domingo, 19 de junho de 2011

A energia nuclear sob a luz dos holofotes

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São Paulo, sexta-feira, 10 de junho de 2011


Sob a luz dos holofotes

RODOLFO LANDIM

DIAS ATRÁS, o mundo recebeu a notícia de que todas as 17 centrais nucleares de geração de energia elétrica em operação na Alemanha estarão fora de operação até 2022.
A comunicação foi feita pela chanceler Angela Merkel, a mesma que, tempos antes, havia anunciado um plano para a extensão da vida útil das mesmas usinas por 12 anos em média.
É verdade que recentemente ocorreu um grande acidente nuclear no Japão, mas seria isso razão suficiente para toda a mudança radical de comportamento? Por acaso as usinas nucleares alemãs ficaram mais inseguras por causa do que aconteceu em Fukushima? Estariam elas sujeitas aos mesmos riscos ligados a terremotos e a maremotos, causas associadas ao acidente?
A resposta parece ser menos técnica, possivelmente em parte econômica e, principalmente, política, em resposta à pressão momentânea de certos segmentos da sociedade.
A decisão da Alemanha influenciou outros governantes que sentiram necessidade de uma resposta à opinião pública de seus países.
Alain Jupée, ministro de Relações Exteriores da França, país que tem 75% de sua energia elétrica gerada a partir de centrais nucleares, disse que, apesar de ser impossível adotar as medidas da Alemanha, uma séria revisão no planejamento energético do seu país seria feita.
Já no Brasil, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse, na semana passada, que apenas a construção de Angra 3 estaria assegurada e que as demais usinas anteriormente planejadas seriam apenas "previsões".
A construção de novas usinas nucleares esteve paralisada na Europa após o acidente em Chernobyl, na Ucrânia, em 1986. Contudo, com o passar dos anos, o foco principal dos ambientalistas foi aos poucos mudando para os riscos do aquecimento global que poderia vir sendo acelerado pelos enormes volumes de CO2 emitidos com a queima de combustíveis fósseis, como carvão e petróleo, para a geração de energia.
Como a capacidade de produção de energia limpa e renovável é limitada em muitos países, vários "verdes" passaram a defender abertamente a volta à adoção da energia nuclear.
Foram também vários anos de discussões e estudos para que fossem incorporadas melhorias de projeto de forma a tornar as instalações nucleares ainda mais seguras.
E foi assim que em 2005, quase 20 anos após Chernobyl, foi concedida a primeira licença para a construção de nova usina na Europa, a Olkiluoto 3, na Finlândia. A essa decisão seguiram-se várias outras na mesma direção que, agora, podem estar correndo risco de reversão.
Após grandes acidentes, existe a tendência de haver na mídia mundial, por vários dias seguidos, uma superexposição de informações e de imagens a eles associadas.
Além disso, são publicadas opiniões de especialistas e de representantes de segmentos da sociedade que sejam capazes de enfocar os aspectos de riscos, de danos e de consequências negativas do acidente e da atividade como um todo. Só que o espaço para o contraditório acaba sendo muito pequeno e algumas decisões tendem a ser tomadas sem contestação, dentro de um ambiente em que existe mais emoção do que razão e no qual são abandonados anos de discussão participativa.
Mesmo com a paralisação de todas as suas nucleares, a Alemanha continuará cercada pelas francesas, belgas, holandesas, tchecas e da Polônia, cujo programa nuclear não deverá ser interrompido, já que é estrategicamente importante para o país reduzir sua dependência do fornecimento de gás natural e de carvão da Rússia.
A decisão pode também estar em parte revestida de interesses econômicos inconfessos, já que o custo da energia nuclear é bem maior do que o de termelétricas a carvão, provável solução alternativa, e que certamente sofreria grandes reações para implantação antes do acidente.
Os redirecionamentos estratégicos de uma nação podem e devem ser feitos quando necessário, mas a sociedade deve cobrar acima de tudo serenidade e equilíbrio de seus governantes para que essas decisões sejam tomadas, algo difícil de ser conseguido quando ainda sob a influência dos holofotes.

RODOLFO LANDIM, 54, engenheiro-civil e de petróleo, é presidente da YXC Oil & Gas e sócio-diretor da Mare Investimentos. Trabalhou na Petrobras, onde, entre outras funções, foi diretor-gerente de exploração e produção e presidente da Petrobras Distribuidora. Escreve, às sextas-feiras, a cada duas semanas, nesta coluna.

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