sábado, 16 de julho de 2011

O segundo encontro entre os dois Prêmios Nobel da mentira

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Domingo, 17 de Julho de 2011

Obama se reúne com Dalai Lama na Casa Branca, desafia a China


16/7/2011 15:51,  Por redação, com Reuters

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, se encontrou com o líder espiritual tibetano Dalai Lama por cerca de 45 minutos na Casa Branca, neste sábado, irritando a China, que pediu que o encontro fosse cancelado.
A Casa Branca anunciou na sexta-feira que Obama se encontraria com o Dalai Lama pela primeira vez em mais de um ano.
“(Obama) está mostrando naturalmente alguma preocupação por valores humanos básicos, direitos humanos, liberdade religiosa”, disse o Dalai Lama após o encontro, de acordo com Kate Saunders, diretor de comunicação da Campanha Internacional pelo Tibete, com base em Washington. “Naturalmente, ele mostra uma preocupação genuína pelo sofrimento no Tibete e em outros lugares também”, disse o Dalai Lama, citado por Saunders.
A Casa Branca não comentou detalhes do encontro.
A China, que acusa o Dalai Lama de ser um separatista que apoia o uso da violência para a criação de um Tibete independente, disse que se opõe a qualquer encontro entre ele e autoridades governamentais estrangeiras.

Dalai Lama A China, que acusa o Dalai Lama de ser um separatista que apoia o uso da violência para a criação de um Tibete independente

O vencedor do prêmio Nobel nega as acusações da China, dizendo que quer uma transição pacífica para a autonomia da região remota de Himalayan, a qual a China tem controlado com mãos de ferro desde 1950, quando as tropas chineses marcharam em direção a ela.
Quando anunciou o encontro, a Casa Branca disse que Obama destacaria seu “apoio duradouro” pelo diálogo entre os representantes do Dalai Lama e o governo chinês, para resolução das diferenças.

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Dalai Lama & Obama: O encontro entre dois Prêmios Nobel da mentira  

Por Domenico Losurdo* 

O encontro entre estas duas almas gémeas era inevitável: com vinte anos de separação entre um e outro (1989 e 2009), ambos receberam o Prémio Nobel da Paz e ambos receberam esta distinção ad maiorem Dei gloriam ou, para mais exatidão, para a maior glória da "nação eleita" por Deus. 1989 foi o ano em que os EUA obtiveram o triunfo na guerra fria e preparavam-se para desmantelar a União Soviética, a Jugoslávia e também – como eles esperavam – a China. Nestas condições, aquele que ia ser coroado campeão da paz não podia ser senão o monge intrigante que desde há trinta anos, encorajado e financiado pela CIA, lutava para destacar da China um quarto do seu território (o Grande Tibete).
Em 2009, a situação havia mudado radicalmente: os dirigentes de Pequim haviam conseguido evitar a tragédia que se queria infligir ao seu país; ao invés de serem remetidos às décadas terríveis da China, oprimida, humilhada e muitas vezes condenada em massa à morte por inanição, à "China crucificada" de que falam os historiadores, um quinto da população mundial havia experimentado um desenvolvimento prodigioso, enquanto se verificava claramente o declínio e o descrédito que afligia a super-potência solitária que em 1989 havia acreditado ter o mundo aos seus pés. Nas condições que emergiram em 2009, o Prémio Nobel da Paz coroava aquele que, graças à sua habilidade oratória e à sua capacidade de se apresentar como um homem novo e vindo de baixo, estava destinado a recuperar o lustro do imperialismo estado-unidense.
Na realidade, o significado autêntico da presidência Obama está presente aos olhos de todos. Não há zona do mundo na qual não se tenha acentuado o militarismo e a política de guerra dos EUA. Ao Golfo Pérsico foi enviada uma frota, equipada para neutralizar a possível resposta do Iran aos bombardeamentos selvagens que Israel prepara febrilmente graças também às armas fornecidas por Washington. Na América Latina, depois de ter encorajado ou promovido o golpe de estado em Honduras, Obama instala sete bases militares na Colômbia, relança a presença da IV frota, aproveita a urgência humanitária do Haiti (cuja gravidade é também a consequência da dominação neocolonial que os EUA ali exercem desde há dois séculos) para ocupar maciçamente o país: com uma deslocação de forças que é também uma forte advertência aos países latino-americanos. Na África, sob o pretexto de combater o "terrorismo", os EUA reforçam o seu dispositivo militar por todos os meios: a sua tarefa real é tornar o mais difícil possível o abastecimento de energia e matérias-primas de que a China tem necessidade, de modo a poder estrangulá-la no momento oportuno. Na própria Europa, Obama não renunciou à expansão da NATO para o Leste, e ao enfraquecimento da Rússia; as concessões são formais e visam apenas isolar a China o mais possível, o país que se arrisca a por em causa a hegemonia planetária de Washington.
Sim, é na Ásia que o carácter agressivo da nova presidência estado-unidense emerge com toda clareza. Não se trata apenas do facto de que a guerra no Afeganistão foi estendida ao Paquistão, com o recurso aos aviões sem piloto (e a sua consequência de "danos colaterais") claramente mais maciço que na época da administração Bush júnior. É sobretudo no que se refere a Formosa que é significativo. A situação estava a melhorar nitidamente: entre a China continental e a ilha, os contactos e os intercâmbios retomavam-se e desenvolviam-se; as relações entre o Partido Comunista Chinês e o Kuomitang foram restabelecidas. Com a nova venda de armas, Obama quer atingir um objectivo bem preciso: se realmente não se pode desmantelar o grande país asiático, pelo menos é preciso impedir a reunificação pacífica.
É neste ponto que anuncia a sua chegada a Washington um velho conhecido da política de contenção e de desmantelamento da China. Eis que no momento oportuno entra de novo em cena Sua Santidade que, antes mesmo de por os pés nos EUA, benzeu à distância o mercador de canhões que tem sede na Casa Branca. Mas o Dalai Lama não é universalmente conhecido como o campeão da não-violência? Permito-me, a propósito desta manipulação refinada, remeter para um capítulo do meu livro (A não-violência. Uma história afastada do mito), que o editor Laterza (de Bari-Roma) lançará nas livrarias a 4 de Março próximo. Por enquanto limito-me a antecipar um único ponto. Obras que têm como autor ou co-autor ex-funcionários da CIA revelam uma verdade que jamais deve ser perdida de vista: a não-violência é um "écran" (screen) inventado pelo departamento dos serviços secretos estado-unidenses empenhados sobretudo na "guerra psicológica". Graças a este écran, Sua Santidade foi mergulhado numa aura sagrada, quando desde há muito, após a sua fuga da China em 1959, ele promoveu no Tibete uma revolta armada, alimentado pelos recursos financeiros maciços, pela poderosa máquina organizador e multi-mediática e pelo imenso arsenal estado-unidense; revolta que entretanto fracassou por causa da falta de apoio por parte da população tibetana. Tratava-se de uma revolta armada – escrevem ainda os ex-funcionários da CIA – que permitiram aos EUA acumular experiências preciosas para as guerras na Indochina, ou seja, para guerras coloniais – sou seu que acrescento, desta vez – que devem ser classificadas dentre as mais bárbaras do século XX.
Agora, o Dalai Lama e Obama encontram-se. Estava na lógica das coisas. Este encontro entre os dois Prémio Nobel da mentira será tão afectuosa quanto pode ser um encontro entre duas personalidades ligadas entre si por afinidades electivas. Mas ela não promete nada de bom para a causa da paz.
 
Domenico LosurdoFilósofo e historiador, professor da Università di Urbino, Itália.

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