domingo, 19 de junho de 2011

Disputa de audiência entre Globo e Record completa cinco anos

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São Paulo, domingo, 19 de junho de 2011


Fogo cruzado

KEILA JIMENEZ
COLUNISTA DA FOLHA

Na última semana, os noticiários da Record gastaram munição em ataque direto ao presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, com acusações de corrupção.
O momento "denúncia" é visto pelo mercado como novo bombardeio da rede na guerra da audiência. Isso porque a Globo ganhou a disputa pela transmissão do Campeonato Brasileiro de Futebol (2012).
Mesmo com a proposta milionária da Record e com a licitação vencida pela Rede TV!, a Globo negociou o Brasileirão por fora, com cada um dos times que compõem o Clube dos 13, e ganhou.
Esse é mais um capítulo dessa guerra fria, de troca de acusações, que esquenta com ataques pontuais.
"Foi em 2005 que decidimos enfrentar o leão de frente. Não havia alternativa", fala o vice-presidente comercial da Record, Walter Zagari. "O segundo lugar é o primeiro dos perdedores. Por isso queremos a liderança."
É com esse discurso, rufando tambores a cada passo avançado, e com uma estratégia de clonagem que a Record tenta invadir o território inimigo há seis anos.

CLONAGEM
Em 2005, a rede resolveu copiar descaradamente modelos de sucesso da Globo.
Roubou profissionais da concorrente com propostas que triplicavam salários já altos de artistas, autores e jornalistas.
Xerocou formatos, como o do "Fantástico", que virou "Domingo Espetacular" na Record, e criou um "Jornal da Record" tão semelhante ao "Jornal Nacional" que chegava a confundir o telespectador. Por fim, criou identidade visual de inspiração global.
"Nossa audiência cresceu muito em cinco anos.Tínhamos 10% do tamanho deles, hoje temos quase 50% da audiência nacional", diz Zagari, que planeja encostar na Globo em, no máximo, quatro anos. Só que ele dizia, já em 2005, que a Record seria líder em 2010.
Nesses anos, o cenário de audiência realmente mudou, mas a Record ainda não tombou a fortaleza da Globo.

NÚMEROS
Em 2005, no início da guerra pela audiência, a média/dia (das 7h à meia-noite) da Globo era de 21 pontos - cada ponto equivale a 58 mil domicílios na Grande São Paulo. Passou para 16,5 pontos em 2010 e 16,3 pontos neste ano (de janeiro a maio).
A Record foi de cinco pontos (2005) para 7,4 pontos em 2010. Neste ano, de janeiro a maio, marcou média de 7,3 pontos. Já o SBT, que era o segundo lugar absoluto em audiência cinco anos atrás, caiu de nove pontos (2005) para 5,5 pontos (2011).

"Não há mudança de audiência consistente se observarmos um período maior. Em 2000, a Globo tinha média/dia de 21 pontos, sendo a soma da segunda e da terceira emissoras não superior a 13 pontos", diz o diretor da Central Globo de Comunicação, Luiz Erlanger.
Segundo ele, nada mudou: em maio de 2011, as duas concorrentes somam os mesmos 13 pontos, enquanto a Globo caiu para 18.
Na Globo, assim como no Ibope, a queda é atribuída à perda de público para outros canais: TV paga e televisores ligados em videogames - que compõem a sigla OCN nas medições de audiência.
A Record segue com a bandeira de que a Globo está perdendo audiência. Já a líder diz que a Record estagnou, não passa dos sete pontos de média/dia desde 2008.
Para a Globo, os constantes ataques públicos da concorrência são normais, bem como a migração de profissionais entre emissoras.
"Que talentos conseguiram mais que 15 pontos de audiência na concorrência?", diz Erlanger. Este é o pico de audiência obtida por "O Melhor do Brasil", programa de Rodrigo Faro, ex-Globo, hoje na Record.
Já Zagari, que foi diretor comercial do SBT, vê em Edir Macedo uma iniciativa que Silvio Santos não tinha.
"Quando o SBT era o segundo, havia um certo conformismo, achavam impossível bater a Globo."

DUOPÓLIO
Para o sociólogo e professor de comunicação da USP Laurindo Leal Filho, não há como reverter essa relação agressiva entre as redes.
"É um ponto de honra para Edir Macedo atingir a Globo, por conta das denúncias que a rede fez contra ele."
Tanto Leal Filho como o jornalista Eugênio Bucci, crítico de TV, consideram a disputa entre as duas emissoras saudável para o mercado.
"A disputa deve servir para chamar a atenção da sociedade para o risco tanto de modelos de monopólio como da mistura de radiodifusão com religião", diz Bucci.
Laurindo Leal Filho avalia que a disputa irá empurrar a TV aberta para um duopólio. "Em alguns anos, a Record vai encostar na Globo, e as duas vão dividir a audiência e o faturamento. Outras redes ficarão marginalizadas."

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