Mais uma máscara que cai.
País latino-americano que mais abraçou os preceitos neoliberais e foi vendido como modelo a seguir.
Eis aqui a verdadeira face do que é esta "maravilha"!
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Eis aqui a verdadeira face do que é esta "maravilha"!
São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 2011
"Primavera Árabe" chega ao Chile com estudantes
LUCAS FERRAZ
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO
A onda de protestos da Primavera Árabe, que sacudiu o Oriente Médio e influenciou o movimento dos indignados em países como Espanha e Grécia, chegou neste inverno à América Latina, com os sucessivos protestos estudantis no Chile.
As manifestações têm a adesão de outros setores insatisfeitos e provocaram uma grave crise no governo de Sebastián Piñera.
Influenciados por essas recentes manifestações, os estudantes chilenos se mobilizam desde maio em prol de uma ampla reforma no sistema educacional do país.
Desde então, 30 universidades e mais de 200 colégios estão tomados em todo país. Além de estudantes universitários e secundários, professores e reitores, somaram-se aos protestos ecologistas, trabalhadores das minas de cobre, aposentados e até servidores da saúde.
Acossado pelos reclamos, Piñera já ostenta o pior índice de aprovação de um chefe de governo em 40 anos e cogita uma ampla reforma ministerial para tentar reverter a crise.
"Vimos que podíamos mudar indo para as ruas, como fizeram outros países", conta Estebán Lagos, 23, secretário-geral da Fech (Federação dos Estudantes da Universidade do Chile) e um dos líderes estudantis.
"Agora temos a certeza que, além do sistema educacional, podemos influenciar também na política", completa Lagos, estudante de administração pública.
A crise no sistema educacional chileno explodiu pela primeira vez em 2006, no que ficou conhecido como "revolução dos pinguins" - em referência ao uniforme dos estudantes secundários, parecido com as cores da ave.
Além do boom de faculdades privadas, a qualidade da educação vem se degringolando desde os anos 80, quando a ditadura de Augusto Pinochet mudou as regras e esvaziou a participação do Estado no setor.
Mobilizados via internet desde o ano passado, os ex-integrantes da "revolução dos pinguins", agora universitários, voltaram às ruas.
"O que aconteceu na Europa e no Oriente Médio nos incentivou bastante, e hoje contamos com o apoio de organizações do Egito, França, Espanha e até Hungria", conta Magdalena Paredes, 19, que ontem inspecionava a ocupação da Universidade do Chile, majestoso prédio do século 19 vizinho do Palácio La Moneda, sede do governo.
Apesar de alguns acenos do governo, como o envio de projetos de lei para o Congresso e a formulação de um pacote de US$ 4 bilhões para o setor, os estudantes, ainda insatisfeitos, seguem com as mobilizações nesta semana.
"A crise não é só deste governo, mas de toda a política", disse à Folha Marta Lagos, diretora da ONG Latinobatómetro. "Há uma mudança de ânimo da população, que começa a cobrar por mudanças estruturais."
São Paulo, quarta-feira, 20 de julho de 2011
Desigualdade do Chile é combustível de protestos
LUCAS FERRAZ
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO
Apontado há anos como exemplo político e econômico da América Latina, o Chile vive um dilema que não consegue resolver: como distribuir sua riqueza.
A alta concentração de renda no país, que deixa mais da metade da população alijada do boom econômico dos últimos anos -média de crescimento de 5% ao ano-, é um dos motores da onda de protestos no país há dois meses.
A percepção dos chilenos é que o país vai bem, mas a maioria não se sente incluída socialmente. Estudo feito pelo Instituto de Políticas Públicas da Universidade Diego Portales revela que 60% dos 17 milhões de chilenos têm renda média inferior à de Angola.
O Chile, segundo o Índice de Desenvolvimento Humano da ONU, ocupa a posição 44, a melhor de um país latino-americano. O país africano, no mesmo ranking, está no posto 146.
No outro lado da pirâmide, na ponta mais estreita, 20% dos chilenos vivem com renda semelhante à de países nórdicos como Noruega e Dinamarca.
"É muito difícil acabar com a desigualdade sem reformas", disse à Folha o economista Cristobal Aninat, diretor do Instituto de Políticas Públicas da Universidade Diego Portales.
E é contra tal falta de resposta do governo que vem o descontentamento da população com a classe política, não somente à gestão do conservador Sebastián Piñera.
"Mais de 70% dos estudantes chilenos são pobres e estão endividados; isso diz muito sobre os atuais protestos", completa Aninat. A renda média chilena é de US$ 693, mas cursar alguma disciplina na tradicional Universidade do Chile, que é pública, mas não gratuita, custa por ano US$ 8.000.
"Há uma assimetria escandalosa no país, uma hora isso ia arrebentar", admite o economista Marcel Claude.
A alta concentração de renda e a inépcia dos políticos, que até agora não deram uma resposta, são uma das causas da insatisfação popular. E a conta é creditada tanto à Concertación, a coalizão de partidos de esquerda que governou o Chile nos 20 anos pós-ditadura, hoje na oposição, quanto à Alianza, que reúne partidos de direita e sustenta o governo Piñera.
Prova da crise de representação são os números da última eleição presidencial, em janeiro de 2010. Dos 12,5 milhões de eleitores, somente 7,5 milhões se inscreveram.
"A classe política está fechada em si mesma, há muito tempo que ninguém se sente representado ou incluído", diz Camilo Tapia, 26, atendente de um café em Santiago. Ele e outros 5 milhões de eleitores optaram por não participar da última eleição.
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