sexta-feira, 15 de julho de 2011

Uma dívida superior a US$ 14 TRILHÕES

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São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 2011


ANÁLISE

Nos EUA, na Europa e até na China: a farra do crédito no centro da crise

PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO

Nos dois lados do Atlântico, vive-se hoje a ressaca de anos de farra de endividamento. Nos EUA, a crise nasceu do superendividamento dos consumidores durante os anos da bolha imobiliária.
Já a crise europeia teve origem no superendividamento dos países periféricos durante a euforia do início do euro, momento em que nações como a Grécia se aproveitaram dos juros baixos "alemães" para fazer a festa.
Para completar o cenário, vem à tona o excesso de dívidas dos governos locais da China, que podem chegar a 30% do PIB. A agência Moody's advertiu que os bancos chineses estão recheados de dívidas de difícil recebimento, subestimadas nas contas oficiais. Será que estamos de novo diante de uma surpresinha de crédito que pode desencadear mais uma crise?
Nos EUA, juros baixos e incentivos à compra da casa própria estimularam consumidores a assumirem hipotecas que não podiam pagar e bancos a se endividarem.
Agora, os EUA passam por um processo de "desendividamento". Os consumidores estão aos poucos pagando suas dívidas e pararam de contrair novos empréstimos. Isso, acrescido ao fato de o mercado de trabalho estar parado, derruba o consumo. O governo federal vem tentando substituir essa demanda perdida. Desde que o presidente Barack Obama assumiu, o governo gastou US$ 1,2 trilhão em estímulo fiscal e o Fed, em duas rodadas de "afrouxamento quantitativo", injetou US$ 2,3 trilhões.
Agora, está aí a conta. O governo deve estourar o teto de endividamento -de US$ 14,3 trilhões- no início de agosto. Em Washington, uma queda de braço entre republicanos "mais impostos nem pensar" e democratas "não corto gastos sociais" levou a um impasse. Se não chegarem a um acordo, os EUA terão de dar calote parcial.
Na Europa, também houve um descontrole de crédito. Mas há nuances. Na Irlanda, o problema foi uma enorme bolha imobiliária, que quebrou vários bancos na esteira. A Itália tem uma dívida pública alta, de 120% do PIB. mas manteve superávit primário.
Em todos os casos, a China tem salvo a lavoura. Nos EUA, há muitos anos o país é o maior comprador de dívida. Na Europa, tem comprado títulos de países como Portugal e Grécia.
Se a desaceleração da China for desordenada e o endividamento se mostrar uma horrível surpresa, lá se vai o cavalo branco.

China defende interesses e cobra solução para o endividamento


DE NOVA YORK

Não é só internamente que o governo Barack Obama enfrenta pressões para resolver o problema da dívida. A China, o principal credor externo dos EUA, também cobra uma solução.
"Nós esperamos que o governo dos Estados Unidos adote políticas e medidas responsáveis para garantir os interesses dos investidores", disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês ao ser questionado sobre um possível rebaixamento da nota da dívida americana pela agência Moody's.
A China é dona das maiores reservas estrangeiras globais, estimadas em US$ 3 trilhões, e mais de um terço desse valor está aplicado em títulos do Tesouro americano.
Um calote dos EUA pode se tornar um grande problema também para Pequim, que nos últimos anos vem aplicando superavits obtidos no comércio global em títulos do governo americano.
A questão fica ainda mais grave pela falta de alternativas que possam absorver agora tamanho investimento. Vários países europeus cujos títulos tinham avaliação AAA (a mesma dos EUA e a mais alta) ou foram rebaixados ou estão ameaçados de perder a avaliação máxima. O euro, que seria outra opção, também está pressionado pela crise da dívida que vem atormentando a região nos últimos meses e não para de se espalhar.
O Brasil é um dos países que podem sofrer com o problema. Quase dois terços das reservas internacionais do país, de US$ 340 bilhões, estão aplicados em papéis do governo americano.
Procurados, o Banco Central e o Ministério da Fazenda disseram que não falariam sobre questões relacionadas à dívida dos EUA. Segundo o presidente do Fed (o BC americano), Ben Bernanke, a falta de acordo para o teto da dívida seria "calamitosa" e provocaria um "choque financeiro muito severo". Para Bernanke, se os EUA deixarem de pagar juros da dívida ou suas obrigações com o programa de saúde Medicare, "será um calote de algum tipo".

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