Segunda-feira de fúria: bolsas desabam
CRISE MUNDIAL SE AGRAVA: GOVERNO DILMA DEVE AGIR
Balanço da OCDE divulgado nesta 2º feira indica desaceleração e perda de fôlego das 30 maiores economias do mundo. Mesmo a solitária pujança alemã ensombreceu. O colapso fiscal de várias economias na zona do euro - a Itália é a bola da vez desta 2º feira, conforme mostra matéria nesta pag - e as incertezas emitidas pela medíocre condução do governo Obama, cada vez mais emparedado entre os mercados e a direita republicana, contaminaram os ânimos e os indicadores mundiais. A paralisia reflete, no fundo, a impossibilidade estrutural de digerir o colapso dos mercados desregulados dentro dos seus próprios termos, politicamente ainda não superados. É dessa tensão entre o velho e o novo que avultam manifestações mórbidas, como o enjaulamento da Grécia e a imolação de seu povo para saciar credores, num mergulho recessivo que impede ao invés de favorecer a superação dos graves desequilíbrios fiscais do país.
Mas não só. Quando a maior economia do planeta, os EUA, cria apenas 18 mil vagas de trabalho em um mês, como aconteceu em junho, fica evidente que a receita ortodoxa não tem mais nada a oferecer, exceto recessão e instabilidade. Não foi um ponto fora da curva. A revisão oficial dos dados referentes ao bimestre abril/maio mostra que o mercado de trabalho dos EUA patina, apesar do imenso sacrifício que a terapia da superliquidez impôs ao planeta. O cenário internacional reforça a percepção insistentemente repetida por diferentes analistas nesta página, como Amir Khair, economista da FGV. Eles evocam a necessidade de medidas mais contundentes que protejam o desenvolvimento brasileiro num horizonte de longa instabilidade externa e redobrada exasperação dos capitais especulativos. A timidez das medidas gradualistas na área cambial deve ceder lugar a um controle explícito dos fluxos parasitários. A política monetária deve liberar fundos públicos hoje sacrificados ao pagamento de juros da dívida interna para uma efetiva mobilização de investimentos em infraestrutura que redundem em maior competitividade industrial, vagas de trabalho, exportações e demanda interna.
O governo Dilma tem dispersado energias e recursos em agendas colaterais irrelevantes diante das urgências estratégicas reiteradas pela crise mundial - caso da fusão Pão de Açúcar/Carrefour,por exemplo; que relevância tem isso para o país? Na semana passada, operários do ABC paralisaram as máquinas e foram às ruas exigir medidas contra a desindustrialização que desloca empregos e produção para o exterior. O governo deve fazer a leitura correta desse momento: o tempo das hesitações esgotou.
Crise na Itália provoca reunião de emergência da UE
Esquerda.net
O presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, convocou uma reunião de emergência para esta segunda-feira em Bruxelas com os principais líderes da União Europeia. Na agenda está a a situação da Itália, o mais novo alvo da pressão dos mercados, e o segundo plano de resgate da Grécia.
A reunião vai ocorrer antes do Ecofine e contará, de acordo com a agência Reuters, com a presença do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, do presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, e do comissário europeu para os Assuntos Económicos, Olli Rehn.
A Itália é o mais novo alvo da pressão dos chamados mercados. Na sexta-feira, a bolsa de Milão caiu 3,3% e a taxa de risco subiu a um máximo de 247 pontos base, com os bancos a serem muito castigados. A Itália tem uma dívida pública que representava, no final de 2010, 119% do PIB, segundo dados do Eurostat. Na semana passada, as agências de rating puseram o país em observação, afirmando a Standard & Poor's que a crise tinha feito gorar “todos os esforços italianos de consolidação fiscal realizados durante a última década", enquanto a Moody's punha em revisão o rating da Itália e de 16 entidades de crédito locais.
Os chamados “esforços de consolidação fiscal” começaram no ano passado com um primeiro plano de cortes de 21.500 bilhões de euros, que consistiu no congelamento dos salários dos funcionários públicos até 2012, a redução dos salários dos membros do governo, ajustes das verbas para as regiões e medidas para combater a evasão fiscal. Agora, o governo foi mais longe e aprovou um novo plano de cortes no valor de 43 bilhões, que consiste em prolongar o congelamento dos salários, novos cortes de gastos e uma taxa sobre as transacções bancárias. Mas a crise política, que já levou Silvio Berlusconi a anunciar que não voltará a candidatar-se, irrompeu com força e veio ampliar as pressões das agências.
O próprio Berlusconi jogou lenha na fogueira ao atacar o seu próprio ministro da Economia, Giulio Tremonti, de quem disse: “Ele pensa que é um gênio e acredita que todos os demais são uns cretinos. Suporto-o porque conheço-o há muito tempo, e é preciso aceitar que ele é assim. Mas é o único que não faz jogo de equipe.” Tremonti tem-se recusado a baixar impostos, o que é pedido pelo próprio Berlusconi e pelo líder da Liga Norte, Umberto Bossi, e pelo contrário vai aumentá-los.
O primeiro-ministro anunciou então que vai levar o novo plano ao Parlamento, para amenizá-lo um pouco. Foi o que bastou para despertar a ira das agências, que ameaçam baixar o rating da Itália, possivelmente em dois níveis.
Novo empréstimo à Grécia está parado
O outro problema é a Grécia, que só teve a crise adiada com a última parcela do empréstimo do ano passado. O novo empréstimo está parado, não há consenso nem clareza em relação a de onde vão sair os fundos, e as agências de rating já ameaçaram considerar o país em situação de não-pagamento se os bancos aceitarem uma reestruturação, mesmo que voluntária, da dívida.
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