quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A verdade sobre a "crise da dívida"

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São Paulo, quarta-feira, 03 de agosto de 2011


A verdade sobre a "crise da dívida"

MARK WEISBROT

JÁ QUE a "crise da dívida" dos EUA vem recebendo tanto destaque na imprensa, vale a pena esclarecer o que é verdade e o que não é. Primeiro, o governo norte-americano não enfrenta uma "crise de dívida".
O serviço líquido da dívida pública dos EUA equivale a apenas 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) -o que não é muito nem em termos históricos nem na comparação internacional.
O deficit anual comparativamente grande que existe hoje (9,3% do PIB) se deve em larga medida à recessão e à recuperação fraca.

As projeções para o deficit em longo prazo são impulsionadas pelos custos da saúde no setor privado.
Eles influenciam os gastos públicos porque o governo dos EUA cobre quase metade dos custos de tratamentos de saúde, um nível quase duas vezes mais alto que o dos demais países desenvolvidos.

Jamais houve chance real de que os EUA decretassem moratória sobre sua dívida. Toda a "crise" foi fabricada desde o princípio, e os republicanos da Câmara dos Deputados usaram um truque legislativo para conseguir cortes de gastos impopulares que não foram capazes de impor à força pelas urnas.
E o truque funcionou: conseguiram um acordo que promete grandes cortes de gastos sem quaisquer aumentos nos impostos dos americanos ricos e muito ricos, cuja participação na renda nacional aumentou consideravelmente nas três últimas décadas.
A direita venceu porque o presidente Obama escolheu colaborar com ela, também procurando aproveitar a "crise" fabricada para implementar cortes que ofenderam e magoaram as pessoas que votaram nele. É claro que ele desejava elevar os impostos pagos pelos ricos, mas, ao aceitar como legítima a extorsão republicana, saiu derrotado nisso.
O pior estrago causado por essa "arma de distração em massa" -e pela capitulação do presidente Obama diante dela- é que o debate político nos EUA se alterou radicalmente. A falsa "crise da dívida" é vista como o principal problema e, de modo ainda mais absurdo, como causa da fraqueza da economia.
A economia americana mal cresceu neste primeiro semestre, e temos 25 milhões de pessoas desempregadas, trabalhando apenas em tempo parcial a contragosto ou que já desistiram de procurar emprego.
Já andamos um terço do caminho para uma "década perdida", e a virada do debate político na direção da redução do deficit tornará mais provável que percamos mesmo a década toda.
Caso o presidente Obama perca o controle das duas casas do Congresso e/ou a Presidência, na eleição do ano que vem, as causas terão sido a economia fraca, o desemprego alto e o fato de que permitiu que seus oponentes não apenas sabotassem a economia -o que fizeram alegremente- como redefinissem o debate econômico de modo a que o presidente e seu partido levem a culpa pela bagunça.
Assim, da próxima vez que alguém se queixar de que a maioria da América do Sul é governada por presidentes populistas de esquerda que brigam demais com as elites de seus países, lembre-se de que há tipos piores de liderança: por exemplo, o tipo que comete suicídio político em nome do "bipartidarismo".

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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