sexta-feira, 17 de junho de 2011

“Estrada Real da Cachaça” celebra aguardente



“Estrada Real da Cachaça” celebra aguardente


17/6/2011 12:08,  Redação, com Reuters - de São Paulo 

Documentário refaz caminho pelo interior do Brasil para contar a influência da cachaça na vida da população local

O líder comunista pernambucano Gregório Bezerra (1900-1983) conta em seu livro de memórias que, na infância, sua mãe lhe dava um gole de pinga logo que ele acordava, ainda de madrugada, antes de sair para trabalhar no campo com o resto da família.
A aguardente esquentava seu corpo mirrado e ajudava a esquecer a fome. Pena que o cineasta Pedro Urano não tenha resgatado histórias semelhantes ao se embrenhar pelo interior do Brasil para contar a história da Estrada Real da Cachaça, rota histórica trilhada por tropeiros em lombo de cavalos e burros e que ajudou o Brasil colonial a escoar sua riqueza: os minérios preciosos, a comida para os vilarejos que brotavam nas margens e a cachaça, um subproduto da cana-de-açúcar.
O documentário Estrada Real da Cachaça tem uma proposta ambiciosa, mas não chega a resvalar nas bordas do tema que pretende abordar, nem serve de aperitivo. Se há um mérito no filme de Urano, porém, é o de visitar povoados empoeirados e perdidos no tempo e resgatar um pouco dos usos e costumes do local. De brinde, ouvimos lavadeiras cantando deliciosas cantigas nas quais a cachaça é um personagem importante.
A câmera acompanha o processo de fabricação da cachaça, elaborada ainda de forma quase primitiva por alambiques antigos e familiares e ouve “causos” por onde passa, do litoral fluminense a Minas Gerais (não por acaso, as aguardentes de Paraty (RJ) e de Minas estão entre as melhores fabricadas no país).
Mas há um exagero em valorizar aspectos folclóricos da bebida, como o uso da cachaça em rituais de umbanda e candomblé, e mesmo deixar pessoas completamente alcoolizadas darem depoimentos. São pessoas humildes, os típicos pinguços de interior, cuja derrota estampada em seus rostos e enfatizada em gestos exigiria mais respeito de quem se aproxima para “roubar” sua imagem.
Os depoimentos de especialistas ouvidos, que contextualizam a presença da cachaça na economia colonial, poderiam ser mais aprofundados, inclusive com alguns dados disponíveis sobre esse período, mesmo que limitados. A cachaça brasileira, cantada em verso e prosa por gente erudita e pelos caboclos rudes, poderia ser melhor servida neste retrato.

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