ENTREVISTA MARK SIRANGELO
Picape espacial vai facilitar acesso dos EUA à órbita da Terra
Fotos Divulgação
Concepção artística da Dream Chaser, nave da empresa americana Sierra Nevada Space Systems
RAFAEL GARCIA
DE WASHINGTON
Enquanto os EUA choravam na sexta o lançamento do Atlantis, último ônibus espacial a decolar, um empresário tentava convencer o país a ser otimista.
Mark Sirangelo, da Sierra Nevada Space Systems, promete reestabelecer o transporte de americanos para a órbita em 2015, usando uma "caminhonete espacial".
Esse é o apelido que ele deu à espaçonave que a empresa está construindo, a Dream Chaser, um veículo menor, herdado de um projeto engavetado pela Nasa.
Na semana passada, ele anunciou a contratação de nove funcionários de alto escalão que estão deixando a Nasa e fechou um acordo com a agência para usar parte da infraestrutura de seu centro de lançamentos na Flórida. Parte do dinheiro para isso saiu da própria Nasa, que destinou US$ 100 milhões à empresa dentro de um programa de incentivo à exploração espacial privada. Confira a entrevista.
Mark Sirangelo - Bem, nós estamos empolgados em ser uma voz positiva dentro daquilo que seria um momento negativo. Estamos muito contentes com nossa relação com a Nasa. Temos a oportunidade de estender isso para permitir que as pessoas em algumas das instalações do programa espacial anterior possam ser usadas no nosso programa. Talvez ele seja a luz em meio a esse ambiente desafiador que temos agora.
O programa do ônibus espacial termina em meio a críticas por ter sido caro demais e menos seguro do que as espaçonaves "descartáveis" dos russos. Como sua empresa pretende contornar isso?
O ônibus espacial tinha de ser muito grande para poder transportar os pedaços da estação espacial. Tinha de ter força suficiente para carregar um monte de suprimentos. Agora isso acabou. A estação espacial está completa, e não precisamos de veículos que sejam tão complexos para chegar até ela.
Se você está mudando de casa com sua família para o outro lado do país, precisa de um grande caminhão para carregar tudo. Uma vez que se estabelece, você só vai precisar de uma SUV [picape utilitária esportiva] para passear e levar alguma bagagem. O Dream Chaser será uma SUV, capaz de levar sete astronautas até a estação, junto com todas as coisas das quais precisam para viver lá, e trazê-los de volta.
O projeto da espaçonave prevê que ela seja lançada na ponta de um foguete, e não com a barriga colada no propulsor, como os ônibus espaciais. Isso muda tudo?
Isso foi uma das lições que aprendemos com o ônibus espacial. O veículo deve ser montado no topo do foguete para que não tenhamos mais problemas com pedaços que se desprendem dele e podem se chocar com a nave.
Qual é o custo estimado de construção e operação?
Nós não divulgamos esses números porque é preciso levar em conta que o projeto do veículo, na verdade, foi tocado pela Nasa por mais de dez anos no programa chamado HL-20, que acabou suspenso.
Depois disso, nós assumimos o projeto fora do âmbito da Nasa e permanecemos trabalhando nele por conta própria durante seis anos. Então, nosso projeto já conta com 16 anos de desenvolvimento e voa em um foguete que já existe. Agora que o ônibus espacial será aposentado, a única maneira de chegar à estação é usando uma Soyuz russa. Os EUA pagam US$ 63 milhões por assento por voo para seus astronautas.
Nós acreditamos que vamos conseguir fazer o mesmo com um preço bem menor. O custo da espaçonave não é mais tão importante, porque a Nasa não vai comprar o veículo, vai comprar o serviço.
Em que estágio de desenvolvimento o projeto está agora?
Estamos produzindo o primeiro veículo. Os dois motores de bordo já foram testados por completo. Acabamos de montar o primeiro simulador de voo, que será testado dentro de alguns dias.
Esperamos conseguir fazer o veículo voar já no ano que vem em testes em que o soltamos na atmosfera.
Como foi a negociação para contratar pessoal da Nasa?
São pessoas que nós já conhecíamos por trabalharmos na indústria [aeroespacial]. Primeiro contratamos Jim Voss [astronauta que voou em cinco missões do ônibus espacial]. Ele atraiu várias outras pessoas para o projeto.
Vemos nosso veículo como uma espaçonave internacional. Sem o ônibus espacial, perde-se a capacidade de transportar astronautas de países que não os EUA e a Rússia. Retomar essa capacidade é importante, e nós queremos fazer isso. Talvez um dia haja uma oportunidade de levar até um [novo] astronauta brasileiro conosco, coisa difícil no cenário atual.
Nenhum comentário:
Postar um comentário