domingo, 10 de julho de 2011

Uma obra-prima de ironia

http://www.carloslivraria.com.br/media/catalog/product/cache/1/image/9df78eab33525d08d6e5fb8d27136e95/a/_/a_ironia_-_considera_es_filos_ficas_e_psicol_gicas.jpg

CartaCapital, Ed. 654

Editorial


 ...E me ocorre de súbito a carta de Dilma a Fernando Henrique octogenário. No meu entendimento, obra-prima de ironia, e esta não é crítica subdolosa, e sim inspirada por uma análise sem paixão. Não há naquelas linhas uma única em que Dilma acredite.

Acadêmico inovador, político habilidoso, ministro–arquiteto de um plano duradouro de saída- da hiper-inflação, presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica.” Leio no sub-texto: o acadêmico que se exilou sem precisar, o político que toparia ser até ministro de Fernando Collor não fosse a ameaça de Mário Covas de romper com o PSDB, o usurpador do plano batizado por Itamar Franco, o presidente que quebrou o País três vezes.

O toque final, de todo modo, está na frase-chave:O espírito do jovem que lutou pelos seus ideais, que perduram até os dias de hoje”. Não poderia haver mais ironia na definição de quem recomendou o esquecimento do seu passado para assumir o papel de líder da direita nativa. Dilma esbaldou-se, creio eu, na exploração da monumental vaidade do aniversariante, e com sutileza suficiente para que o próprio não percebesse e, certamente, muitos de sua corte. A ironia nem sempre é bem entendida nas nossas plagas. Raymundo Faoro me aconselhava:Não exagere em ironia, pensarão que você fala sério”. Eu respondia:É isso mesmo que busco”.

Permito-me supor que Dilma tivesse também outro objetivo ao escrever a carta, semear a confusão na área tucana e alvejar, talvez mortalmente, José Serra. CartaCapital nunca duvidou que a presidenta saiba atuar com acuidade no jogo da política, muito além das previsões e das esperanças da mídia, e com a devida firmeza no comando. São estas as razões da escolha de Carta-Capital por sua candidatura um ano atrás. É da nossa convicção de que ela saberá superar o momento tenso até inaugurar o seu governo, indiscutivelmente seu, a contar inclusive, como observa um caro amigo e excelente especialista em política, com o vento de cauda que, a despeito da crise mundial, empurra o Brasil por obra da própria natureza.


http://www.portalmidia.net/wp-content/uploads/dilma8.jpg

Aproveito para acentuar o quanto apreciamos o escudo feminino que a presidenta forma à sua volta. Agrada-me dizer que, neste governo, preferimos as damas aos cavalheiros.

Mino Carta é diretor de redação de CartaCapital. Fundou as revistas Quatro Rodas, Veja e CartaCapital. Foi diretor de Redação das revistas Senhor e IstoÉ. Criou a Edição de Esportes do jornal O Estado de S. Paulo, criou e dirigiu o Jornal da Tarde. redacao@cartacapital.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário