São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 2011
Grupo descobre anticorpos que atacam HIV
CDC/Reuters
Detalhes da estrutura de partículas do vírus HIV, visualizadas com microscopia eletrônica
RAFAEL GARCIA
DE WASHINGTON
As moléculas do sistema imunológico de algumas pessoas que são capazes de neutralizar o HIV têm uma origem comum no DNA, mostra uma nova pesquisa.
A descoberta foi feita por cientistas dos EUA e da Alemanha estudando voluntários que contraíram o vírus, mas não apresentam sintomas da doença.
Desenvolvendo um novo método para identificar anticorpos -proteínas que atacam micróbios invasores no organismo- os pesquisadores descobriram 576 tipos diferentes dessas moléculas.
E a surpresa: todas elas, apesar de marcadas diferenças, eram extremamente agressivas contra o HIV e tinham origem em apenas dois trechos distintos de DNA.
Já se sabia que alguns anticorpos humanos eram capazes de neutralizar o HIV, mas um estudo sobre o novo achado, publicado hoje na revista "Science", é o primeira a dar uma pista sobre como o sistema imune os fabrica.
"Descobrimos que existe uma certa similaridade entre as respostas imunes de diferentes pessoas, que usam o mesmo anticorpo inicial para produzir os anticorpos que neutralizam o HIV", diz Michel Nussenzweig, brasileiroque trabalha na Universidade Rockefeller, de Nova York, e é coordenador do estudo.
"Achamos isso estranho e interessante, porque as respostas imunes costumam ser muito diversificadas na maioria das pessoas."
Isso era uma barreira para cientistas que pretendiam usar esses anticorpos como inspiração para produzir uma vacina. Sem saber a origem das moléculas, era difícil saber como "provocar" o sistema imunológico da maneira correta para produzi-las.
Agora, além de ter uma pista sobre como o corpo começa a produzir essas moléculas, Nussenzweig e colegas conseguiram determinar melhor como elas são.
Ao analisar com detalhe a estrutura de um dos anticorpos obtidos, viram que ele é capaz de atacar o calcanhar-de-aquiles do vírus: o pedaço da carapaça do HIV que se gruda nas células humanas antes de atacá-las.
Se pesquisadores descobrirem a molécula do vírus que desencadeia a produção desse anticorpo, isso poderia ser traduzido em uma vacina.
"Estamos tentando achar outros anticorpos com essa característica, porque talvez seja preciso mais de um para isso", diz o cientista.
A produção de uma vacina a partir dessa ideia ainda pode estar muitos anos à frente, mas a descoberta anunciada hoje pode ganhar outro tipos de aplicação. Segundo Nussenzweig, usando engenharia genética é possível clonar os superanticorpos para usá-los diretamente como agentes terapêuticos.
"Os anticorpos que identificamos são mais potentes do que os que já eram conhecidos e são muito abrangentes, capazes de reconhecer 90% das linhagens de HIV registradas", diz. "Não sabemos ainda se o uso direto dessas moléculas pode ajudar em terapia para soropositivos, mas é possível que sim."
São Paulo, sábado, 28 de maio de 2011
Imunização contra HIV pode chegar até 2020, diz artigo
DE SÃO PAULO
Dois pesquisadores escrevem na última edição da revista "Nature" que, em dez anos, é possível desenvolver vacinas contra Aids, malária e tuberculose, doenças que matam 5 milhões de pessoas por ano no mundo.
"Pela primeira vez na história, temos ferramentas e tecnologias que podem ajudar no avanço de novas vacinas", disse à Folha o pesquisador Rino Rappuoli, da Novartis Vacinas e Diagnósticos, de Siena, Itália.
Rappuoli escreveu, com Alan Aderem, do Instituto Seattle de Pesquisa Biomédica, artigo sobre a perspectiva de criação das vacinas até 2020.
Há muitos motivos para ceticismo a respeito desse objetivo. Os causadores dessas doenças resistiram às vacinas testadas até agora.
O vírus da Aids não só ataca as células de defesa como vive em contínua mutação no organismo infectado. O plasmódio, parasita causador da malária, adquire novas formas quando está no corpo infectado. Isso impede a criação de vacina eficaz.
A bactéria da tuberculose infecta os pulmões e vai para células de defesa, onde pode ficar latente por anos. Há uma vacina com quase um século de idade, a BCG, que não impede a infecção latente.
E qual a razão do otimismo da dupla de pesquisadores? Resultados de testes mostram que as três vacinas são factíveis, embora seu desenvolvimento seja complexo.
Contra o desafio, eles dão a receita: "biologia de sistemas e projeto de antígenos baseados em estrutura".
Traduzindo: captar e integrar dados de pesquisas, incluindo sequências de material genético, produção de proteínas, variação genética entre indivíduos e populações de pessoas e de patógenos, entre outras coisas. E usar muita computação para analisar esses dados.
"A promessa das vacinas transformarem a saúde global está tão brilhante como sempre", conclui a "Nature".
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