quarta-feira, 13 de julho de 2011

Mercados tocam o terror e Europa considera medidas de guerra

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MERCADOS  TOCAM O TERROR  NA ZONA DO EURO
BELLUZZO: "A COISA ESTÁ MAIS PARA URUBÚ DO QUE PARA COLIBRI"
 

Testemunha ocular da zorra do euro, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo assiste, de Paris, ao tratoramento das instituições pelos mercados financeiros desregulados. Suas palavras: " Os ministros da Fazenda só conseguem fazer genuflexão para os mercados. A cada gesto de submissão os ditos mercados apertam as cravelhas. A última sugestão dos banqueiros: o Fundo Europeu de Estabilização deve comprar a dívida grega pelo valor de face (ou seja, os credores tiram o seu capital limpinho e na íntegra e o setor público afunda num mar de títulos podres). E a farra não cessa.

Nesta 3º feira de trégua para a Itália e a Espanha, que registraram perdas brutais no dia anterior com a fuga de investidores e exigências de spreads maiores, os mercados decidiram exercitar a mira em um novo alvo: a cambaleante Irlanda. A Moody's, agencia de classificação de risco, anunciou que os títulos da dívida irlandesa decairam à categoria junker - 'lixo'. Na semana passada, a mesma Moody's já havia jogado os papéis de Portugal no mesmo limbo, que elimina a chance de financiamento a mercado e afasta investidores como o diabo da cruz. A desordem financeira mundial cobra um preço alto e desmoralizante das autoridades da UE. Sem freios institucionais nem disposição ideológica para enquadrar as criaturas dos mercados desregulados, elas literalmente dançam na zona do euro, à reboque dos impulsos destrutivos das manadas especulativas.

Os próximos dias prometem: depois de meses de hesitação, idas e vindas, a Comissão Européia anuncia uma cúpula de emergencia para sexta-feira. A intenção, até onde se sabe, é sancionar o calote de parte da dívida da Grécia, encalacrada entre a resistência dos credores privados - como observa Belluzzo, em realizarem perdas - e a exigência da Alemanha, de que os beneficiário da festa grega ajudem a pagar a conta, depois de quebrados os pratos. Na mesma sexta-feira, ao final da tarde, será divulgado o diagnóstico sobre a saúde financeira da banca européia ('o teste de stresse'). Saberemos então a capacidade que tem o sistema privado de suportar um calote em sua carteira - grego, por exemplo. A velha Europa range e ruge do assoalho econômico ao telhado político.

Não é só o imbróglio financeiro, confirma Belluzzo: "...Além da crise dívida soberana, os europeus estão aparvalhados com o episódio do 'News of the World, o semanário do meliante Rupert Murdoch,que grampeou políticos, jogadores de futebol. O Guardian, o Independent e o próprio New York Times estão fazendo um cobertura digna do melhor jornalismo. No Brasil, os donos da imprensa estão escondendo o affair..." 
A razão é simples: tudo soa familiar, demasiado familiar...
São Paulo, quarta-feira, 13 de julho de 2011

Europa pensa o impensável

VINICIUS TORRES FREIRE
 
A ELITE POLÍTICA e econômica da União Europeia começa a pensar em medidas de guerra contra o risco iminente de colapso. A feia necessidade levou o impensável para a mesa do debate sobre como evitar um calote desordenado.
Note-se que muita ideia impensável era apenas preconceito liberaloide ou defesa de interesse político-eleitoral. Note-se ainda que, já a partir de meados dos anos 2000, governos da União Europeia começaram a jogar no lixo o pacto fundador da união monetária, os limites de deficit e dívida públicos. Isto posto, note-se agora o tamanho do desespero europeu.
A elite da União Europeia começou a perder a face em maio do ano passado, na primeira rodada de implosão da Grécia. Num certo dia de mercado em pânico, o BCE (Banco Central Europeu) disse que não compraria títulos da dívida de países semiquebrados, sem crédito no mercado, ou não os aceitaria como garantia para empréstimos. Dois dias depois, com tumulto na praça, engoliu o que disse. Começou, na prática, a financiar a dívida desses países e/ou a ajudar a reduzir os juros que o mercado deles cobrava. O BCE agora está cheio de papel podre em sua caixinha.
Ontem, o colapso ameaçava a dívida de Itália e Espanha, com os juros indo à lua no mercado secundário. Era dia também de venda de títulos italianos, belgas e gregos (isto é, esses governos estavam pegando emprestado uns trocados na praça). Para evitar juros estratosféricos ou coisa pior, "alguém" ajudou o mercado a comprar dívida italiana, belga e grega. Houve o boato de que teria sido o BCE. E/ou a China.
Mas o impensável mesmo é discutido no comitê de salvação pública, a reunião quase permanente dos ministros de economia europeus, e em outros fóruns da União Europeia.
Primeiro, admitiu-se que o fundo para cobrir calotes da União Europeia possa ser usado para recomprar dívida grega no mercado, onde vale uns 50% do valor de face, "original". A dívida seria reduzida, os credores engoliriam perdas.
Isso não é fácil de fazer e até pode ser considerado "calote" por agências privadas de classificação de risco. Mas significa que a Europa assume parte da dívida grega.
É como se um devedor com bom crédito, a União Europeia, tomasse dinheiro a juro barato e emprestasse a um primo com o nome sujo na praça (Grécia, Portugal, Irlanda). Seria o início de uma união fiscal.
E se as agências ou credores reclamarem? Este é o segundo impensável: dane-se. Há gente dizendo que é preciso enquadrar as agências e ignorar o que elas dizem sobre governos em situação difícil, mas que recebem "ajuda". "Caloteiros" ou não, na concepção das agências, a dívida desses países quebrados seria aceita nos negócios oficiais da União Europeia.
Terceiro: na sexta-feira sai o resultado do "teste de estresse" dos maiores bancos europeus. Isto é, uma avaliação sobre a suficiência de capital desses bancos. Se der chabu, se os bancos estiverem descapitalizados, a Europa avisa que vai logo cobrir rombos e "insuficiências" ou dar um outro jeito, "se não houver solução de mercado".
Nada disso foi decidido, claro. Está uma confusão horrível entre países e instâncias diferentes do "governo europeu". Mas bateu o desespero. "A imaginação está no poder."

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