no Brasil em 2011
A informação foi dada ontem pelo ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) após reunião com o ministro do Comércio chinês, Chen Deming, que disse que a área primordial será a de infraestrutura, sobretudo energia, e citou ainda investimentos em ferrovias, portos e comunicações.
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