terça-feira, 21 de junho de 2011

A Europa e a luta pela democracia real ("Quem paga a orquestra, escolhe a música")

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São Paulo, terça-feira, 21 de junho de 2011


Democracia real
 

VLADIMIR SAFATLE

As atuais manifestações que sacodem a Europa trouxeram uma reivindicação que há muito não se ouvia em países como Reino Unido, Espanha, França: democracia real. Há algo de importante aqui.
Pois poderíamos nos perguntar o que haveria de fictício na democracia de países que aprendemos a ver como exemplos de sistemas políticos consolidados. Por que largas parcelas de sua população compreendem que há algo no jogo democrático que parece ter se reduzido exatamente à condição de mero jogo?
Talvez tais manifestantes entenderam que a democracia parlamentar é incapaz de impor limites e de resistir aos interesses do sistema financeiro. Ela é incapaz de defender as populações quando os agentes financeiros começam a operar, de modo cinicamente claro, a partir dos princípios de um capitalismo de espoliação dos recursos públicos.
Não é por outra razão que se ouve, cada vez mais, a afirmação de que a alternância de partidos no poder não implica mais alternativas de modelos de compreensão dos conflitos e políticas sociais. Por isso, o cansaço em relação aos partidos tradicionais não é sinal do esgotamento da política. Na verdade, ele é o sintoma mais evidente de uma demanda de política, de uma demanda de politização da economia.
Em momentos assim, devemos lembrar que a democracia parlamentar não é o último capítulo da democracia efetiva. A Islândia tem algo a nos ensinar sobre isso.
Um dos primeiros países atingidos pela crise econômica de 2008, a Islândia decidiu que o uso de dinheiro público para indenizar bancos seria objeto de plebiscito. Maneira de recuperar um conceito decisivo, mas bem esquecido, da democracia, a saber, a soberania popular. O resultado foi o apoio massivo ao calote.
Mesmo sabendo dos riscos de tal decisão, o povo islandês preferiu realizar um princípio básico da soberania popular: quem paga a orquestra, escolhe a música.
Se a conta vai para a população, é ela quem deve decidir o que fazer, e não um conjunto de tecnocratas que terão seus empregos garantidos nos bancos ou de parlamentares cujas campanhas são financiadas por esses bancos. Como disse o presidente islandês, Ólafur Ragnar Grímsson: "A Islândia é uma democracia, não um sistema financeiro".
O interessante é que, com isso, saímos dos impasses da democracia parlamentar para dar um passo decisivo em direção a uma democracia plebiscitária capaz de institucionalizar a manifestação necessária da soberania popular.
É tal processo que nos coloca nas vias de uma democracia real. Ele é a condição primeira para sair da crise. Pois a verdadeira questão que tal crise nos coloca é política: que regime político é este que permitiu um descalabro deste tamanho na calada da noite?


VLADIMIR SAFATLE escreve às terças-feiras nesta coluna.
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Terça-feira, 21 de Junho de 2011

Marcha dos Indignados toma a Espanha e ameaça se alastrar pela Europa

 

20/6/2011 9:01,  Por Redação, com agências internacionais - de Madri
Espanha Manifestantes tomaram as ruas de Barcelona e seguem para outras cidades da Espanha na Marcha dos Indignados

A Espanha, em convulsão por causa da política de arrocho fiscal promovida pelo governo, em meio à mais séria crise do capitalismo na Europa, vivencia uma nova Marcha dos Indignados já a partir desta segunda-feira. Os manifestantes sairam nesta manhã de Valência para percorrer 500 km em 34 dias e finalizar em 23 de julho em Madri, anunciou o movimento no dia seguinte às manifestações que reuniram pelo menos 200 mil pessoas em toda a Espanha.
A marcha de 34 dias é o início de outras mobilizações dos chamados “indignados”. Está previsto que mais grupos partam de outras cidades, como Barcelona, em 25 de junho, e Cádiz, dia 23, para seguir para Madri, onde será realizada um novo megaprotesto em 24 de julho. O grupo que partiu de Valência (leste) tem a intenção de passar por 29 cidades e povoados. Milhares de manifestantes protestaram no domingo nas ruas de Madri e em quase uma centena de cidades espanholas, na primeira grande manifestação do Movimento 15-M desde seu surgimento há um mês.
A praça Netuno, no centro da capital espanhola, perto da Câmara de Deputados, foi o ponto de encontro de seis marchas multitudinárias que partiram de vários pontos da cidade até reunir entre 35.000 e 40.000 pessoas, segundo a polícia, enquanto em Barcelona até 50.000 manifestantes caminharam no centro da cidade, segundo números da polícia regional catalã.
As seis “colunas” se encontraram na praça Netuno, reunindo pessoas de todas as idades, de crianças em carrinhos de bebê a idosos, em frente a barreiras colocadas por um cordão de policiais para impedir que os manifestantes pudessem chegar até as portas da Câmara. O pacto de estabilidade da zona do euro e o rigor orçamentário que ela impõe, os políticos acusados de corrupção e de ignorar os cidadãos, e o desemprego que afeta 21,29% da população e cerca da metade dos menores de 25 anos foram os grandes motes do protesto.
O movimento 15-M, que acabou ficando conhecido como o dos “indignados”, nascido espontaneamente no dia 15 de maio e que tem reunido milhões de jovens espanhóis exasperados pelas consequências da crise econômica, organizou várias mobilizações no último mês, especialmente acampamentos de protesto em várias cidades.
Domingo de protesto
Milhares de manifestantes tomaram as ruas de Madri e de outras cidades espanholas, neste domingo, em uma série de manifestações contra o desemprego e as medidas de austeridade pretendidas pelo governo da Espanha e de outros países europeus. As manifestações, convocadas por jovens ativistas que se autointitulam “os indignados”, vêm crescendo desde um protesto há três semanas, durante o qual acamparam no centro da capital espanhola.
Os “indignados” prometeram manter a pressão sobre o governo, usando o slogan A Europa para seus cidadãos. Eles também rejeitam a proposta conhecida como Europacto, que pretende aumentar a competitividade entre os países da União Europeia (UE). Críticos do Europacto veem a iniciativa como um sinal de cortes de gastos públicos ainda mais severos.
Outro slogan usado pelos manifestantes de Madri é “Não à violência”, depois que um protesto realizado na semana passada em Barcelona terminou em confrontos com a polícia. Os “indignados” se concentraram na Praça Netuno, no centro de Madri, próxima ao prédio do Parlamento. Dezenas de outros protestos foram marcados para esta segunda-feira, em outras cidades espanholas, como Sevilha e Valência. O desemprego entre a população jovem espanhola chega a 43%. A crise econômica no país deixou mais de 1 milhão de famílias em que todos os integrantes estão desempregados.

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