Segunda-Feira, 04 de Julho de 2011
O 'NÃO' DOS MILITARES EGÍPCIOS DENUNCIA O PREÇO DO 'SIM' PROFERIDO PELA GRÉCIA
"Preferimos passar fome a mendigar a essas instituições"(Conselho Supremo das Forças Armadas do Egito, em comunicado que explica rejeição às condicionalidades impostas pelo FMI para liberar um empréstimo de 3 bilhões de euros ao país, que incluíam a privatização de bancos e a maciça redução de subsídios a energia e alimentos de consumo de massa, sobretudo trigo. A decisão dos militares, que tutelam a chamada 'revolução egípcia', desautorizou membros do governo provisório que haviam acatado as ordens internacionais, sem informar suas consequências à população.
A resistência egípcia ilumina, por contraste, a virulência do escalpo em marcha na Grécia,como admite Jean-Claude Juncker, chairman do Eurogroup, grupo de ministros de Finanças da zona do euro. Aspas para Juncker: "A soberania da Grécia será grandemente limitada. Para a onda de privatizações que virá, eles vão precisar, por exemplo, de uma solução baseada em um modelo da 'agência Treuhand' (agência de privatizações que vendeu 14 mil empresas da Alemanha Oriental entre 1990 e 1994, após a queda do Muro de Berlim). Quatro milhões de alemães estavam empregados em empresas controladas pela Treuhand em 1990. Feitas as privatizações,restavam 1,5 milhão em 1994. Vai por aí a coisa - se for.
Egito rejeita 'ajuda' e condições impostas pelo FMI
Emad Mekay - IPS
O general Sameh Sadeq, integrante do conselho militar governante, afirmou que foram suspensos outros pacotes que estavam sendo negociados com o Banco Mundial em razão de “cinco condições que atentavam contra os princípios de soberania nacional”, informaram vários jornais locais. Mas não foram dados mais detalhes sobre o assunto. Se tivesse aceito, o Egito seria o primeiro país a receber dinheiro do FMI no Oriente Médio após a Primavera Árabe, levante popular contra os regimes autoritários apoiados pelo Ocidente iniciado no ano passado. O FMI anunciou em maio, durante a cúpula do Grupo dos Oito países mais ricos do mundo, que poderia emprestar mais de 24 bilhões de euros aos Estados do Oriente Médio nos próximos anos. O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, anunciou nesse mesmo mês que poderia conceder cerca de 4 bilhões de euros em dois anos ao Egito e à Tunísia para contribuir para a modernização das suas economias. O Cairo teria recebido 3,1 bilhões de euros desse pacote. Os movimentos revolucionários começaram nesses dois países antes de se espalhar pela região.
A declaração feita no dia 28 pelo general Sadeq contradiz as do primeiro-ministro, Essam Sharaf, e do ministro das Finanças, Samir Radwan, sobre os empréstimos não estarem acompanhados de condições. Os funcionários ocupam os cargos interinamente desde a queda do presidente Hosni Mubarak em 11 de fevereiro deste ano. Ambos defenderam publicamente a necessidade de empréstimos para espantar o fantasma do déficit, principal argumento de muitos países que solicitam ajuda das duas instituições multilaterais de crédito. A decisão foi anunciada pelos governantes militares que assumiram o poder após a queda de Mubarak. Algumas das condições impostas pelo FMI e pelo Banco Mundial incluíam a privatização de bancos e uma maciça redução dos subsídios para energia e alimentos e já tinham desagradado a população.
O ministro das Finanças teve que voltar atrás e escreveu no seu site que a decisão de rejeitar os empréstimos ocorreu após “debate público e consultas ao Conselho Supremo das Forças Armadas” (CSFA), à frente do governo interino. Também informou que após modificar o déficit orçamental este ficou em 15,4 bilhões de euros, em relação aos 19,6 bilhões de euros previstos antes de aceitar o empréstimo do FMI. O CSFA, que cumpre funções presidenciais até ser eleito o novo parlamento em setembro, disse que os fundos locais e regionais permitem não recorrer às instituições multilaterais de crédito. “Pode-se cobrir o déficit com o mercado local e com empréstimos e assistência de nações amigas e outras instituições internacionais”, diz a declaração do Ministério das Finanças. Nas últimas semanas, Arábia Saudita, Estados Unidos e Quatar, entre outros, prometeram grandes somas de dinheiro ao Egito. Os bancos locais podem cobrir facilmente o déficit, afirmou Moustapha Abdelsalam, especialista do jornal de negócios Al Alam Alyoum. O governo conseguiu 13,8 bilhões de euros internamente.
A decisão do CSFA acompanhou os protestos populares. Vários ativistas alertaram que, com os novos empréstimos o Egito poderia ficar sujeito às condições do Banco Mundial e do FMI, bem como à pressão externa, o que muitas pessoas temiam que pudesse acabar com a revolução. “Os empréstimos do exterior contradizem os princípios da revolução que reclamavam ser livres de toda pressão, local e estrangeira”, diz uma declaração do Conselho de Administração Revolucionária, uma organização não governamental formada após a queda de Mubarak por defensores da democracia que enfrentaram as forças de segurança do regime. “O povo egípcio, que está começando uma nova era, não quer fazê-lo com novos empréstimos. Preferimos passar fome a mendigar a essas instituições”, afirma o comunicado. Surpreendeu a solicitude do governo de Sharaf por ser interino e não ter suficiente autoridade. Foi criticado por tomar essa decisão carecendo de representação popular.
O Banco Mundial, o FMI e outros bancos multilaterais de desenvolvimento anunciaram a “Associação Deauville para o Oriente Médio” para conceder empréstimos a outros países da região, no contexto da cúpula do G-8 realizada em maio nessa cidade francesa. O Banco Mundial prometeu 3,1 bilhões de euros ao Egito nos próximos dois anos para compensar a queda das reservas e o orçamento, e financiar as mudanças económicas a fim de fortalecer os seus projetos de investimento e créditos.
Agora é esperar para ver se desta vez os países da região seguirão o exemplo do Egito.
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