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terça-feira, 28 de junho de 2011
A exacerbação do ódio e das diferenças
São Paulo, terça-feira, 28 de junho de 2011
Crise do euro exacerba ódio e diferenças
VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES
Nas ruas de Atenas, gregos marcham contra os alemães. Dizem que o governo de Angela Merkel quer impor mais austeridade e obrigar o país a vender o que restou de um Estado à beira da falência.
Ouve-se o mesmo em Portugal e na Espanha. Na Alemanha, eleitores criticam o uso do dinheiro dos contribuintes para salvar nações onde, dizem, as pessoas não gostam de trabalhar.
O raciocínio é o mesmo na Áustria e na Finlândia. A Europa de hoje está longe do sonho dos que acreditavam num continente unido e próspero de norte a sul.
A União Europeia, que começou a ser desenhada na metade do século passado, e o euro, moeda única que passou a circular em 2002, vivem sua pior crise.
Se a Grécia não aprovar nesta semana seu novo pacote de austeridade, pode ficar sem dinheiro e ser obrigada a dar um calote em sua dívida, o que levaria outros países e bancos à ruína.
Os mais pessimistas dizem que a moeda pode não sobreviver. Os mais otimistas acham que a UE terá de, no mínimo, se reestruturar.
"Acho até que demorou demais para os problemas se agravarem. A UE foi uma união política, mas não levaram em conta questões econômicas", disse o colunista econômico Johan Van Overtveldt, durante simpósio sobre o futuro do euro.
Seus argumentos são parecidos com os de outros acadêmicos: a zona do euro tratou como iguais economias e culturas diferentes. A Alemanha, com indústria forte, se beneficia da união. Exporta muito e acumula superavits.
Portugal e Grécia, com indústria frágil e leis mais generosas para os empregados, perdem competitividade, exportam pouco, importam muito e acumulam deficits.São também Estados que gastam mais que arrecadam.
Além disso, não há um órgão central que de fato fiscalize as contas dos países.
O tratado de Maastricht, que criou a moeda única, é desrespeitado o tempo todo. Ele determina que nenhum país deve ter deficit superior a 3% do PIB. O da Grécia deve fechar o ano em 9,5%.
A dívida pública não poderia ser superior a 60% do PIB. A grega passa de 150%.
MINISTÉRIO ÚNICO
Muitos acreditam que a solução seria criar um Ministério da Economia para o bloco, para determinar a política fiscal de todos.
Na proposta original, ficou definido que não haveria transferência de dinheiro entre os países - os ricos não dariam ajuda para os pobres.
Essa pode ser uma solução econômica, mas de difícil realização política.
Os eleitores do norte não querem ouvir falar nisso, e quem ganha terreno são os partidos que advogam mais fronteiras e menos união.
A crise derrubou os governos de Irlanda e Portugal. O grego está por um fio, e cresce o número dos que acreditam que a Europa precisa se preparar para a era pós-euro.
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